sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os melhores discos nacionais da década de 2000

Sem delongas, continuando a lista dos grandes discos da primeira década de 2000. Desta vez, destaque para os nacionais. 

Obs: Alguns não envelheceram tão bem, mas quis menciona-los mesmo assim por ter ouvido muito quando lançados. Vale como registro de uma época.


Cássia Eller - Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo ao Vivo (2000)
Quero começar com uma pequena trapaça. Isso porque, até onde sei, esse show saiu apenas em DVD. Mas para mim, é o trabalho que melhor representa a Cássia Eller, já estourada, com ótima banda e repertório variado. Há muita atitude nas interpretações.

509-E - Provérbios 13 (2000)
Dexter e Afro-X numa paulada socialmente afrontosa. Os textos parecem uma continuação natural do que os Racionais haviam feito até então, só que com beats soturnos sonoramente ainda melhor resolvidos. Impactante.

Cálix - Canções de Beurin (2000)
A escola do rock progressivo brasileiro muito bem representada. Cálix consegue misturar Jethro Tull e música folk numa abordagem tipicamente mineira. Isso tudo no adentrar do século. Bem bom, por mais improvável que seja.

Planet Hemp - A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000)
O álbum derradeiro (até então) do Planet Hemp. O repertório é primoroso e a produção muito melhor resolvida que nos álbuns anteriores, muito devido a mão do Mario Caldato Jr.. Um clássico que precisa ser melhor avaliado.

Point Of No Return - Centelha (2000)
Clássico da geração Verdurada. "Straight edge hardcore metalcore vegan bica no ar". Performances não menos que intensas. 

Sabotage - Rap é Compromisso! (2000)
Disco de estreia do maior rapper brasileiro. Ótimas letras, grooves interessantes e uma extraordinária capacidade rítmica ao cantar. Infelizmente, todas essas qualidade duraram pouco devido sua trágica morte. Todavia, esse trabalho fica como um dos mais importantes registros do rap nacional.

X+2 (Moreno +2) - Máquina de Escrever Música (2000)
Primeiro álbum da parceria do Moreno Veloso com o Domenico e Kassin. É a música popular brasileira numa abordagem contemporânea, acessível e graciosa nas melodias e interpretação. Fora que o projeto deu destaque a três dos artistas mais talentosos desta geração.

*Hurtmold - Et Cetera (2000)
Hurtmold, hoje mais ligado a música brasileira/jazz/post-rock, em seu primeiro disco, curiosamente influenciado pelo Fugazi. Marcou uma geração.

*Mopho - Mopho (2000)
Hoje a psicodelia é vista com naturalidade, mas na virada do século nem tanto. Dito isso, essa banda de Alagoas foi importante para esse revival. Isso, claro, através de boas canções.

Cachorro Grande - Cachorro Grande (2001)
Estreia dos gaúchos da Cachorro Grande. Cru, rockeiro, energético, bem tocado e eficaz. Melhor disco do grupo.

Nico Assumpção, Lincoln Cheib & Nelson Faria - Três/Three (2001)
Esse disco pode ser considerado um clássico da música instrumental brasileira recente. Não por acaso, já que os três são feras de seus respectivos instrumentos. Se a interação e os improvisos são acima de qualquer suspeita, vale ainda pontuar as composições, vide a memorável “Paca Tatú Cotia Não”.

Walverdes - Anticontrole (2001)
Mais um ótimo resultado da cena do rock independente que explodiu no inicio do século. É sujo e visceral, ao mesmo tempo que bem resolvido sonoramente.

Yamandu Costa - Yamandu (2001)
Assombrosa estreia de um artista que renovou o violão brasileiro, a música instrumental e a música da região Sul. Virtuoso e cheio de atitude.

*Los Hermanos - Bloco Do Eu Sozinho (2001)
Eu passo longe de morrer de amores, mas não vou juntar coro com aqueles que, por bobeira, acham intragável. Tem seu valor. Acho o repertório desse melhor que o do aclamado Ventura (2003).

*Presto? - Ódio Puro Concentrado (2001)
Uma combinação fulera e desgraçada de grindcore, hardcore e afinações baixas. Socão na barriga.

Thee Butchers' Orchestra - Golden Hits by... (2001)
Se enquanto fez parte do Cansei de Ser Sexy o talentoso Adriano Cintra não conseguiu chamar a minha atenção, no passado ele lançou essa pérola que bebia do garage rock revival do Jon Spencer Blues Explosion. Sonzera!

Ed Motta - Dwitza (2002)
Disco jazzistico do Ed Motta, com composições magnificas e uma clareza instrumental impressionante. Ele inegavelmente sabe das coisas.

Forgotten Boys - Gimme More (2002)
Pitadas de proto-punk, punk, rock n' roll e até mesmo sleaze. É tosco e energético. É o suficiente.

Jupiter Apple - Hisscivilization (2002)
Um disco absurdo de criativo, que transcende a psicodelia. A prova de que o Jupiter Apple não era somente muito doido, mas também ultra talentoso.

Racionais MC's - Nada Como Um Dia Após o Outro Dia (2002)
Após a pedrada que foi o Sobrevivendo no Inferno (1997), um álbum mais funky, versátil e até mesmo solar. Isso tudo sem precisar abandonar a tensão lírica e sonora quando necessária. Alguns dos maiores clássicos do grupo estão aqui. Ótima produção.

Los Pirata - En Una Onda Neo Punque (2003)
Surf rock, punk, rockabilly, letras em "portunhol" e uma bateria de brinquedo. Precisa de mais alguma coisa? Fora que o João Erbetta é um tremendo guitarrista.

Matanza - Música Para Beber e Brigar (2003)
Eu era adolescente, fazia sentido. Fora que a mistura de Johnny Cash com Motörhead tinha sua graça. Não envelheceu tão bem.

Nuno Mindelis - Twelve Hours (2003)
Grande bluesman brasileiro. Neste disco ele não apresenta nada além do bom e velho blues extremamente bem feito e guitarristicamente acima de qualquer suspeita. É o suficiente.

Otto - Condom Black (2003)
Tendo como aliados de produção o Apollo 9 e Pupillo, Otto propõe uma experiência de canção popular brasileira antenada a elementos eletrônicos. 

Pitty - Admirável Chip Novo (2003)
Estreia solo da cantora baiana. É o pop rock com peso, letras joviais provocativas, carisma e canções memoráveis que fizeram muito sucesso mesmo num cenário desfavorável. Só por isso já vale estar aqui.

Skank - Cosmotron (2003)
Sai a influência de reggae, entra a psicodelia dos Beatles, o britpop contemporâneo e o DNA do Clube da Esquina. O resultado é o melhor disco da melhor banda do pop rock nacional.

*Autoramas - Nada Pode Para Os Autoramas (2003)
O Gabriel Thomaz sempre foi um bom compositor, sendo aqui ele encontrou um ótimo balanço entre o apelo pop rock e timbres saturados que elevam a intensidade das canções.

*Retrofoguetes - Ativar Retrofoguetes! (2003)
Porque o surf rock que se preze tem que vir da Bahia. Ensolarado, cheio de guitarras, muito bem tocado e com composições dançantes. É o suficiente.

Angra - Temple Of Shadows (2004)
Não colocar esse disco na lista seria negar um dos álbuns que mais ouvi nesta década. Mesmo não gostando mais dos estilos que predominam no trabalho (power metal e metal progressivo), esse disco ainda me atrai, não somente por mera nostalgia, mas pelo fato das composições serem excelentes. Para mim (e grande parte da minha geração) o melhor trabalho do Angra.

Black Alien - Babylon By Gus Vol. 1 - o Ano do Macaco (2004)
Um MC de personalidade, tanto nos textos e flow quanto na escolha dos beats. É o rap carioca em seu melhor momento. Altamente influente e repleto de momentos memoráveis.

Danilo Brito - Perambulando (2004)
Bandolinista espetacular que colocou o instrumento novamente sob holofotes da música instrumental. Cristalino.

Dead Fish - Zero e Um (2004)
De toda a geração de hardcore melódico que dominou o rock mainstream da época, nenhuma banda se saiu tão bem quanto o Dead Fish, sendo Zero e Um um registro energético contendo o que há de melhor no grupo. Ótima mixagem.

Mundo Livre S/A - O Outro Mundo de Manuela Rosário (2004)
Uma banda subestimada em um de seus melhores discos. A produção é cristalina, moderna, orgânica e pulsante. As composições são espetaculares, amarradas por um elemento quase conceitual. É um tremendo disco!

Projeto Alpha - Projeto Alpha I & II (2004)
Projeto interessantíssimo do Lanny Gordin com jovens músicos (dentre eles seu legitimo discípulo Guilherme Held). Músicas com clima descontraído (algumas quase circenses) e elevado nível de arranjo. As composições transitam entre o fusion, jazz, música brasileira, contemporânea, rock psicodélico e outras maluquices.

SpokFrevo Orquestra - Passo de Anjo (2004)
Sejamos honestos, o frevo entrou no novo milênio como um estilo tradicional estagnado. Todavia, o Spok formou essa grandiosa orquestra que deu novo vigor ao estilo. Faixas virtuosas, quentes, dançantes, complexas e potentes. Legal demais!

Pata de Elefante - Para de Elefante (2004)
Com esse ótimo disco o grupo colocou nova luz no cenário independente de rock instrumental. Excelentes composições, muito bem tocadas e de sonoridade orgânica primorosa.

*Mombojó - Nadadenovo (2004)
Um dos melhores (se não "o" melhor) fruto do Manguebeat. Bom repertório, produção/arranjos cuidadosos e uma certa interação com o indie rock que explodia internacionalmente, ainda que de personalidade sonora completamente brasileira, inclusive quando remete a Jovem Guarda.

Baranga - Whiskey do Diabo (2005)
Rock n' roll pesado, direito e "cervejeiro" como há tempos não se via no Brasil. Tem prazo de idade. 

Tomati - Lord's Childrens (2005)
Disco do ótimo "guitarrista do Jô", mas ao contrário do que se espera de um trabalho solo de um guitarrista, esse passa longe dos velhos "sobe e desce de escalas na velocidade da luz". Tomati presenteia o ouvinte com diversos estilos. Tem rock, jazz, baião e até gospel. Excelente disco, que alias, vem acompanhado de uma bela revista/encarte.

*Aldir Blanc - Vida Noturna (2005)
Disco descoberto com o tempo, o tempo que a vida me deu para compreende-lo, o tempo que lapidou o veterano compositor. Belo, boêmio, romântico e elegante. Vai escrever bem assim lá no inferno!

*CSS - Cansei de Ser Sexy (2005)
Na época eu achava uma bobeira, mas hoje vejo que envelheceu bem. É tão tosco e descompromissado que acaba tendo personalidade e carisma. Fora que a produção é bacana.

Ludovic - Idioma Morto (2006)
O post-hardcore brasileiro num disco intenso e de peito aberto. Adoro a urgência das composições e interpretações. Marcou uma geração.

Cascadura - Bogary (2006)
O melhor disco dessa grande banda baiana liderada pelo o Fabio Cascadura, um compositor de mão cheia, que vai do mais perfeito rock n' roll até a sensibilidade pop num piscar de olhos.

Caetano Veloso - Cê (2006)
Disco "rocker/indie" do Caetano. O melhor álbum desde o longínquo Circulado. Acompanhado por uma banda de jovens músicos, Caetano fez um criativo trabalho comprovando que não é um artista acomodado. Adoro sua crueza e jovialidade.

Carro Bomba - Segundo Atentado (2006)
Hardão poderoso e imundo executado por um tremendo power trio. Ouvi muito na época. Combina com conhaque aos 16 anos.

Mobilis Stabilis - Extra Corpore (2006)
Projeto instrumental do guitarrista Hélcio Aguirra (Golpe de Estado). O grupo mistura rock progressivo com música oriental, tudo com muito bom gosto e ótima gravação. Além disso, era uma estupenda banda ao vivo.

Pedra - Pedra (2006)
Ótima banda que tem como fonte de inspiração o rock/música brasileira setentista, o que inevitavelmente gera boas composições e performances. Ouvi muito quando saiu. 

Rogério Skylab - Skylab VI (2006)
Embora nem sempre levado com seriedade, ele é um artista ousado nas composições, que sabe explorar o humor e o estranhamento. Ninguém fica indiferente as suas letras, o que atualmente é um grande feito. Sua banda também é competente. Aqui temos disparado o seu melhor repertório.

João Bosco - Obrigado, Gente! (2006)
Sou meio contra colocar um disco ao vivo de um artista medalhão nos "melhores do ano/década", mas este caso especifico é muito especial. O João está acompanhado de uma banda maravilhosa (não só tecnicamente, mas principalmente no quesito entrosamento), os arranjos são impecáveis, a gravação é ótima, o repertório nem se fala. Genial! Ouvi muito.

*Fresno - Ciano (2006)
Fresno pré Rick Bonadio, demonstrando intensidade na execução e aflorada paixão em canções sentimentais de uma geração que podia finalmente olhar para suas angústias. Disparado o melhor trabalho da cena emo. Ouça sem preconceito.

Lanny Gordin - Duos (2007)
Disco que concretizou a volta do Lanny Gordin aos palcos (tendo em vista que o disco solo de 2001 e o Projeto Alpha foram os pilares para isso). O mestre da guitarra brasileira teve colaborações de artistas da nova MPB (Wanessa da Mata, Fernanda Takai, Rodrigo Amarante) e medalhões do tropicalismo (Gal, Caetano e Gil). Lanny executou harmonias belíssimas que serviram de cama para os cantores desfilarem livremente pelas canções. Um disco introspectivo e muito sincero.

*Siba - Toda Vez Que Eu Dou Um Passo O Mundo Sai do Lugar
Ao lado da Fuloresta, Siba traz para novas gerações canções genuínas e carismáticas de herança nordestina. Adoro a captação calorosa da gravação. Ciranda pode ser legal demais.

Macaco Bong - Artista Igual Pedreiro (2008)
Um power trio instrumental poderoso que consegue trabalhar o desenvolvimento das composições além do ego dos integrantes. Viajante, ácido e encorpado. Fora que até o nome do disco é ótimo.

Krisiun - Southern Storm (2008)
Brutal, ríspido e veloz. Se o Diabo já se borrou de medo, foi ouvindo este disco aqui. Tudo muito técnico, inspirado e bem produzido. No topo do death metal mundial.

Oficina G3 - Depois da Guerra (2008)
Ótimo disco de um grupo muitas vezes ignorado por conta de sua abordagem religiosa. A entrada de um novo vocalista fez muito bem para a banda, principalmente para o guitarrista Juninho Afram, que mandou bala em um punhado de riffs pesados. Mérito também dos produtores Marcello Pompeu e Heros Trench, respectivamente vocalista e guitarrista do Korzus (está explicado o peso?).

*Curumin - JapanPopShow (2008)
Tremendo disco que trafega pela MPB, rap, música eletrônica, afrobeat, psicodelia e o que mais vier na cabeça. Tudo via canções carismáticas e ótima produção.

*Confronto - Sanctuarium (2008)
Confesso que hoje nem faz tanto a minha cabeça, mas lembro o barulho que fez na época dentro do cenário alternativo do metal. Banda séria e muito competente. Merece a menção.

*Wado - Terceiro Mundo Festivo (2008)
Já com bagagem acumulada, o cantor e compositor chega num bom repertório, que fica no cruzamento da MPB com o pop rock. Divertido e bem escrito.

Ana Cañas - Hein? (2009)
No meio de um vendaval de cantoras tentado igualar a atitude da Cássia Eller, eis que surge Ana Cañas, acompanhada de bons músicos e com um punhado de canções legais. Nada de espetacular, mas com luz própria.

Black Drawing Chalks - Life Is A Big Holiday For Us (2009)
Ignorando qualquer trejeito de brasilidade, a banda aposta num rock energético com traços timbristicos de stoner, mas "composicionalmente" muito mais acessível. Fez certo barulho numa época de pop-emo pasteurizado. É bacana.

Céu - Vagarosa (2009)
Um dos meus discos brasileiros prediletos. Tem samba, música brasileira moderna, pop, além de pitadas de afrobeat e reggae. Grande escolha de repertório. Adoro a sonoridade da gravação. Isso sem falar que a voz da Céu é afrodisíaca. Sensacional.

Cidadão Instigado - Uhuuu! (2009)
Outro dos "prediletos da casa". Grupo espetacular encabeçado pelo Fernando Catatau (que trabalha com o Instituto, Céu, Otto, dentre outros). Mistureba de rock psicodélico com música brega nordestina. Letras cheias de originalidade e timbres excepcionais. Catatau é um anti-herói da guitarra, passando longe da virtuosidade gratuita e optando por oferecer bom gosto e estranhamento nas composições.

Emicida - Para Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe... (2009)
Um rapper promissor tomando os holofotes de assalto. Boas rimas e até mesmo uma certa leveza pop. Ainda que independente, é bem produzido e distribuído com criatividade (CD-R, papel cartão e carimbo). O começo de uma revolução.

Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intraquilos (2009)
Com arranjos afiados e elegante, algumas das composições mais inspiradas e pessoais deste artista crescem emocionalmente.

Rodrigo Campos - São Mateus Não É Um Lugar Tão Longe Assim (2009)
Sendo um compositor e instrumentista acima da média, Rodrigo Campos usa todo seu conhecimento de samba para produzir uma obra que não se prende às esteriotopias estéticas do gênero. 

Romulo Fróes - No Chão Sem o Chão (2009)
Um grande compositor acompanhado de excelentes músicos, todos (compositor e músicos) com um grau de perturbação criativa. Muito bem escrito. Símbolo da música popular brasileira contemporânea.

*Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz - Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (2009)
Captado ao vivo, esse álbum é tradução do talento do Letieres Leite um arranjador e pensador da música brasileira da mais alta estatura. A maneira com que ele trabalha a dinâmica, as tessituras, os ritmos (de origem africana), a Bahia, os sopros, a pressão do som, as melodias, os improvisos... é coisa de mestre.

*Lucas Santtana - Sem Nostalgia (2009)
Esse inquieto compositor e instrumentista reavalia a canção e o violão brasileiro neste disco de "voz e violão" que explora com sabedoria a manipulação do áudio, torcendo os registros sonoros até transforma-los em algo novo. 

*inclusões que fiz com o passar do tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário