sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Outkast - Speakerboxxx/The Love Below (2003)

Já faz algumas décadas que não é mais possível confiar na industria musical (se é que um dia foi possível). Seja os artistas mainstream, as gravadoras, produtores, empresários, a revista Rolling Stone, a MTV ou o próprio público alienado, todos estão a serviço do entretenimento barato. Com isso, o hip hop que antes sobrevivia à margem do jogo, virou o trampolim para figuras medíocres evacuarem na cabeça dos ouvintes e receberem aplausos por isso. 

Mas porque deste meu discurso rancoroso? Para deixar claro que, apesar de todo esse corporativismo destrutivo, alguns nomes fogem a regra. Um exemplo disso é o Outkast, grupo/duo que alcançou popularidade sem abrir mão dos méritos artísticos.


Na época em que foi lançado o grandioso Speakerboxxx/The Love Below (2003), o Outkast já era prestigiado dentro do circuito do hip hop. Mas o clima interno não era dos melhores. Foi então que a dupla formada por Big Boi e André 3000 decidiu, numa espécie de síndrome egocêntrica, lançar seus respectivos discos solos distribuídos num único trabalho duplo do grupo. Essa fórmula transformou-se num verdadeiro ringue para ver que lançaria o melhor álbum. Quem ganhou com isso foi o ouvinte, que levou dois dos melhores discos do século XXI.

Speakerboxxx, obra do Big Boi, é muito mais fácil de se enquadrar no território do rap, embora repleto de experimentações na produção e doses de psicodelia ébria nas composições. Não é absurdo dizer que o p-funk do George Clinton influenciou no resultado final. Dentre as faixas que merecem destaque estão a frenética "Ghetto Musick", a funkeada "The Rooster" e a pesada "Bust".

Já The Love Below, o lado do André 3000, é muito mais abrangente - numa época em que o rap não fazia grandes incursões sonoras por outros estilos -, flertando sem pudor com o jazz, funk, soul e a música pop. Falando em música pop, alguém é capaz de citar um hit de sonoridade e alcance popular feito neste milênio que seja melhor que "Hey Ya!"? Isso sem se falar da divertidíssima "Roses".

Resultado de tudo isso? A consagração do hip hop sulista (ou southern hip hop - eles são de Atlanta), mais de 5 milhões de cópias vendidas e o Grammy de melhor álbum do ano, feito ainda hoje raro para o rap.

Talvez em nenhum outro momento da história da música, o conflito de interesses dentro de um mesmo grupo tenha sido tão produtivo. O hip hop ainda tem muito o que aprender com o Outkast.

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