quinta-feira, 29 de março de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Robertinho de Recife, José Cid, Allen Hinds, Triana e Ween

ROBERTINHO DE RECIFE
Muito se fala (com justiça) sobre o espetacular Geração de Som (1978) do Pepeu Gomes, mas poucos lembram do igualmente excelente Jardim da Infância do Robertinho de Recife. Jazz rock dos bons, com passagens bastante influenciadas pelo Jeff Beck, embora com um bem vindo sotaque brasileiro.

JOSÉ CID
10.000 Anos Entre Vénus E Marte (1978). Rock progressivo português. Disco delirante e majestoso do José Cid. Tem excelentes guitarras.

ALLEN HINDS
Ví um vídeo do Mateus Starling em que ele atentava para o trabalho solo do requisitado sideman Allen Hinds. Fui ouvir o disco Beyond It All (2006) e adorei. Timbres orgânicos, composições bacanas e boa interação entre os músicos.

TRIANA
El Patio (1975), clássico do rock progressivo espanhol. Tem o pé no flamenco. Ótimas guitarras, momentos sinfônicos bonitos e composições majestosas.

WEEN
O Anthony Fantano colocou esse disco entre os "clássicos" no seu canal do YouTube. Não conhecia, então fui conferir. "Clássico" acho que é exagero, mas sua fusão de estilos, que traz até mesmo influências de Frank Zappa ao rock alternativo noventista, é primorosa. 

sexta-feira, 23 de março de 2018

Raimundos, Cascatinha & Inhana e Brian Eno - Obrigado, Miranda!

RAIMUNDOS
Não existem muitos discos no rock brasileiro melhores que o primeiro do Raimundos. E não se trata aqui de procurar/citar melhores - que, claro, existem -, mas de reconhecer a urgência da gravação e o peso dos instrumentos. Se trata de valorizar a criativa fusão de hardcore com forró, a sagacidade das letras e a fuleragem da banda como um todo, justamente numa época em que o rock nacional estava tão em baixa e que a industria exigia cada vez mais polidez e pasteurização sonora. Esse disco é para mim o exemplo máximo de produção de rock no Brasil. É o resultado genuíno de um produtor que entendeu a essência de uma banda, soube capta-lá sem recorrer a invencionismos e a lançou pelo seu próprio selo. É o estilo de produção que eu acredito.
A produção é do Miranda, um cara massa e que muito me identifico em diversos aspectos. Hoje vou ouvir esse disco o dia inteiro, igual fazia quando tinha 8 anos.

CASCATINHA & INHANA
Tempos atrás vi um vídeo do Miranda (suas entrevistas eram demais!) em que ele dizia amar ouvir Cascatinha & Inhana, principalmente quando tocado em aparelho de som fulero. Peguei um disco deles e deixei salvo no Spotify, mas até então não tinha parado para escutar. Hoje foi o dia. Não poderia ter escolhido música mais triste para esse dia zuado.

BRIAN ENO
Elevar o astral com um dos discos mais criativos de todos os tempos e uma das principais referências do Miranda: Here Come The Warm Jets (1974) do Brian Eno.

terça-feira, 20 de março de 2018

Lollapalooza 2018

O festival Lollapalooza nasceu em 1991. Criado pelo porra-louca Perry Farrell (vocalista do Jane's Addiction), o evento era uma saída alternativa ao "rock comercial". Foi lá que grupos como Pearl Jam, Rage Against The Machine e Nine Inch Nails tiveram o primeiro contato com um grande público.

Hoje, administrado pela grande Live Nation - empresa de entretenimento que agencia artistas como U2 e Madonna, além de ser dona de diversas arenas ao redor do mundo -, o Lollapalooza em nada representa sua proposta inicial. Ele já está completamente inserido ao corporativismo.

A próxima edição do festival acontece neste fim de semana em São Paulo no Autódromo de Interlagos, aquele lugar de difícil acesso feito para corridas de F1. Imagine se deslocar a pé naquele enormidade. Tem quem encare! Portanto, deixarei algumas dicas dos shows mais interessantes do evento.

Lembrando que os shows são televisionados, ou seja, uma boa opção para quem quer evitar o ingresso de valor proibitivo, o desfile do público "indie", fila para banheiro, fila para comida/bebida...

Pearl Jam
Não é minha onda, mas comparado a boa parte dos escalados para o festival eles são quase os Ramones. 

Red Hot Chili Peppers
Ao mesmo tempos que eles tem ótimas músicas, eles são uma das bandas que pior monta repertório. Todavia, se o Flea e o Chad Smith estiverem em noite inspirada, ganha alguns pontos. Já esse guitarrista novo é um paspalho e o Anthony Kieds é o Dinho Ouro Preto internacional. Indicado somente para quem tem memória afetiva com a banda.

Lana Del Rey
Ela não é maravilhosa, mas também não é tão ruim (ao menos em disco). Dê uma espiada por sua conta em risco.

LCD Soundsystem
Disparado o show que mais quero assistir. Os discos são muito bons, o James Murphy é ultra talentoso e no palco costumam ser acima da média. Quando a banda e o público entram em sintonia beira o absurdo.

Chance The Rapper
Dentre os rappers mais novos que caminham pelo mainstream, esse é um dos mais talentosos. Acho o disco Coloring Book bem bacana. Não sei como é ao vivo.

The National
Sabe aquela banda que a gente reconhece qualidade, mas que o som simplesmente não "bate"? Pois é. Vai que ao vivo empolga. Tem música legais.

Liam Gallagher
Ele é um xarope, mas ninguém pode acusá-lo de não saber o que está fazendo. Seu último disco é bem bom. Ao vivo existe um vestígio de imprevisibilidade interessante. 

David Byrne
Ele é uma lenda. Seu disco recente é bom. Seus shows são bem pensados. Sua banda costuma ser excelente. Vai funcionar num palco enorme dentro de um festival em que o público médio tem 23 anos? Provavelmente não! À conferir.

Royal Blood
Mais uma banda que não faz minha cabeça, mas que tem músicas agitadas e encorpadas que devem agradar o público. Lembrando que, embora eles sejam um duo, eles já estão acostumados com palcos enormes.

Anderson .Paak
O cara tem músicas legais, uma ótima banda e é um excelente performer. Até na bateria ele manda bem. Para quem curte a fusão de rap com r&b e funk é prato cheio.

Volbeat
Tudo que o Nickelback queria ser. Isso não é exatamente um elogio, mas...

Metronomy
Um eletropop indie confuso que as vezes dá certo, as vezes não. Ao vivo pode ser divertido ou uma porcaria estrondosa. Honestamente não sei.

Mac Demarco
Mais um caso em que não sei se funciona ao vivo. Mas ele é maneiro e tem um punhado de canções legais.

O Terno
Já achei o grupo mais divertido, mas eles são competentes e o público adora. 

Ego Kill Talent
Banda brazuca ultra competente, mas que pessoalmente acho chata. Não gosto mais devido o repertório do que a execução, sendo assim, ao vivo pode funcionar.

Spoon
Pô, nem sabia que ia rolar. Quando o assunto é bandas de indie rock ainda atuantes, não costumo lembrar de muitas melhores. 

Mahmundi
Tem alguém fazendo música pop no Brasil atualmente com mais qualidade que a Mahmundi? Ela é muito talentosa.

TEM QUE OUVIR: Chet Baker - Chet Baker Sings (1956)

Embora no jazz exista particularidades complexas, alguns discos são tão especiais que não é necessário embasamento teórico ou análise histórica para aprecia-lo. Basta a música ecoar para ela alcançar nossos corações. Chet Baker Sings (1956) é um ótimo exemplo.


Trompetista consagrado, Chet Baker apostou em seu canto e alcançou picos ainda maiores. Embora a critica da época negasse, o público - principalmente feminino - se derreteu com sua voz contida em arranjos enxutos e maravilhosos.

Sua voz de afinação precisa, não faz uso de grandes malabarismos, mas é de perfeição sonora hipnotizante. Com projeção amorosa ao microfone, é cinematográfica a experiência auditiva de canções como "It's Always You" e "I've Never Been In Love Before". Seu estilo de cantar fez a cabeça de muita gente, até mesmo no Brasil, principalmente entre a geração da bossa nova.

O ritmo dançante de "That Old Felling", o walking bass fluente de "Like Someone In Love", a celesta sonhadora de "My Ideal" e os belos solos de trompete em "My Buddy" e "But Not For Me" são exemplos do instrumental exuberante do disco. Mas o maior exemplo disso talvez seja "I Get Along Without You Very Well". Há música mais bonita?

Alguns clássicos ganharam força aqui, é o caso das lindas "Time After Time" e "My Funny Valentine", ambas com um show à parte do pianista Russ Freeman, que com justiça divide com Chet a capa do disco. Seu piano grandioso em "I Fall In Love Too Easily" é uma aula de harmonia.

Exemplo máximo de cool jazz, Chet Baker Sings proporciona algum dos momentos mais agradáveis da história da música. Sua arte é o oposto (e também resultado) de sua dramática vida.

sexta-feira, 16 de março de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Fernando Pellon, Gualberto, Magna Carta e Paulo Moura

FERNANDO PELLON
Irônico, sagaz e mórbido. São essas palavras que definem as composições de Fernando Pellon presentes no disco Cadáver Pega Fogo Durante O Velório (1983), maravilhoso álbum de samba que, de quebra, conta com o violão do Raphael Rabello. Um clássico cult. Impressionante!

GUALBERTO
A La Vida, Al Dolor (1975), lindo disco do espanhol Gualberto, representante do folk progressivo de seus país. Tem passagens influenciadas pela música flamenca  e pela música indiana que são maravilhosas.

MAGNA CARTA
Já no folk progressivo britânico, a onda atual é o Magna Carta. O disco Songs From Wasties Orchard (1971) é lindíssimo.

PAULO MOURA
Quer ouvir música boa sem precisa escolher muito? Vai de Paulo Moura que não tem erro. Um dos maiores nomes do jazz brasileiro (não é absurdo dizer mundial). "Chorinho Pra Ele" é um espetáculo!

quinta-feira, 15 de março de 2018

TEM QUE OUVIR: Madvillain - Madvillainy (2004)

Em 2001, a pequena Stones Throw Records - "gravadora" de três funcionários, localizada num quartinho dos fundos -, reuniu dois talentosos rappers de perfil recluso: MF DOOM e Madlib. O orçamento: $1.500 nas mãos do DOOM, que bastou ouvir poucos beats do Madlib para aceitar a risível proposta. Nascia o Madvillain.


Abastecidos de maconha, cogumelos, papel, caneta e um arcaico SP-303 (nada de computador!), o duo começou a trabalhar no que viria a ser o disco. Todavia, durante uma viagem do Madlib ao Brasil, onde ele desbravou lojas de discos e juntou uma quantidade imensa de samples, as fitas contendo as músicas foram roubadas, consequentemente atrasando o projeto.

Após o furto, o duo demorou um ano para se debruçar novamente na produção. Neste meio tempo, começou a circular pela internet as faixas roubadas do que viria a ser o disco, criando assim a expectativa pelo trabalho final. Dois longos anos de gravação e eis que é lançado Madvillainy (2004).

Não se restringindo a estruturas óbvias de rap, o duo entrega faixas curtas, sem pensar em estrofes ou refrães. Mais parecem impulsos criativos desprendidos de fórmula e forma. Em grande parte as músicas são interligadas e não passam de 2 minutos.

Madlib é criativo, versátil, pulsante, corrosivo e abstrato em suas produções. Seus samples são difíceis de serem rastreados, tendo em vista que ele garimpa minuciosos trechos. Todavia, o importante é o resultado, sendo justamente aí que salta aos ouvidos a jazzistica (com direito a linha de baixo paranoica) "Meat Grinder", a desconcertantemente pop "Raid", a grooveada e surreal "America's Most Blunted", a cinematográfica "Rainbows", a insistência hipnótica de "Shadow Of Tomorrow", a bonita "Fancy Clown" e a inigualável "All Caps".

Vale ainda mencionar o sample de O Terço em "Supervillain Theme" e de Maria Bethânia em "Rhinestone Cowboy", dois dos poucos reconhecíveis e, provavelmente, frutos da viagem do Madlib ao Brasil.

O fator britânico do DOOM proporciona lirismo afiado e um dos flows mais singulares (e posteriormente influentes) do rap, visto seu fuzilamento em rimas, vocabulário extenso, fluência tranquila e approach rítmico impressionante. Até quando o cara canta sobre bafo (vide "Operation Lifesaver Aka Mint Test") ele soa imponente e inebriante. Outros destaques de seu talento são "Accordion", "Money Folder" (adoro esse beat!), "Strage Ways", "Figaro" e "Great Day".

Joey Bada$$, Tyler The Creator, Earl Sweatshirt, Danny Brown, Flying Lotus e Thom Yorke (pois é!) são alguns que citam a importância deste álbum. Até mesmo sua capa - diga-se de passagem, inspirada no primeiro disco da Madonna - já virou um clássico. Obra fundamental do hip hop alternativo.

terça-feira, 13 de março de 2018

CHICO BUARQUE EM 15 CANÇÕES

Post dessa semana no Maria D'escrita

Ontem fui no show do Chico Buarque com a Reninha e deu vontade de listar minhas 15 músicas prediletas do artista. Fiz a seleção sem pensar muito, apenas subindo sua discografia pelo Spotify e lembrando das que mais gosto. Uma lista óbvia e que, assim sendo, serve para quem quer adentrar a obra deste brilhante compositor.

Muitas ótimas músicas ficaram de fora da lista, mas essa é a graça. Façam suas listas também!


Deus Lhe Pague
Assumo não ser grande fã dos primeiros discos do Chico e de canções como "A Banda", "Roda-Viva" e "Retrato Em Branco E Preto" (essa última muito melhor no Elis & Tom). Todavia, acho que o caldo engrossa muito no Construção (1971), sendo a abertura do clássico disco uma das mais impactantes da história da música popular brasileira. Faixa poética, politica, surrealista e densa. Arranjo matador.

Construção
Não dá para fugir do óbvio. Com arranjo de Rogério Duprat (o maestro tropicalista), Chico Buarque chega à vanguarda. Um instrumental épico, que serve de cenário para a narrativa surreal. Uma critica ferrenha à alienação capitalista e à ditadura militar. A estrutura formada por 3 blocos de 17 versos (sempre com alternância da proparoxítona final) é brilhante.

Partido Alto (versão com o MPB4 no Quando O Carnaval Chegar)
Uma métrica extremamente peculiar numa letra minimalista em cima de primorosas linhas de violão de 7. Talvez o momento em que Chico Buarque tenha chegado mais próximo do Noel Rosa.

O Que Será (A Flor Da Terra)
Em companhia do Milton Nascimento, numa letra de poética absurda.

Olhos Nos Olhos
Costumo criticar as composições mais românticas do Chico. Ontem cheguei a dizer que prefiro até mesmo as canções amorosas do Roberto Carlos. Todavia, exceções e predileções por faixas especificas servem para confirmar a regra. Assim enxergo essa linda canção.

Vai Trabalhar Vagabundo
"Homenagem Ao Malandro", "Pivete" e, principalmente, "Vai Trabalhar Vagabundo" são exemplos do excelente cronista do típico popular brasileiro (a.k.a. "malandro") que o Chico Buarque é.

Corrente
O timbre agudíssimo do chimbal, a excelente linha de baixo, o "arranjo nova-iorquino", as vozes sobrepostas em uníssono dando um efeito estranho, a sofisticada letra... um dos momentos mais ousados e, até mesmo, experimentais do Chico. E ele sabe disso, afinal, é "um samba bem pra frente".

Meu Caro Amigo
Não me recordo de um canção epistolar melhor que essa. Em cima de linda melodia de flauta, sua letra politizada não soa raivosa. Um inteligente arranjo para uma composição espetacular.

Trocando Em Miúdos
"Mas fico com o disco do Pixinguinha sim, o resto é seu". Para mim, umas das melhores frases de fim de relacionamento. De quebra ainda tem esse piano impressionista, essa flauta melancólica, a melodia, a harmonia, o arranjo...

O Meu Amor
Marieta Severo e Elba Ramalho dão vozes a uma das mais bonitas canções românticas da história. Adoro a melodia. Um pouco cafona? Talvez, mas adoro mesmo assim.

Apesar De Você
Quando criança eu ouvia e mal sabia da alusão à ditadura militar, embora desde sempre já adorasse seu ritmo sincopado, sua cuíca ofegante e interpretação terna do Chico.

Bye Bye Brasil
Uma letra genial pensada para ser ambientada num telefone-público e musicada brilhantemente pelo Roberto Menescal, com direito a ótima interação entre guitarra, violão e teclado, além de uma grandiosa linha de baixo, dentre outras qualidades individuas que, em conjunto, formam uma amálgama impressionante.

Brejo Da Cruz
Sua produção oitentista, acompanhada da excelência das guitarras do Toninho Horta, faz desse um dos melhores momentos do Chico Buarque.

Vai Passar
Se me perguntarem qual é o melhor "samba-enredo" (enquanto forma) da história, eu direi esse. Fora que, quem mais usa a palavra "paralelepípedo" numa canção? Muito bem escrita! Seu arranjo crescente é arrepiante.

Geni E O Zepelim
Lembro de ouvir essa música quando criança, pouco entender o conflito da personagem, e ainda assim ficar abismado. É genial.

quinta-feira, 8 de março de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Elliana Pittman, Jorge Mautner, Matthew Sweet e Pax

ELIANA PITTMAN
Não conhecia a cantora e fiquei abismado com sua qualidade ao interpretar diferentes ritmos brasileiros, indo do samba ao baião, sempre com convicção, excelente dicção, lindo timbre e afinação perfeita. Majestosa. 

JORGE MAUTNER
Escutando Jorge Mautner (1974), fiquei maravilhado com a interpretação do cantor - além dá já conhecida delirante poesia -, que curiosamente, me remeteu a outro Jorge, o Ben Jor. Ambos dão tratamento especial a divisão rítmica, estendendo e encurtando vogais com talento impressionante. Disco produzido pelo Gilberto Gil, o que explica a introdução igual a de "Back In Bahia" em "Salto No Escuro".

MATTHEW SWEET
Gilfriend (1991), discão de power pop. Me lembrou um pouco Manic Street Preachers. Nas guitarras estão Lloyd Cole, Richard Lloyd e Robert Quine. Bela capa.

PAX
Rock psicodélico peruano. Guitarras ultra ácidas. Vale a pesquisa.

terça-feira, 6 de março de 2018

TEM QUE OUVIR: Cliff Richard - Cliff's Hit Album (1963)

Lendo as enciclopédias do rock, temos a impressão de o rock no Reino Unido começou com as bandas da chamada Invasão Britânica (Beatles, Rolling Stones, The Who, dentre outras). Isso é no mínimo uma injustiça com o grande Cliff Richard.


Embora não seja compositor, Cliff Richard foi um cantor de enorme talento. Nos momentos mais vigorosos, estava a altura do Elvis Presley; nos momentos mais delicados, não faria feito ao lado de Roy Orbison. Isso sem falar que as meninas o achavam um tremendo boa pinta. Restou aos garotos quererem ser ele.

Se as qualidade de Cliff Richard são inegáveis, mais inquestionável ainda era a excelência de sua banda, os lendários The Shadows, grupo de carreira aclamada mesmo distante do cantor. Não por acaso Hank Marvin é tido como um dos pilares da guitarra inglesa.

Para conhecer a obra deste rockeiro britânico, recomendo Cliff's Hit Album, uma coletânea lançada em 1963 (ano de estreia dos Beatles), contendo singles de sucesso do cantor gravados entre 1958 e 1961, distribuídos no álbum em ordem cronológica. O disco fez enorme sucesso, ficando em segundo lugar nas paradas do Reino Unido. Isoladamente, nenhuma faixa ficou abaixo da terceira posição.

"Move It" eleva o astral, enquanto "Livin' Doll" deixa explicita as qualidades interpretativas e timbristicas de Cliff. No álbum ainda temos a força jovial de "Please Don't Tease", o ritmo oriundo do skiffle em "I Love You", os backing vocals e a guitarra adorável de "Theme For A Dream", a linda "When The Girl In Your Arms" e o sucesso avassalador (e de sensacional arranjo) "The Young Ones".

Influência declarada de Jimmy Page, Ozzy Osbourne, Brian May, Mark Knopfler, Ritchie Blackmore e tantos outros, esse disco ajuda a explicar a importância e evidência as qualidades de um artista subestimado fora do Reino Unido.

sexta-feira, 2 de março de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Hamilton de Holanda, Plato Divorak, Coke Luxe e Bright Eyes

HAMILTON DE HOLANDA
Fique sabendo que o excelente bandolinista Hamilton de Holanda tem um discos só com caprichos (caprice) e eu fui correndo ouvir. Rola homenagem ao Pixinguinha, Raphael Rabello, Donga e tantos outros. É virtuoso, mas acima de tudo lindo!

PLATO DIVORAK
Rock psicodélico tipico do sul do país. Quem gosta de Júpiter Maçã tende a gostar.

COKE LUXE
Clássico do rockabilly nacional. Eddy Teddy é um figuraça. Espetacular!

BRIGHT EYES
I'm Wide Awake, It's Morning (2005). Disco bonito, climático, cheio de altos e baixos na dinâmica e na emoção das composições, de interpretação apaixonada... Como demorei tanto para me atentar a esse disco?

quinta-feira, 1 de março de 2018

TOP 5: Bandas de rock no século XXI

Com a vinda do Foo Fighters e do Queens Of The Stone Age para shows no Brasil, surgiu o papo de que as duas são as melhores (e maiores) bandas de rock no século XXI.

Gosto de ambas. O Foo Fighters tem três ótimos discos (Foo Fighters, The Colour And The Shape e Wasting Light - detalhe, apenas um do século XXI) e uma porção de hits avulsos que proporcionam um bom material para os shows. Alias, show esse levado nas mãos de um líder carismático e de uma banda competente. Não tem muito erro, é o perfeito rock de arena.

Já o QOTSA tem três disco excelentes (Queens Of The Stone Age, Songs For The Deaf e ...Like Clockwork) e outros também muito legais. Sabem fazer show, mas não em arena. É uma banda para lugares menores.

Em comum, ambos os grupos são lideradas por caras talentosos e com espetaculares bandas no currículo que legitimam suas carreiras (Nirvana e Kyuss, respectivamente).

Dito isso, acho as duas bandas as melhores do século XXI? Não. Considero que tem artistas compondo melhor, tocando melhor e desafiando mais seus ouvintes.

Mas elas são as maiores? O Foo Fighters, pensando em alcance, pode até ser. Que outra banda de 20 anos consegue hoje fazer shows do Maracanã? Talvez o Coldplay e o Maroon 5. Entre essas, fico com o Foo Fighters. Todavia, o quão isso é importante? Para o Dave Grohl muito, mas para mim, tanto faz se é o U2, a Beyoncé ou o Foo Fighters que lota estádios, não vou ficar com a renda dos ingressos de nenhum show mesmo.

Para trazer um pouco de "embasamento", citarei cinco artistas/grupos mais bacanas que as duas bandas motivadoras do tópico.

Lembrando que me restringirei ao rock. Reforço isso porque, convenhamos, com a música pop e o rap estando num dos períodos mais criativos em termos de produção (veja minha lista de melhores discos de 2017 caso interessar), ficar procurando algo no rock é um tanto quanto bobagem. Mas vale pela brincadeira.

Wilco
Já escrevi tanto sobre a banda que me dou o direito de apenas citar. Caso não conheça, comece pelo ao vivo Kicking Television: Live In Chicago (2002). É espetacular!

Mastodon
Uma primeira década avassaladora. Depois andaram derrapando, mas no último disco voltaram a alcançar um bom pico de excelência. Muito sludge, stoner e flerte com o rock progressivo. Tende a agradar bastante os fãs de QOTSA.

Ty Seagall
Um dos sujeitos mais produtivos da atualidade. Agrada desde a molecada indie até o tiozões do classic rock. Tudo com muitas influências psicodélicas e do garage rock.

Swans
Aqui o caldo começa engrossar. Não são todos que vão conseguir adentrar a massa sombria proposta por essa veterana banda, hoje em seu auge. É denso, pesado, psicótico, abstrato e muito rico. Dê uma chance. Comece pelo The Seer (2012).

Death Grips
"Ai Juliano, mas Death Grips não é rock!". Se isso não é rock (claro, com elementos do hip hop e da música eletrônica) eu já não sei mais o que é. Seus discos são perturbadores e praticamente sem equívocos. Tende a maioria não gostar, mas sinto dizer, o problema está na maioria.


Menções honrosas (tem para todo os gostos): Radiohead (só não coloquei entre os 5 porque todos já sabem do potencial deles), PJ Harvey (gigante desde o inicio da década de 1990), King Gizzard & Lizard Wizard, Thee Oh Sees, Converge, LCD Soundsystem, Death From Above 1979, Old Man Gloom, The War On Drugs, Vampire Weekend, Courtney Barnett, Deaftheaven, Dope Body, Baroness, Gojira, Gov't Mule, Lamb Of God, Fleet Foxes, Arcade Fire, MGMT, St. Vincent, Ghost, Modest Mouse, Lightning Bolt, Bright Eyes e Metá Metá.