terça-feira, 28 de março de 2017

30 discos que comprovam que Is This It não salvou nada!

Como todos já sabem, o Strokes tocou no último fim de semana em São Paulo. O Multishow (ou seria o BIS?) televisionou. Eu assisti. Show fraquinho, mas com muitos sucessos. Seus fãs adoraram. Todavia, o que me chamou atenção na transmissão foi uma já antiga frase que ano após ano é repetida: "Is This It salvou o rock".

Para os mais desavisados, Is This It é o disco de estreia lançado pelo Strokes em 2001. O álbum tem como maior feito ter influenciado inúmeras bandas. Quem diz isso se esquece de salientar que são bandas como The Killers e Kings Of Leon. Musicalmente é uma gota requentada de Television em um oceano de deficiência estética. Tudo bem, tem uma crueza instigante, algumas faixas memoráveis, mas não é a obra-prima que falam.

Dizem que com o disco a banda salvou o rock. Como se um estilo que teve Chuck Berry, Who, Pink Floyd e Clash precisasse ser salvo.

Fazem entender que na época só existia o Creed, tendo os Strokes reerguido o cenário alternativo. Pois é, cinco nova-iorquinos de classe média alta, sendo que alguns estudaram na Suíça, lançados pela gigante RCA (mesma gravadora da Britney Spears, Christina Aguilera, Shakira e Justin Timberlake), reergueram o cenário alternativo. O exemplo grunge parece que ainda não foi compreendido.

Posto o problema, venho aqui lembrar 30 (!!!) ótimos discos de rock lançados um ano antes do Is This It. Para ser mais preciso e honesto, entre janeiro de 2000 e julho de 2001 (quando saiu o disco do Strokes). Tudo isso para repensarmos se o cenário estava tão ruim assim. Se o argumento for a atenção enorme que eles receberam, então distribua os méritos da banda com seus agentes e assessores.

At The Drive-In: Relationship Command
Talvez o melhor disco daquela que é uma das mais importantes bandas do post-hardcore. Aqui já da para prever o futuro sonoro do Mars Volta.

Black Rebel Motorcycle Club: B.R.M.C.
O rock alternativo com energia do garage rock e elementos psicodélicos. Isso com uma execução e captação intensa. Simples e funcional. 

Coldplay: Parachutes
É, hoje é fácil bater no Coldplay, mas não se esqueçam que o Parachutes é bem legal e também fez enorme barulho. Tem boas canções.

Deftones: White Pony
Se por um lado o new metal eclodia comercialmente com grupos medíocres como Limp Bizkit e Linkin Park, por outro, o estilo chegava a maturidade através do Deftones. Peso e melodias num brilhante equilíbrio, sem se fechar para novas interferências sonoras.

Destroyer: Streethawk: A Seduction
O projeto do Dan Bejar em sua fase inicial, equilibrando emoção e urgência de forma nem tão uniforme. Um retrato de como a composição se desenvolvia de outras formas no indie rock do período.

Doves: Lost Souls
Sons etéreos, quase progressivos, mas carregados de melodias atraentes que trouxeram ao disco um potencial pop. Sofisticado e delirante. 

Electric Wizard: Dopethrone
Doom, stoner, sludge... entenda como quiser. O que prevalece é uma sujeira fantasmagoria.

Elliott Smith: Figure 8
Álbum derradeiro do cultuado artista. Sem dúvida o melhor acabado/produzido.

Godspeed You! Black Emperor: Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven
Um clássico! Percussões, trompas e vibrafones num álbum determinante para o post-rock. Épico.

Hurtmold: Et Cetera
Um disco brasileiro para exemplificar que até o cenário independente do Brasil estava produzindo coisas interessantes.

Lamb Of God: New American Gospel
Gravação tosca, composições de qualidade ainda questionáveis, mas com uma energia absurda que compensa tudo. O começo de uma das grandes bandas de thrash metal deste milênio.

Modest Mouse: The Moon & Antarctica
A transição perfeita do indie rock 90's para o indie 00's. É melódico, mas com certa estranheza nos arranjos que dá legitimidade artística a obra.

Muse: Origin Of Symmetry
O Muse ainda no mundo alternativo, bastante influenciado por Radiohead, mas oferecendo como diferencial riffs empolgantes, quase dançantes. Muito mais interessante que os trabalhos atuais da banda.

Opeth: Blacksater Park
O quê? O death metal ultra técnico do Opeth com colaboração do Steven Wilson? Não tem erro. Cacetada progressiva.

Pantera: Reiventing The Steel
O nocaute do Pantera. O clima interno estava péssimo, o que talvez tenha colaborado para o peso destruidor do disco. A produção beira o absurdo.

Phoenix: United 
Diretamente da França, uma banda que já apresenta sonoramente a cartilha do indie rock do novo milênio. Tem ótimas canções. Infelizmente, embora com sucesso, eles nunca mais repetiram o mesmo êxito. 

Planet Hemp: A Invasão do Sagaz Homem Fumaça
Mais um nacional, porque é o auge da banda e também um dos melhores exemplos da fusão do rock com o rap. Produção do grande Mario Caldato.

PJ Harvey: Stories From The City, Stories From The Sea
Umas das melhores compositoras do rock num disco em que ela discorre suas paixões nova-iorquinas. Talvez seu trabalho mais acessível. Um dos meus prediletos dela.

Queens Of The Stone Age: Rated R
Só a abertura com "Feel Good Hit Of The Summer" já é uma pérola. O stoner rock pela primeira vez soa acessível ao grande público.

Radiohead: Kid A
Após o já clássico Ok Computer, um trabalho que não facilitou a vida dos fãs. Produção arrojada, timbres eletrônicos e composições cheia de nuances complexas. 

Ryan Adams: Heartbreaker
Confessional e ébrio, a estreia do talentoso Ryan Adams, um dos grandes nomes quando o que se espera é a sonoridade do classic rock.

Sleater-Kinney: All Hands On The Bad One
O grupo mais acessível do movimento riot grrrl em um disco pouco lembrado. Belo e contestador como todos os outros.

Super Furry Animals: Rings Atound The World
Lançado na mesma semana que Is This It. Fortemente influenciado pela psicodelia e o garage rock, mas sem parecer requentado. 

The Beta Band: Hot Shots II
Praticamente uma evolução do britpop, que busca referências tanto na música folk quanto em programações eletrônicas. 

The Hellacopters: High Visibility
Lembro desse disco fazendo barulho. Tem um ranço hard rock meio xarope, mas as músicas no geral são muito divertidas. No final é disso que se trata o rock.

The Hives: Veni Vidi Vicious
O indie rock 00's sem ser bundão. Nada de firula. Aqui o que salta aos ouvidos são as guitarras garageiras em canções energéticas. Fora todo o conceito visual da banda que sempre foi demais.

Tool: Lateralus
Metal moderno, complexo, de execução técnica impressionante e alcance comercial inacreditável. Tem quem ache muito pomposo, mas eu adoro.

Tortoise: Standards
Quando o post-rock ruidoso encontra a sofisticação do fusion (ou quase isso). Complexo, mas sem ser presunçoso. Traz um frescor estético ao rock.

Weezer: Weezer (Green Album)
Simplesmente o salto definitivo da banda ao mainstream. 

White Stripes: White Blood Cells
O primeiro clássico de uma das últimas grande bandas do rock (no sentido de alcance e importância). Garageiro, visceral e com toques de blues, mas sem deixar de ser pop. Jack White sabe das coisas!

Wilco & Billy Bragg: Mermaid Avenue Vol. II
A segunda parte de uma fórmula de sucesso: um cara talentoso, acompanhado por uma banda impecável, trazendo versões para as músicas de um compositor que influenciou até mesmo o Bob Dylan.

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