sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Herbie Hancock, Mauricio Einhorn & Sebastião Tapajós, Harmonium e Second Come

HERBIE HANCOCK
Fazia uns 15 anos que não ouvia o Sextant (1973) do Herbie Hancock. Confesso que o Head Hunters (também de 1973) ofuscou em mim os outros trabalhos do mesmo período. Todavia, escutando hoje, se bobar acho o Sextant ainda melhor. Questão de gosto, dependendo do dia, afinal, ambos são 10/10.

MAURICIO EINHORN & SEBASTIÃO TAPAJÓS
Álbum lançado pela dupla em 1984. Um absurdo de tão bem tocado. Daqueles nos leva a pensar "pare de perder tempo, volte a estudar seu instrumento". Tem o Arismar do Espirito Santo (baixo) em algumas faixas. 

HARMONIUM
Se sua praia for folk progressivo, trago uma obra-prima: Si On Avait Besoin D'Une Cinquieme Saison (1975) da banda quebequense Harmonium. Disco lindíssimo.

SECOND COME
Somente essa semana consegui assistir o documentário Time Will Burn (Marko Panayotis e Otavio Souza) sobre a cena do rock alternativo brasileira noventista. Adorei o filme. Tanto que me inspirou a reouvir o álbum You (1993) do Second Come. É um tanto quanto inocente, mas acho bem legal.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: John Lennon - Imagine (1971)

Não sei como funciona para a maioria das pessoas, mas para mim, antes mesmo de saber do passado do John Lennon enquanto integrante dos Beatles, eu já o reconhecia ao piano no clipe de "Imagine". Isso talvez seja mais comum na minha geração (nascido na década de 1990), mas aponta para algo indiscutível, que é a força da sua carreira solo.


Imagine (1971) é o segundo álbum solo do John Lennon após o término dos Beatles. Seu sucesso entre critica e público foi arrebatador. Muito disso graças a já citada faixa que nomeia o álbum, uma composição de arranjo enxuto e simplicidade melódica. E por mais que a letra em seu imaginativo utópico pareça ingênua, para época ela soa bastante incisiva. Goste você ou não, um clássico da canção popular mundial.

A música folk britânica se manifesta na contagiante "Crippled Inside", com direito a ótimo piano do Nicky Hopkins e a guitarra slide do George Harrison, que volta a aparecer na delirante "Gimme Some Truth" (espetacular interpretação vocal do John). Alan White, Jim Gordon e Klaus Voormann também dão as caras no disco.

É nítida a mão do lendário Phil Spector na produção do álbum. Isso fica explicito na reverberosa (total wall of sound) "I Don't Wanna Be A Soldier Mama".

"Jealous Guy", composta ainda na época dos Beatles, é das mais bonitas baladas do John Lennon. Seu assovio somado ao arranjo de cordas é inesquecível. Já sua performance abrasiva na guitarra blues de "It's So Hard" evidencia sua subestimada qualidade nas seis cordas.

Vale destacar ainda sua parceria com a Yoko Ono na bonita "Oh My Love", sua cutucada desnecessária no Paul McCartney na sensacional "How Do You Sleep?" e a belíssima "How?", dona de arranjo e melodia exuberantes.

De discografia solo irregular, com direito doideras chatíssimas lançadas em parceria da Yoko, Imagine é o ponto alto da carreira solo do John Lennon, transcendendo musicalmente a icônica faixa título.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Disrupt, Ivan Lins, Professor Longhair e Nurse With Wound

DISRUPT
Unrest (1994), carniceria maravilhosa do Disrupt, perfeita para quem gosta de crust/grind. Desgraçado e divertido.

IVAN LINS
Nunca tinha escutado de cabo a rabo um álbum inteiro do Ivan Lins. Peguei o Modo Livre (1974) e achei bem bom. Alguns momentos lembram Milton Nascimento, outros Taiguara. Bastante puxado para o samba. Fora que tem excelentes harmonias e impecáveis arranjos do Arthur Verocai.

PROFESSOR LONGHAIR
Que baita pianista, não! Acho que dá para chamar o Professor Longhair de um dos primeiros grandes instrumentistas do rock n' roll.

NURSE WITH WOUND
Li um texto elogioso sobre o álbum Homotopy To Marie (1982) do Nurse With Wound e decidi pegar para ouvir. Como bem previ é uma doidera experimental de difícil imersão. Não dá nem para dizer se é ruim ou bom, embora assuma que a experiência de ouvi-lo não foi das mais instigantes. Dizem ser extremamente influente para o rock industrial. Eu acredito.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Lauryn Hill - The Miseducation of Lauryn Hill (1998)

Quando o Fugees estorou em 1996 com o álbum The Score, eles pavimentaram território para uma abordagem mais madura, melódica e profissional do rap, embora sem perder a autenticidade e preservando a força musical e social do hip hop. Tal façanha foi aprimorada no primeiro e único disco solo da Lauryn Hill, o espetacular The Miseducation of Lauryn Hill (1998).


A introdução do álbum cria uma atmosfera conceitual, colocando a artista como aluna da vida e seus aprendizados como lição aos seus ouvintes.

Se o flow de Lauryn Hill em "Lost Ones" é digno de uma grande rapper, seu beat dançante somado a uma linha de baixo pulsante e guitarras de reggae deixa tudo ainda mais contagiante. Vale lembrar que a faixa é um diss endereçado ao Wyclef Jean, seu ex parceiro de banda (Fugees) e vida.

Muito do que ouvirmos no r&b contemporâneo/neo-soul tem como matriz faixas como a linda "Ex-Factor", dona de performance vocal não menos que apaixonante. Já groove, o refrão e o piano insistente de "Doo Wop (That Thing)" é um dos grandes feitos do pop noventista.

Lauryn Hill volta a disparar seu vocal furioso em "Final Hour", o único "rap acústico" possível, com direito a passagens de violão e flauta doce em cima de um beat incisivo, além de naipe de metais radiante.

O lado mais vulnerável e confessional da artista é exposto na exuberante "When It Hurt So Bad" (que baixo!), na parceria com a Mary J. Blige em "I Used To Love Him" e na dobradinha com o D'Angelo em "Nothing Even Matters".

Vale destacar também a guitarra do Carlos Santana em "To Zion", o arranjo vocal refinado de "Superstar", a força soul/reggae de "Forgive Them Father" e "Every Ghetto, Every City", essa última de deixar o Stevie Wonder orgulhoso. Todas são donas de produção profunda e apelo pop.

O sucesso do álbum entre critica e público foi imediato. Vale lembrar que foi o primeiro disco com o pé no rap a ganhar o Grammy de melhor álbum do ano. Clássico instantâneo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Iron Maiden, Chet Baker, Julie London e Destruction

IRON MAIDEN
Se sua onda for NWOBHM, não da para deixar de conferir o canal do Beat-Club. Ele postaram um show do Iron Maiden de 1981 (fase Paul Di'Anno) que é um espetáculo. Tem uma apresentação do Saxon bem legal também.

CHET BAKER
Assisti no Arte 1 essa apresentação e fiquei impressionando não somente pela qualidade sonora, mas também pela filmagem. Isso aqui é cinema.

JULIE LONDON
Julie Is Her Name (1955), disco fundamental para, acredite, desenvolvimento na bossa nova. Roberto Menescal e Carlos Lyra ouviram até furar. Na guitarra: Barney Kessel.


DESTRUCTION
Sentence Of Death (1984), a primeira obra-prima de thrash metal alemão. É tão tosca e urgente que beira o genial (dentro do gênero).

terça-feira, 13 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Wire - Pink Flag (1977)

Tem que ser muito nó cego para não enxergar qualidades no punk rock. Embora comumente associado a um movimento desprovido de sofisticação, através de discos como o Pink Flag do Wire é possível confirmar como tal pensamento é equivocado.


Lançado em 1977, ano da explosão punk, o Wire soa muito a frente do tempo. Em alguns momentos é até mais sensato associa-los ao art rock. É possível explicar a desenvoltura formal do grupo levando em conta que ele foi formado dentro da universidade. Diferente de seus colegas de cena proletários ou vadios, os integrantes do Wire eram estudantes de design vindos da classe média.

Mas engana-se quem pensa que a partir disso saiu uma obra cerebral. Pink Flag é essencialmente divertido. É possível até chacoalhar o esqueleto ao som de "Three Girl Rhumba" e "Start To Move".

Mesmo tendo menos de 30 segundos, poucas letras são tão impactantes e incisivas quanto a de "Field Day For The Sundays". Já a sombria "Reuters" retrata a crise econômica inglesa do período.

O minimalismo, a energia e a curta duração de faixas como "Mr Suit" e "Different To Me" claramente influenciaram o hardcore. É possível até ir além, comparando "Ex Lion Tamer" ao que viria ser feito no post-hardcore noventista e "Champs" ao britpop.

Dentre tantas canções, vale também destacar a espetacular "Lowdown", a descontraída "Surgeon's Girl", a sonoramente tensa "Pink Flag", a curtinha/instrumental "The Commercial", a densa/paranoica "106 Beats That", a pesada "Strange" e a obscena "12XU". Agora, eu não faço ideia do porquê de uma música se chamar "Brazil".

Em todas essas faixas é possível reconhecer a execução intensa incendiando uma produção contida. Guitarras nem tão saturadas e chimbal magrinho/agudo/veloz ajudam a construir uma sonoridade bastante singular e rígida.

Mais de 20 músicas, menos de 35 minutos. Embora desconhecido de muitos, Pink Flag é certamente um dos álbuns mais influentes do rock britânico.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: The Bug, ESG, Emily Remler Quartet e R. Stevie Moore

THE BUG
Conheci esse projeto do Kevin Martin por conta do disco em parceria do Earth. Mal sabia eu que o projeto tinha um aclamado disco de dancehall (London Zoo - 2008). É um dancehall "do mal", mas é dancehall. É interessante.

ESG
Come Away with ESG (1983), uma pérola da música experimental oitentista. Tem atitude de punk rock, mas soa extremamente funky. Instrumentalmente é basicamente baixo e bateria (extremamente grooveado). Importante salientar que é formado apenas por mulheres. Muito legal.

EMILY RAMLER QUARTER
Take Two (1982), discão de jazz desta ótima guitarrista que eu sequer conhecia. Uma maravilha!

R. STEVIE MOORE
Figura já folclórica da música, conhecido principalmente por suas gravações caseiras e experimentais. Art rock, punk rock, psicodelia, lo-fi... é tudo jogado no mesmo pacote. Tá sendo novamente prestigiado por ser talvez o precursor da sonoridade hypnagogic pop. Uma espécie de Ariel Pink da década de 70. Seu disco Phonography (1976) é um exemplo desta estética.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: PJ Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea (2000)

PJ Harvey é, talvez involuntariamente, a resposta britânica ao rock alternativo americano que floresceu na década de 1990. Mas na virada do milênio, a artista decidiu cantar sobre a energia nova-iorquina. O resultado foi um de seus discos mais vendidos e aclamados, ganhando até mesmo o Mercury Prize.


Por mais que a PJ Harvey sempre tenha sido uma mulher de atitude, aqui ela soa ainda mais confiante, poderosa e sexy. Essa sua força fica explicita na interpretação apaixonada e profunda de músicas como "A Place Called Home".

As guitarras lo-fi e o vocal voraz tão característicos da PJ chamam atenção em "Big Exit", faixa em que ela demonstra não estar psicologicamente tão sob controle. Já em "The Whores Hustle And The Hustlers Whore" são as mazelas do mundo que são expostas.

É interessante se atentar a participação do Thom Yorke na crescente "One Line", na apaixonadamente orgânica "Beautiful Feeling" e, com maior destaque, na lindamente construída "This Mess We're In".

Entre minhas faixas prediletas posso citar "Good Fortune", um pop rock perfeito, de vocal incisivo e refrão marcante; "Kamikaze", um esporro de guitarras sujas, vocal saturado e groove quase de drum and bass; e "This Love", digna de coloca-la entre as artistas mais poderosa da história do rock.

A produção deste disco é muito mais acessível que os trabalhos anteriores da artista, o que pode ser compreendido como um amadurecimento natural. Definitivamente um dos grandes momentos da PJ.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Minhas músicas prediletas do Queen

Saiu neste último fim de semana o aguardado filme Bohemian Rhapsody, cinebiografia do Queen (ou seria do Freddie Mercury?). Não assisti ainda e sequer pretendo ver tão em breve. O que me pareceu inevitável e muito mais prazeroso foi repassar algumas músicas do grupo. Elencar descompromissadamente minhas faixas prediletas foi caminho natural.

Acho importante ressaltar que não sou fanático pelo grupo, embora escute desde sempre. Conheço bem do homônimo disco de estreia lançado em 1973 ao The Game (1980). Provavelmente minha lista se restringira a essa época. Provavelmente pareça óbvia para os fãs, mas tudo bem, afinal a lista é minha.

Vamos a seleção, sem pensar muito, apenas passando os olhos pela discografia do grupo.


Father To Son
Embora o disco de estreia do Queen seja ótimo, confesso que não acho nenhuma faixa muito memorável. Em compensação, no Queen II a coisa desembesta. Em "Father To Son" rola uma fusão da sonoridade do The Who com o Black Sabbath, embora com a singularidade composicional típica do Queen.

The March Of The Black Queen
Um épico da criatividade dentro do rock. Um monstro de sete cabeças. Beira o bizarro.

Ogre Battle
Após uma introdução esporrenta, uma canção de melodia e urgência divertida. Acho um espetáculo.

Brighton Rock
Um dos grandes momentos do Brian May. As melodias que ele cria e a maneira com que ele aplica o delay é de muita inteligência. A voz do Freddie Mercury fica entre uma performance hard rock intensa e o pastelão divertido. Eu adoro isso.

Killer Queen
São poucos os singles que superam a qualidade desta canção em todos os quesitos possíveis: composição, interpretação - que voz, que piano, que solo de guitarra! -, arranjo e produção. Um dos pontos altos do rock e da música pop de todos os tempos!

Bring Back That Leroy Brown
Aquela onda do Queen de fazer composições/arranjos que ficam entre operetas, músicas de cabaret, vaudeville e até mesmo um humor melódico zappiano.

Death On Two Legs
A primeira música do Queen sem ser clichê que adorei. O clima tenso da introdução, a melodia de piano, as guitarras, o refrão, a interpretação vocal... acho tudo muito legal e criativo.

You're My Best Friend
Uma dentre tantas excelentes composições do subestimado John Deacon. Alias, sua linha de baixo nesta música é soberba. Bela melodia e arranjo vocal. Fora a interpretação graciosa do Freddie.

Good Company
O que o Brian May faz no solo desta música, emulando uma banda de dixieland, é das coisas mais absurdas que já ouvi na história da guitarra.

Bohemian Rhapsody
Dispensa apresentações. Estrutura improvável de um hit. A letra, o arranjo, o solo de guitarra, as inúmeras melodias... uma aula de composição e produção.

Tie Your Mother Down
Grande canção de hard rock (ou simplesmente rock n' roll). Riff, refrão... tá tudo ali.

Somebody To Love
Muitos insistem em fazer versões cafonas desta música (inclusive o próprio Queen atualmente), mas a gravação original se mantém apaixonante. Adoro a melodia vocal e a harmonia ao piano.

Jealously
Balada lindíssima, onde cada elemento trabalha em favor da composição: o timbre de violão emulando uma sítar, a melódica linha de baixo, a progressão harmônica do piano e a interpretação singela do Freddie Mercury em cima de apaixonante melodia. Adorável.

Bicycle Race
Faixa muito criativa. Adoro suas variações (cada parte é uma coisa) e a estupenda linha de baixo. A parte "Bycycle races are coming your away...." sempre me emociona. 

Let Me Entertain You
Ainda melhor na versão do Live Killers

Play The Game
Grande melodia. Adoro o desenvolver nada óbvio da composição. Mais um arranjo vocal fantástico. Tremendo timbre de batera, belo solo de guitarra e uso curioso de sintetizadores.

Under Pressure
Carne de vaca, mas pô, David Bowie pegou o Queen numa fase fraquíssima e, ainda assim, conseguiu arquitetar uma das melhores faixas da música pop de todos os tempos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Rio 65 Trio - Rio 65 Trio (1965)

Uma das vertentes musicais mais criminosamente ignoradas da música brasileira é o samba jazz. Se nos EUA, Europa e Japão os discos do estilo são cultuados, aqui no Brasil eles sequer são relançados.

Formado em grande parte por trios instrumentais, o estilo tem como característica o cruzamento do jazz americano (principalmente o bebop) com o samba brasileiro. Do primeiro foi extraído a complexidade dos improvisos e a estrutura das composições. Do segundo os ritmos swingados e típicos do Brasil. Em comum havia a qualidade das harmonias, fruto também da ascensão da bossa nova, que formou grande parte dos instrumentistas do samba jazz.

Sambalanço Trio, Som Três, Zimbo Trio, Tamba Trio, Milton Banana Trio, Dom Um Romão e J.T Meirelles são alguns nomes que merecem destaque. Todavia, como porta de entrada, recomendo o espetacular álbum de estreia do Rio Trio 65.


Formado pelo pianista Dom Salvador, o baterista Edison Machado e o contrabaixista Sergio Barrozo, o grupo é para mim o que soa musicalmente melhor resolvido. Digo isso sem apontar deméritos, apenas como forma de exaltar esse brilhante trio.

Basta ouvir a faixa de abertura, a intensa "Meu Fraco É Café Forte", para perceber o alto nível de interação dos instrumentistas, o balanço irresistível, a performance voraz, a produção tão orgânica quanto nítida e a força do tema. Um arraso!

O álbum é carregado de versões para composições de artistas da bossa nova. Exemplos não faltam: a bela "Preciso Aprender A Ser Só" (Marcos Valle), a sempre encantadora "Desafinado" (Tom Jobim), a ritmicamente desconcertante "Tem Dó" (Baden Powell), a clássica "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá) e a de lirismo melódico impressionante "Minha Namorada" (Carlos Lyra). Já a influência do jazz é explicitamente manifestada em "Sonnymoon For Two" (Sonny Rollins).

Eu poderia fazer verdadeiro tratado sobre a pegada avassaladora, as levadas swingadas/sincopadas e o bumbo irreverente do lendário Edison Machado. Ou então sobre os improvisos irradiantes do Dom Salvador e de como o Sergio Barrozo coloca seu instrumento em destaque em meio a dois gênios. Todavia, é melhor mesmo você tirar a sua própria conclusão. Escute ao menos "Farjuto", se não gostar eu devolvo o dinheiro na hora.

Esse disco nos leva a um esfumaçado beco das garrafas de um Rio de Janeiro que não existe mais. Uma obra-prima da música instrumental mundial.

ACHADOS DA SEMANA: Choking Victim, Fennesz, Prong e Wild Beasts

CHOKING VICTIM
Tava com vontade de ouvir algo de ska punk, acabei chegando nesta banda bem divertida. O disco No Gods / No Managers (1999) é ótimo. Nada muito rebuscado, mas bem legal.

FENNESZ
Já tinha lido muito sobre esse músico. Normalmente seus discos são extremamente elogiados e ele já colaborou com muitos artistas que adoro, vide o Jim O'Rourke. Com guitarras e um laptop, ele constrói belas composições de música ambient com elementos de glitch. O álbum Venice (2004) é uma maravilha.

PRONG
Beg To Differ (1990), álbum fundamental para entender o desenvolvimento do metal na década de 1990. É um thrash tão grooveado quanto metodicamente "duro". Tem muito de hardcore, claro. Acho bonzão.

WILD BEASTS
Two Dancers (2009) li uma resenha interessante sobre esse disco. Ele foi bastante elogiado quando lançado. Achei legal. Tem toques de XTC. Mas longe de ser a maravilha que pareceu na resenha.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: The Residents - Duck Stab / Buster & Glen (1978)

The Residents é uma força natureza. Por mais irreverente sonoramente que seja, reduzir o grupo a sua música é um equívoco. As artes visuais se fundem diretamente com a proposta musical do coletivo. Dos globos oculares esbugalhados vestidos de smokings e cartolas, passando pela identidade dos integrantes por muito tempo omitida, tudo é intrigante e instigante. Musicalmente é uma mistureba por vezes de difícil assimilação. Se quiser tentar, comece pelo Duck Stab / Buster & Glen (1978), uma compilação de EPs que tão bem retrata as peculiaridades estéticas do grupo já em completo desenvolvimento.


É inviável rotular o Residents num gênero específico. Sua música tem muito de art rock e atitude punk (afinal, são contemporâneos do estilo), fundida em experimentações inusitadas e elementos cerebrais da música de vanguarda.

Timbres eletrônicos e colagens sonoras servem para satirizar a música pop. As composições mais parecem vinhetas absurdas, carregadas de surrealismo lírico e interpretação nada ortodoxa. Já a produção soa psicodélica, garageira, lo-fi e borbulhante.

Como destaque posso citar a aterrorizante "Sinister Exaggerator", a cinematográfica "Blue Rosebuds", a tão detetivesca quanto circense "Laughing Song", a timbristicamente espetacular (parece trilha de videogame) "Elvis And His Boss", a teatral "Semolina", a ousada, abstrata e rica em texturas "Krafty Cheese" e a tão punk quanto zappiana (ótimas guitarras do Snakefinger) "The Electrocutioner". Lembrando que todas essas breves descrições são somadas as óbvias bizarrices sônicas e narrativas do grupo.

Influenciando do Jello Biafra ao Ty Segall, do Mark Mothersbaugh ao Les Claypool, o universo inclassificável do Residents merece exploração atenta. Um verdadeiro fenômeno da contracultura vanguardista presente no mundo pop.