terça-feira, 22 de março de 2011

TEM QUE OUVIR: The Beatles - Revolver (1966)

Costumo avaliar a beatlemania como um fenômeno de exageros. Com o olhar de "meio século depois", considero que a revolução comportamental causada pelo grupo em sua fase inicial seja muito maior que a obra em si. Polêmico? Provavelmente. Mas fato é que rapidamente a banda tomou novos rumos artísticos. O ponto de partida desta evolução sonora está claramente grifado na discografia do grupo com o álbum Revolver (1966), dono de maravilhosa capa confeccionada pelo Klaus Voormann.


O disco logo de cara apresenta a fantástica "Taxman", onde qualquer semelhança com o tema original de Batman não é mera coincidência. A música traz como curiosidade o ótimo solo de guitarra, executado não por George Harrison, mas por Paul McCartney. Fora que a linha de baixo também é um espetáculo.

Na sequência temos a contrapontística "Eleanor Rigby" - e essas cordas, lembram Bernard Herrmann em Psicose? -, uma das melhores e mais belas composições do quarteto, que expõe a sofisticação crescente do grupo no quesito arranjos orquestrados, mérito também do lendário produtor George Martin. Esse cuidado se mantém na balada "I'm Only Sleeping", onde as experimentações de estúdio ficam evidentes no solo do George, que opta por uma melodia construída ao contrário, tendo em vista a rotação da fita invertida na gravação.

Alias, o disco é claramente um dos que mais teve a mão do subestimado guitarrista. Além dele colaborar diretamente nas composições, vide a ótima "I Want To Tell You", sua influência de música indiana é bastante presente, como na psicodélica "Love To You".

O disco dá uma acalmada com a linda balada "Here, There And Everywhere" e a engraçadinha "Yellow Submarine", que além de ter Ringo Starr cantando, apresenta sons sobrepostos claramente influenciados pela música de vanguarda. Já o rock psicodélico volta com força total na sensacional "She Said She Said", que comprova o talento do Ringo na hora de criar levadas de bateria criativas/consistentes.

Virando o lado do disco temos a contagiante "Good Day Sunshine" e a exuberante "For No One", que são "apenas" duas entre tantas excepcionais composições da dobradinha Lennon/McCartney.

"And Your Bird Can Sing" tem como principal atrativo as guitarras de George e Paul se complementando em perfeita harmonia. Já "Got To Get You Into My Life" é um dos melhores rocks do quarteto, que por um momento ganha colaborações externas de um grupo de metais e do órgão de George Martin.

Se "Doctor Robert" é um rock simples de letra lisérgica condizente a época, o oposto ocorre na genial "Tomorrow Never Knows", que resume todo o brilhantismo do disco. Nela é possível encontrar ótimo groove em looping do Ringo, a influência indiana do George, as pesquisas sonoras de vanguarda do Paul, uma espetacular letra budista do John, além de delirantes sons invertidos, colagens sonoras, camadas psicodelicas, "gaivotas", dentre outras experimentações de estúdio.

Definitivamente, Revolver foi o disco que apontou para novos rumos, não só do quarteto, mas também de toda a música popular.

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