Entretanto, é preciso ressaltar que nenhum show é imperdível. Digo isso porque, por vezes, vomitamos nossas experiências nos eventos como se isso fosse indispensável para compreender a cultura contemporânea, quando na verdade ela é apenas um privilégio de poucos. Falar de shows imperdíveis quando a situação econômica da maior parte da população anda em frangalhos e os ingressos para os eventos são de valor proibitivo (vale ressaltar, não necessariamente por culpa da produção dos eventos) é no mínimo bobagem.
Por tudo isso, vale a pena listar os shows que rolaram, mas que perdi:
Drums, Mochat Doma, Turnstile, Caribou, A$AP Rocky, Doja Cat, Alexisonfire, Black Pumas, Idles, Remi Wolf, Kamasi Washington, Gorillaz, Emperor, Rosalía, Onyx, Beach House, Mitski, Shygirl, Sevdaliza, Arca, Phoebe Bridgers, Caroline Polachek, Japanese Breakfast, Jessie Ware, Dua Lipa, Billy Idol, Green Day, Playboi Carti, Discharge, Joe Perry Project, Pat Metheny, Lauryn Hill, Helmet, Mayhem, Picture, Satan, Animal As Leaders, “Pantera”, Mr. Bungle, Trivium, Harry Styles, Brujeria, Ross The Boss, Vio-Lence, Raven, Diamond Head, Fleet Foxes, Alvvays, Pentagram, Shame.
Agora os que assisti:
João Bosco
Dentre os grandes medalhões da MPB, ele era um dos poucos que até então não tinha assistido ao vivo. Ao pagar a dívida, o João Bosco me presenteou com duas horas de uma apresentação irretocável. Ele é um monstro. Seu violão e voz continuam no auge da excelência. A banda é uma absurdo, com destaque para o Kiko Freitas, um dos meus bateristas brasileiros prediletos. No repertório ele caminhou por clássicos e também por suas novas e ótimas composições. Teve samba somado a elementos afro, jazz, blues (!!!) e até mesmo a momentos repetitivos e hipnóticos à la post-rock (na realidade a referência mais provável é o Dorival Caymmi, mas vale traçar esse paralelo). Tudo com uma qualidade sonora perfeita. Que show!
Lobão
Assisti o show do Lobão poucos dias antes da eleição. Mais importante que percebê-lo cantando com convicção, extraindo ótimos timbres de guitarra, soando em power trio mais poderoso que qualquer outro artista do BRock, com um repertório consistente… Mais importante que tudo isso, foi me ver ali, enquanto público daquele que, mais por provocação que por convicção, ajudou a tirar a direita reacionária do armário. Ele não representa mais isso (alguns outros ainda sim, não é mesmo Roger Moreira e Digão?). O Brasil toma seu rumo. Já é possível novamente gostar do Lobão? Eu acho que sim.
Ira!
Tive também a oportunidade de assistir um show do Ira!. Claro, é triste a formação atual não ser o quarteto clássico, mas confesso que só de ver o Scandurra tocar sua guitarra já vale a experiência. Por sua vez, a voz do Nasi, que nunca foi grande coisa, tá no limite do aceitável. Mas o mais legal foi assistir o show ao lado da minha filhinha, que dançou, bateu palma e vibrou com a apresentação. O primeiro show de rock dela.
Shows no Popload Festival
Fresno (+Pitty)Nunca tinha visto a Fresno ao vivo, embora acompanhe os discos desde que despontaram comercialmente. Feliz de vê-los numa fase mais madura e consistente. O mesmo vale para a platéia, que hoje não encara mais a banda com os preconceitos do passado. Foi legal inclusive pela participação da Pitty, que também nunca tinha visto ao vivo. Ela e o Lucas são sem dúvida duas figuras chaves do rock nacional deste século.
Cat Power
Adoro ela, gosto dos discos, mas já sabia que não podia esperar grande coisa. Já faz um tempo que ela aparenta fragilidade emocional, as vezes elevada por doses de álcool, o que faz de seus shows algo um tanto quanto arrastados. Uma pena.
Jack White
Sempre gostei do Jack White. Mas após mais de duas décadas perambulando no centro do rock contemporâneo, ele voltou a chamar minha atenção nos (mal avaliados) discos "Boarding House Reach" e "Fear Of The Dawn", onde ele trouxe para dentro de sua estética retrô de blues/garage rock, timbres e arranjos nada ortodoxos. As guitarras são tão distorcidas que muitas vezes soam como sintetizadores ruidosos. Isso se manifesta ao vivo em volume e performance, não só do Jack White, mas também da ótima banda, com destaque para o baterista Daru Jones. Sérgio Dias (eterno Mutantes), espiou do canto do palco. Um show de rock que expõe dentre tantas heranças do gênero talvez as principais e muitas vezes ignoradas, a de ainda soar instigante, inventivo e nada bundão.
Pixies
Sempre ouvi falar que o Pixies não era uma boa banda em cima dos palcos. Informação falsa ou falha corrigida, visto que precisão do quarteto beira o absurdo. O "baterista mágico" e a baixista novata são ultra consistentes. Black Francis se mostrou um guitarrista rítmico exemplar. Sobrou ao Joey Santiago costurar tudo com seus conhecidos barulhos. Banda com dinâmica, carisma (sem alarde, apenas exalando naturalmente) e, acima de tudo, um repertório que nenhum grupo de rock alternativo deste milênio sonha em ter. O indie de velho continua vencendo.
Shows no Primavera Sound
Beak>Banda do Geoff Barrow (Portishead), um trio de krautrock/space rock hipnótico e barulhento. Bem legal, mas nada sequer próximo do que viria na sequência.
Björk
Acompanhada de ótima orquestra brasileira, a Björk fez uma apresentação digna de uma artista inquieta, majestosa e vanguardista. Cheguei a conclusão que foi a melhor performance vocal que já assisti ao vivo. Ela canta com emoção e virtuosismo em cima de melodias absurdas. Fora sua dicção peculiar, timbre único e perfeccionismo transbordante. Tem quem tenha sentido falta dos elementos eletrônicos ou então que apresentação fosse num espaço melhor (fechado, com acústica apropriada). É uma crítica pertinente, mas que honestamente a mim não me afetou tanto. Eu entendi a proposta dos arranjos e achei lindo assistir diante de um pôr do sol. Show divino.
Interpol
Ainda que funcione em disco, é difícil uma banda desta geração que convença em cima do palco. Acho tudo muito blasé, tocado com “mão de alface”, sem carisma… não me desce.
Terno Rei
A melhor banda de pop rock brasileira desde nem lembro qual outra. Nada presunçoso, com músicas fixantes e guitarrinhas maneiras. Ouçam o disco Gêmeos e tentem ir num show. É redondinho.
JPEGMAFIA
A primeira roda de pogo do festival. Estrondoso, corrosivo e maluco. Esse show foi embaçado. Simples assim.
Hermeto Pascoal
O velho bruxo Hermeto Pascoal botou uma plateia com 1/3 da sua idade pra fritar em baiões jazzísticos. Que banda! Desculpe, Jessie Ware, mas a razão falou mais alto.
Travis Scott
Ele surgiu lá de cima, mandou fumaça, botou fogo, estourou um falante com o grave... fez um show de rock como eu não via desde que o rock morreu. Até me juntei a uma molecadinha numa roda de pogo. Se as texturas psicodélicas sumiram, a energia sobrou. Travis Scott sobreviverá quando o trap morrer e tatuagem na cara for coisa de idoso.
Father John Misty
Depois do Travis Scott, voltei a ser pai rockeiro com o Father John Misty, homem bonitão, que compõe brilhantemente e é acompanhado de uma banda espetacular. Soa como uma mistura de piano rock à la Elton John com Wilco. É disso que verdadeiramente gosto. Coisa fina.
Charli XCX
Deve ser muito triste ouvir a Charli XCX e não se entusiasmar. É o pop em sua forma mais bagaceira e intensa. Vale inclusive playback. Picaretagem tá liberada se as músicas forem ganchudas, carismáticas e feitas pra dançar. O lugar com menos hétero por metro quadrado.
Ah, vale dizer que assisti o Trio Virgulino na quermesse de São Bernardo do Campo. Tem seu valor. Achei divertido e representativo.
Travis Scott

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