Existe ainda hoje quem de imediato associe os Beach Boys ao surf rock divertido de seus primeiros álbuns. Todavia, na hora de apontar o grande clássico na imensa discografia do grupo, é praticamente unânime a escolha de Pet Sounds (1966).
É lendária a "rivalidade" que o grupo teria com os Beatles (que acabara de lançar Rubber Soul), sendo cada disco uma resposta criativa ao "adversário". Todavia, muito mais que uma mera competição, Pet Sounds (1966) é a base para muito do que a música popular iria (e irá) encarar nas décadas seguintes.
Composições brilhantes - superando os antigos temas: praia, sol, carros e biquínis -, recebem arranjos complexos e cristalinos. Isso foi arquitetado pela mente solitária/alucinante/paranoica/genial do Brian Wilson, que transitava entre as mais elaboradas estruturas da música erudita, experimentações psicodélicas e a abordagem acessível e melódica da música pop jovem. Daí brotam pérolas clássicas como a deliciosa (e mega citada em filmes) "Wouldn't It Be Nice" e a emotiva "God Only Knows". Ambas tão solares quanto angustiantes.
Entre orquestrações - com direito aos mais diversos pianos, instrumentos de cordas sinfônicos, trombetas, flautas, sinos, teremin, campainhas, latas, latidos e outras traquitanas -, e harmonias vocais alucinantes, destacam-se "You Still Believe In Me" e as lindas "Don't Talk", “I Just Wasn’t Made For These Times” e "Caroline No".
A junção da enorme capacidade vocal do grupo, a colaboração de músicos requisitados da Wrecking Crew - vide Carol Kaye (baixo), Jim Gordon (bateria), Hal Blaine (percussão), Tommy Tedesco e Barney Kessel (guitarra) - e a utilização de técnicas de gravação como a wall of sound - de criação do lendário Phil Spector -, deram o toque de sofisticação e grandiosidade sonora necessária a obra, exemplificado nas exuberantes “I’m Waiting For The Day”, "Let's Go Away For Awhile" e “Here Today”.
A dramaticidade das interpretações e das letras também ajudaram no prestigio quase irracional que a obra ganhou com o passar dos anos, ainda que a Capitol não tenha se esforçado na divulgação do disco na época de seu lançamento. Um trabalho que transcende o tempo e, que no final das contas, sobrevive graças a profundidade do resultado sonoro. Clássico da capa até a última nota.

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