quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

RETROSPECTIVA 2018: Shows do ano (entre os que vi, claro)

Está cada vez mais inviável listar os melhores shows do ano. Isso ocorre devido a dificuldade que é ir aos espetáculos. Coloque neste pacote o preço exorbitante dos ingressos, a dificuldade que é se deslocar por São Paulo, falta de tempo e até mesmo a preguiça de aguentar um público cada vez mais mal educado. Todavia, consegui ver alguns bons shows, do qual falarei neste post.

Vale lembrar alguns shows interessantes que rolaram no Brasil e que eu perdi: Depeche Mode, Kadavar, Roger Waters, Toy Dolls, David Byrne, Toe, Mogway, The Pretenders, Steve Hackett, Premiata Forneria Marconi, New Model Army, Royal Blood, Sun Kil Moon, LCD Soundsystem, Anderson .Paak, Chance The Rapper, Kaki King, Spoon, The National, The Congos, Blondie, At The Drive-In, Thundercat, Killing Joke, Gang Of Four, Corrosion Of Conformity, Eyehategod, Glenn Hughes, Radio Moscow, Father John Misty, Built To Spill, L7, Oh Sees, Fennesz, of Montreal, Warpaint, Deerhunter, Mercury Rev, Quicksand, Earthless, Paradise Lost, Marduk, Destruction, Fred Frith Trio, James Blood Ulmer & Vernon Reid, Chucho Valdés, Herbie Hancock, Odair José com Azymuth, Violab, dentre outros.

Neste ano de 2018, procurei assisti mais shows nacionais. Um pouco disso pelo simples fato de serem mais baratos, sendo muitos deles gratuitos.

Logo no início do ano assisti Siba e a Fuloresta, que embora não seja a minha onda, é uma divertida junção entre o tradicional e o moderno da música popular brasileira. Outra apresentação que não é a minha praia, mas achei extremamente divertida foi a do Del Rey, grupo do China com os integrantes do Mombojó, que rejuvenesce o melhor do repertório do Roberto Carlos. Alias, como seria legal se o Rei abandonasse aqueles arranjos cafonas e caísse na estrada com uma banda de jovens músicos, não?

Mais empolgante para mim foi a apresentação do Otto, acompanhado apenas por um power trio e expondo sua conhecida performance frenética. Definitivamente um ótimo artista em cima do palco.

Após tentativas fracassadas de assistir o Cidadão Instigado, finalmente consegui. E como a banda é boa! O que o grupo não tem de pirotecnia na performance tem em criatividade nas composições e qualidade na execução.

Ah, assisti também um pocket show do Kiko Dinucci com a Juçara Marçal e a Suzana Salles interpretando as músicas do Itamar Assumpção. Tudo bastante simples e enxuto, mas valeu para trazer de volta aos ouvidos um dos maiores compositores da música brasileira.

No carnaval, em meio ao calor que batia do asfalto e a catuaba que descia goela abaixo (tem que entrar no clima), curti a performance do BaianaSystem num trio elétrico em plena São Paulo. Se por um lado eu não acho as composições do grupo grande coisa, a energia que eles proporcionam com ritmos de axé, dub, afrobeat e levadas de guitarra baiana somadas a timbres de sintetizadores, muito me animaram. Vi uma apresentação do grupo também num lugar fechado (Aramaçan, aqui em Santo André), assim como do Rincon Sapiência (que não acho grande coisa nem em disco, nem no palco), mas neste dia só tinha olhos e ouvidos para o Planet Hemp, uma das bandas da minha infância, e que até então nunca havia assistido ao vivo. Gostei demais! Em tempos em que o rock nacional soa conservador e careta, as composições do D2 e do BNegão ainda são necessárias.

Revigorante também foi assistir o Mano Brown no festival Batuque. Legal ver um cara que não precisa provar mais nada para ninguém se doando no palco, soando em forma, abrasivo e incisivo. O completo oposto do Baco Exu do Blues, que até gosto dos discos, mas que ao vivo me pareceu escrachado demais. Muito oba-oba e pouco som. Normal né, ele tem 22 anos, talvez a proposta neste momento tenha que ser essa mesmo. Neste mesmo dia assisti ainda o Edgar, que eu já tinha gostado do disco, mas que se mostrou ainda mais brilhante no palco. Ótimas produções, flow, performance, letras... ele é um cara bacana. De sobra teve também o Slick Rick, que sequer sabia que estava vivo, e que forçou a barra ao tentar vender a imagem de "lenda" (que até é, mas nem tanto). Todavia, na hora de rimar ele foi consistente e talentoso. Bacana.

Em 2018 assisti também a apresentação de dois dos meus compositores e interpretes prediletos da música brasileira. O primeiro é o Chico Buarque. Aqui serei sucinto ao dizer que, embora ache ele um artista não menos que genial, seu show não me agradou tanto. A banda é ótima, mas não tem "peso". Seu canto beira o monótono. E embora cheio de clássicos, me interesso por outro lado do seu repertório. Mas vale dizer que as músicas do seu último disco soam muito bem ao vivo. Resumindo, um artista brilhante num show apenas ok.

Já o Paulinho da Viola fez uma apresentação extremamente elegante. Seu canto é de grande finesse. Ao lado da Velha Guarda da Portela, seu espetáculo traz tanta exuberância quanto energia. Só fiquei com bode do público, afinal, foi um show de ingresso caríssimo e, assim sendo, para a classe média alta de São Paulo. Ver as mesas ao lado acompanhando um show de samba tomando vinho e comendo queijo deixa tudo meio "falso". Ao menos a aparição do Criolo no palco trouxe dignidade urbana à noite. Um show que funcionou somente no palco e nos meus ouvidos. Foi o suficiente.

Na praia internacional, vale ressaltar a apresentação de dois dos maiores nomes da guitarra fusion. Primeiro foi o Mike Stern, que ao lado do grupo brasileiro Balaio evidenciou seu fraseado rico e ácido. Fora que ele pareceu ser um tremendo boa praça. O outro foi o Al Di Meola, que ao contrário do que eu imaginava, também distribuiu simpatia em cima do palco. Isso além de algumas das palhetadas mais absurdas que já vi ao vivo. Impressionante! Pena que tinha uns xaropes enchendo o saco. Quem vai num show de flamenco para conversar? Vale dizer que quem abriu o show do Al Di Meola foi o Pepeu Gomes, que por mais que eu adore, neste dia ficou pequeno para ele.

Ah, vi também um show do Tom Morello, que embora soe ainda "em teste" nos palcos em carreira solo, confirmou ser o guitarrista singular que é. Neste mesmo dia assisti também o John 5, esse sim com um show bem estruturado, capaz de agradar até mesmo que não se interessa por rock instrumental. Muito legal mesmo.

Agora vem os dos melhores shows que assisti em 2018. Desculpe a obviedade, mas o primeiro a ser citado é o do Radiohead. Como já escrevi sobre ele, vou poupar palavras e linkar o texto. LEIA AQUI

O segundo a ser citado foi o do Nick Cave & The Bad Seeds. Tanto já foi dito sobre esse show que só me resta assinar embaixo. Performance emocionante de um artista identificado com a cidade e com um público imerso no espetáculo (tirando alguns excessos de "Ele Não" que encheram o saco, mas tudo bem). E é impressionante como o Bad Seeds tira som, não? Que banda! E não é absurdo nenhum dizer que o Nick Cave, embora já um veterano, esteja no seu auge. Excelente repertório e performance!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

TEM QUE OUVIR: The The - Soul Mining (1983)

O The The (inevitável redundância) é um projeto ambicioso. Sequer é uma banda, sendo na realidade o alter ego do Matt Johnson, que até então havia derrapado em carreira solo. No comando do grupo ele se manteve em constante mutação, reagindo esteticamente a cada nova formação. Mas em Soul Mining (1983), o debut do The The, tudo já soava precisamente bem resolvido e instigante.


A abertura com a nada ortodoxa "I've Been Waitin' For Tomorrow (All Of My Life)" evidência doses de experimentalismo, com direito a bateria enorme, linha de baixo poderosa e arranjo intrincado. Essa ousadia também se manifesta na quase world music "The Twilight Hout".

No auge do synthpop, o The The estourou com "This Is The Day", canção guiada por melodias de acordeom e violino que invocam a música tradicional dos pubs ingleses. Ao menos "Giant" traz um synthbass poderoso, inclusive remetendo ao que seria feito tanto no rap quanto na música eletrônica.

Embora de instrumentação peculiar, as faixas tem uma sensibilidade pop típica da década de 1980. Isso poderia resultar em algo banal demais, mas o lirismo politico do Matt Johnson equilibra positivamente a sua obra. Isso se faz valer em "The Sinking Feeling", um ataque a Margaret Tatcher.

Dentre os músicos que dão as caras no disco vale citar o solo de piano do Jools Holland na ótima "Uncertain Smile" (que remete ao que viria a fazer o Suede) e a gaita do David Johansen (sim, o do New York Dolls) em "Perfect".

Ainda que nem sempre lembrado, o The The é dos bons grupos do pós-punk britânico. É o perfeito equilíbrio de como soar tão sério e arrojado quanto pop e dançante. Não por acaso tantos talentosos músicos quiseram colaborar com o projeto.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Foetus, Heróis da Resistência, J.J. Cale, Bee Gees e Boris + Sunn O)))

FOETUS
Não sei como cheguei ao disco Nail (1985) do tal Foetus e sequer posso dizer que entendi. Parece um cruzamento do pós-punk com o garage rock, mas de produção/arranjo de força/dureza braçal, beirando o industrial. No meio disso tudo, algumas "sinfonias". Não entendi, mas gostei. Vale dizer que o requisitado JG Thirlwell encabeça o projeto.

HERÓIS DA RESISTÊNCIA
Calma, respire fundo, é só uma banda, não precisa torcer o nariz. Dito isso, fato é que não gosto do Kid Abelha e não entendo essa "bajulação" pra cima do Leoni. Fui ouvir o Heróis da Resistência, que lançou discos numa entressafra cruel do rock nacional. E não é que eu achei "legal". Longe de ser maravilhoso, mas também não são a porcaria do Uns E Outros. Instrumentalmente a banda é bem boa, não?

J.J. CALE
Assumo que até então nunca tinha escutado um disco inteiro do J.J. Cale. Peguei o Troubadour (1976) e adorei. Ótimo compositor, guitarrista e cantor.

BEE GEES
Mais um confissão: assisti pela primeira vez Os Embalos De Sábado À Noite há pouco mais de duas semanas. Obviamente eu já conhecia todas as músicas, mas o filme em si assisti só agora. Não achei nem tão ruim, nem tão bom. Todavia, mesmo com suas distorções e caricaturas, é um bom retrato do seu tempo. Como se isso não bastasse, passou um show do Bee Gees no BIS essa semana. Parei para assistir e achei demais. Nunca gostei tanto dessas músicas quanto desta vez. E olha era uma apresentação de 1989, nem era o auge. É impressão minha ou o Barry Gibb era o irmão mais talentoso?

BORIS + SUNN O)))
Parei também para reouvir o Altar (2006) e conclui que ele não perdeu a força. Discão!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

RETROSPECTIVA 2018: Não pode passar despercebido

Sabe aquele grupo/artista que não lançou um grande disco, mas soltou uma música legal que não pode passar despercebida numa retrospectiva, seja por ter tocado muito (é agora que postarei os hits de qualidade duvidosa), por apontar novos horizontes, por ter um clipe curioso ou simplesmente pela música ser bacana? Pois então, são essas faixas que reúno neste post. Vamos a elas:

Obs: Tais músicas não são necessariamente as melhores do ano (longe disso, aliás), até porque exclui deste post as grandes músicas que estão dentro dos grandes discos. Estão aqui as faixas isoladas que merecem atenção.

Está em ordem do que fui lembrando. Em vídeo só realmente as que gostei.

Anitta - Vai Malandra
Foi lançada no ano passado, mas foi o grande hit do carnaval deste ano. É ruim, mas fica na cabeça (ainda mais diante da massiva divulgação). Melhor que suas baladas em castelhano sem dúvida é. Interessante também como quando a Anitta traz estereotipias, poucos criticam, não?

Baco Exu do Blues - BLUESMAN
Poucos vídeos musicais do Brasil são tão bem produzidos quanto esse. Impressionante!

Billie Eilish - when the party's over
Viralizou (acho que mais por questão estética que musical), então vou mencionar, mas honestamente não achei grande coisa.

Childish Gambino - This Is America
A letra, o beat, o groove, a produção, o clipe... uma cacetada! Não por acaso repercutiu tanto. Sem dúvida uma das grandes músicas do ano.

Dave Grohl - Play
Só pela música nem vale a pena ouvir, mas acompanhado do vídeo é bacana. Legal ver o Dave Grohl em estúdio.

Djonga - A Música da Mãe
Fez bastante barulho na internet. Não sou tão chegado nas composições do rapper, mas essa música é bacana.

Eminem - Kick Off
Por mais que seja bobo o Eminem num ambiente seguro "transbordando raiva" diante da câmera, não deixa de ser legal assistir uma performance sua de freestyle. Afinal, verdade seja dita, ele é um grande MC. Aqui ele soa bastante irregular, mas é o tipo de experiência que vale gastar alguns minutos.

Grimes - We Appreciate Power
É tão pop quanto eletrônico e heavy metal. Divertido demais. Criou expectativa em mim para o que virá no futuro.

Heilung - Krigsgaldr
Esse vídeo deu uma "viralizada" entre os que curtem heavy metal e sons estranhos. Até onde entendi, a banda canta numa língua morta, usa peles de animais como vestimenta e ossos como instrumento, isso e outros instrumentos arcaicos. É mais bizarro e curioso do que propriamente legal.

Jade Baraldo - Nem O Mar (Podê Levar)
Olha, não sei o que o futuro reserva para essa moça, mas ela pode ir longe. É nova, canta bem, linda, faz um pop classudo, muito bem produzido (tanto sonoramente, quanto em clipes), soa moderna, atende o mercado, atende o feminismo, atende a taradice masculina (e feminina), as composições (vide essa) são boas... Se ela não vingar é porque o mercado é realmente imprevisível.

Jojo Maronttinni - Que Tiro Foi Esse

Foi hit também. Ao menos na internet e entre atores globais. Para ser honesto, não dei muita atenção não. Tem algumas coisas que pintam que... sei lá. É o sucesso forçado.

Jupiter & Okwess - Ekombe
É rock, é "étnico", é dançante, é diferente, é paranoico... Tudo muito legal, inclusive o vídeo.

Lady Gaga, Bradley Cooper - Shallow
Sério mesmo? Deus do céu, como vocês são cafonas.

Lizzo - Boys
É empoderado, é funky, é divertido... É muito legal!

Lupe de Lupe - O Brasil Quer Mais
Muita gente desceu a lenha, mas eu achei massa. Letra em formato "textão de facebook" intercalando doses de inocência com ótimas sacadas, apesar de sua aparente obviedade. O instrumental e a interpretação, por mais "toscas" que sejam, dão uma sensação claustrofóbica criativa. Só de não passar indiferente eu já acho bacana.

Marina Lima - Só Os Coxinhas
Disparado entre as piores músicas que já ouvi na vida. Impressionante!

MC Kevin O Chris - Eu Vou Pro Baile da Gaiola
A ascensão do 150bpm no funk carioca num dos principais hits do ano. É uma pancada mesmo. A herança afro no beat é espetacular. Fora que é ultra ganchuda.

MC Loma e Gêmeas Lacração - Envolvimento
Mais um vídeo que viralizou em 2018. É meio ruim, mas não é isso que importa. Interessante mesmo foi que o vídeo bombou através de uma gravação amadora da MC Loma. O KondZilla percebeu o sucesso e gravou um clipe otimamente produzido para o seu canal, preservando a versão amadora original da música. Pergunta: isso é sinal da valorização da música original ou desvalorização da música enquanto produto final? Fica a dúvida. De certo está a canção como símbolo da explosão do bregafunk no Sudeste.

MC Rebecca - Cai de Boca
Não é sempre que a mulher é colocada com protagonista no sexo oral. Mas também é o único feito da música.

Midori Takada / Lafawndah - Le Renard Bleu
Um trabalho audiovisual muito bonito. Quem se interessa por música japonesa tem que assistir.

Nego do Borel (DJ Rennan da Penha) - Me Solta
Ainda que não seja a minha onda, achei a produção pesada e a letra positivamente afrontosa. Problematizaram o vídeo, mas honestamente acho que viram problema onde não deveriam, ainda mais diante de uma música que tão bem aborda as amarras do estado contra os bailes funks e os corpos.

Post Malone ft. 21 Savage - Rockstar
Confesso que fiquei alguns dias obcecado por essa música. Um dos maiores hits do ano. Um trap/pop rap dark e ganchudo. Gostei muito.

Raffa Moreira - FVCK
Uma dentre tantas produções do incansável Lil Raffa. Encare com humor. E lembre-se, você é feio e se falar bosta ele dá um tiro na sua cara (e na sua vó). Produção, letra e flow esquisitão. Rei do trap brasileiro.

Tierra Whack - Whack World
As músicas por si só já são legais, mas a experiência visual deixa tudo mais impactante. Tudo muito colorido, surreal e divertido. Muito criativo.

Weezer - Africa
Weezer tocando Toto só poderia ter um resultado: o maior meme musical já feito.

Zeca Veloso - Todo Homem
Música bonita. Fez parte de trilha-sonora de novela global. Tem até um falsete à la Thom Yorke em "Nude". E a máfia do dendê se mantém imbatível.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Canais de música no YouTube para não perder tempo com o Nando Moura

Ouço falar no Nando Moura há uns três anos. O conheci mais precisamente através de um vídeo chamado "SEPULTURA: Desafio para o Andreas Kisser" onde ele propõe o despropósito de que o Sepultura deveria compor uma música ofendendo Maomé (!!!) (???).

Seu canal intercala vídeos sobre cotidiano, música, "filosofia" e política. Independente da área, seus argumentos são infantis e superficiais.

O Nando Moura é guitarrista. Alias, um guitarrista ruim. Seus timbres, pegada, fraseado, composições, técnica... nada ali salta aos ouvidos. Sua banda, Pandora 101, pelo pouco que eu ouvi, é de uma cafonice extrema. Uma espécie de Blind Guardian amador.

Nas últimas semanas, diversos youtubers tem tentado desmoralizar intelectualmente o Nando Moura, algo não muito difícil. Todo esse contra-ataque começou após o Jair Bolsonaro recomendar seu canal, que hoje está perto dos 3 milhões de inscritos. Dentre todos os canais brasileiros "de música", talvez seja o segundo maior, atrás obviamente somente do KondZilla.

Por tudo isso, acho importante trazer aqui outras opções para quem chegou ao Nando Moura através dos vídeos sobre música. São opções de artistas e/ou mero apreciadores de música com opiniões muito mais embasadas que as dele. Escolhi alguns sobre guitarra por ser o nicho do Nando Moura. Veja exemplos:

Um Café Lá Em Casa
Disparado um dos grandes canais de todo o YouTube. Não bastasse o Nelson Faria ser um espetacular guitarrista, ele sempre traz músicos de alto nível para um bate-papo, levar um som e, claro, tomar um café. Já participaram do programa Mike Stern, Hamilton de Holanda, Stanley Jordan, Hélio Delmiro, João Bosco, Ivan Lins, Marcos Valle, João Donato, Roberto Menescal, Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Yamandu Costa, Edu Lobo, Francis Hime, Raul de Souza, Dori Caymmi, Michael Pipoquinha, Wagner Tiso, Lula Galvão, Carlos Lyra, Nelson Sargento, Kiko Loureiro... resumindo, é um verdadeiro arraso! Tem que conferir!

SilasCF
Ah, mas sua onda é mais guitarra de heavy metal, pesada e virtuosa? Maravilha, tem o canal do Silas Fernandes, esse sim um ótimo guitarrista, que entende tudo sobre pedais, técnica e timbres.

Mateus Starling
Vale lembrar também do canal do Mateus Starling, que por si só já vale ser inscrito, já que ele é um ótimo guitarrista, inclusive de fraseado bastante ácido. É bacana também porque ele dá ótimas dicas para profissionais da música.

Marcio Okayama
O grande Marcio Okayama também tem um canal sobre guitarras. Vire e mexe ele posta um pequeno "dossie" sobre algum artista que ele admira. É bem bacana.

Paulo Anhaia
Lembre que o Nando Moura também é produtor, ou ao menos diz ser, já que ele não revela suas produções (sabe-se lá por qual motivo). Pensando nisso, trago também o canal do Paulo Anhaia, um cara que já trabalhou com meio mundo (do Rouge ao Charlie Brown Jr.) e tem bastante experiência nas áreas de produção musical.

Tá Na Capa
Canal divertido onde o Júlio Victor traz temas frescos do que está acontecendo do mundo "pop". Ele tem opiniões legais, embora obviamente eu não concorde com tudo (o que não é um problema). Tem vídeo novo quase diariamente.

Som de Peso
Se não me engano, esse canal começou este ano. Ele é comandado pelo Bruno Ascari, um rapaz que já demonstrou ter conhecimento enciclopédico. Seu canal merece muito crescer. 

Alta Fidelidade
Canal do Luiz Felipe Carneiro, com centenas de vídeos já postados. Adoro os vídeos de sábado, onde ele sempre traz um bate-papo informal sobre temas diversos com seu amigo Biofá.

Screamyell
Canal do Scream & Yell (site já lendário). É verdade que ele tá meio parado (Marcelo Costa foi pai, deve estar muito ocupado), mas lá tem diversos vídeos bacanas.

Kazagastão
É verdade, é um canal mais "dad rock". Todavia, sempre é bom ouvir o que o Gastão Moreira tem pra dizer, ainda mais quando está acompanhado do grande Clemente. Adoro especificamente os vídeos em que ele mostra os discos da sua coleção.

Theneedledrop / Fantano
Eis os dois canais do Anthony Fantano, um dos caras no YouTube mais antenados na música atual. Suas opiniões são ótimas, ainda que eu não concorde com tudo. Com inglês intermediário já dá para entender. É um dos lugares que mais uso para saber dos lançamentos.

Deep Cuts
Embora o canal tenha entrado em hiato, tem muitos vídeos legais para serem assistidos. Adoro sua série "5 Albums To Get You Into".

É isso, ótimos canais sobre música. Não sei a opinião política/ideológica dos que fazem os canais, mas sobre música certamente eles são muito mais embasados que o Nando Moura, que é meramente um "rockeirão reacionário".

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Top 10 - Deep Purple

Encontrei um pequeno canal no YouTube em que um tiozão fala só sobre classic rock. Quem tiver interessa chama-se Sea Of Tranquility. Ele fez um top 10 de canções do Deep Purple (minha banda do coração), logo me deu vontade de fazer o mesmo. Vamos ver no que dá.

Assim com ele, tentarei por em ordem de preferência, algo que certamente provocaria mudanças dependendo do dia. Mas essa é a graça de um ranking.

Lembrando que é uma lista de gosto pessoal e não de canções mais famosas, icônicas ou sei lá o quê.


10 - Vavoom: Ted The Mechanic
Adoro o Purpendicular (1996). É daqueles discos de infância. Gosto até mais que qualquer coisa que o grupo lançou na década de 1980 (e não estou esquecendo do superestimado Perfect Strangers). O Steve Morse brilha nesta faixa. Baita riff e solo.

09 - Anyone's Daughter
Um folk psicodélico belíssimo e difícil de associar ao Deep Purple. Adoro a canção.

08 - Fools
Um momento quase experimental do grupo. Faixas bastante psicodélica, com alteração de dinâmica e andamento. Cheia de climas. É interessante como o Blackmore emula um violoncelo no solo.

07 - Speed King
Um começo cacofônico, para logo depois ser apaziguado por um órgão barroco e desaguar em uma das mais poderosas faixas de heavy metal/hard rock. Absurdo!

06 - Bloodsucker
A faixa toda é guiada por um riff estrondoso. Com direito a berros vigorosos do Gillan.

05 - Into The Fire
A faixa mais Black Sabbath do Deep Purple. Gosto da força cromática do riff. A voz do Gillan também brilha.

04 - Highway Star
Um dos poucos clássicos do grupo que ainda hoje ouço com o mesmo prazer. Solos emblemáticos tanto do Blackmore quanto do Jon Lord.

03 - Lazy
Meu momento predileto do Blackmore. Que solo!

02 - Stormbringer
Olhando a lista até parece que não gosto da Mk III, mas não é verdade. Foi obra do destino ter somente essa faixa. E não poderia deixar de ter. Ótimo refrão, vozes poderosas, riff vigoroso, Paice detona, Jon Lord se joga nos sintetizadores... Muito legal!

01 - Pictures Of Home
A letra é viajante, o riff é ótimo, a produção é orgânica, a interação dos músicos é das mais primorosas numa banda de rock que eu já ouvi... Não tem erro. Atenção para os solos no final da faixa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Aphex Twin - Selected Ambient Works 85-92 (1992)

Muitos elementos fora da curva tornam o trabalho do Aphex Twin especial. Nascido em 1971, o enigmático Richard D. James começou suas produções caseiras com impressionantes 13 anos. Seu processo evolutivo inicial pode ser conferido no clássico Selected Ambient Works 85-92 (1992).


O músico/produtor racionaliza a música techno e traz a ela elementos da música ambient, tornando sua obra de excelência, profundidade e sofisticação latente. Costuma-se a dar a isso o nome de IDM (Intelligent Dance Music), uma abreviação que procura empacotar as produções eletrônicas mais arrojadas e cerebrais numa época em que o estilo começara a explodir nas raves como mero produto de entretenimento. Aqui a estética volta a ser o ponto central no gênero. (obs: digo isso sem qualquer juízo de valor, afinal, música eletrônica "dançante" também é legal).

"Xtal" abre o disco em sintonia com a acid house, mas coberta por um clima lisérgico que não vinha das bandas de Madchester, mas do som lo-fi das fitas e do clima espacial da música ambient.

Embora de beat incisivo, existe toda uma atmosfera introspectiva em "Heliosphan". O mesmo vale para a tão estranha quanto adorável "Schottkey 7yh Path". Em ambas vale observar o uso de filtros de equalização que dão a sensação de "abafado", como se as músicas tocassem no nosso subconsciente.

"Ptolemy" novamente se aproxima da tão em voga (na época) house music. Por sua vez, a densa "Hedphelym" não é nada comparável ao que rolava no período, embora épica em sua não ortodoxia.

Adoro o clima new age transcendental dos sintetizadores de "Tha". Seu beat insistente soa como se construído com uma garrafa pet.

A pequena vinheta "I" é das mais bonitas faixas de música ambient. Sua sequência é a abstrata "Green Caix", dona de linha de baixo frenética. Na pulsante "Ageipolis" é também o baixo que guia a composição, mas aqui de forma mais hipnótica, apontando para o agressivo beat.

"We Are The Music Makers" é um clássico no que diz respeito a sample. Nada mais que uma coleção de recortes de um artista dono de grande conhecimento artístico.

Não são muitos os discos de música eletrônica em que a experiência de ouvir sozinho no quarto faz mais sentido do que num porão escuro e lotado. Álbum fundamental para desenvolvimento da música contemporânea.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: John Hiatt, Cake, Carlos Lyra e Mission Of Burma

JOHN HIATT
Nunca tinha escutado nada do sujeito. Vi que ele foi capa da revista Guitar Player americana e decidi ir atrás. Ele já foi gravado por Bob Dylan, B.B. King, Eric Clapton, Iggy Pop, Willie Nelson... ou seja, não é qualquer um. Peguei o disco Bring The Family (1987) e adorei. Dentro dessa onda americana/heartland rock, é um dos melhores discos que já escutei. Ótimas composições, belos timbres de violão de aço e a guitarra slide exuberante do Ry Cooder. No vídeo abaixo, quem faz a guitarra é o Sonny Landreth. Nada mal, né.

CAKE
Alguém me tira a dúvida, por que o Cake não é lembrado pelos críticos? Tipo, algo no nível do Beck. Nunca os vi em lista de "melhores" de nada. Eu só conhecia a chatinha versão de "I Will Survive", mas escutando o disco Fashion Nugget (1996) fique surpreso. É muito bom. Divertido, aponta para diversos gêneros, bem tocado e gravado... não tem erro.

CARLOS LYRA
Mais um daqueles ícones da música brasileira que eu nunca havia parado pra escutar um disco. Assisti uma ótima entrevista sua no Som do Vinil (programa do Charles Gavin no Canal Brasil) e tomei isso como motivação. Adorei o aspecto politico das suas composições (vide "Herói do Medo" e "O Mutilado"). Muitas músicas trazem também um balanço quase "herbiehancockiano". Muito legal.

MISSION OF BURMA
Li sobre o lançamento do livro Nossa Banda Podia Ser Sua Vida (Powerline Books & Music) e me dei conta que a única banda ali analisada e que eu não conhecia era o Mission Of Burma. Ouvi o disco Signals, Calls and Marches (1981) já sabendo que ia adorar e não deu outra. É o noise rock em seu estado mais palatável.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

RETROSPECTIVA 2018: Bandas que voltaram / Bandas que acabaram

Assim como faço todo mês de dezembro, chegou a hora da retrospectiva do ano. Aguardem posts sobre os grandes lançamentos (e relançamentos), as decepções, as músicas que não podem passar despercebidas, os melhores shows (entre os vistos por mim, claro), além de uma pequena homenagem aos ídolos da música que se foram.

Mas hoje falarei sobre as bandas que voltaram e as que encerraram as atividades. Sem mais delongas, vamos a elas!

BANDAS QUE VOLTARAM
- The Kinks
Faz uns cinco anos que a noticia é repetida, mas agora é oficial, embora ainda sem resultado. Quem sabe ano que vem, ou daqui dois anos, ou 2026...

- Stray Cats
Promotores, show no Brasi já! Tenho certeza que lota. Não faço ideia quanto custa para traze-los. Uma das voltas que mais me empolgou.

- Dixies Dregs
Com o Deep Purple no leito de morte, Steve Morse reergueu a banda na qual se consagrou. Gostaria de assistir a um show, embora ele nitidamente demonstre não está tão em forma.

- Smashing Pumpkins
Billy Corgan e o Jimmy Chamberlin já estavam tocando juntos há bons anos. Chamaram o James Iha, deixaram a D'arcy de fora, lançaram um disco fraquinho e as arenas que estavam tocando até então dobraram de tamanho. Diante disso, com que argumentos vamos reclamar dessas voltas picaretas?

- Neil Young & Crazy Horse
Faziam apenas quatro anos que eles não tocavam juntos, mas foi a volta que mais comemorei. Neil Youg com sua banda definitiva. Só falta agora voltarem ao Brasil. Promotores?

- ABBA
Li que eles iam lançar uma música. Rolou? Não vi mais nada. E precisa?

- Cordel do Fogo Encantado
Até acho maneiro, mas nem fui atrás de ver/ouvir nada. Mas posso estar perdendo algo legal.

- Geraldo Vandré
Fez um único show em sua cidade natal, falou algumas bobagens e já sumiu do mapa novamente.

- Muzak 
Grupo da cena underground paulistana oitentista. O lance é aguardar e ver o que eles produzem de novidade.

- Shaman
Voltaram para alguns shows com sua formação original. Acho bacana que aconteça, mas honestamente nem vi nada. Não é minha praia.

- Dr. Sin
Voltaram com outro guitarrista. O Ardanuy se revelou um coxa, então foda-se ele. Lançaram uma música que achei bacana (memória afetiva interfere). Não tenho a menor vontade ve-los ao vivo. É só o que tenho pra dizer.

Voltaram após muito tempo sem disco de inédita (falarei mais no post sobre lançamentos): A Perfect Circle, Belly, Dear Nora, Melody's Echo Chamber, Mr. Fingers, Parliament, Sleep, Soft Machine, The Breeders, The Rock*A*Teens, Zeke


BANDAS QUE ACABARAM
- Rush
Especulações sobre o fim já rondavam o grupo, mas somente esse ano o Alex Lifeson anunciou o fim. A verdade é que Neil Peart não quer mais saber de shows/discos. Terminam sem apresentar nenhum sinal de decadência. Boa escolha.

- Paul Simon
Ao que consta, ele fez o último show da carreira (e sem sequer mencionar o Garfunkel). Se for verdade, para com dignidade.

- Matanza 
Já deu mesmo, né? Imagine o Matanza formado por cinquentões.

- Cachorro Grande
Os últimos dois discos da banda são ruins. Sinal de que a coisa já estava passando do tempo. Ai chutaram o Marcelo Gross. Um absurdo! Poucos meses depois tiveram um pingo de lucidez e anunciaram uma famigerada tour de despedida (com o Gross). E assim termina uma boa banda, que palpito que deve voltar em 5 anos. Se voltar em 10 vai ser aclamada. Façam as suas apostas.

- The Pretty Things
Não é qualquer banda que pode se dar o luxo de terminar a carreira com um show com o David Gilmour na guitarra.


Muitas outras bandas/artistas anunciando tour de despedida, mas sem acabar: Slayer, Elton John, Lynyrd Skynyrd e George Clinton. 
Tem também as famosas pausas, vide: Racionais MC's (que logo depois fizeram um show com banda (não só DJ), ai fiquei sem entender).

E o Soft Cell que vai se reuniu para acabar, se enquadra em qual categoria?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Sugar - Copper Blue (1992)

Sobravam "especialistas" apontando o quão o Hüsker Dü tinha sido influente para a cena alternativa que havia chegado ao mainstream em 1992. O público pareceu não dar muita bola para isso. Como espécie de "vingança involuntária", Bob Mould montou o Sugar e mostrou que compunha melhor que qualquer um de seus fãs famosos.


Copper Blue reúne um punhado de canções inspiradas. Todas tão encorpadas quanto melódicas. Isso fica evidente logo de cara na enlameada "The Act We Act", onde guitarras pesadas são amaciadas por um vocal ultra palatável.

"A Good Idea" soa para mim quase como uma provocação ao Pixies, algo como "é isso aqui que vocês querem fazer né?". Como não ficar espantado com o bom senso melódico do Bob Mould diante de maravilhas como "Changes". A canção soa como um resumo do rock nos anos 1990.

As referências aos Beatles que já ecoavam no Hüsker Dü voltam a dar as caras na acústica "If Can't Change Your Mind" e em "Hoover Dam", sendo essa última dona de espetacular arranjo. Perfeitos power pop noventistas.

Vale destacar ainda a contagiante "Helpless" (tudo que o Foo Fighters queria ser), a arrojada "The Slim", o verdadeiro pop punk que é "Fortune Teller" e a paranóica "Slick".

Ainda hoje Copper Blue não recebeu a devida atenção. Todavia, Bob Mould se mantém como referência na arte de compor canções de rock.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Herbie Hancock, Mauricio Einhorn & Sebastião Tapajós, Harmonium e Second Come

HERBIE HANCOCK
Fazia uns 15 anos que não ouvia o Sextant (1973) do Herbie Hancock. Confesso que o Head Hunters (também de 1973) ofuscou em mim os outros trabalhos do mesmo período. Todavia, escutando hoje, se bobar acho o Sextant ainda melhor. Questão de gosto, dependendo do dia, afinal, ambos são 10/10.

MAURICIO EINHORN & SEBASTIÃO TAPAJÓS
Álbum lançado pela dupla em 1984. Um absurdo de tão bem tocado. Daqueles nos leva a pensar "pare de perder tempo, volte a estudar seu instrumento". Tem o Arismar do Espirito Santo (baixo) em algumas faixas. 

HARMONIUM
Se sua praia for folk progressivo, trago uma obra-prima: Si On Avait Besoin D'Une Cinquieme Saison (1975) da banda quebequense Harmonium. Disco lindíssimo.

SECOND COME
Somente essa semana consegui assistir o documentário Time Will Burn (Marko Panayotis e Otavio Souza) sobre a cena do rock alternativo brasileira noventista. Adorei o filme. Tanto que me inspirou a reouvir o álbum You (1993) do Second Come. É um tanto quanto inocente, mas acho bem legal.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: John Lennon - Imagine (1971)

Não sei como funciona para a maioria das pessoas, mas para mim, antes mesmo de saber do passado do John Lennon enquanto integrante dos Beatles, eu já o reconhecia ao piano no clipe de "Imagine". Isso talvez seja mais comum na minha geração (nascido na década de 1990), mas aponta para algo indiscutível, que é a força da sua carreira solo.


Imagine (1971) é o segundo álbum solo do John Lennon após o término dos Beatles. Seu sucesso entre critica e público foi arrebatador. Muito disso graças a já citada faixa que nomeia o álbum, uma composição de arranjo enxuto e simplicidade melódica. E por mais que a letra em seu imaginativo utópico pareça ingênua, para época ela soa bastante incisiva. Goste você ou não, um clássico da canção popular mundial.

A música folk britânica se manifesta na contagiante "Crippled Inside", com direito a ótimo piano do Nicky Hopkins e a guitarra slide do George Harrison, que volta a aparecer na delirante "Gimme Some Truth" (espetacular interpretação vocal do John). Alan White, Jim Gordon e Klaus Voormann também dão as caras no disco.

É nítida a mão do lendário Phil Spector na produção do álbum. Isso fica explicito na reverberosa (total wall of sound) "I Don't Wanna Be A Soldier Mama".

"Jealous Guy", composta ainda na época dos Beatles, é das mais bonitas baladas do John Lennon. Seu assovio somado ao arranjo de cordas é inesquecível. Já sua performance abrasiva na guitarra blues de "It's So Hard" evidencia sua subestimada qualidade nas seis cordas.

Vale destacar ainda sua parceria com a Yoko Ono na bonita "Oh My Love", sua cutucada desnecessária no Paul McCartney na sensacional "How Do You Sleep?" e a belíssima "How?", dona de arranjo e melodia exuberantes.

De discografia solo irregular, com direito doideras chatíssimas lançadas em parceria da Yoko, Imagine é o ponto alto da carreira solo do John Lennon, transcendendo musicalmente a icônica faixa título.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Disrupt, Ivan Lins, Professor Longhair e Nurse With Wound

DISRUPT
Unrest (1994), carniceria maravilhosa do Disrupt, perfeita para quem gosta de crust/grind. Desgraçado e divertido.

IVAN LINS
Nunca tinha escutado de cabo a rabo um álbum inteiro do Ivan Lins. Peguei o Modo Livre (1974) e achei bem bom. Alguns momentos lembram Milton Nascimento, outros Taiguara. Bastante puxado para o samba. Fora que tem excelentes harmonias e impecáveis arranjos do Arthur Verocai.

PROFESSOR LONGHAIR
Que baita pianista, não! Acho que dá para chamar o Professor Longhair de um dos primeiros grandes instrumentistas do rock n' roll.

NURSE WITH WOUND
Li um texto elogioso sobre o álbum Homotopy To Marie (1982) do Nurse With Wound e decidi pegar para ouvir. Como bem previ é uma doidera experimental de difícil imersão. Não dá nem para dizer se é ruim ou bom, embora assuma que a experiência de ouvi-lo não foi das mais instigantes. Dizem ser extremamente influente para o rock industrial. Eu acredito.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Lauryn Hill - The Miseducation of Lauryn Hill (1998)

Quando o Fugees estorou em 1996 com o álbum The Score, eles pavimentaram território para uma abordagem mais madura, melódica e profissional do rap, embora sem perder a autenticidade e preservando a força musical e social do hip hop. Tal façanha foi aprimorada no primeiro e único disco solo da Lauryn Hill, o espetacular The Miseducation of Lauryn Hill (1998).


A introdução do álbum cria uma atmosfera conceitual, colocando a artista como aluna da vida e seus aprendizados como lição aos seus ouvintes.

Se o flow de Lauryn Hill em "Lost Ones" é digno de uma grande rapper, seu beat dançante somado a uma linha de baixo pulsante e guitarras de reggae deixa tudo ainda mais contagiante. Vale lembrar que a faixa é um diss endereçado ao Wyclef Jean, seu ex parceiro de banda (Fugees) e vida.

Muito do que ouvirmos no r&b contemporâneo/neo-soul tem como matriz faixas como a linda "Ex-Factor", dona de performance vocal não menos que apaixonante. Já groove, o refrão e o piano insistente de "Doo Wop (That Thing)" é um dos grandes feitos do pop noventista.

Lauryn Hill volta a disparar seu vocal furioso em "Final Hour", o único "rap acústico" possível, com direito a passagens de violão e flauta doce em cima de um beat incisivo, além de naipe de metais radiante.

O lado mais vulnerável e confessional da artista é exposto na exuberante "When It Hurt So Bad" (que baixo!), na parceria com a Mary J. Blige em "I Used To Love Him" e na dobradinha com o D'Angelo em "Nothing Even Matters".

Vale destacar também a guitarra do Carlos Santana em "To Zion", o arranjo vocal refinado de "Superstar", a força soul/reggae de "Forgive Them Father" e "Every Ghetto, Every City", essa última de deixar o Stevie Wonder orgulhoso. Todas são donas de produção profunda e apelo pop.

O sucesso do álbum entre critica e público foi imediato. Vale lembrar que foi o primeiro disco com o pé no rap a ganhar o Grammy de melhor álbum do ano. Clássico instantâneo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: Iron Maiden, Chet Baker, Julie London e Destruction

IRON MAIDEN
Se sua onda for NWOBHM, não da para deixar de conferir o canal do Beat-Club. Ele postaram um show do Iron Maiden de 1981 (fase Paul Di'Anno) que é um espetáculo. Tem uma apresentação do Saxon bem legal também.

CHET BAKER
Assisti no Arte 1 essa apresentação e fiquei impressionando não somente pela qualidade sonora, mas também pela filmagem. Isso aqui é cinema.

JULIE LONDON
Julie Is Her Name (1955), disco fundamental para, acredite, desenvolvimento na bossa nova. Roberto Menescal e Carlos Lyra ouviram até furar. Na guitarra: Barney Kessel.


DESTRUCTION
Sentence Of Death (1984), a primeira obra-prima de thrash metal alemão. É tão tosca e urgente que beira o genial (dentro do gênero).

terça-feira, 13 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Wire - Pink Flag (1977)

Tem que ser muito nó cego para não enxergar qualidades no punk rock. Embora comumente associado a um movimento desprovido de sofisticação, através de discos como o Pink Flag do Wire é possível confirmar como tal pensamento é equivocado.


Lançado em 1977, ano da explosão punk, o Wire soa muito a frente do tempo. Em alguns momentos é até mais sensato associa-los ao art rock. É possível explicar a desenvoltura formal do grupo levando em conta que ele foi formado dentro da universidade. Diferente de seus colegas de cena proletários ou vadios, os integrantes do Wire eram estudantes de design vindos da classe média.

Mas engana-se quem pensa que a partir disso saiu uma obra cerebral. Pink Flag é essencialmente divertido. É possível até chacoalhar o esqueleto ao som de "Three Girl Rhumba" e "Start To Move".

Mesmo tendo menos de 30 segundos, poucas letras são tão impactantes e incisivas quanto a de "Field Day For The Sundays". Já a sombria "Reuters" retrata a crise econômica inglesa do período.

O minimalismo, a energia e a curta duração de faixas como "Mr Suit" e "Different To Me" claramente influenciaram o hardcore. É possível até ir além, comparando "Ex Lion Tamer" ao que viria ser feito no post-hardcore noventista e "Champs" ao britpop.

Dentre tantas canções, vale também destacar a espetacular "Lowdown", a descontraída "Surgeon's Girl", a sonoramente tensa "Pink Flag", a curtinha/instrumental "The Commercial", a densa/paranoica "106 Beats That", a pesada "Strange" e a obscena "12XU". Agora, eu não faço ideia do porquê de uma música se chamar "Brazil".

Em todas essas faixas é possível reconhecer a execução intensa incendiando uma produção contida. Guitarras nem tão saturadas e chimbal magrinho/agudo/veloz ajudam a construir uma sonoridade bastante singular e rígida.

Mais de 20 músicas, menos de 35 minutos. Embora desconhecido de muitos, Pink Flag é certamente um dos álbuns mais influentes do rock britânico.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ACHADOS DA SEMANA: The Bug, ESG, Emily Remler Quartet e R. Stevie Moore

THE BUG
Conheci esse projeto do Kevin Martin por conta do disco em parceria do Earth. Mal sabia eu que o projeto tinha um aclamado disco de dancehall (London Zoo - 2008). É um dancehall "do mal", mas é dancehall. É interessante.

ESG
Come Away with ESG (1983), uma pérola da música experimental oitentista. Tem atitude de punk rock, mas soa extremamente funky. Instrumentalmente é basicamente baixo e bateria (extremamente grooveado). Importante salientar que é formado apenas por mulheres. Muito legal.

EMILY RAMLER QUARTER
Take Two (1982), discão de jazz desta ótima guitarrista que eu sequer conhecia. Uma maravilha!

R. STEVIE MOORE
Figura já folclórica da música, conhecido principalmente por suas gravações caseiras e experimentais. Art rock, punk rock, psicodelia, lo-fi... é tudo jogado no mesmo pacote. Tá sendo novamente prestigiado por ser talvez o precursor da sonoridade hypnagogic pop. Uma espécie de Ariel Pink da década de 70. Seu disco Phonography (1976) é um exemplo desta estética.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: PJ Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea (2000)

PJ Harvey é, talvez involuntariamente, a resposta britânica ao rock alternativo americano que floresceu na década de 1990. Mas na virada do milênio, a artista decidiu cantar sobre a energia nova-iorquina. O resultado foi um de seus discos mais vendidos e aclamados, ganhando até mesmo o Mercury Prize.


Por mais que a PJ Harvey sempre tenha sido uma mulher de atitude, aqui ela soa ainda mais confiante, poderosa e sexy. Essa sua força fica explicita na interpretação apaixonada e profunda de músicas como "A Place Called Home".

As guitarras lo-fi e o vocal voraz tão característicos da PJ chamam atenção em "Big Exit", faixa em que ela demonstra não estar psicologicamente tão sob controle. Já em "The Whores Hustle And The Hustlers Whore" são as mazelas do mundo que são expostas.

É interessante se atentar a participação do Thom Yorke na crescente "One Line", na apaixonadamente orgânica "Beautiful Feeling" e, com maior destaque, na lindamente construída "This Mess We're In".

Entre minhas faixas prediletas posso citar "Good Fortune", um pop rock perfeito, de vocal incisivo e refrão marcante; "Kamikaze", um esporro de guitarras sujas, vocal saturado e groove quase de drum and bass; e "This Love", digna de coloca-la entre as artistas mais poderosa da história do rock.

A produção deste disco é muito mais acessível que os trabalhos anteriores da artista, o que pode ser compreendido como um amadurecimento natural. Definitivamente um dos grandes momentos da PJ.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Minhas músicas prediletas do Queen

Saiu neste último fim de semana o aguardado filme Bohemian Rhapsody, cinebiografia do Queen (ou seria do Freddie Mercury?). Não assisti ainda e sequer pretendo ver tão em breve. O que me pareceu inevitável e muito mais prazeroso foi repassar algumas músicas do grupo. Elencar descompromissadamente minhas faixas prediletas foi caminho natural.

Acho importante ressaltar que não sou fanático pelo grupo, embora escute desde sempre. Conheço bem do homônimo disco de estreia lançado em 1973 ao The Game (1980). Provavelmente minha lista se restringira a essa época. Provavelmente pareça óbvia para os fãs, mas tudo bem, afinal a lista é minha.

Vamos a seleção, sem pensar muito, apenas passando os olhos pela discografia do grupo.


Father To Son
Embora o disco de estreia do Queen seja ótimo, confesso que não acho nenhuma faixa muito memorável. Em compensação, no Queen II a coisa desembesta. Em "Father To Son" rola uma fusão da sonoridade do The Who com o Black Sabbath, embora com a singularidade composicional típica do Queen.

The March Of The Black Queen
Um épico da criatividade dentro do rock. Um monstro de sete cabeças. Beira o bizarro.

Ogre Battle
Após uma introdução esporrenta, uma canção de melodia e urgência divertida. Acho um espetáculo.

Brighton Rock
Um dos grandes momentos do Brian May. As melodias que ele cria e a maneira com que ele aplica o delay é de muita inteligência. A voz do Freddie Mercury fica entre uma performance hard rock intensa e o pastelão divertido. Eu adoro isso.

Killer Queen
São poucos os singles que superam a qualidade desta canção em todos os quesitos possíveis: composição, interpretação - que voz, que piano, que solo de guitarra! -, arranjo e produção. Um dos pontos altos do rock e da música pop de todos os tempos!

Bring Back That Leroy Brown
Aquela onda do Queen de fazer composições/arranjos que ficam entre operetas, músicas de cabaret, vaudeville e até mesmo um humor melódico zappiano.

Death On Two Legs
A primeira música do Queen sem ser clichê que adorei. O clima tenso da introdução, a melodia de piano, as guitarras, o refrão, a interpretação vocal... acho tudo muito legal e criativo.

You're My Best Friend
Uma dentre tantas excelentes composições do subestimado John Deacon. Alias, sua linha de baixo nesta música é soberba. Bela melodia e arranjo vocal. Fora a interpretação graciosa do Freddie.

Good Company
O que o Brian May faz no solo desta música, emulando uma banda de dixieland, é das coisas mais absurdas que já ouvi na história da guitarra.

Bohemian Rhapsody
Dispensa apresentações. Estrutura improvável de um hit. A letra, o arranjo, o solo de guitarra, as inúmeras melodias... uma aula de composição e produção.

Tie Your Mother Down
Grande canção de hard rock (ou simplesmente rock n' roll). Riff, refrão... tá tudo ali.

Somebody To Love
Muitos insistem em fazer versões cafonas desta música (inclusive o próprio Queen atualmente), mas a gravação original se mantém apaixonante. Adoro a melodia vocal e a harmonia ao piano.

Jealously
Balada lindíssima, onde cada elemento trabalha em favor da composição: o timbre de violão emulando uma sítar, a melódica linha de baixo, a progressão harmônica do piano e a interpretação singela do Freddie Mercury em cima de apaixonante melodia. Adorável.

Bicycle Race
Faixa muito criativa. Adoro suas variações (cada parte é uma coisa) e a estupenda linha de baixo. A parte "Bycycle races are coming your away...." sempre me emociona. 

Let Me Entertain You
Ainda melhor na versão do Live Killers

Play The Game
Grande melodia. Adoro o desenvolver nada óbvio da composição. Mais um arranjo vocal fantástico. Tremendo timbre de batera, belo solo de guitarra e uso curioso de sintetizadores.

Under Pressure
Carne de vaca, mas pô, David Bowie pegou o Queen numa fase fraquíssima e, ainda assim, conseguiu arquitetar uma das melhores faixas da música pop de todos os tempos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: Rio 65 Trio - Rio 65 Trio (1965)

Uma das vertentes musicais mais criminosamente ignoradas da música brasileira é o samba jazz. Se nos EUA, Europa e Japão os discos do estilo são cultuados, aqui no Brasil eles sequer são relançados.

Formado em grande parte por trios instrumentais, o estilo tem como característica o cruzamento do jazz americano (principalmente o bebop) com o samba brasileiro. Do primeiro foi extraído a complexidade dos improvisos e a estrutura das composições. Do segundo os ritmos swingados e típicos do Brasil. Em comum havia a qualidade das harmonias, fruto também da ascensão da bossa nova, que formou grande parte dos instrumentistas do samba jazz.

Sambalanço Trio, Som Três, Zimbo Trio, Tamba Trio, Milton Banana Trio, Dom Um Romão e J.T Meirelles são alguns nomes que merecem destaque. Todavia, como porta de entrada, recomendo o espetacular álbum de estreia do Rio Trio 65.


Formado pelo pianista Dom Salvador, o baterista Edison Machado e o contrabaixista Sergio Barrozo, o grupo é para mim o que soa musicalmente melhor resolvido. Digo isso sem apontar deméritos, apenas como forma de exaltar esse brilhante trio.

Basta ouvir a faixa de abertura, a intensa "Meu Fraco É Café Forte", para perceber o alto nível de interação dos instrumentistas, o balanço irresistível, a performance voraz, a produção tão orgânica quanto nítida e a força do tema. Um arraso!

O álbum é carregado de versões para composições de artistas da bossa nova. Exemplos não faltam: a bela "Preciso Aprender A Ser Só" (Marcos Valle), a sempre encantadora "Desafinado" (Tom Jobim), a ritmicamente desconcertante "Tem Dó" (Baden Powell), a clássica "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá) e a de lirismo melódico impressionante "Minha Namorada" (Carlos Lyra). Já a influência do jazz é explicitamente manifestada em "Sonnymoon For Two" (Sonny Rollins).

Eu poderia fazer verdadeiro tratado sobre a pegada avassaladora, as levadas swingadas/sincopadas e o bumbo irreverente do lendário Edison Machado. Ou então sobre os improvisos irradiantes do Dom Salvador e de como o Sergio Barrozo coloca seu instrumento em destaque em meio a dois gênios. Todavia, é melhor mesmo você tirar a sua própria conclusão. Escute ao menos "Farjuto", se não gostar eu devolvo o dinheiro na hora.

Esse disco nos leva a um esfumaçado beco das garrafas de um Rio de Janeiro que não existe mais. Uma obra-prima da música instrumental mundial.

ACHADOS DA SEMANA: Choking Victim, Fennesz, Prong e Wild Beasts

CHOKING VICTIM
Tava com vontade de ouvir algo de ska punk, acabei chegando nesta banda bem divertida. O disco No Gods / No Managers (1999) é ótimo. Nada muito rebuscado, mas bem legal.

FENNESZ
Já tinha lido muito sobre esse músico. Normalmente seus discos são extremamente elogiados e ele já colaborou com muitos artistas que adoro, vide o Jim O'Rourke. Com guitarras e um laptop, ele constrói belas composições de música ambient com elementos de glitch. O álbum Venice (2004) é uma maravilha.

PRONG
Beg To Differ (1990), álbum fundamental para entender o desenvolvimento do metal na década de 1990. É um thrash tão grooveado quanto metodicamente "duro". Tem muito de hardcore, claro. Acho bonzão.

WILD BEASTS
Two Dancers (2009) li uma resenha interessante sobre esse disco. Ele foi bastante elogiado quando lançado. Achei legal. Tem toques de XTC. Mas longe de ser a maravilha que pareceu na resenha.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

TEM QUE OUVIR: The Residents - Duck Stab / Buster & Glen (1978)

The Residents é uma força natureza. Por mais irreverente sonoramente que seja, reduzir o grupo a sua música é um equívoco. As artes visuais se fundem diretamente com a proposta musical do coletivo. Dos globos oculares esbugalhados vestidos de smokings e cartolas, passando pela identidade dos integrantes por muito tempo omitida, tudo é intrigante e instigante. Musicalmente é uma mistureba por vezes de difícil assimilação. Se quiser tentar, comece pelo Duck Stab / Buster & Glen (1978), uma compilação de EPs que tão bem retrata as peculiaridades estéticas do grupo já em completo desenvolvimento.


É inviável rotular o Residents num gênero específico. Sua música tem muito de art rock e atitude punk (afinal, são contemporâneos do estilo), fundida em experimentações inusitadas e elementos cerebrais da música de vanguarda.

Timbres eletrônicos e colagens sonoras servem para satirizar a música pop. As composições mais parecem vinhetas absurdas, carregadas de surrealismo lírico e interpretação nada ortodoxa. Já a produção soa psicodélica, garageira, lo-fi e borbulhante.

Como destaque posso citar a aterrorizante "Sinister Exaggerator", a cinematográfica "Blue Rosebuds", a tão detetivesca quanto circense "Laughing Song", a timbristicamente espetacular (parece trilha de videogame) "Elvis And His Boss", a teatral "Semolina", a ousada, abstrata e rica em texturas "Krafty Cheese" e a tão punk quanto zappiana (ótimas guitarras do Snakefinger) "The Electrocutioner". Lembrando que todas essas breves descrições são somadas as óbvias bizarrices sônicas e narrativas do grupo.

Influenciando do Jello Biafra ao Ty Segall, do Mark Mothersbaugh ao Les Claypool, o universo inclassificável do Residents merece exploração atenta. Um verdadeiro fenômeno da contracultura vanguardista presente no mundo pop.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Grandes refrães do rock

Dias desses, no sempre bacana poeiraCast, os participantes começaram a listar sem grande compromisso refrães que eles mais gostavam. Decidi fazer o mesmo. Sem pesquisa, sem nada. Apenas saí escrevendo. Existem melhores? Muito provavelmente, mas essa é a graça de fazer listas.

Façam o mesmo e coloquem seus refrães prediletos nos comentários.

Obs: me restringi ao rock. Adoro pop, música brasileira, soul music, rap, dentre tantos outros estilos que certamente tem refrães legais. Todavia, talvez inconscientemente guiado pelo poeiraCast, só consegui pensar em refrão de rock.

The Mamas & The Papas - California Dreamin'
Faixa símbolo do Verão do Amor. Seu refrão lúdico, de produção reverberosa tipica do Phil Spector e vozes em coro, é o retrato sonoro de uma época.

Janis Joplin - Cry Baby
Um dos momentos vocais mais intensos e impressionantes da Janis Joplin. Um refrão tão forte que sabiamente foi explorado já na introdução. Espetacular.

The Doors - Touche Me
Sou fã do The Soft Parade dos Doors. Aqui está uma demonstração clara do porquê. O senso melódico do Morrison está aperfeiçoado, sua interpretação é relaxada, os arranjos são soberbos... baita refrão!

Rolling Stones - Gimme Shelter
A apropriação da música gospel num refrão que contagiou até mesmo o Martin Scorsese.

The Band - The Night They Drove Old Dixie Down
Lindo refrão de uma faixa sobre a Guerra da Secessão. É para cantar junto.

AC/DC - Jailbreak
O hard rock é um estilo que prima por bons refrães e, sendo o AC/DC uma das bandas mais competentes do estilo, eles são donos de inúmeros refrães empolgantes. Pessoalmente adoro o de "Jailbreak", principalmente já no fim da música.

Thin Lizzy - Cowboy Song
Falando em hard rock, eis outra pérola do estilo. Muito groove e dinâmica crescente que chega ao ápice no seu espetacular refrão.

Led Zeppelin - Ramble On
Ah, tinha que ter um Led Zeppelin, né? O primeiro refrão que lembrei foi esse. Adoro sua potência hard rock em meio a uma canção folk. Excelente linha de baixo.

Alice Cooper Band - School's Out
Crianças em uníssono berrando em cima de uma levada criativa de bateria. Acho muito legal. Clássico!

Elton John - Tiny Dancer
A música inteira é um sequência maravilhosa de melodias, mas o refrão é o ponto alto. O filme Quase Famosos eternizou o espirito de entrega da canção ao propor canta-la com os amigos.

David Bowie - Young Americans
A faixa como um todo é poderosa, mas o refrão em coro talvez seja o momento mais contagiante desta espetacular canção.

New Order - Bizarre Love Traingle
Daquelas melodias apaixonantes que por si só bastam para fazer da música um hino pop.

New Model Army - 51St State
Uma ótima letra e um arranjo direcionado para um refrão explosivo cantado de peito cheio. Clássico!

The Smiths - There Is A Light That Never Goes Out
Bem carne de cava, mas liricamente poucos refrães me emocionam mais. Adoro a letra, a interpretação vocal do Morrissey e o arranjo de cordas.

Fugazi - Turnover
Praticamente uma escola de refrão dentro do hardcore. O At The Drive-In e o Refused copiaram inúmeras vezes.

Suede - Animal Nitrate
Mestre da melodia, da performance vocal e tudo que há de melhor no britpop, Brett Anderson evidencia seu poder de fogo nesta brilhante faixa.

Manic Street Preachers - Yes
Após um 7/4 dançante, um pré-refrão poderoso seguido de um refrão ainda mais intenso.

Oasis - Don't Look Back In Anger'
Vou fazer o que, é a melhor música do Oasis! Um hit guiado por seu poderoso refrão.

Smashing Pumpkins - Bullet With Butterfly Wings
Parece que a música toda é construída para culminar em seu refrão explosivo.

Weezer - Undone - The Sweater Song
Versos esquisitos (bastante influenciados por Pixies) que preparam terreno para seu refrão gorduroso.

Ryan Adams - To Be Young (Is To Be Sad, Is To Be High)
Pitadas de Bob Dylan e Rolling Stones num refrão tão legal e de espirito "classic rock" que nem parece que é do século XXI.

Tim Maia - Bom Senso
A pregação do Tim Maia na fase Racional as vezes empapuça, mas não aqui. Groove sacolejante e refrão divertido em uma de suas grandes canções.

Caetano Veloso - Não Identificado
Um refrão intenso e psicodélico numa linda composição que soa como uma balada pastiche de Roberto Carlos.

Novos Baianos - Brasil Pandeiro
A brasilidade dos Novos Baianos resumida num único refrão.

Barão Vermelho - Pro Dia Nascer Feliz
É carne de vaca? Claro, mas acho uma ótima canção do rock nacional oitentista. O refrão resume muito bem a juventude em meio a abertura politica.

Paralamas do Sucesso - Trac Trac
Confesso que essa quem lembrou foi o Ricardo Alpendre do poeiraCast. Muito bem lembrado por sinal. Ótima canção do Fito Paez que culmina num refrão melodioso e atraente.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

TEM QUE OUVIR: Willie Nelson - Red Headed Stranger (1975)

É fácil ser fã do Willie Nelson antes mesmo de conhecer sua música. Um velho caipira, de chapéu e tranças, fumador de maconha e sempre acompanhado de um violão surrado. Não precisa nem gostar de country e sequer dos EUA, Willie Nelson reina em seu mundo particular. Dito isso, afirmo: ele acima de tudo é um grande artista.


Quando lançou Red Headed Stranger (1975), Willie Nelson já tinha mais de uma década de estrada e 17 álbuns nas costas. E mesmo que a country music não estivesse no auge da popularidade, o cantor/compositor chegara no ápice de sua carreira.

O disco é uma obra conceitual que narra a fuga de um homem que assassinou a esposa e seu amante. É liricamente uma história climática e divertida. No vinil da época, vinha acompanhada de um quadrinho. "Red Headed Stranger" é a faixa que amarra toda essa narrativa western.

A linda voz de Willie Nelson (de afinação e dicção perfeita), está muita acima da caricatura dos cantores country. Sua interpretação é tão boa que dispensa arranjos pomposos. Aqui temos a velha música americana acompanhada de violões (com direito a bons solos), gaita, piano e pontuada percussão.

Logo nas duas primeiras faixas do disco, já temos a amostra de duas linguagens da música country. "Time Of The Preacher" é melódica, dolorosa e esfumaçada. Por sua vez, "I Couldn't Believe It Was True" tem aquele ritmo contagiante perfeito para acompanhar batendo o pé. Ela é agitada, mas sem ser festiva.

"Blues Eyes Crying In The Rain" é um dos maiores sucessos do Willie Nelson e, consequentemente, da música country.  É não menos que emocionante a versão instrumental para a já na época centenária "Just As I Am". É interessante também encontrar no disco o toque latino de "Sobra Las Olas" e a levada honky-tonk ao piano em "Down Yonder".

Willie Nelson é o cancioneiro perfeito que alimenta nosso imaginário sobre o marginal caipira norte-americano. Eu adoro isso.

ACHADOS DA SEMANA: Geto Boys, E-40, Paris e Ram Jam

Durante essa semana, assisti os quatro episódios da segunda temporada da ótima série Hip-Hop Evolution da Netflix. Com isso, conheci alguns artistas bacanas que trago hoje ao blog.

GETO BOYS
Confesso não reconhecer características particulares tão evidentes do southern hip hop no som do Geto Boys, embora eles sejam precursores da cena local. Todavia, em cima de bases que poderia ser tanto do Public Enemy quanto do N.W.A. (e isso é um tremendo elogio), os MC's se destacam por ter cada um sua personalidade, embora a do Scarface realmente se sobressaia. Muito bom. Rap old school extremamente bem feito, violento e divertido. Grip It On That Other Level (1989) é um clássico de período.

E-40
Em tempos onde se fala tanto sobre flow, é legal conhecer o E-40. É impressionante como ele estica, atrasa, prolonga, acelera e caminha pelo seu fraseado vocal. Ele rima demais!

PARIS
Rapper voraz e de grande engajamento politico, tendo sido diretamente influenciado pelos Panteras Negras. Os álbuns The Devil Made Do It (1990) e Sleeping With The Enemy (1992) são uma paulada em todos os sentidos. Foda!

RAM JAM
Nem só de rap vive o homem. Durante essa semana descobri por acaso de quem é a música "Black Betty", um daquelas faixas de classic rock bacanas que todos conhecem e ninguém sabe de quem é. Não me interessei em ouvir o disco da banda, mas acho essa música legal. Tem ótimas levadas de bateria.