terça-feira, 10 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Belchior - Alucinação (1976)

O cearense Belchior é um artista único dentro da música brasileira. Rompeu com o eixo Bahia-Rio-São Paulo através de suas maravilhosas composições cedidas a interpretes como Elis Regina. Em 1976, apostou alto no seu segundo trabalho. O resultado não poderia ter sido melhor.


Sucesso entre critica e público, Alucinação é emotivo, irônico, depressivo e rompe com qualquer otimismo hipponga. Tecnicamente, para refinar suas composições, contou com a produção de Mazzola e o apoio do chefão da indústria André Midani (da então Polygram), além de músicos de alto calibre, vide o pianista/arranjador José Roberto Bertrami, o baixista Paulo César Barros e o guitarrista Rick Ferreira.

Em parte, o sucesso se deu devido o alcance que Belchior teve através de suas composições presentes no aclamado Falso Brilhante da Elis Regina, lançado um ano antes de Alucinação. Entre tais canções com o mesmo êxito artístico em ambas as obras estão a emblemática/desiludida "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida", aqui bem mais progressiva.

Se a voz fanha de Belchior soa peculiar, suas letras e interpretação convicta compensam. A balada pop "Apenas Um Rapaz Latino Americano" é existencialista e sarcástica. A grooveada "Sujeito de Sorte" tem seu ápice na frase "ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro". A autobiográfica "Fotografia 3x4" é emocionante. Já "Alucinação" é o retrato perfeito do tédio urbano.

Se hoje a figura de Belchior é associada com viés cômico as estranhices envolto o seu sumiço, por sua vez, a linda "A Palo Seco" já revelava muito dessa tendência reclusa.

Um álbum genial de um compositor que, embora tenha escrito canções sem firulas, parece ainda não ter sido completamente compreendido.

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