sexta-feira, 16 de setembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Radiohead - Kid A (2000)

Após o sucesso de Ok Computer (1997), os holofotes se viraram para o Radiohead. Todos queriam saber o que aquele quinteto formado por ingleses estranhos e cabisbaixos estava tramando. Fugindo do óbvio o grupo lançou Kid A (2000), trabalho desafiador que consagrou a banda como uma das mais criativas e relevantes das últimas décadas.


Produzido por Nigel Godrich em parceria com o grupo, o álbum abre mão das guitarras em favorecimento de timbres eletrônicos abstratos. Não que isso afetasse o Jonny Greenwood, já que era ele o responsável pelos arranjos pouco ortodoxos e incursão pelos instrumentos eletrônicos, tanto os mais antigos (Ondes Martenot) quanto os modernos (via softwares).

A letra delirante de "Everything In Its Right Place" é amparada pelo instrumental minimalista, atmosférico, pulsante e de harmonia arrojada. Já em "Kid A" a voz do Thom Yorke é manipulada até tornar-se irreconhecível. Isso, claro, em cima de ritmos complexos e texturas oriundas da música ambient e glitch.

A cozinha ultra subestimada formada por Colin Greenwood (baixo) e Philip Selway (bateria) domina a poderosa "The National Anthem". Ao menos é o que acontece antes de frases jazzísticas de sax atropelarem a canção. A faixa foi inspirada na obra do Charles Mingus.

A melancolia predomina na dilacerante "How To Disappear Completely", que é irresistível em sua melodia contida e belíssima no arranjo orquestrado. Curiosamente, a canção foi gravada dentro de uma igreja, o que gerou sua intensa reverberação. Um das canções mais profundas do grupo.

A experimentação eletrônica do grupo toma novos rumos via a espetacular "Idioteque", que explora samples de trabalhos do Paul Lansky, traz uma das performances mais versáteis do Thom Yorke (ora agitada, ora num lindo falsete) e tem uma construção rítmica refinada e frenética.

O disco ainda reserva a atmosfera ambient de "Treefingers", a oxigenação do krautrock em "Optimistic", a deliciosa estranheza de "Morning Bell" e a magia épica de "Motion Picture Soundtrack".

Talvez devido as incertezas sonoras do novo milênio, a liberdade artística de Kid A se fez possível, sendo o disco um sucesso comercial e merecedor de prêmios no Grammy. Radiohead abriu novas possibilidades e foi copiado por inúmeras bandas, que por outro lado, não tinham nas experimentações nada há dizer. Em seu mundo particular de criação, o Radiohead reina isolado numa exuberante criatividade.

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