sexta-feira, 28 de setembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: The Jayhawks, July, Onyx, Sandra de Sá, Strawberry Alarm Clock e Luizinho & Seus Dinamites

Essa semana conheci bastante álbuns legais. Se preparem para bons sons.

THE JAYHAWKS
Tomorrow The Green Grass (1995), bom disco do Jayhawks recomendado principalmente para quem curte alt-country noventista. Tem cada canção espetacular.

JULY
Psicodelia britânica das boas. Lançaram apenas um álbum homônimo em 1968. Tremendo achado.

ONYX
O lado mais pesado e verbalmente agressivo do rap noventista. Mas não se engane, não é nada superficial. Eles rimam pra valer. Bacdafucup (1993), a estreia deles, é um clássico do hip hop. Fudido.

SANDRA DE SÁ
Confesso que tinha certo preconceito besta com a música da Sandra de Sá. Pensava seu uma black music diluída ao mercado da época. Mas bastou ouvir o ótimo Vale Tudo (1983) para mudar isso. Música pop e grooveada brasileira de extrema qualidade.

STRAWBERRY ALARM CLOCK
Wake Up... It's Tomorrow (1968), pérola do rock psicodélico americano. Cheguei ao disco devido o guitarrista Ed King do Lynyrd Skynyrd ter participado do conjunto. Bem bom.

LUIZINHO & SEUS DINAMITES
Ótimo e esquecido grupo do período pré-Jovem Guarda. Grande parte das músicas são versões para clássicos do Cliff Richard. Na guitarra, o ótimo e praticamente desconhecido, Euclides.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Uma seleção das melhores músicas dos Titãs acompanhadas por memórias afetivas

O Titãs é um assunto recorrente aqui no blog. Já fiz textos elogiosos, criticas ferozes, vídeo e resenhas. Tudo que uma banda que me acompanha por toda a vida merece.

Hoje, de bobeira, fui ouvir o disco Domingo (1995), o qual não escutada há uns 15 anos. Achei impressionante como a produção soa melhor que qualquer álbum posterior do grupo. As composições então, nem se fala (ainda que irregular).

Lembrei que quando criança cantei "Um Copo de Pinga" para um tio alcoólatra. Recordei que adorava a música "Turnê". Lembrei o quão pesada me soava "Brasileiro" e o quão esquisita achava "O Caroço da Cabeça". Tais lembranças me fizeram querer ouvir os outros discos. Selecionar as canções prediletas foi natural. Eis o resultado:


Babi Índio
Não sou entusiasta dos dois primeiros discos dos Titãs. Todavia, dá pra apontar bons momentos. Eis aqui um exemplo. Talvez a faixa mais "encorpada" do primeiro disco, com direito a um momento instrumental bastante climático, se contrapondo a new wave meramente solar que rolava na época. Sua letra com o "não sei, não sei, não sei, pode ser, pode ser, pode ser" evidencia as primeiras incursões pela poesia concreta, tão comum ao grupo futuramente.

Toda Cor
Ótima faixa pop com toques de new wave e Jovem Guarda. Tem cheiro de sucesso. Acho estranho como o grupo abriu mão dela. Baita refrão, melodia simpática, guitarras divertidas e tremenda linha de baixo.

Televisão
Foi repaginada recentemente num programa da Rede Globo, mas a versão original presente no segundo disco do grupo continua insuperável. Era das minhas faixas prediletas quando criança.

Dona Nene
Mais uma que adorava quando criança. Seu enredo no supermercado é lúdico e seu ritmo acelerado é divertidíssimo. Referência a drogas ("Dona Nene comprava em pedra, Madame Gaspar comprava em pó" para logo depois "todas as senhoras em euforia"), além de um possível assassinato, hoje não parecem muito infantis. Curiosa as melodias de teclado.

Massacre
Disparada uma das faixas mais pesadas do rock nacional da época. Aponta para o futuro próximo da banda.

Cabeça Dinossauro
Aqui a coisa começa a ficar séria. A produção, a percussão, os vocais, a letra... a construção. Um espetáculo!

AA UU
Eu acabo de perceber que talvez cite o Cabeça Dinossauro inteiro. Fazer o que se as músicas são ótimas? Eis um exemplo de como a produção do Liminha profissionalizou o rock nacional. 

Igreja
Impossível escutar essa música com 6 anos e passar indiferente. Letra direta ao ponto. Boa melodia de guitarra e desempenho matador do baterista Charles Gavin.

Policia
Não pego mais pra ouvir, mas acho muito boa. Tremenda performance de todos.

A Face Do Destruidor
Menos de 40 segundos daquela que é a primeira faixa de hardcore que escutei na vida. 

Porrada
Charles Gavin mais uma vez rouba a cena. O refrão em coro soa urgente. Tem até um bom solo de guitarra, coisa rara no repertório do grupo.

Bichos Escrotos
Clássico do rock nacional. Excelente letra, linha de baixo, teclados e arranjo de guitarras. Tudo certo.

Homem Primata
Outra que não vou botar mais pra ouvir, mas basta tocar a introdução pra me trazer boas memórias. Refrão tão legal quanto bobinho.

Todo Mundo Quer Amor
Arranjo estranhíssimo numa letra absurda de tão bem escrita. Considero o Arnaldo Antunes o mais criativo letrista da época. Sua feroz interpretação também ajuda.

Comida
Mais uma grande letra em cima de um instrumental nada ortodoxo. Ótima linha de baixo.

Diversão
Daqueles hits improváveis, embora irreparável. Ótimo riff, um looping esquisito durante toda a faixa e refrão explosivo.

Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas  (versão do ao vivo Go Back)
Faixa que evidencia que o grupo não tinha grande compromisso comercial na época. Adorava quando criança. Tremendo riff. Em conjunto da faixa seguinte forma uma das minhas aberturas de disco ao vivo prediletas.

Nome Aos Bois (versão do ao vivo Go Back)
Me lembro de ainda jovem ficar pesquisando sobre cada um dos personagens citados na letra. Uma composição no mínimo instigante. Boa guitarra.

Pavimentação (versão do ao vivo Go Back)
Acho a letra extremamente criativa. Seu momento vocal em coro após o solo de guitarra onde ecoa diversos "pa, pa, pa, pavimentação" é de intensidade absurda.

Marvin (versão do ao vivo Go Back)
Quando criança eu achava essa música um saco. Hoje acho a letra emocionante. Das raras boas versões do rock nacional.

Lugar Nenhum (versão do ao vivo Go Back)
A introdução de bateria, o riff de guitarra e os berros enfurecidos de "brasileiro o caralho" do Arnaldo Antunes formam um dos melhores momentos de um grupo de rock brasileiro em cima do palco.

Miséria
Mais um salto no quesito produção. Um absurdo a riqueza sonora dessa música. A letra também é fantástica.

Medo
"Precisa perder o medo da música".

Flores
Um dos primeiros riffs que aprendi a tocar na guitarra, sendo assim, a memória afetiva não permite que eu ignore a faixa. Inclusive, essa soma de guitarra com violão na introdução gera um timbre poderoso. Sua letra fúnebre em cima de uma melodia luminosa é muito bem estruturada. Até o solo de sax funciona.

O Pulso
O hit mais "anti-hit" do rock nacional. Essa beira o genial.

32 Dentes
Adoro a intensidade dos violões, muito bem arranjados, executado e captado. É também possivelmente o grande momento do Branco Melo. Fora que a letra brinca com a ótima "Com Mais de 30" do Marcos Valle.

O Fácil É O Certo
Arranjo muito bem desenvolvido dentro de uma instrumentação básica de rock. Boa letra.

Filantrópico
Afinal, vivo "acumulando raiva e rancor".


Charles Gavin e Nando Reis formam uma das melhores cozinhas do rock nacional oitentista e isso fica nítido aqui. Já sua letra muito explorou minha imaginação quando criança.

Eu Vezes Eu
O perfeito shoegaze brasileiro. Uma interpretação vocal contida em cima de uma nuvem de guitarras distorcidas.

Saia De Mim
Adoro essa música. A execução do instrumental soa feroz, ainda mais diante da produção extremamente crua. 

Será Que É Isso Que Eu Necessito?
Agora tenho que tomar cuidado para não citar o Titanomaquia inteiro. Entendo todas a criticas negativas ao disco (vide o clássico texto do André Barcinski na BIZZ), mas quando se é criança, tais composições falaram mais alto que qualquer coisa que eles tentaram emular. Só de ouvir a bateria da introdução dessa música já fico com o astral elevado.

Hereditário
A grande faixa do Nando Reis nos Titãs. A performance do Charles Gavin mais uma vez impressiona (tem viradas bem legais).

Agonizando
Cansei de elogiar o Charles, mas porra, essa bateria é transpirante. O riff também é ótimo (inclusive o riff no meio da faixa, antes do solo). Vale destacar o berro quase gutural do Sérgio Brito, aquele que poucos anos depois estaria cantando "Epitáfio". Que coisa, não.

A Verdadeira Mary Poppins
A banda tava muito afiada. Que paulada!

Tempo Pra Gastar
Acho demais o timbre já desgastado da voz do Sérgio Brito. Fora que a faixa é um rock simples e eficaz como poucos.

Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguido de Orgia
Mais uma letra pra não passar despercebida quando se é uma criança de 6 anos. Ótimo riff.

Taxidermia
Essa introdução é muito sinistra (e o final também). Tremenda performance do Paulo Miklos.


Depois de uma sequência tão matadora como as presentes no disco Titanomaquia até desanimei continuar a lista pelos outros discos. E olha que tudo isso começou ao pegar o Domingo para reouvir.

E pra fechar, um TOP 5 piores músicas que me deparei no meio do caminho:

- Pule
Meio new wave, meio "soul", meio Gilberto Gil... completamente equivocada. Som de plástico.

- Pra Dizer Adeus
A versão do Televisão é ainda pior que a do acústico. Impressionante.

- Tô Cansado
A única faixa do Cabeça Dinossauro que não gosto. Sempre achei chata.

- Pela Paz
Não há nada que justifique um salto tão grande para ruindade como esse.

- Vossa Excelência
Poucas coisas são tão chatas na música como forçar engajamento politico

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Belle and Sebastian - "Tigermilk" (1996)

Acho interessante o fato de gostar de álbuns de estreia de grupos que não curto. Os exemplos são inúmeros: Guns N' Roses, Strokes, Legião Urbana e Coldplay, só para citar alguns. O mesmo vale para o "Tigermilk" (1996) do Belle and Sebastian. O que há em comum nestes debuts é sua espontaneidade e urgência juvenil. Isso acontece até mesmo numa banda formada por seis comportados jovens escoceses.


Este disco é o trabalho de conclusão de um curso sobre indústria da música feito pelo baterista Richard Colburn com o Stuart Murdoch, o compositor de todas as canções. Inicialmente foram lançadas apenas 1000 cópias do álbum pela Electric Honey, selo criado pela própria banda. Um roteiro para indie nenhum botar defeito. Não demorou para o grupo chamar atenção no cenário alternativo.

Numa época em que o esporro grunge ainda ecoava - embora já saturado -, as doces melodias de chamber pop do grupo soaram revigorantes. Há inocência, melancolia e alegria contida nas composições do disco.

"The State I Am In" abre o álbum com toques de Byrds. Elementos da música folk, assim como violinos e trompetes à la "Alone Again Or" (Love) dão as caras na "Expectations", canção emulada (sem sucesso) diariamente por bandinhas de indie rock.

"She's Losing It" chega a ser ofensiva de tão inofensiva. Já "You're Just A Baby" é uma transposição temporal de um power pop sessentista.

Dentre os momentos mais inventivos do disco está "Electronic Renaissance", com sua introdução quase kraftwerkiana. É possível destacar também as contagiantes "I Could Be Dreaming" e "I Don't Love Anyone". A melodia e o arranjo da linda "Mary Jo" também não é de se ignorar.

"Tigermilk" é agradavelmente bobinho e singelo. Acompanha chá e biscoitinhos com a amada (o). Careta demais? Desculpe, nem só de Motörhead vive o homem. O disco gerou frutos ruins? Sim, mas colocar isso na conta deles é injusto. Não trate o Belle and Sebastian com ingratidão.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: André Mehmari & Ná Ozzetti, This Heat e Jucifer

ANDRÉ MEHMARI & NÁ OZZETTI
Sempre ouço falar do pianista André Mehmari, mas nunca havia escutado nada dele. Vi esse disco de 2005 lançado em parceria da grande Ná Ozzetti e achei oportuno. É bem bonito. Seu piano faz aquela ponte entre o erudito e o popular. 

THIS HEAT
Deceit (1981), um daqueles discos esquisitos lançados numa época efervescente do pós-punk. Tem uma pitada do que há de mais vanguardista no progressivo. É curioso.

JUCIFER
I Name You Destroyer (2002). Dave Lombardo recomendou, eu fui escutar. Parece um sludge moderninho. Composições bacanas, performance diferentona e timbres robustos. Bem legal!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Sade - Diamond Life (1985)

Todos sabem o quão prolifera foi a década de 1980 para a música pop. Todavia, poucos álbuns do período ou do estilo são páreo em elegância ao Diamond Life (1985) da Sade.


Liderada pela Sade Adu, o grupo esbanja competência em suas composições atraentes, arranjos cuidadosos, grooves aconchegantes e produção coerente ao período.

Embora seja definitivamente um disco de música pop, elementos do r&b e da soul music dão as caras, trazendo uma contemporaneidade a estilos muitas vezes associados ao passado. Dito isso, sua influência é imensurável.

Se o sax do hit "Smooth Operator" - o termo smooth jazz veio dessa música? - é cafona (e isso não necessariamente é ruim), por outro lado, a linha de baixo do excelente Paul Denman e o balanço latino da canção apontam uma nova tendência ao pop. 

Muito do que se ouve na AM brasileira oitentista tem como fonte de inspiração a clássica "Your Love Is King".

O balanço orgânico de "Hang On To Your Love" e da quase steelydanzada "Frankie's First Affair" evidencia a qualidade instrumental do grupo (vale lembrar que o disco não tem músicos de estúdio tão comuns na época). Já a interpretação da Sade em faixas como "When Am I Going To Make A Living" - mais uma ótima linha de baixo e percussões à la Marvin Gaye - é agradável, expressiva (ainda que contida) e apaixonada.

Recentemente a Pitchfork, site com predileções para a música alternativa/indie, elegeu o Diamond Life como um dos dez melhores discos da década de 1980. O que antes foi sucesso e depois tornou-se cafona, agora atinge o merecido patamar de clássico do bom gosto.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Elton John - Madman Across The Water (1971)

A música do Elton John parece aglutinar o bem comum. É o tipo de canção que simples donas de casa gostam (digo sem nenhum demérito), mas também o Kerry King do Slayer (não tirei essa informação do nada, ele já declarou isso). Dentre seus trabalhos mais representativos está o ótimo Madman Across The Water (1971).


Esse disco tem como principal característica reunir parceiros que elevam as qualidades do Elton John, a começar pelo seu escudeiro de composição, o letrista Bernie Taupin. É também o primeiro álbum com seu fiel guitarrista, Davey Johnstone. O percusionista Ray Cooper dá as caras, assim como o lendário tecladista Rick Wakeman. Já no baixo temos um revezamento entre Herbie Flowers e Dee Murray. Nada mal.

Se hoje o Elton John é um senhor de vida pacata, na década de 1970 ele parecia um tamanduá cocainômeno de perucas e óculos chocantes. Esse espirito rockeiro atrelado a um impressionante senso melódico, fez dele um dos maiores baladeiros da música pop. Após anos da ditadura da guitarra no rock, com ele o piano voltou a parecer cool.

A emblemática "Tiny Dancer" abre o álbum num nível extremamente elevado. É sem dúvida um dos melhores singles da época. Sua dinâmica crescente parece feita para cantar em grupo, situação retratada no filme Quase Famosos (2000), que trouxe a canção para uma nova geração. Clássico!

O arranjo de "Levon" faz dela uma das mais bonitas canções da música pop. Mérito do Paul Buckmaster. Claro, a interpretação apaixonada do Elton também colabora para isso.

O piano de "Razor Face" traz uma riqueza adorável a faixa. Ela é a única canção de rock n' roll que conheço com solo de acordeon.

Há um desenvolvimento quase progressivo na dramática "Madman Across The Water" (com direito a arranjos de cordas explosivo) e na sinfônica (e que lembra muito o que o Father John Misty faz hoje) "Indian Sunset".

Um dos grandes discos do Elton John e, porque não dizer, do pop, do rock, da música britânica... do que você quiser.

ACHADOS DA SEMANA: Cripple Bastards, John Hammond e Toquinho

CRIPPLE BASTARDS
Porradaria escrota direto da Itália. Todo país tem seus deliquentes musicais.

JOHN HAMMOND
Quem diria que um dos grandes interpretes do Roberth Johnson seria um branquelo (e não o Eric Clapton)!

TOQUINHO
Nada como um bom programa de TV, para abrir a mente para um artista pouco valorizado. Que grande violonista é o Toquinho! Compositor nem se fala. Durante essa semana ouvi bastante seu trabalho ao lado do Paulinho Nogueira. É uma maravilha.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Soft Cell - Non-Stop Erotic Cabaret (1981)

No início da década de 1980, o synthpop tornou-se tendência. Por mais que eu adore muito discos do período, escutando-os hoje, eles soam um tanto quanto cafonas timbristicamente. E não trata-se de ser meramente datado. O problema se dá quando uma obra parece estar a serviço de uma tecnologia outrora moderna e hoje rudimentar. Dito isso, acho valiosa enquanto contraponto a audição atenta do Non-Stop Erotic Cabaret, obra-prima do Soft Cell, lançada também em 1981.


O duo é formado por Marc Almond (voz) e Dave Ball (programações e sintetizadores). Sua produção, embora dura e tecnologicamente limitada, é extremamente criativa. Isso se faz valer desde "Frustration", faixa que mesmo abrindo mão das guitarras e trazendo um solo de sax, consegue ter uma atitude punk, muito graças a interpretação vocal intensa do Marc.

Há um clima urbano, noturno, sexy e fetichista presente desde a capa do disco, até o balanço sintético de "Seedy Films". O mesmo vale para a maluca e sadomasoquista "Sex Dwarf". Já o clima dark do pós-punk se manifesta na profunda "Youth".

Muito da cena techno posterior foi oriunda do beat e do baixo veloz de "Chips On My Shoulder" (já o coro vocal é pura new wave). Na mesma linha, "Bedsitter" remete diretamente a cena clubber londrina.

Vale ainda lembrar da linda "Say Hello, Wave Goodbye", que diga-se de passagem, serviu de matéria prima para o Renato Russo compor "Será".

Mas nenhuma destas música se compara a clássica "Tainted Love", dona de melodia vocal luminosa, sintetizadores de clima noir, "palmas" pulsantes e luxuria implícita. Uma das grandes canções da música pop.

O grupo nunca mais voltou a repetir o êxito deste disco. Todavia, sua influência transgrediu gêneros, indo do Nine Inch Nails a Lady Gaga passando por Orbital, Marilyn Manson e Smashing Pumpkins.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Quicksand, Chucho Valdes, Robert Plant e Sete Star Sept

QUICKSAND
Embora já conhecesse algumas faixas da banda, confesso que até então não havia escutado o clássico Slip (1993), disco fundamental do post-hardcore. É tão bom e energético (ainda que com elementos "deprê") quanto eu esperava. O Tool bebeu dessa fonte, não?

CHUCHO VALDES
Peço que não me zoem, mas confesso que conheci somente nesta semana esse espetacular pianista cubano. A maneiro com que ele trata o ritmo e a riqueza de seus improvisos é impressionante.

ROBERT PLANT
Existe um fenômeno interessante relacionado a obra do Robert Plant. Seu trabalho solo recente é, com justiça, muito bem aceito pela critica e pela galera descolada que vê uma volta do Led Zeppelin como algo desnecessário (o quê até concordo). Todavia, não percebo esse mesmo pessoal citando seus também ótimos primeiros trabalhos. Parece que sua fase inicial ficou renegada aos anos 80. E olha que boa parte dos discos tem o ótimo guitarrista Robbie Blunt.

SETE STAR SEPT
Ah, essa semana teve um pouco de "música bizarra do Diabo" também, claro. Esses dois são uns maníacos, principalmente o baterista Ryosuke Kiyasu, que parece brigar com o instrumento.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Nick Cave & The Bad Seeds - The Boatman's Call (1997)

Nick Cave é um dos grandes cronistas do rock. Ele narra histórias como poucos. Mas em 1997 ele não estava disposto a terrores externos. Internamente sua alma se perdia, sendo sua produção um reflexo complexo de um homem de coração partido. Se o fim de um relacionamento com a PJ Harvey deixaria qualquer um atormentado, no caso do Nick ao menos aflorou um dos melhores álbuns de sua discografia, o lindo The Boatman's Call (1997).


Sendo as composições extremamente pessoais, os Bad Seeds se reservam o direito de fazer apenas a cama para Nick se dilacerar em baladas pianisticas. Os arranjos enxutos colaboram para narrativa do álbum.

A abertura com "Into My Arms" evidencia sua poética clara e profunda. A melodia é de uma beleza impressionante. Vale até orar para um Deus que ele sequer acredita e que logo depois é posto dúvida em "(Are You) The One That I've Been Waiting For".

A interpretação vocal dramática e o timbre grave atmosférico somado aos teclados fúnebres criam peças apaixonantes, vide "Lime Tree Arbour". A dolorosa valsa "People Ain't No Good" chega a ter força cinematográfica. Nos versos de "There Is A Kingdom" a tristeza de Nick relembra a clássica "Perfect Day" (Lou Reed), enquanto o seu refrão é luminoso.

É óbvio o caráter descritivo das faixas "West Country Girl" (de interpretação tão vigorosa quanto vulnerável), "Black Hair" e "Green Eyes", todas feitas para a PJ. Em "Where Do We Go Now But Nowhere" ele concentra toda a sua energia em lembranças dolorosas.

Um álbum romântico, trágico e sincero, que coloca Nick Cave como um dos principais compositores do seu tempo.

CAIXA PRETA - ITAMAR ASSUMPÇÃO

Um item que almejava há um bom tempo finalmente veio parar em minhas mãos. Agora tenho a Caixa Preta do Itamar Assumpção. Lançado pelo selo SESC, o box traz a discografia completa daquele que compartilha com o Arrigo Barnabé o posto de grande representante da Vanguarda Paulista. Discorrerei brevemente sobre os álbuns.


Beleléu, Leléu, Eu
Um clássico! Disco fundamental da Vanguarda Paulista e, até mesmo, da canção popular brasileira como um todo. Faz dupla com o Clara Crocodilo como melhores discos do período. Seu lirismo é urbano e cinza, diferente do solar rock nacional que despontou pouco tempo depois. Os arranjos são um espetáculo, com destaque para as linhas de baixo do próprio Itamar, que mais parecem desconstruir o reggae. Embora seja seu disco de estreia e tenha uma produção independente, ele soa muito bem, ao contrário de algumas produções posteriores. Nem vou perder tempo mencionando individualmente cada faixa, já que são todas excelentes. Uma maravilha de disco que pretendo abordar detalhadamente futuramente no "Tem Que Ouvir" deste humilde blog.

Às Próprias Custas S/A
Já ouvi algumas pessoas dizerem que o Itamar era melhor nos palcos que em disco. Eu acredito. Sendo assim, esse álbum serve como documento do período. É verdade que a gravação não é das melhores, mas ainda assim registra o artista justamente no auge da Vanguarda Paulista. É legal ouvir a teatralidade que Itamar promove no palco. Isso sem mencionar os arranjados extremamente intricados, cheios de pausas e silêncio. Não devia ser nada fácil executar.

Sampa Midnight
Uma pérola mal polida. Talvez o auge em termos de composição do Itamar. "Prezadíssimos Ouvintes", "Navalha Na Liga", "Ideia Fixa", "Sampa Midnight", "Totalmente A Revalia", "E o Quico?"... é uma faixa melhor que a outra. Pena que a gravação soe tão aquém dos arranjos, que são um espetáculo, repleto de melodias angulares e métricas estranhas.

Intercontinental! Quem Diria! Era Só O Que Faltava!!!!
Único disco do Itamar lançado por uma grande gravadora. Claramente muito melhor produzido que os dois anteriores. A sonoridade chega a lembrar os trabalhos do Caetano na fase A Outra Banda da Terra. Essa polidez ressaltou as qualidades da Isca de Policia, com destaque para o trombone do Bocato, as guitarras de Luiz Waack, a bateria do Gigante Brazil e o baixo de Paulo Lepetit. Injusto não mencionar também as vozes femininas tão características dentro da obra do Itamar (Tulipa Ruiz pegou muito de Tetê Espíndola em "Adeus Pantanal"). Por outro lado, talvez seja uma entressafra do Itamar enquanto compositor, o que não o impediu de arquitetar pérolas como "Pesquisa de Mercado I", "Sexto Sentido", "Perdido Nas Estrelas" e "Espírito Que Canta", essa última uma obra-prima.

Bicho De 7 Cabeças (I, II e III)
Justamente após um (comercialmente) nem tão bem-sucedido disco lançado por uma grande gravadora, Itamar reaparece com uma nova banda (Orquídeas do Brasil, agora formada só por mulheres), manifestando certo rancor irônico, vide "Onda Sertaneja" e "Quem É Cover De Quem" (uma homenagem ao Luiz Melodia, um ataque a critica cultural). Sua poética fica ainda mais paulista, vide "Venha Até São Paulo", com participação de Rita Lee. Já o Tom Zé dá as caras na espetacular e curiosamente brejeira "É Tanta Água". O canto de Jards Macalé em "Estrupício" faz a ponte entre duas gerações de "malditos". Esse rótulo tão combatido pelos artistas serve para explicar a indústria da música e não para desvalorizar suas obras.

A parceria de Itamar com o Paulo Leminski se manifesta em "Custa Nada Sonhar". Sua canção ganha um perfil popular, se não em alcance, ao menos em exito artístico. Um grande exemplo disso são as linda "Tua Boca" e "Milágrimas".

Os três discos flertam com o pop em suas produções, embora a banda traga sempre uma ousadia interpretativa, vide "Ciúme do Perfume" e "Lambuzada de Dendê". Fora a poética do Itamar que carimba sua força a cada nova audição. Neste sentido, o destaque vai para "Noite Torta".

Os três discos, todos lançados em 1993, saíram pela Baratos Afins, do grande Luiz Calanca. 

Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - Pra Sempre Agora
Primeiro foi o Grupo Rumo, que reviu Noel Rosa, Lamartine Babo, Sinhô e tantos outros pilares da canção nacional. Recentemente Arrigo fez uma releitura da obra do Lupicínio Rodrigues. Neste meio período, Itamar encarnou Ataulfo Alves. Tudo isso para exemplificar a ponte que a Vanguarda Paulista fez entre o tradicional e o moderno.

Os arautos da moralidade talvez encontrem problema na clássica "Saudades da Amélia" ou na espetacular "Requebro da Mulata". Nada que tire das composições sua excelência. Sua interpretação na linda "Laranja Madura" e "Pois É" (com destaque para a Isca de Policia) faz deste um dos trabalhos mais adoráveis do Itamar. Em "Vassalo do Samba" a fundição dos dois artistas é total. Uma amostra clara que Itamar era não só um grande compositor, mas também um fantástico interprete. Discão!

Isso Vai Dar Repercussão
Itamar e o grande Naná Vasconcelos juntos. Uma parceria que por si só já vale a audição. Nenhum dos dois em seus melhores momentos, mas que unidos criam uma obra muito bonita. Itamar não chegou a ver o resultado final. Dizem que ele sequer aprovaria. É bem possível. Adoro "Próxima Encarnação" e a linda "Fim de Festa". Um disco menor de um encontro histórico.

Pretobras
Disco lindo! São inúmeros as canções que me causam emoção. "Vida de Artista" é doce e sagaz. "Dor Elegante" (em parceria do Leminski e com participação da Zélia Duncan) faz da doença terminal uma das mais bonitas músicas pop do Brasil. "Olho No Olho" tem a guitarra sempre primorosa do Lanny Gordin. Tudo muito bem arranjado e tocado. Um disco que merece maior atenção.

Pretobras (II e III)
Não pode passar batido o fato de seu disco melhor produzido ser póstumo. É legal ouvir as vozes de Seu Jorge, Arnaldo Antunes, B-Negão, Elza Soares, dentre outros, somadas a de Itamar.

As bases eletrônica em canções do Pretobras II - como em "Os Incomodados Que Se Mudem" - levam a obra do Itamar a atemporalidade. Já a letra de "Ir Pra Berlim" revela as angústias de um cantor popular incompreendido em sua terra natal. A lúdica "Más Línguas" é divertida e inventiva. "Procurei" é um destaque dentro de todo o seu repertório.

No Pretrobras III (produzido pelo Lepetit) a Isca de Policia volta a se fazer presente. Sendo assim, soa como o bom e velho Itamar, mas numa roupagem moderna. Dentre os destaque temos "Anteontem", "Persigo São Paulo" (duelando com Arrigo) e a bem bolada "Pirex".

Ambos os discos foram os que ficaram em maior rotação aqui em casa. Uma nova descoberta dentro da vasta e brilhante discografia do Itamar.