sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Para render-se ao trap

2018 foi o ano em que me rendi ao trap. Músicas que tempos atrás eu acharia intragáveis, começaram a cair no meu gosto. Somando força a essa reavaliação pessoal, veio o aperfeiçoamento estético do estilo. Claro, artistas genéricos e aproveitadores também começaram a surgir, mas nada que uma audição atenta não afaste rapidamente eles do radar.

Para quem não sabe nada sobre o estilo, vou tentar descrever: 

Trap é um subgênero do rap que nos últimos anos tornou-se muito popular. É uma vertente menos engajada e mais pop. As produções costumam ter poucas elementos, mas ainda assim soam grandiosas e entusiasmantes. Kick extremamente graves e lentamente pulsantes são entrelaçados em hi-hat agudíssimos e velozes. Sintetizadores oriundos da nova cena EDM também dão as caras. Já as vozes são melodicamente retas, comumente tercinadas, pausadas e ultra processadas (auto-tune voltou com tudo!). Bizarras e divertidas onomatopeias (os chamados "ad-lib") aparecem entre os versos. Não estranhe caso ouça algo semelhante a um arrulhar de pombo (prôô). A temática é a velha exaltação do dinheiro (bastante representada nas marcas das roupas, carros e bebidas), mulheres e drogas (com a codeína misturada com refrigerantes tornando-se a nova onda). 

Superficialmente é isso. Claro que a descrição ficou confusa e genérica. Mais fácil seria ouvir algo. Um representante bem caricato do estilo é o Migos, grupo enorme nos EUA. Ouça/veja o vídeo abaixo e entenderá melhor do que se trata:


Acho que a primeira vez que eu ouvi falar de trap foi com o Travis Scott quando ele lançou o Rodeo (2015). Na época até a Beyoncé já havia abraçado a estética (vide o beat do Mike Will Made It em "Formation"), mas confesso que demorei para sacar o que estava acontecendo. Dali para frente passei a reconhecer dezenas de novos rappers, muitos com "Lil" no nome, vários deles com tatuagem na cara, todos fazendo o tal do trap. Vide o Lil Pump, que de tão besta eu acho até divertido.


Avaliar racionalmente o gênero pode ser um erro. Trap é para ser divertido. Se ele conseguir alinhar isso a ótimas produções, melodias interessantes, interpretação sincera, letras espertas e soluções sonoras criativas, melhor ainda. Mas convenhamos, é som de moleque xarope. Ele tem que ser compreendido dentro de seu contexto e de sua verdade. Não vá chegar comparando com o Public Enemy que é perda de tempo.

Digo que me rendi ao estilo em 2018 pois concluí que já foram lançados álbuns bem legais dentro do estilo. Nenhum nota 10, muitos nota 7. Postarei uma música de cada álbum que eu curti.

Dê uma chance, nem que seja para conhecer. Esse é o barato da música.

Travis Scott - SICKO MODE
Se quando o Travis Scott apareceu eu não entendi nada, agora ele tornou-se referência do gênero. Essa música tem uma melodia vocal bem legal. Gosto também da maneira inesperada com que ela se desenvolve. A produção é impressionante, até mesmo com certa espacialidade psicodélica.

CupcakKe - Cartoons
Uma representante feminina que trouxe para o estilo bastante ousadia no flow e nas produções. Pesadão!

Lil Yachty - DAS CAP
De todos os Lil, talvez o Yachty seja o mais legal. Ele traz uma densidade perigosa e paranoica para suas canções.

Post Malone - Psycho
Extremamente pop. Talvez de todos que eu citei, ele seja o único que esteja fazendo verdadeiro sucesso também no Brasil. Gosto do fato das melodias serem grudentas e da profundidade interpretativa que ele tenta trazer ao estilo.

Ski Mask The Slump God - Childs Play
O lado mais cômico, jovem e bizarro do trap. A produção é sinistra. Seu flow é furioso. Nenhum pai quer o filho ouvindo esse tipo de som. Isso é ótimo.

Rico Nasty - Rage
Na boa, isso daqui é heavy metal.

Playboi Carti - R.I.P.
Figura altamente singular dentro de um gênero. Jovem e promissor rapper.

Denzel Curry - Gook
Quem diz que trapper não tem capacidade lírica não conhece o Denzer Curry. Uma das grandes vozes do rap contemporâneo. Seu flow é poderoso.

Vince Staples - BagBak
No álbum Big Fish Theory (2017) o rapper expandiu os horizontes das produções de trap trazendo elementos bastante abstratos da música eletrônica. O resultado em muitos momentos é avassalador. 

Young Thug - Liger
Faixa não menos que carismática.

J.I.D. / J Cole - Off Deez
Gosto muita da urgência deste flow. É técnico e voraz.

21 Savage & Metro Boomin - Run Up The Racks 
Para finalizar, a música que iniciou a minha "transição ao trap". 21 Savage é um dos grandes rappers do estilo, mas é a produção densa e profunda do Metro Boomin que mais chama a minha atenção.

"E no Brasil?", você me pergunta. No Brasil o estilo ainda está em desenvolvimento. O Raffa Moreira, outrora uma piada, continua sendo uma piada, mas melhorou bastante suas produções. MC Igu, FBC, Sidoka e mesmo o Diomedes Chinaski também estão colaborando com a cena. Lembro também do Beli Remour, que lançou um álbum esse ano (O Minimalismo É Rosa) que faz uma tentativa avançada de trap em território nacional, beirando o psicodélico.

É isso. Ouviu tudo e não gostou? Bola pra frente! Se pintar algo muito diferente disso eu volto aqui. No momento to achando legal. O futuro ninguém sabe.

TEM QUE OUVIR: Jane's Addiction - Nothing's Shocking (1988)

Los Angeles era uma ótimo ambiente para se ter uma banda na década de 1980. Lá estavam os grupos de hard rock, as gravadoras, o dinheiro, o sexo e as drogas. Com shows conceituados na região, não demorou para o assédio da indústria musical chegar ao Jane's Addiction. Todavia, inicialmente a banda desprezou as grandes gravadoras e assinou contrato com o pequeno selo Triple XXX. O burburinho em torno do grupo só cresceu, levando-os a se renderem a Warner, onde lançaram o prestigiado Nothing's Shocking (1988).


Na linha de frente do grupo estavam os porraloucas lascivos do Perry Farrell (voz) e Dave Navarro (guitarra). A cozinha formada por Eric Avery (baixo) e Stephen Perkins (bateria) também merece destaque, sendo uma das mais azeitadas e criativas do período.

"Up The Beach" abre o álbum de forma explosiva, trazendo uma mantra psicodélico que desencadeia em "Ocean Size", um hard rock de sonoridade grandiosa.

Há um balanço funkeado em "Had A Dad" que mais tarde tornou-se tendência no rock mainstream. Em "Idiot Rule" até um arranjo de metais dá as caras. Por outro lado, "Ted, Just Admit It..." experimenta em cima de um dub paranóico que se desenvolve para o heavy metal, com direito a final delirante e espetacular. 

Viagens psicodélicas se manifestam em "Summertime Rolls", onde o vocal anasalado de Farrell se mostra poderoso. Já o Navarro debulha seu instrumento em "Standing In The Shower... Thinking", tecnicamente não fazendo feio frente aos shreds tão em voga na época.

O disco ainda guarda nas mangas os sucessos "Mountain Song" (um hard rock energético) e "Jany Says" (uma balada junkie). "Pigs In Zen" fecha o álbum em alto e bom esporro grooveado.

Clássico do período, que sinalizou para o que estava acontecendo no cenário alternativo. O público logo se identificou.

ACHADOS DA SEMANA: Anti Cimex, Behold... The Arctopus, Propellerheads e Can

ANTI CIMEX
Curte punk rock, hardcore, thrash metal e derivados? Então você tem que escutar essa pequena compilação lançada pela Nada Nada do Anti Cimex, banda sueca tão obscura quanto cultuada. É uma das melhores coisas que ouvi esse ano. Guitarras puramente rock n' roll em cima de pedradas crossover. Foda! Obs: qualquer semelhança com a abertura do In Rock do Deep Purple não é coincidência.

BEHOLD... THE ARCTOPUS
Skullgrid (2007). É coisa de xaropão. Músicas ultra técnicas de um quase death metal. Tem humor e uma qualidade interpretativa tão absurda que torna-se divertida. Lembrando que o produtor Colin Marston faz parte da banda. Ele esbagalhaça o baixo.

PROPELLERHEADS
Sou da geração que tomou contanto com a música eletrônica via a cena bigbeat. Gosto de muita coisa lançada no período. Essa semana peguei o Decksandrumsandrockandroll (1998) do Propellerheads para reouvir e curti bastante. Claro, é meio datado, mas é bacana.

CAN
Adoro o Can, mas confesso que até então não havia escutado o álbum Flow Motion (1976). Soube que foi mixado em binaural e fui logo escutar. Todavia, o que mais me impressionou não foi a mix, mas como ele aponta para a new wave. Tem muito de Talking Heads ali. Tem também muita influência de reggae (antes do Police). Algo me diz que o Gary Numan deve ter escutado bastante.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Dica de rappers para o Roger Daltrey (ou para os que pensam como ele)

Dias atrás saiu uma declaração confusa que evidencia alguns problemas que valem a reflexão. Roger Daltrey, o espetacular vocalista do The Who, ao ser perguntado sobre o que pensava sobre o Kanye West e o rap em geral, respondeu:

"É meio sem sentido para mim, para ser honesto com você. Eu até gosto de alguns ritmos do rap, mas isso não mudou desde o primeiro disco do estilo, certo? O hip hop evoluiu? Eu não acho que tenha evoluído".

A primeira dúvida que eu tive diante da questão foi, por que raios interessa saber o que o Roger Daltrey pensa sobre o rap? Tudo bem, é importante questionar um artista sobre diferentes linguagens, mas não dá pra exigir algo mais profundo em sua resposta. Afinal, antes de ser um cantor, ele é um britânico de 74 anos. Não sei de ninguém com tais características que circule pela cena hip hop. A pergunta do jornalista se equivale a questionar o Hermeto Pascoal sobre o que ele pensa do Emicida.

Outro ponto interessante foi o Roger Daltrey abordar uma possível estagnação do rap. Justamente ele que acaba de lançar um ótimo álbum (As Long As I Have You) que remete a sonoridade sessentista do rock, com toques de blues e soul music, sendo assim, não aparentando se importar muito com inovações estéticas, seja no rap ou no rock.

Já que em sua resposta o Roger Daltrey questionou se havia ou não o rap passado por transformações, eu vou listar aqui 10 música lançadas no último ano que evidenciam as várias facetas do gênero. Todas ótimas (segundo meu julgamento, claro). Tais canções podem ajudar a abrir a mente de muita gente para o estilo.

Black Thought & 9th Wonder - Twofifteen
Talvez seja bacana começar por algo mais old school, para quem ainda não é familiarizado com o gênero. Uma metralhadora em forma de beat e flow. Pertence a um dos grandes EPs lançados em 2018.

Playboi Carti - R.I.P.
Agora vou na contramão só para evidenciar a pluralidade. Trap/cloud rap pesadão. É som de moleque xarope, ou seja, normal caso você não se identifique.

Tyler, The Creator - See You Again
Uma melodia vocal espetacular, bonito arranjo, seguido de um beat certeiro e a interpretação convicta de um rapper de qualidades peculiares. É pop e é pesado. Uma das minhas músicas prediletas lançadas em 2017.

JPEGMAFIA - Real Nega
Produção estranhona que em nada se assemelha as origens do hip hop.

Death Grips - Black Paint
Se grande parte da força do rock está ligada a atitude - e o Roger Daltrey representa tão bem isso - não dá para deixar de mencionar o Death Grips, um dos grupos mais interessantes dá última década. Isso aqui é sinistro!

Kids See Ghosts - Feel The Love
Já que o Kanye West foi mencionado da pergunta, vale citar uma de suas produções recentes mais interessantes. É pesado e esquisito.

Joey Bada$$ - Temptation
Uma linha mais pop e noventista, embora não menos bacana e confrontativa.

BUSDRIVER - Right Before The Miracle
O hip hop em um de seus estágios mais evoluídos. No disco tem ótimas produções, mas o que salta aos ouvidos nesta faixa é o flow do rapper. Groove jazzístico.

Princess Nokia - Kitana
Bem contemporâneo. Trazendo a luta feminina em cima de um beat de trap poderoso.

Post Malone - Rockstar
Para finalizar, talvez a faixa de qualidade mais questionável, mas que eu adoro. Tem um ritmo dançante, é paranoica, demonstra profundidade interpretativa no pop-rap, dentre outras qualidades em voga no mainstream do gênero e poucas vezes reconhecidas.

ACHADOS DA SEMANA: The Feelies e Family

THE FEELIES
Somente agora escutei o cultuado Crazy Rhythms (1980) do The Feelies, disco que influenciou o R.E.M. e moldou a sonoridade do jangle pop. É uma maravilha. É tudo que dezenas de bandas do indie rock atual gostariam de fazer.

FAMILY
Outra banda que conhecia um pouco, mas ouvi bastante essa semana foi o Family, grupo liderado pelo vocalista Roger Chapman e seu timbre tão peculiar. Lembrando que o John Wetton passou pela banda.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

TEM QUE OUVIR: The Faces - A Nod Is As Good As A Wink... To A Blind Horse (1971)

A história do Faces é única. A banda surgiu da dissidência de um grupo emblemático (Small Faces) que havia perdido seu líder (Steve Marriott, que debandou para o Humble Pie). Ficaram três músicos talentosos, sendo um deles o brilhante compositor e baixista Ronnie Lane. Recrutam os ex-Jeff Beck Group, Rod Stewart (voz) e Ron Wood (anteriormente baixista, de agora para todo sempre guitarrista). Estava formado o Faces, que produziu seu mais representativo trabalho somente no terceiro disco, o imponente A Nod Is As Good As A Wink... (1971).


Com uma formação azeitada e performance genuinamente rock n' roll, o grupo apresenta canções sacolejantes, que não escondem o interesse pela soul music americana. Isso fica nítido logo de cara em "Miss Judy's Farm". Já as trincheiras do rock são elevadas na ótima versão de "Memphis, Tennessee" (Chuck Berry).

Ronnie Lane ataca os vocais no boogie envolvente de "You're So Rude", com direito a Ron Wood duelando com ele mesmo entre gaita e guitarra. Já seu baixo gorduroso rouba a cena no hit "Stay With Me".

A voz rachada e única de Rod Stewart soa maravilhosamente bem na balada "Love Lives Here", que já aponta os rumos da sua carreira solo. Por sua vez, Ron brilha na acústica "Debris", enquanto "Too Bad" é uma paulada rockeira das melhores do período. Seu slide quente e reverberoso em "That's All You Need" também é de grande potência.

Demorou para o grupo encontrar a liga, e quando encontrou, a carreira solo do Rod Stewart havia decolado e o Faces já não comportava o seu tamanho. Com o fim do grupo, Ron Wood foi para um tal de Rolling Stones. E os três remanescentes, por sorte e azar, pela segunda vez ficaram no "meio do caminho".

terça-feira, 21 de agosto de 2018

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: I Never Loved A Man The Way I Love You, de Aretha Franklin

Com a morte da Aretha Franklin, cogitei fazer um texto aqui para o blog sobre sua magnifica carreira. Todavia, lembrei de textos antigos que fiz sobre ela e achei desnecessário. Preferi em silêncio ouvir seus discos. Mas foi tão energizante essa audição que quis compartilhar com a Reninha. Suas impressões estão abaixo:

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

No dia 16 de agosto Aretha Franklin se despediu desse plano e foi no final do dia dessa quinta-feira, chuvosa aqui em São Paulo, que o Juliano me mandou I Never Loved A Man The Way I Love You. É estranho dizer que nunca ouvi Aretha Franklin, mas é uma verdade. Talvez as músicas dela já tenham passado por mim em momentos dos quais já me esqueci, mas nunca parei para, de fato, ouvir seus discos.

Caminhar sentido Av. Paulista, numa noite fria e chuvosa ouvindo "Respect", após um dia maluco de trabalho, me senti com uma empolgação diferente e uma animação que só uma música daquela poderia trazer.

O disco segue com "Drown in My Own Tears", que casa muito melhor com o meu cenário frio. Após, me deparo com "I Never Loved a Man [The Way I Love You]", a música que dá nome ao disco é fenomenal, beira o indescritível.

"Soul Serenade" tem um “pam pam pammmm” que fica na cabeça e dá vontade de fechar os olhos enquanto se cantarola. A vontade de saber todas as letras e continuar cantando segue em "Don’t Let Me Lose This Dream".

"Dr. Feelgood" e "Baby, Baby, Baby" são um tanto mais paradas, o que não é minha onda, mas são inegavelmente lindas. O mesmo vale para "Do Right Woman – Do Right Man", que virá depois de "Good Times" e "A Change Is Gonna Come", que vem após "Save Me".

Falando nelas, "Good Times", ela dá vontade de dançar né? Me imagino num sábado cozinhando e a dublando. Já emendaria o Lip Sync com "Save Me".

Que disco incrível, me sinto com tempo perdido quando o Ju me manda discos bons e que eu estive esse tempo todo sem conhecer. Espero que todos vocês não tenham perdido tanto tempo quanto eu.


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

E os tais cinco discos do Kanye?

Nessa altura do campeonato todos já sabem, então serei breve na explanação: o maluco do Kanye West lançou cinco discos. Um por semana, não necessariamente assinando todos os álbuns, mas fazendo parte da produção de todos. Os cinco disco tem em média sete faixas e vinte minutos.

Já ouvi os trabalhos repetidas vezes. Restou a mim fazer uma breve descrição das obras. Não é resenha e nem critica, é uma descrição.

Obs: ok, todos sabemos que o Kanye West é dono de, por vezes, atitudes babacas. Todavia, é um dos rappers mais talentosos da história e um dos artistas do pop atual mais inquietantes. Sendo assim, vale sempre ouvir. 

Falarei sobre os discos na ordem em que foram lançados. Deixarei uma faixa de cada disco que considerei destaque (menos no do Nas).

Pusha T. - Daytona
Pusha T disparando o verbo contra todos (sobrou até pro Drake, coitado) enquanto Kanye West demonstra o porquê de ser um dos maiores produtores da história rap. Capa de mal gosto. Musicalmente não há espaço para equívocos. Curto e direito.

Kanye West - ye 
Como já esperado, seu álbum mais intimista, logo num momento de grandes contradições, declarações polêmicas, dentre outras atitudes tipicas de um ser bagunçado que é o Kanye West. Uma impressionante amostra de "rap-pop" paranóico, com seu ego, bipolaridade, ignorância, mania de grandeza e genialidade (musical) jogadas no mesmo saco. Embora os beats sejam ótimos, as letras são mais poderosas que a produção, algo curioso sendo ele o produtor que é. A capa é um meme imediato.

Kids See Ghosts - KIDS SEE GHOSTS 
Um disco difícil. De cara achei tudo muito bizarro. Mas a verdade é que o Kanye West trouxe dignidade ao Kid Cudi num ousado álbum de "rap-rock". O resultado é até mesmo doentio, principalmente no que se refere aos timbres extremamente saturados, as letras que tão bem retratam a perturbação paranoica do Kanye, os ousados samples e a inquietação contraditória que eles causam ao encaixarem distúrbios emocionais em belas melodias.

Nas - NASIR 
Embora tenha uma excelente produção, durante boa parte do disco eu só conseguia pensar na incapacidade do Nas de soar menos quadrado. Somente a partir da "everything" que ele embala. Seu flow não é nada criativo. Impressionante se compararmos ao seu passado. Mais uma vez ele decepcionou. Disparado o mais fraco. Ótima capa.

Teyana Taylor - K.T.S.E. 
É chato ficar toda hora puxando sardinha para o Kanye West, mas é incrível sua capacidade de produzir beats tão diferentes um dos outros. Aqui ele parte para r&b/pop melodioso, proporcionando uma confortável cama para a Teyana Taylor esbanjar sensibilidade e sensualidade com sua linda voz. Nada muito criativo, mas extremamente bem sucedido. É o mais pop e também o meu predileto.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Aretha Franklin e Geraldo Manuel & El Humo

ARETHA FRANKLIN
Essa semana ouvi basicamente lançamentos, mas com a morte da Aretha, foi inevitável não pegar disco como Aretha Live At Filmore East (1971) e Amazing Grace (1972) pra reouvir. É genial!

GERALDO MANUEL & EL HUMO
Ah, escutei também o Machu Picchu 2000 (1971), discão do rock peruano setentista.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Japanese Jazz, The Groundhogs e Ramleh

70'S JAPANESE JAZZ
Cheguei a essa coletânea por acaso via o YouTube mesmo. Não conheço nenhum dos artistas, mas é uma maravilha a sonoridade. É a trilha sonora perfeita para um jantar. Logo de cara tem uma versão espetacular para "Take Five". Quem diria que os japoneses fariam jazz com tanto groove.

THE GROUNDHOGS
Mal conheço e já adoro. Blues rock britânico sessentista dos bons. Esse Tony McPhee me pareceu um excelente guitarrista. Preciso ouvir mais.

RAMLEH
Vocês conhecem um genero musical chamado power electronics? Acabei de descobrir que existe. Ouvi o disco Hole In The Heart (1987) do tal Ramleh e achei curioso. É tipo um Earth com cogumelos. Algo entre o industrial, harsh noise e drone. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

TEM QUE OUVIR: Joe Satriani - Surfing With The Alien (1987)

Alguns fenômenos musicais não devem ser ignorados. Dentre tantos, o dos guitarristas virtuosos que despontaram na década de 1980 é dos mais nichados. Suas músicas recheadas por palhetadas velozes, tappings e arpeggios não parecem fazer sentido ao "ouvinte comum". É aí que entra Surfing With The Alien (1987), álbum que alcançou o posto de 29º na parada da Billboard (no auge da indústria dos discos) e ficou 75 semanas entre os 200 mais vendidos dos EUA.


É interessante lembrar que até o lançamento deste trabalho, o Satriani tinha mais prestigio como professor de guitarra do que enquanto artista, tendo formado nomes como Kirt Hammett e Steve Vai, ambos naquela época já mais inseridos no mercado da música que seu mentor. Por outro lado, o sucesso de Surfing With The Alien foi tamanho que até o Mick Jagger recrutou o Satriani para a sua banda solo. Mais tarde foi o Deep Purple que sondou o guitarrista.

O que diferencia o Satriani de todos os outros shreds da época é o talento composicional do guitarristas para motivos melódicos. A balada "Always With Me, Always With Me" poderia facilmente ter sido gravada por uma cantora pop cafona do período, o que não tira o valor da composição. Melodia altamente assoviável e memorável.

A faixa que nomeia o álbum é um rock n' roll divertido em seu riff e tema, desencadeando em passagens virtuosas que fazem ainda hoje a cabeça de milhares de guitarristas ao redor do mundo. Já "Ice 9" e "Crushing Day"é daquelas trilhas sonoras perfeitas para embalar programas esportivos da hora do almoço, o que por si só demonstra a força interpretativa e composicional do Satriani, que vai muito além da técnica.

Mas nada é melhor que "Satch Boogie", um dos grandes registro de guitarra rock solo instrumental. O riff, o tema, o solo, a execução, o timbre, o desenvolvimento da composição... tudo é de uma excelência musical gritante. Vale dizer que é uma das poucas faixas onde a bateria não é programada, o que revela o baixo orçamento do disco e uma tendência de produção que se tornaria comum.

Por todos esses motivos este disco não deve ser ignorado por nenhum ouvinte. É um registro louvável de um músico talentoso que sacudiu estaticamente e comercialmente a música instrumental.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Paulo Vanzolini, Brody's Militia, The Equals e Gabriel Fauré

PAULO VANZOLINI
É isso que anda fazendo a minha cabeça. Não existe muita coisa melhor não. Samba triste e classudo.

BRODY'S MILITIA
O Mozine fica postando essas desgraceiras e eu vou atrás. É divertido.

THE EQUALS
Pérola do rock britânico. É um daqueles grupos que ficaram mais conhecidos por serem "multirraciais" que pelo som.

GABRIEL FAURÉ
Já tenho idade suficiente para ouvir os Requiem do Fauré e gostar. Tem uma versão com o Philippe Jaroussky e regência do Paavo Järdi que é de chorar.

TEM QUE OUVIR: Afrika Bambaataa & Soulsonic Force - Planet Rock: The Album (1986)

Afrika Bambaataa é com razão citado frequentemente como um dos grandes personagens do hip hop. Seu ativismo frente a Zulu Nation mudou a rota do confronto fisico das gangues periféricas americanas, para uma disputa artistica envolvendo MC's, DJ's e breakers. Isso seria mais que o suficiente para escrever seu nome na história. Todavia, seu trabalho musical é tão amplo que transcende o hip hop.

Em 1982, Afrika Bambaataa & The Soulsonic Force lançou a faixa "Planet Rock", canção pioneira de toda a música electro. Sua produção pesada foi fundamental para o desenvolvimento da música house, do techno, trance, miami bass e rap em geral. Para nós brasileiros, é impossível não associá-la ao funk carioca (gênero decorrente do miami bass). A composição nasce a partir da apropriação de "Trans-Europe Express" do Kraftwerk somada a timbres esquisofrênicos do Roland TR-808, gerando uma obra-prima da dance music.

Lançado inicialmente como single, "Planet Rock" anos depois veio a fazer parte do disco Planet Rock: The Album (1986), um apanhado de canções lançadas pelo Afrika Bambaataa até então. E é justamente aí que brilham outras faixas.


Toda a cultura do DJ é elevada na dançante "Looking For The Perfect Beat". Já a produção de "Frantic Situation" é das mais absurdas do período. O visual, a postura e o trabalho musical do Afrika Bambaataa faz dele um discípulo direto do George Clinton. Isso fica evidente em "Renegades Of Funk".

Vale deixar registrado que esse disco tem uma das primeiras mixagens do Andy Wallace.

Mais de três décadas após o lançamento, Planet Rock: The Album se mantém como um marco da música moderna.