terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Fela Kuti And Afrika '70 - Zombie (1976)

Fela Kuti foi um dos artistas mais produtivos do seu tempo. Dono de uma vasta e excelente discografia, muitos se perdem ao adentrar seu trabalho. Mas até mesmo por questões extra musicais, é justo reconhecer Zombie (1976) como um destaque dentro de sua obra.


Ao lado de brilhantes músicos - vide o baterista Tony Allen - que formavam o Afrika '70, o artista nigeriano criou uma linguagem musical própria batizada de afrobeat, que trazia elementos da música tradicional de seu continente - como o highlife e ritmos iorubás -, fundidos com o jazz, funk, psicodelia e até mesmo a música latina.

Com essa fórmula, Fela tornou-se um superstar do terceiro mundo. Ainda que fosse de classe média, sua consciência política/racial herdada de sua mãe fez com que ele se comunicasse com boa parte do continente africano, principalmente os setores mais pobres. Posteriormente sua música cruzou barreiras ao ser citada por caras como James Brown, Stevie Wonder, Ginger Baker, dentre outros.

Em seu quartel general - área conhecida como República Kalakuta -, formou um comunidade paralela à guerra civil nigeriana e construiu um estúdio de gravação. De lá saiu a épica "Zombie", que em meio ao seu instrumental borbulhante - coberto por um groove complexo, guitarra swingada, naipe de metais delirantes e linhas de baixo consistentes -, questiona a alienação "zumbilesca" dos soldados nigerianos, que massacravam seu próprio povo.

É arrebatadora a forma em que as canções evoluem diante do clima de jam. É irresistível o balanço de "Mr. Folow Folow", que faz o ouvinte querer dançar mesmo diante de solos improvisados e jazzisticos. Atenção também para os vocais em coro, dando uma sensação de união.

Se para nós o ritmo sincopado de "Observation No Crime" soa complexo, para o grupo a execução se dá naturalmente. No final ainda há um registro ao vivo de "Mistake", numa performance não menos que abrasiva.

Como resultado de tanta transgressão musical e social do Fela Kuti, o governo militar nigeriano atacou seu habitat, destruindo seu equipamento, o ferindo gravemente e matando sua mãe, que foi jogada pela janela. Como resposta, Fela mandou o caixão direito para o quartel general e continuou com sua metralhadora sonora de composições verdadeiramente engajadas, revolucionárias e donas de balanço energizante. Definitivamente um ícone da música e símbolo do pan-africanismo.

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