terça-feira, 13 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Wire - Pink Flag (1977)

Tem que ser muito nó cego para não enxergar qualidades no punk rock. Embora comumente associado a um movimento desprovido de sofisticação, através de discos como o Pink Flag do Wire é possível confirmar como tal pensamento é equivocado.


Lançado em 1977, ano da explosão punk, o Wire soa muito a frente do tempo. Em alguns momentos é até mais sensato associa-los ao art rock. É possível explicar a desenvoltura formal do grupo levando em conta que ele foi formado dentro da universidade. Diferente de seus colegas de cena proletários ou vadios, os integrantes do Wire eram estudantes de design vindos da classe média.

Mas engana-se quem pensa que a partir disso saiu uma obra cerebral. Pink Flag é essencialmente divertido. É possível até chacoalhar o esqueleto ao som de "Three Girl Rhumba" e "Start To Move".

Mesmo tendo menos de 30 segundos, poucas letras são tão impactantes e incisivas quanto a de "Field Day For The Sundays". Já a sombria "Reuters" retrata a crise econômica inglesa do período.

O minimalismo, a energia e a curta duração de faixas como "Mr Suit" e "Different To Me" claramente influenciaram o hardcore. É possível até ir além, comparando "Ex Lion Tamer" ao que viria ser feito no post-hardcore noventista e "Champs" ao britpop.

Dentre tantas canções, vale também destacar a espetacular "Lowdown", a descontraída "Surgeon's Girl", a sonoramente tensa "Pink Flag", a curtinha/instrumental "The Commercial", a densa/paranoica "106 Beats That", a pesada "Strange" e a obscena "12XU". Agora, eu não faço ideia do porquê de uma música se chamar "Brazil".

Em todas essas faixas é possível reconhecer a execução intensa incendiando uma produção contida. Guitarras nem tão saturadas e chimbal magrinho/agudo/veloz ajudam a construir uma sonoridade bastante singular e rígida.

Mais de 20 músicas, menos de 35 minutos. Embora desconhecido de muitos, Pink Flag é certamente um dos álbuns mais influentes do rock britânico.

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