terça-feira, 11 de outubro de 2016

TEM QUE OUVIR: Tom Zé - Estudando o Samba (1976)

A carreira de Tom Zé é uma montanha-russa. Ele estave na célula tronco do tropicalismo, desfrutou de algum sucesso com "São, São Paulo", mas viu sua carreira degringolar comercialmente, a ponto de ser chamado de "artista maldito". Foi só no final da década de 1980 quando o David Byrne (Talking Heads) ouviu Estudando o Samba (1976) e relançou sua obra nos EUA que Tom Zé tornou-se um ícone cult da música brasileira, elogiado por diversas publicações internacionais.


O que justifica seu trabalho ter sido tanto ignorado quando aclamado é a riqueza de suas composições. E isso não passa somente por suas letras, mas também pela estrutura instrumental, já que o artista baiano cresceu em meio a bossa nova e estudou com músicos de vanguarda como Ernst Widmer, Walter Smetak e Koellreautter.

Com produção de Heraldo do Monte, a criação de Tom Zé tornou-se ainda mais refinada. Isso fica nítido logo em "Mã", onde cantos típicos da cultura afro-brasileira se fundem a um arranjo nada convencional.

A versão de "A Felicidade" (Tom e Vinicius) pode facilmente ser considerada a definitiva. Já sua parceria com Élton Medeiros em "Mãe Solteira" e "Tô" evidencia o talento de um dos mais brilhantes sambistas da história, sendo que a letra desta última destaca toda a transgressão proposta por Tom Zé.

Impossível não se encantar com a graça turbinada de "Vai (Menina Amanhã de Manhã)", o arranjo vanguardista de "Toc", a tropicalista "Dói", a linda/orquestrada "Só (Solidão)" e o samba de morro "Se".

Dentro de um contexto rítmico improvável e desconcertante do que se espera do samba, vale ainda mencionar o nome do Dirceu Medeiros, lendário baterista que participou da gravação deste álbum.

Estudando o Samba não só assegurou a carreira de Tom Zé - embora tardiamente - como também foi influência direta para inúmeros artistas, do Arrigo Barnabé a Tulipa Ruiz.

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