sexta-feira, 28 de outubro de 2022

TEM QUE OUVIR: Björk - Post (1995)

Quando a Björk lançou seu Debut (1993), toda a impressa musical ficou deslumbrada com voo alcançado por aquela islandesa pequenina de potencial criativo imensurável. Ainda assim, ninguém estava preparado para força retumbante de Post (1995).

Tudo neste disco é um aperfeiçoamento do que ela havia feito até então. As composições são mais memoráveis, a performance vocal se apurou, a produção é estrondosa (mérito também do produtor Nelleee Hooper e da mixagem do Mark "Spike" Stente) e a estética ainda mais criativa. Vale lembrar que o disco conta programações do Howie B, Graham Massey e Tricky. Já os arranjos das cordas ficaram com o brasileiro Eumir Deodato. Nada mal.

Esse é o disco da Björk onda as faixas isoladamente melhor funcionam, tornando o trabalho menos "conceitual" e a experiência mais "pop"/acessível, o que muito me agrada.

"Army Of Me" abre o disco. Logo de cara um dos principais hits da cantora. A canção é guiada por linha de baixo sintetizada e corrosiva, além de batida precisa. A produção é volumosa, cristalina e poderosa, prevendo uma estética sonora que iria se desenvolver na música pop a partir deste momento. Seu refrão explosivo, alinhado ao estranho videoclipe, fez da faixa um sucesso até mesmo na MTV.

Na sequência, "Hyper-ballad" alcança nossos corações com uma melodia irresistível em seu refrão, performado com energia e singeleza. É um dos maiores exemplo de como a artista consegue soar pop e inventiva na mesma dosagem. Vale ainda destacar como o instrumental da música transita de ambiências cósmicas de trip hop para uma perfeita dance music de pista (acid house), combinados com belíssimas cordas. Há sempre um grave enorme ao fundo (quase um drone) costurado por um teclado angelical (fender rhodes?). Isso tudo enquanto a dramaticidade da letra da um nó em nossos corações.

Adoro o clima de suspense que paira em "The Modern Things". Ao longo da canção, fica nítido o domínio técnico e interpretativo que a Björk tem ao suspirar e berrar num mesmo compasso. O ritmo de bateria - tão orgânico quanto processado -, sempre fez minha cabeça.

A versão para "It's Oh So Quiet" ressalta a pluralidade do repertório. É uma clássica canção de jazz, com instrumental de big band perfeitamente emulado, clima de musical tipicamente americano e vocalização ultra carismática, que dá o perfeito tom teatral para a canção. Sensacional!

O peso de "Enjoy" busca uma comunicação com a cena industrial que explodia naquele momento. Importante como a artista faz isso sem soar oportunista, mas sim explorando as texturas sombrias e distorcidas do gênero.

Completamente oposta é a singela "You've Been Flirting Again", onde as cordas apaziguam o clima. A voz é amorosa, cheia de ternura e excelência. 

É impossível ouvir "Isobel" e não admirar com deslumbre a construção da faixa, que passa mais uma vez por belo arranjo de cordas, ritmo tão dançante quanto aconchegante e texturas riquíssimas.

"Possibly Maybe" não se parece com nada. Talvez com algo que o Radiohead viria a fazer anos depois. Seu arranjo é complexo e a produção detalhada, inclusive trazendo elementos de glitch e chill-out. Björk acompanha isso com destreza impressionante, passeando com fluidez sob o enigmático instrumental.

A música eletrônica domina "I Miss You", ao mesmo tempo que soma ao gênero metais, percussões e motivos étnicos nem tão comuns.

Caminhando entre a música ambient e indiana, "Cover Me" e "Headphones" abrem espaço para novas atuações de puro brilhantismo da Björk. Um final de disco complexamente transcendental, que alterna a dinâmica de estrondo para o etéreo. 

Posteriormente, a Björk continuou aumentando tanto sua popularidade quanto as experimentações, chegando alcançar momentos de ainda mais brilhantismo. Todavia, nada mais era surpresa. Post já tinha colocado ela como uma das personagens mais interessantes da música recente.

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