sexta-feira, 4 de maio de 2018

A antologia "correta" dos anos 80 pelo rock

Dentre as figuras mais interessantes do pop nacional está o Lobão. Ele é um compositor talentoso, teve passagem meteórica pelas bandas Vimana e Blitz, tocou em discos do Walter Franco e Marina Lima, é dono de bons momentos solo e comprou brigas com meio mundo (artistas, platéia, mídia e gravadoras). Goste ou não, é uma figura inquietante. Tão inquietante que as vezes se perde no próprio personagem.

Sua visão politica retrógrada e infantil - ainda que com pose de intelectual - é tão falha que, sobre o trágico desabamento do prédio no centro de São Paulo essa semana, conhecidamente ocupado por moradores sem teto, ele de maneira simplista disse: "é o desmascaramento dessa milícia que fica invadindo prédios". Para ele, o não acesso a moradia é "vitimismo, paumolecencia e cafonice"

Foi então que tive contanto com seu mais recente trabalho - Antologia Politicamente Incorreta Dos Anos 80 Pelo Rock - e entendi o seu problema. Ouso dizer que o Lobão perdeu a capacidade de ser criterioso. O disco é de uma ruindade absoluta. Escolha de repertório careta, mal tocado, interpretação vocal risível - uma dúvida sem ironia, o Lobão cantou alcoolizado, medicado ou doente? -, a produção é um marasmo... tudo errado! Eis um já clássico do mal gosto:


Ouvindo o disco eu lembrei do Ed Motta, um cara que não economiza palavras e toma lados, mas que ao contrário do Lobão, é de uma competência sonora impressionante. Aí dá até para levar a sério qualquer absurdo que o Ed ouse dizer. Mas produzindo o que o Lobão tem apresentado, dá até uma certa tristeza. Ele tornou-se uma figura decadente. E não digo isso em tom de ofensa, mas de constatação.

Como uma das criticas que levantei ao novo trabalho do Lobão foi o repertório, refutarei postando aqui músicas dentro do tal BRock oitentista que seriam escolhas muito mais criativas e interessantes do que "Vítima do Amor", "Primeiros Erros", "Louras Geladas" e "Somos Quem Podemos Ser". Não sei se elas se encaixariam na voz dele, mas como as escolhidas por ele não também não se encaixaram, tal questão é inválida.


- Patrulha do Espaço: Festa de Rock
Rock nacional oitentista, mas ainda com o cheiro setentista. Banda extremamente importante e competente, embora nem sempre lembrada. Seria uma boa faixa para abrir o disco.

- Rita Lee: Nem Luxo, Nem Lixo
Rita inaugurou o pop rock oitentista com uma classe que posteriormente ninguém foi capaz de reproduzir. Ótima composição, arranjo e execução. Pop, radiofônico e muito bem feito.

- Guilherme Arantes: Estranho
Entre o pop brasileiro, Elton John e o rock progressivo. Subestimado compositor e interprete.

- Lulu Santos: Um Certo Alguém
O legitimo artesão do pop rock oitentista brasileiro em uma de suas melhores canções.

- Arrigo Barnabé: Sabor de Veneno
Ousado, alternativo, complexo e irreverente. O Arrigo e toda a vanguarda paulista é um capitulo de destaque no rock brasileiro, embora muitas vezes ignorado.

- Robertinho de Recife: Fogo
Um dos instrumentistas mais talentosos do pop nacional em sua fase metal, inaugurando o estilo no Brasil. Um clássico de ingenuidade divertidíssima. 

- Ratos de Porão: Amazônia Nunca Mais
Uma das melhores banda de hardcore não só do Brasil, mas do mundo.

- Cólera: Medo
Redson, uma das grandes mentes do punk rock nacional, em um clássico do estilo.

- Inocentes: Pátria Amada
Falar de punk brasileiro e não citar o Inocentes seria um erro grosseiro. Espetacular faixa.

- Garotos Podres: Vou Fazer Cocô
Uma pérola cheia de humor que nem o Lobão conseguiria arruinar. Ou conseguiria? 

- Plebe Rude: Minha Renda
Com um repertório tão bacana, o Lobão tinha mesmo que recorrer a óbvia "Até Quando Esperar"?

- Camisa de Vênus: Correndo Sem Parar
Com um repertório tão bacana, o Lobão tinha mesmo que recorrer a óbvia "Eu Não Matei Joana D'arc"?

- Titãs: Igreja
A eterna birra ao tentarem deslegitimar os Titãs na história do rock nacional. Começou com a BIZZ, mas agora domina grande parte da cultura nacional. Tá certo que a banda só vem errando há umas duas décadas, mas eles tiveram bons momentos.

- Barão Vermelho: Declare Guerra
Barão, sem Cazuza, é o auge do rock n' roll brasileiro. 

- Ira!: Rubro Zorro
Um clássico da cena alternativa paulistana.

- Patife Band: Poema Em Linha Reta
A Patife Band gravou aquele que é para mim o melhor (não o maior ou mais importante, mas o melhor) disco do rock nacional oitentista. Simples assim.

- Golpe de Estado: Não É Hora
Zero de influência brasileira. É o legitimo hard rock tocado por músicos muito acima da média.

- André Christovam: Genuíno Pedaço do Cristo
Um guitarrista espetacular em sua brilhante fusão de blues com sotaque brasileiro. É fino.

- Sarcófago: Satanic Lust
Influenciou meio mundo no metal escandinavo. Mas o Lobão só tem olhos para o Engenheiros do Hawaii.

- Sepultura: Inner Self
Um clássico que revelou a banda para o mundo.

- Fellini: Rock Europeu
Porque a Legião Urbana não é a melhor representante do pós-punk nacional. 

- Picassos Falsos: Bolero
Um dos grupos mais interessantes e subvalorizados do rock nacional. [1]

- DeFalla: Não Me Mande Flores
Um dos grupos mais interessantes e subvalorizados do rock nacional. [2]

- Violeta de Outono: Dia Eterno
Um dos grupos mais interessantes e subvalorizados do rock nacional. [3]

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