segunda-feira, 25 de abril de 2016

PRINCE, O ÚLTIMO EXCÊNTRICO DO POP

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Prince morreu. O singular artista foi encontrado morto em sua casa/estúdio aos 57 anos.

Devo confessar que minha interação com a obra do Prince foi tardia e pontual. Por muito tempo o artista foi para mim - e para muitos que nasceram na década de 1990 - apenas um cantor espalhafatoso, "gayzão", dono de um estranho hit chamado "Kiss".

Tudo começou mudar conforme amadureci. Quando ele lançou o Musicology (2005), - álbum que colocou o artista de volta ao topo das paradas após anos de fracassos comercial -, eu já tinha meus 14 anos. De imediato percebi que o groove do disco era riquíssimo. Chegara a hora de adentrar com seriedade sua obra.

Purple Rain (1984) foi a porta de entrada óbvia. Trilha sonora de um filme cafonaço, o álbum ao menos é uma unanimidade pop, que funde funk, rock, r&b e synthpop. Melhor ainda era o anterior, 1999 (1982), onde sua magnitude artística beira o absurdo.

Sua excentricidade, ao contrário de muitos "artista" criados, não está somente em sua roupa, postura e dança, mas também em seu talento sonoro. Multi-instrumentista virtuoso - GRANDE guitarrista -, produtor impecável e compositor de mão cheia, seu absurdo talento se contrapunha a mediocridade que reinou na música pop. Prince conseguia reunir em sua baixa estatura pitadas de James Brown, Stevie Wonder, Jimi Hendrix, Miles Davis, George Clinton, Sly Stone e Giorgio Moroder. Duvida? Ouça seus espetaculares dois primeiros álbuns, onde gravou TODOS os instrumentos. É genial!

Outro lado de sua excentricidade está em seu combate ao corporativismo da música. Quando se deu conta que não tinha direito sobre suas gravações originais, chegou a mudar seu nome para um símbolo impronunciável e lançar discos de qualidade questionáveis só para boicotar sua gravadora, a Warner. Quando vinha a público, era sempre com a palavra "Slave" ("escravo") escrita na cara.

Ao se livrar da gravadora, voltou a produzir insanamente. Logo de cara saiu o triplo Emancipation (1996). Todavia, sua música ficara cada vez mais complexa, lisérgica, funkeada e menos acessível. Produtivo como poucos em estúdios. Incansável nos palcos.

Resistente ao compartilhamento de músicas pela internet, lutou contra a exposição da sua obra pela rede. Não tinha página do Facebook, mandou retirar seus vídeos do YouTube, não estava presente nos sites de streaming e nem mesmo nos de download ilegais. Isso inevitavelmente o afastou de uma nova geração acostumada a ter as coisas com apenas um click. Aparentemente nada disso o incomodou. Ele fez do auto boicote um charme.

Pós-Prince, nenhum arista do pop reuniu tanto talento e excentricidade. Lady Gaga tentou, mas não chegou nem perto. Hoje não é nem excêntrica, nem pop, nem talentosa. Na monarquia da música, Prince é único.

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