quinta-feira, 1 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: The Residents - Duck Stab / Buster & Glen (1978)

The Residents é uma força natureza. Por mais irreverente sonoramente que seja, reduzir o grupo a sua música é um equívoco. As artes visuais se fundem diretamente com a proposta musical do coletivo. Dos globos oculares esbugalhados vestidos de smokings e cartolas, passando pela identidade dos integrantes por muito tempo omitida, tudo é intrigante e instigante. Musicalmente é uma mistureba por vezes de difícil assimilação. Se quiser tentar, comece pelo Duck Stab / Buster & Glen (1978), uma compilação de EPs que tão bem retrata as peculiaridades estéticas do grupo já em completo desenvolvimento.


É inviável rotular o Residents num gênero específico. Sua música tem muito de art rock e atitude punk (afinal, são contemporâneos do estilo), fundida em experimentações inusitadas e elementos cerebrais da música de vanguarda.

Timbres eletrônicos e colagens sonoras servem para satirizar a música pop. As composições mais parecem vinhetas absurdas, carregadas de surrealismo lírico e interpretação nada ortodoxa. Já a produção soa psicodélica, garageira, lo-fi e borbulhante.

Como destaque posso citar a aterrorizante "Sinister Exaggerator", a cinematográfica "Blue Rosebuds", a tão detetivesca quanto circense "Laughing Song", a timbristicamente espetacular (parece trilha de videogame) "Elvis And His Boss", a teatral "Semolina", a ousada, abstrata e rica em texturas "Krafty Cheese" e a tão punk quanto zappiana (ótimas guitarras do Snakefinger) "The Electrocutioner". Lembrando que todas essas breves descrições são somadas as óbvias bizarrices sônicas e narrativas do grupo.

Influenciando do Jello Biafra ao Ty Segall, do Mark Mothersbaugh ao Les Claypool, o universo inclassificável do Residents merece exploração atenta. Um verdadeiro fenômeno da contracultura vanguardista presente no mundo pop.

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