segunda-feira, 27 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Chico Buarque - Construção (1971)

Lançado em 1971, Construção foi o primeiro grande disco do Chico Buarque, artista que há anos vinha demarcando seu espaço como grande compositor de música popular brasileira. O trabalho serviu não só como meio de protesto político, mas também como firmamento de uma identidade de canção popular nacional.


Não mais se resumindo a já datada bossa nova, aqui o carioca branquelo de olhos claros invoca ousadia tanto nas composições quanto nos arranjos, sendo vários deles de autoria do Magrão (MPB-4) e outros do Rogério Duprat, lendário maestro das orquestrações tropicalistas. A produção ficou a cargo do Roberto Menescal. A eficiência deste timaço pode ser sentida na tensa "Deus Lhe Pague".

Mas não paramos por aí nas parcerias. Toquinho e Vinícius de Moraes colaboram em composições como "Samba de Orly", canção em homenagem aos artistas exilados pelo regime militar - dentre eles Caetano Veloso e Gilberto Gil - e que traz no instrumental a presença do Trio Mocotó. Poeticamente, "Cordão" também aborda sua resistência a truculência política.

A proximidade com o dia a dia do ouvinte passa pela encantadora "Cotidiano". Já o lado lúdico e apaixonado é priorizado na bela "Valsinha". "Minha História" mais parece tentar recuperar o estilo pop feito pelo Wilson Simonal, enquanto "Acalanto" é uma refinada poesia musicada.

Todavia, o grande hino do disco é a faixa homônima "Construção". Além de conter um instrumental épico, graças ao maravilhoso arranjo que serve de cenário para a narrativa, sua letra é não menos que emblemática. É uma critica ferrenha a alienação do sistema capitalista e da ditadura militar. A estrutura é formada por 3 blocos de 17 versos que mantém uma alternância da proparoxítona final. Definitivamente uma construção poética brilhante.

Há poucos anos, Chico Buarque foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil o maior artista brasileiro vivo. Já Construção levou medalha de bronze no pódio dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, sendo a faixa-título escolhida como a maior composição da música brasileira. Superestimado ou não, a excelência, assim como a lenda, resiste. Estimulado pelas dificuldades politicas do período, Chico gravou um clássico definitivo.

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