quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

TEM QUE OUVIR: Swans - The Seer (2012)

Até o ano de 2012, eu nunca havia ouvido falar do Swans. Falha minha, claro. A banda, que está em atividade desde 1982, pode ser entendida como o projeto solo do Michael Gira, o criador da porra toda. O grupo nasceu na cena no wave nova-iorquina, mas foi rapidamente tomando rumo próprio, ficando mais pesado, sombrio, lento e barulhento. Mesmo fora da mídia, seus shows tornaram-se lendários. Faltava um disco que traduzisse essa densidade perturbadora dos palcos para o estúdio. Neste clima foi lançado The Seer, um dos grandes álbuns da década.


Michael Gira chegou a assumir que só foi possível produzir esse disco após o acúmulo de anos de estrada. Foi literalmente pensado como a obra da sua vida, embora o tempo mostre que ele não perdeu a mão nos trabalhos posteriores.

Devo confessar que, talvez por não estar familiarizado com o som do grupo, a primeira vez que ouvi o disco eu não curti tanto. Não foi fácil adentrar aquela massa sonora densa. O resultado foram duas horas angustiantes. Hoje é disparado um dos meus prediletos deste milênio.

A progressiva "Lunacy" prepara o território para a viagem sônica do álbum, a começar pela "Mother Of The World", com seu ritmo repetitivo que desencadeia num mantra complexo. Diante disso é preciso destacar a execução precisa do Thor Harris e Phil Puleo, que ajuda a criar uma paisagem em looping de um tenebroso mundo formado por terríveis seres desconhecidos.

No primeiro segunda da épica "The Seer" já nos damos conta que estamos diante do perigo. Não há espaço para enrolação. Trombetas, sinos, vibrafones, acordeon, pratos e guitarras criam nuvens cinzentas que ecoam num templo profano. Mesmo nos momentos mais apaziguadores da faixa, um corpo parece balançar num pendulo. A performance percussiva é arrebatadora, se assemelhando a uma cerimonia tribal pagã. Isso sem falar nas nocauteantes guitarras que simulam o badalar dos sinos do inferno a cada acorde esmurrado. Tudo muito ruidoso, reverberoso e repetitivo, aquietado somente no tocar de uma gaita que deixaria o personagem de Charles Bronson em Era Uma Vez No Oeste preocupado. 30 minutos de um espetáculo!

Enquanto "The Seer Return" cria o trilha sonora para caipiras assassinos, "93. Ave Blues" funde o blues mais rústico com o noise mais braçal da história. É uma cacetada! No meio de todo esse caos, é dilacerante ouvir a linda interpretação de Karen O (Yeah Yeah Yeahs) em "Song For A Warrior".

No fim, três canções transcendentais: "Avatar", em seu crescente claustrofóbico; "A Piece Of The Sky", preenchida por camadas sonoras que formam um drone sinfônico, desaguando num belo e progressivo final; e "Apostate", com mais de 20 minutos de ataques agressivos, onde o céu parece se abrir e despejar tambores, guitarras e mercúrio, que se amontoam num drone epilético e apocalíptico.

Esse disco duplo dificilmente agradará a todos. Todavia, sua audição pode provocar um misto de sensações (das mais terríveis, até as mais agradáveis) que poucos álbuns conseguem proporcionar aos ouvintes.

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