segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A Trilogia Gay do Agnaldo Timóteo

A década de 1970 foi muito rica pra música popular brasileira. E quando falo em popular, me refiro aos artistas donos de sucesso comercial, que tocavam nas rádios e faziam a trilha sonora de grande parte população. Nada de Chico Buarque ou Milton Nascimento. Falo do pop brasileiro tão subestimado.

Passada décadas, Odair José e Fernando Mendes tornaram-se cult para a nova geração. Parte devido a elogios de Caetano Veloso, parte ao livro Eu Não Sou Cachorro Não (Paulo César de Araújo) que contextualizou o período, mas também graças ao real valor artístico. Exemplo? Não tem quem ouse negar a qualidade de discos como O Filho de José e Maria, obra conceitual lançada por Odair José e que tinha em sua ficha técnica membros do Azymuth.


Um cara que ainda não conseguiu o hype artístico da molecada é o Agnaldo Timóteo. Tem quem sinta asco pelo político ou vê apenas como piada o "sempre polêmico" convidado do programa da Luciana Gimenez. Todavia, três discos lançados pelo cantor na década de 1970 merecem atenção.

A Galeria do Amor (1975), Perdido da Noite (1976) e Eu Pecador (1977) são hoje facilmente encontrados no Spotify, mas sofreram resistência da EMI-Odeon. O primeiro deles logo de cara devido a faixa-título, uma crônica ambientada na Galeria Alaska, famoso reduto gay carioca da época. Já a canção que nomeia o segundo disco é um hino a favor da liberdade sexual. "Eu Pecador" por sua vez põe em xeque preceitos religiosos.


Tá certo que poucos associaram as letras homossexuais a um homem brucutu como Timóteo. Se fosse o Ney Matogrosso daria na cara. E eis o mérito desses artistas ditos populares/bregas. Eles conseguiam em meio a uma truculenta ditadura militar e ambiente conservador armado pela censura, cantar sobre prostitutas, anticoncepcional e homossexualismo. Transgressor é pouco para eles.

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