Alguns álbuns são verdadeiras pérolas do absurdo. Scum (1987) do Napalm Death é um exemplo. Outrora segmentado a um nicho de pessoas interessadas em sons extremos, hoje virou um clássico cult.
É verdade que em 1987 já havia grupos como Slayer e Celtic Frost estourando nossos ouvidos. Todavia, o Napalm Death trouxe uma atitude genuinamente podre para o metal, dando origem ao grindcore.
Muito do encanto presente no disco se deve a sua precariedade. É conhecida a história que boa parte do álbum foi gravado com o orçamento ridículo de 50 libras. Tamanha façanha se manifesta no som imundo do grupo. Por outro lado, a ótima arte gráfica do disco, de autoria do Jeffrey Walker (Carcass) - contendo agentes do imperialismo envolto a uma família africana miserável e o logo de multinacionais capitalistas em meio a crânios - é uma marca do êxito estético daquela geração.
A abertura do disco com "Multination Corporations" mais parece um prefácio de que algo terrível está preste acontecer. Após um riff ríspido, um verdadeiro esporro não linear formado por guturais ofegantes e blast beat frenético dominam "Instinct Of Survival".
"The Kill" inaugura as absurdas, divertidas e incompreendidas faixas de poucos segundos, que trazem força, urgência e dinâmica ao estilo. A canção que sintetiza isso é a clássica "You Suffer", uma cacetada de 1 segundo.
A densidade contida nos timbres da música "Scum" beira o absurdo. Já a ecológica "Polluted Minds" parece uma versão ainda mais turbinada do Bad Brains. "Sacrificied", por sua vez, é capaz de causar convulsão num ouvinte despreparado.
O lado B do disco traz a curiosidade de apresentar diferente formação. O resultado é ainda mais frenético. Os berros horrendos em "Life?" e "Pseudo Youth" são bizarros e versáteis. A bateria de "Negative Approach" é um guia de levadas para qualquer banda de metal extremo. "Success?" soa claustrofóbica de tão insana. Por sua vez, John Coltrane ficaria confuso com as frases de guitarra em "Parasites".
Embora muitas vezes incompreensível, é importante se atentar as criticas presente nas letras, vide o engajamento ambiental em "Point Of No Return" e o ataque a direita conservadora em "C.S.".
Resumindo, um bagaceira esporrenta, energética, veloz, pesada e politicamente incisiva. Incomparável a qualquer disco de metal do período. Não por acaso até o John Peel adorou. Absurdo!

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