Nesta última década, foram muitos os álbuns que cresceram na minha percepção com o passar do tempo. Recapitulando dois discos citados recentemente aqui no "Tem Que Ouvir", é possível lembrar do Floral Shoppe e Lonerism. Entretanto, com Silence Yourself eu soube de imediato que estava diante de um clássico.
A Savages é formada por quatro mulheres que exalam atitude já na capa do disco. Apresentação fundamental para uma estreia. Vale lembrar que trabalho foi lançado pela Matador.
Embora todas as integrantes sejam extremamente talentosas, a vocalista Jehnny Beth acaba dominando o foco. Isso fica claro logo na abertura do trabalho, com a espetacular "Shut Up", onde sua interpretação carregada de vibrato consegue se sobressair mesmo diante de um baixo gorduroso, guitarras ríspidas e ritmo incisivo.
Os ruídos volumosos de "I Am Here" criam o cenário para a interpretação explosivamente dramática da cantora, desaguando num refrão acachapante. Sua forma lembra "Feel Good Hit Of The Summer" (QOTSA), o que nem de longe é um problema.
Em "City's Full" a agressividade extraída dos instrumentos é orgânica. Uma paleta de distorções proporcionam momentos de euforia e tensão ao ouvinte.
Embora calcado em sonoridades do pós-punk e gótico - com direito a influência nítida Siouxsie and the Banshees -, vale pontuar que as Savages soam autênticas ao atualizar timbres, entregar performances apaixonadas e elaborar composições memoráveis. Dito isso, fica o destaque para "Strife", uma "balada" no mínimo corrosiva.
De construção dark, "Waiting For A Sign" é a canção mais teatral do álbum, embora nem por isso deixe de ser feroz, com direito a guitarras torturante no final da faixa. Aqui vale mencionar a produção do disco, que soa tão nebulosa quanto límpida.
Após a desnecessária "Dead Nature", "She Will" se apresenta como uma poderosa composição de temática feminista. Fabuloso refrão! Já seu instrumental tem toques de Joy Division (só que mais "encorpado").
Embora por todo o disco fique nítida uma predileção punk e até mesmo noise rock para o núcleo pós-punk das composições, isso fica mais explicito na urgência sonora de "No Face" e na cacofonia paranoica de "Hit Me".
Como quem quer levantar o mastro outrora erguido por Patti Smith, Jehnny Beth transpira, geme e suspira em "Husbands". Isso, claro, enquanto instrumental parece levantar voo.
Fechando o álbum está a linda e pianística "Marshal Dear", um contraponto ao esporro visto até então, embora não menos densa. Inclusive, há pitadas de Nick Cave na canção.
Assim como fui arrebatado de imediato para o disco, fico feliz de reouvi-lo e perceber que ele continua majestoso. Possivelmente o melhor álbum de pós-punk deste milênio.
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