quinta-feira, 4 de maio de 2017

TEM QUE OUVIR: Wu-Tang Clan - Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993)

No começo da década de 1990, o hip hop havia virado seus holofotes de Nova Iorque para a costa oeste dos EUA. Todavia, o berço de grupos como o Public Enemy logo voltou a reivindicar seu protagonismo com o lançamento de Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993).


Liderado pelo produtor/maestro RZA - uma espécie de George Clinton do hip hop -, o Wu-Tang é mais que um grupo, sendo na verdade um coletivo de MC's que uniu os bairros mais afastados de Nova Iorque (mais precisamente de Staten Island) entorno da sua produção agressiva, vide o som literalmente de lata de tinta somado ao timbre de caixa em "Bring The Ruckus", um dos beats mais cabulosos da história do hip hop.

Faixa a faixa, temos dez MC's disputando espaço em versos que envolvem conflitos sociais, o amor pela maconha e até mesmo simples e divertidas ofensas que, ao contrário do que acontece em outros grupos, no Wu-Tang não cai na mesmice devido as particularidades de cada integrante. Deste modo, é interessante brincar de escolher o MC predileto em cada música. Exemplo: na violenta, funkeada e criativa "Shame On A Nigga", o destaque vai para os vorazes Raekwon e Ol' Dirty Bastard. Já em "Clan In Da Front" quem rouba a cena é o GZA. E independente de quem fosse melhor nos versos - sempre sob olhar de RZA -, financeiramente o êxito era compartilhado igualmente. Competição sadia em prol da música é isso.

Com tantas personalidades em jogo, a clássica "Protect Ya Neck" destaca-se por reunir todas, embora seja possível apontar os versos do Method Man e GZA como os mais inspirados. Seu beat grave e piano sinistro é um passarela para os rappers.

Se em "Can It Be All So Simple" (que baixão!) o Ghostface Killah ressalta o valor da música como uma alternativa para o crime, por outro lado, a interpretação eufórica de U-God em "Da Mystery Of Chessboxin'" é explicada devido o pouco tempo que ele teve para gravar a faixa, já que foi captada numa brecha de sua condicional. Deste modo, fica ao ODB, Ghostface e Masta Killa os versos mais intrincados.

A dobradinha "Wu-Tang Clan Ain't Nuthing Ta F' Wit" e "C.R.E.A.M." - dona de uma das melodias de piano mais memoráveis da história do hip hop -, é daquelas pra levantar a pista sob o flow frenético e ganchudo dos envolvidos. Clássicos.

Intercalando as canções, é possível ouvir vinhetas de filmes de artes marciais japoneses e diálogos improvisados pelos próprios integrantes, o que dá uma sensação cinematográfica ao disco. O auge disso acontece na introdução da memorável "Method Man".

RZA soube gerir diversos talentos com sabedoria, sendo que muitos se destacaram em suas respectivas carreiras posteriormente. Todavia, é este disco que representa o retorno de NY ao centro do hip hop.

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