quinta-feira, 5 de setembro de 2019

TEM QUE OUVIR: Butthole Surfers - Locust Abortion Technician (1987)

O rock viveu diversos momentos de transgressão comportamental e sonora, muitas vezes pendendo para o absurdo. Neste sentido, o Butthole Surfers é uma autoridade. Locust Abortion Technician (1987), o terceiro álbum da banda, lançado pela Touch And Go, é um clássico do rock alternativo americano.


Liderado pelo porralouca Gibby Haynes, o grupo se auto-produzia com orçamento risório. Esteticamente, eles não abraçavam nenhum gênero, embora caminhassem com tranquilidade pelo hardcore, heavy metal, noise rock e rock psicodélico, sendo a fusão destes estilos uma das marcas da banda.

A introdução bizarra de "Sweat Load" apresenta o humor perverso e doentio que se estende por todo o disco. Logo de cara, um diálogo de pai e filho sobre arrependimento, seguido de berros de "Satan! Satan! Satan!". Diante disso, se apropriar do riff do Black Sabbath é fator menos grave. Há ainda uma parte B com guitarras arpejadas em nuance de música country, além efeitos espaciais. Nada que faça sentido. Tudo muito instigante.

Em "Graveyard", o timbre de guitarra soam tão grave quanto estridente. Somados a voz ultra processada e uma batida primitiva, a banda parece reproduzir a linha tênue entre a embriaguez e a ressaca. A faixa reaparece no final do disco expondo ecos hendrixianos alimentados por carga extra de sujeira.

A fúria blues-psicodélica de "Pittsburgh To Lebanon" é tudo o que o stoner rock viria a ser anos depois. Em sua metade final surgem grunhidos tenebrosos que aparentam reverberar num porão escuro.

O esporro de "Weber" é tão incomum que nem parece que se passaram apenas 35 segundos. Já "Hay" é uma amontoado de colagens esquisitas que soam como berros de cabras. Ao menos a punk "Human Cannonball" mantém uma estrutura (quase) convencional.

O timbre corrosivo de baixo, o ritmo tribal e as guitarras psicodélicas formam o instrumental de "22 Going On 23", faixa que traz o dialogo de um radialista com uma ouvinte via telefone, onda ela narra um estupro e os problemas decorrentes ao abuso. No final, mugidos de vacas. (?)

Há ainda espaço para a experiência angustiante/ruidosa de "U.S.S.A.", o peso frenético e brutal de "The O-Men" e a pitorescamente tailandesa "Kuntz". Todas com execução transpirante e produção criativa.

Locust Abortion Technician é uma obra paranoica, que exala o consumo droga e expõe a criatividade de uma rapaziada que sabia que não ia ficar milionária através da música. Um berro de liberdade no auge do pasteurizado hard rock oitentista.

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