terça-feira, 4 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: The Beatles - Abbey Road (1969)

Sempre que me deparo com um iniciante em Beatles, recomendo a ele a audição da discografia do grupo de trás para frente. Digo isso porque é impossível uma pessoa ficar imune ao espetacular e derradeiro Abbey Road (1969). É a melhor sequência faixa a faixa que o grupo produziu.


O álbum é a tampa no caixão do quarteto do Liverpool. Ainda que Let It Be (1970) tenha saído um ano depois, ele foi lançado já após o fim do grupo, reunindo canções gravadas anteriormente ao Abbey Road, em meio a brigas entre os integrantes e produção questionável - inclusive pelo próprio Paul McCartney - do problemático Phil Spector. É praticamente um disco não aprovado (embora brilhante).

Com Abbey Road foi o contrário. Já projetando a dissolução da banda, ficou mais fácil para os integrantes superarem as divergências e se concentrarem nas composições/gravação. Somado a isso, temos a maturidade mais rápida e impressionante da história da música - como eles conseguiram evoluir tanto em apenas 6 anos? -, resultando em momentos geniais, seja através das composições ou das performances.

Logo de cara temos "Come Together", dona de um refrão empolgante, bateria criativa e linha de baixo cheia de suspense. Todas essas peças isoladamente memoráveis e fantásticas. E pensar que ainda hoje tem quem ache que os Beatles não tinham bons instrumentistas. Todavia, verdade seja dita, a melodia foi chupinhada de "You Can't Catch Me" (Chuck Berry).

A coisa desanda em "Something", uma das mais belas baladas da história, dona de baixo ultra melodioso e, diz a lenda, composição do quarteto predileta do Frank Sinatra. É um poético tratado sobre o amor, fazendo até mesmo com que o tema não soe tão batido. Já a solar "Hear Comes The Sun" é de leveza transcendental, mesmo num ousado compasso de 11/8. Ambas as canções são de autoria do subestimado (enquanto compositor) George Harrison.

"Maxwell's Silver Hammer" é uma daquelas maravilhas que brotaram inteiramente da cabeça do Paul McCartney. Um quebra-cabeça de instrumentos cuidadosamente agrupados por George Martin. Seu arranjo complexo e bem humorado prevê a sonoridade grandiosa de grupos como o Queen.

McCartney é vocalmente intenso na empolgante "Oh! Darling". Já Lennon é psicodélico, carismático e perturbador nas geniais "I Want You (She's So Heavy)" (que baixo!) e "Because" (o que dizer desse arranjo de vozes?).

Quando tudo parece já ter chegado ao cume do brilhantismo, "You Never Give Your Money" inicia uma sequência épica/absurda de composições fantásticas, vide a grandiosa harmonia vocal de "Sun King", o arranjo impecável e a melodia perfeita de "Golden Slumbers"/"Carry That Weight" e a despedida empolgante, divertida, pacifica, amorosa e recheada de solos - de guitarras (na ordem: Paul, George e John, 3x de cada) e do Ringo - nomeada "The End". 

Somente esse disco já seria o suficiente para reconhecer os Beatles como uma das maiores bandas da história. Da emblemática capa - parodiada diariamente por artistas e turistas, além de fazer referência a "morte" do Paul  - até a última nota, tudo é perfeito. Histórico!

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