quinta-feira, 18 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Talking Heads - Remain In Light (1980)

O Talking Heads teve como berço o punk rock nova-iorquino. Todavia, seu som foi se distanciando de seus companheiros de cena através de inquietantes experimentações. Em Remain In Light (1980), a principal inovação se deu via os ritmos africanos.


Sendo esse o quarto trabalho do Talking Heads - terceiro em parceria com o lendário produtor/músico Brian Eno -, a banda liderada por David Byrne busca referências na world music, sendo o afrobeat Fela Kuti sua principal inspiração. Desta forma, a new wave ganha ainda mais personalidade, se afastando de vez da simplicidade do punk rock e soando mais funky.

Além de polirritmias complexas e loops ousados, muita da estranheza do álbum se dá graças as guitarras esquizofrênicas de Adrian Belew - anteriormente David Bowie e Frank Zappa, posteriormente King Crimson -, tanto no que diz respeito aos timbres peculiares, quanto as ideias rítmicas/melódicas, vide o solo pitoresco de "Born Under Punches".

A cozinha freneticamente funkeada formada por Tina Weymouth (baixo) e Chris Frantz (bateria) é subestimada. A maneira com que eles fazem soar divertidas/dançantes as passagens intrincadas de "The Great Curve" (que guitarras do Belew!) e "Houses In Motion" (com um tempero à la "Stevie Wonder do oriente médio") é por vezes assustadora. Já o clima ambient music do Brian Eno se revela em "The Overload".

Paralelo a tudo isso, David Byrne cria camadas vocais para letras não menos que surreais. Entre as canções que melhor trazem as vocalizações singulares de seu líder estão "Crosseyed And Painless" e o hit "Once In A Lifetime" (world music ao extremo!).

Apesar de ter se tornado uma obra referência para novas sonoridades, Remain In Light é antes de tudo um trabalho de artistas dispostos a desafios. Todo o resto é consequência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário