sexta-feira, 31 de março de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Dori Caymmi, Lightning Bolt, Donny Hathaway, Wes Montgomery e Half Japanese

DORI CAYMMI
Brasilian Serenata (1991), recomendação do Nelson Faria. Uma nova aula de arranjo a cada audição.

LIGHTNING BOLT
Hypermagic Mountain (2005). É uma paulada maluca e barulhenta. Poucas vezes um baixo soou tão esporrento. Se for pra ir cheio de receios nem vá.

DONNY HATHAWAY
Um dos melhores discos ao vivo que já escutei da soul music. Gravado no pequeno The Bitter End. Dá para sentir o público na mesa ao lado de tão intimista que é. Na banda tem músicos como Willie Weeks, Phil Upchurch e Cornell Dupree.

WES MONTGOMERY
Esse solo. Escute. Toque.

HALF JAPANESE
Banda divertida que sempre leio por ai, mas nunca tinha escutado. Peguei uma coletânea, botei para tocar e tive uma ótima/intensa manhã.

terça-feira, 28 de março de 2017

30 discos que comprovam que Is This It não salvou nada!

Como todos já sabem, o Strokes tocou no último fim de semana em São Paulo. O Multishow (ou seria o BIS?) televisionou. Eu assisti. Show fraquinho, mas com muitos sucessos. Seus fãs adoraram. Todavia, o que me chamou atenção na transmissão foi uma já antiga frase que ano após ano é repetida: "Is This It salvou o rock".

Para os mais desavisados, Is This It é o disco de estreia lançado pelo Strokes em 2001. O álbum tem como maior feito ter influenciado inúmeras bandas. Quem diz isso se esquece de salientar que são bandas como The Killers e Kings Of Leon. Musicalmente é uma gota requentada de Television em um oceano de deficiência estética. Tudo bem, tem uma crueza instigante, algumas faixas memoráveis, mas não é a obra-prima que falam.

Dizem que com o disco a banda salvou o rock. Como se um estilo que teve Chuck Berry, Who, Pink Floyd e Clash precisasse ser salvo.

Fazem entender que na época só existia o Creed, tendo os Strokes reerguido o cenário alternativo. Pois é, cinco nova-iorquinos de classe média alta, sendo que alguns estudaram na Suíça, lançados pela gigante RCA (mesma gravadora da Britney Spears, Christina Aguilera, Shakira e Justin Timberlake), reergueram o cenário alternativo. O exemplo grunge parece que ainda não foi compreendido.

Posto o problema, venho aqui lembrar 30 (!!!) ótimos discos de rock lançados um ano antes do Is This It. Para ser mais preciso e honesto, entre janeiro de 2000 e julho de 2001 (quando saiu o disco do Strokes). Tudo isso para repensarmos se o cenário estava tão ruim assim. Se o argumento for a atenção enorme que eles receberam, então distribua os méritos da banda com seus agentes e assessores.

At The Drive-In: Relationship Command
Talvez o melhor disco daquela que é uma das mais importantes bandas do post-hardcore. Aqui já da para prever o futuro sonoro do Mars Volta.

Black Rebel Motorcycle Club: B.R.M.C.
O rock alternativo com energia do garage rock e elementos psicodélicos. Isso com uma execução e captação intensa. Simples e funcional. 

Coldplay: Parachutes
É, hoje é fácil bater no Coldplay, mas não se esqueçam que o Parachutes é bem legal e também fez enorme barulho. Tem boas canções.

Deftones: White Pony
Se por um lado o new metal eclodia comercialmente com grupos medíocres como Limp Bizkit e Linkin Park, por outro, o estilo chegava a maturidade através do Deftones. Peso e melodias num brilhante equilíbrio, sem se fechar para novas interferências sonoras.

Destroyer: Streethawk: A Seduction
O projeto do Dan Bejar em sua fase inicial, equilibrando emoção e urgência de forma nem tão uniforme. Um retrato de como a composição se desenvolvia de outras formas no indie rock do período.

Doves: Lost Souls
Sons etéreos, quase progressivos, mas carregados de melodias atraentes que trouxeram ao disco um potencial pop. Sofisticado e delirante. 

Electric Wizard: Dopethrone
Doom, stoner, sludge... entenda como quiser. O que prevalece é uma sujeira fantasmagoria.

Elliott Smith: Figure 8
Álbum derradeiro do cultuado artista. Sem dúvida o melhor acabado/produzido.

Godspeed You! Black Emperor: Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven
Um clássico! Percussões, trompas e vibrafones num álbum determinante para o post-rock. Épico.

Hurtmold: Et Cetera
Um disco brasileiro para exemplificar que até o cenário independente do Brasil estava produzindo coisas interessantes.

Lamb Of God: New American Gospel
Gravação tosca, composições de qualidade ainda questionáveis, mas com uma energia absurda que compensa tudo. O começo de uma das grandes bandas de thrash metal deste milênio.

Modest Mouse: The Moon & Antarctica
A transição perfeita do indie rock 90's para o indie 00's. É melódico, mas com certa estranheza nos arranjos que dá legitimidade artística a obra.

Muse: Origin Of Symmetry
O Muse ainda no mundo alternativo, bastante influenciado por Radiohead, mas oferecendo como diferencial riffs empolgantes, quase dançantes. Muito mais interessante que os trabalhos atuais da banda.

Opeth: Blacksater Park
O quê? O death metal ultra técnico do Opeth com colaboração do Steven Wilson? Não tem erro. Cacetada progressiva.

Pantera: Reiventing The Steel
O nocaute do Pantera. O clima interno estava péssimo, o que talvez tenha colaborado para o peso destruidor do disco. A produção beira o absurdo.

Phoenix: United 
Diretamente da França, uma banda que já apresenta sonoramente a cartilha do indie rock do novo milênio. Tem ótimas canções. Infelizmente, embora com sucesso, eles nunca mais repetiram o mesmo êxito. 

Planet Hemp: A Invasão do Sagaz Homem Fumaça
Mais um nacional, porque é o auge da banda e também um dos melhores exemplos da fusão do rock com o rap. Produção do grande Mario Caldato.

PJ Harvey: Stories From The City, Stories From The Sea
Umas das melhores compositoras do rock num disco em que ela discorre suas paixões nova-iorquinas. Talvez seu trabalho mais acessível. Um dos meus prediletos dela.

Queens Of The Stone Age: Rated R
Só a abertura com "Feel Good Hit Of The Summer" já é uma pérola. O stoner rock pela primeira vez soa acessível ao grande público.

Radiohead: Kid A
Após o já clássico Ok Computer, um trabalho que não facilitou a vida dos fãs. Produção arrojada, timbres eletrônicos e composições cheia de nuances complexas. 

Ryan Adams: Heartbreaker
Confessional e ébrio, a estreia do talentoso Ryan Adams, um dos grandes nomes quando o que se espera é a sonoridade do classic rock.

Sleater-Kinney: All Hands On The Bad One
O grupo mais acessível do movimento riot grrrl em um disco pouco lembrado. Belo e contestador como todos os outros.

Super Furry Animals: Rings Atound The World
Lançado na mesma semana que Is This It. Fortemente influenciado pela psicodelia e o garage rock, mas sem parecer requentado. 

The Beta Band: Hot Shots II
Praticamente uma evolução do britpop, que busca referências tanto na música folk quanto em programações eletrônicas. 

The Hellacopters: High Visibility
Lembro desse disco fazendo barulho. Tem um ranço hard rock meio xarope, mas as músicas no geral são muito divertidas. No final é disso que se trata o rock.

The Hives: Veni Vidi Vicious
O indie rock 00's sem ser bundão. Nada de firula. Aqui o que salta aos ouvidos são as guitarras garageiras em canções energéticas. Fora todo o conceito visual da banda que sempre foi demais.

Tool: Lateralus
Metal moderno, complexo, de execução técnica impressionante e alcance comercial inacreditável. Tem quem ache muito pomposo, mas eu adoro.

Tortoise: Standards
Quando o post-rock ruidoso encontra a sofisticação do fusion (ou quase isso). Complexo, mas sem ser presunçoso. Traz um frescor estético ao rock.

Weezer: Weezer (Green Album)
Simplesmente o salto definitivo da banda ao mainstream. 

White Stripes: White Blood Cells
O primeiro clássico de uma das últimas grande bandas do rock (no sentido de alcance e importância). Garageiro, visceral e com toques de blues, mas sem deixar de ser pop. Jack White sabe das coisas!

Wilco & Billy Bragg: Mermaid Avenue Vol. II
A segunda parte de uma fórmula de sucesso: um cara talentoso, acompanhado por uma banda impecável, trazendo versões para as músicas de um compositor que influenciou até mesmo o Bob Dylan.

sexta-feira, 24 de março de 2017

ACHADOS DA SEMANA: English Dogs, Tempest, Man e Squeeze

ENGLISH DOGS
Vi um vídeo em que o Massari pergunta para o Jão (Ratos de Porão) sobre solos de guitarra no punk rock. Sua resposta foi direta, disse adorar os solos no EP To The Ends Of The Earth do English Dogs. Claro que corri atrás de ouvir. É uma cacetada!

TEMPEST
Banda que há tempos ouço falar, mas que nunca havia escutado. E olha que tem em sua formação o Allan Holdsworth, um dos meus guitarristas prediletos. E não foi dessa vez que ele decepcionou. É um hard/progressivo espetacular.

MAN
Banda sessentista que nunca tinha dado bola. As canções são muito boas. Tem uma dupla de guitarras sensacional que, pelo que diz a lenda, o Frank Zappa adorava. O álbum Revelation (1969) é bem bom. Vale ainda conferir o Maximum Darkness (1975), que conta com algumas guitarras do John Cipollina.

SQUEEZE
Um disco de pop rock oitentista dos bons? Argybargy (1980) do Squeeze. Dica preciosa, não ignore. Lembrando que o Jools Holland fez parte da banda.

quinta-feira, 23 de março de 2017

TEM QUE OUVIR: Scott Walker - Scott 2 (1968)

Scott Walker é um artista sui generis. Sua vasta paleta sonora permitiu produzir desde o pop sessentista do The Walker Brothers até parcerias inusitadas com o grupo de metal experimental Sunn O))). Mas são seus históricos primeiros álbuns solos os mais cultuados, tendo influenciado até mesmo o David Bowie.


Scott 2 (1968) não pode ser comparado a nenhum outro disco. Seu primeiro diferencial são as orquestrações cinematográficas à la Ennio Morricone, vide as espetaculares "Jackie" e "Next".

Em meio a explosão psicodélica, chega a ser transgressor canções pomposas como "Wait Until Dark". Isso sem falar em sua voz barítono empostada digna de um grande crooner presente em "Best Of Both Worlds".

Se anteriormente Walker fez sucesso interpretando canções de outros artistas, aqui ele assina quatro ótimas faixas: a balada melodiosa "The Amorous Humphrey Plugg", a dramática/noir "The Girls From The Streets" (que vozeirão!), o delírio dream pop "Plastic Palace People" e a impecavelmente arranjada "The Bridge".

Claro, versões também não ficaram de fora, para alegria de seus antigos fãs. Destaque para a linda "Windows Of The World" (Burt Bacharach e Hal David).

O disco não foi o sucesso esperado, mas tornou-se um marco de um artista inquieto e de personalidade única.

segunda-feira, 20 de março de 2017

O QUE VER NO LOLLAPALOOZA?

Post dessa semana no Maria D'escrita

O festival Lollapalooza nasceu em 1991. Criado pelo Perry Farrell (vocalista do Jane's Addiction), o evento era uma saída alternativa ao "rock comercial". Foi lá que grupos como Pearl Jam, Rage Against The Machine e Nine Inch Nails tiveram o primeiro contato com um grande público.

Hoje, administrado pela grande Live Nation - empresa de entretenimento que agencia artistas como U2 e Madonna, além de ser dona de diversas arenas ao redor do mundo -, o Lollapalooza em nada representa sua proposta inicial. Ele já está completamente inserido ao mainstream.

A próxima edição do festival acontece neste fim de semana em São Paulo no Autódromo de Interlagos, lugar de difícil acesso feito para corridas de F1. Imagine se deslocar a pé naquele enormidade. Mas tem quem encare. Portanto, deixarei algumas dicas dos shows mais interessantes do evento.

Lembrando que os shows são televisionados, ou seja, uma boa opção para quem quer evitar o ingresso de valor proibitivo, o desfile do público "indie", fila pra banheiro, fila pra comida/bebida...


Rancid
Primeira vez no país (e provavelmente a última) dessa importante banda do punk rock noventista. Se nem todas as composições são boas, ao menos o grupo apresenta energia na execução e alguns bons hits, ora ou outra com uma bem vida dose de ska. E para melhorar, o Matt Freeman é um ótimo baixista.

The XX
Uma dos bons grupos do indie-pop atual. Os álbuns são bacanas. Todavia, o problema pode ser colocar o grupo em um grande palco de festival. O som deles pede algo mais intimista. A conferir.

Metallica
Lars não aguenta mais o tranco, as apresentações estão burocráticas e previsíveis, o som do grupo já não causa mais comoção... Mas ainda assim corre o risco de ser o melhor show do festival. Ao menos tão com disco novo para variar um pouco o repertório. Pra quem nunca viu ao vivo tende a ser legal.

Baianasystem
Não gostei tanto assim do disco do grupo, mas o hype entorno é tão grande que eu daria uma chance para ver ao vivo. Deve funcionar melhor que em disco mesmo.

Duran Duran
É nessas horas que me sinto um tiozão. Mas responda com sinceridade, algum outro grupo do festival tem composições tão boas pra montar um setlist quanto o Duran Duran? Eu aposto que não. Só o baixo do John Taylor em "Rio" já é melhor que o repertório todo do The 1975.

Cage The Elephant
Banda ok. Se não tiver rolando nada melhor no mesmo horário, dá para ver sem passar tanta raiva.

Catfish And The Bottlemen
O último disco deles é aquele tipico indie rock 00's que não me interessa, mas que tem seus bons momentos. Ao vivo não sei se funciona. Arrisque.

Jimmy Eat World
Recomendado só pra quem tem saudade do lado mais pop do emo 90's. Na época não era grande coisa, mas hoje pode até soar divertido

Silversun Pickups
O repertório nem é grande coisa, mas tem uma certa influência de Smashing Pumpkins que deixa a proposta um pouco mais consistente. Arrisque.

Céu
O show dela não costuma ser ruim. Mesmo com falhas vocais e repertório cada vez mais insosso, é um show atraente e bem amarrado.

Criolo
Nem vou chover no molhado. O show dele é bom, todo mundo já sabe.

De resto, a maioria ou não conheço (que raio seria Nervo e Oliver Heldens?!) ou recomendo passar longe (Strokes e The Weeknd). A escolha é de vocês.

sexta-feira, 17 de março de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Brad Paisley, Jefferson Airplane, RKL, Spastic Ink e Third Ear Band

BRAD PAISLEY
Que ele é um ótimo guitarrista de repertório terrível, a maioria já sabe. Então fica a dica, o disco Play (2008), praticamente instrumental. Dá para ouvir numa boa.

JEFFERSON AIRPLANE 
Já confessei aqui algumas vezes que não sou dos maiores fãs da psicodelia americana. Todavia, não tem como não pirar no baixo potente do Jack Casady no álbum ao vivo Bless Its Pointed Little Head (1969) do Jefferson Airplane.

RKL
Paulada hardcore!

SPASTIC INK
Tinha esquecido dessa banda maluca. É tipica coisa virtuose que só atrai estudante de guitarra de 15 anos. Minha memória afetiva me impede de não gostar.

THIRD EAR BAND
Guitarra, baixo e bateria? Que nada! O lance é oboé, violoncelo e violino.
 

quarta-feira, 15 de março de 2017

TEM QUE OUVIR: Elliott Smith - Either/Or (1997)

É inquestionável na história do rock o quanto o movimento grunge foi avassalador. Se o astral nunca esteve elevado, com a morte de Kurt Cobain a coisa só definhou. A ressaca dos anos 90 ficou completa com a ascensão de interpretes como Jeff Buckley e Elliott Smith, sendo esse último um compositor extremamente confessional. Seu álbum Either/Or (1997) é um relato tão potente quanto doloroso.


Vindo de fracassos comerciais, Elliott foi encorajado pela sua namorada a produzir novo material. Mesmo insatisfeito com as composições, chegou após longos meses nas 12 canções aqui presentes. 

Gravado exclusivamente por Elliott em sua casa, o resultado é de simplicidade intimista. Em alguns momentos, chega a soar como um Daniel Johnston da "Geração Y". A entrega em suas letras, onde relata seus problemas com as drogas e álcool ("Between The Bars"), só colabora com essa percepção.

Por trás da sonoridade lo-fi, revela-se a qualidade melódica de canções como "No Name N°5". Poeticamente seu auge pode ser apontado em "Pictures Of Me", "Rose Parade", "2:45 AM" e "Say Yes", todas tão cativantes quanto amargamente singelas e frágeis.

Vale ainda cconsiderar que canções de abordagem acústica como "Alameda" e "Angeles" representam uma repaginação da música folk americana. Isso numa época de esporros guitarristicos vindos do cenário alternativo.

A critica adorou Either/Or. Já o público sequer notou. Foi descobrir o cantor somente na trilha de Gênio Indomável (1997), que além de trazer canções como "Speed Trials" e "Ballad Of Big Nothing", o levou para o palco do Óscar. Daí em diante nasceu o artista cult. Either/Or é hoje um clássico da década de 1990.

quinta-feira, 9 de março de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Bob Dylan, Bright Eyes, Perfume Azul Do Sol, Ciccone Youth e Paradise Lost

BOB DYLAN
Dylan, em sua fase cristã, querendo chamar atenção para Deus, mas ressaltando de verdade a guitarra espetacular do Mark Knopfler. Slow Train Coming é um subestimado disco.
Obs: não encontrei a versão de estúdio da incrível "I Believe In You" no YouTube. Procurem no Spotify ou em seu sebo predileto

BRIGHT EYES
Confesso, não conhecia nem a banda e muito menos o disco. Três dias ouvindo e não consigo lembrar de muitos álbuns de 2002 que são melhores. Recomendo para quem curte Wilco, Arcade Fire e Daniel Johnston.

PERFUME AZUL DO SOL
Não se deixe levar pelo péssimo nome, esse grupo da década de 70 fazia um ótimo som psicodélico bastante abrasileirado. Lançaram apenas 130 cópias do disco. Tinha o Pedrão Baldanza na banda, um dos melhores baixistas do rock nacional, integrante do Som Nosso de Cada Dia.

CICCONE YOUTH
A turminha animada do Sonic Youth com Mike Watt tocando absurdos? Como é que só soube disso agora! Esse som é tão NIN.

PARADISE LOST
Sempre associei o nome da banda a algo do tipo Lacuna Coil (?!). Errei feio. É muito mais brutal. Gostei do que ouvi no álbum Icon (1993). O vocal é meio tosco, mas o disco tem um clima gótico interessante.

quarta-feira, 8 de março de 2017

TEM QUE OUVIR: Aretha Franklin - I Never Loved A Man The Way I Love You (1967)

Em 1967, Aretha Franklin era uma experiente cantora de apenas 25 anos. Tinha exatos dez discos na bagagem lançados pela gravadora Columbia, todos recheados de orquestrações sublimes e jazzisticas. Mas no auge rock, ela clamava por maior crueza sonora. Foi conseguir isso justamente em sua nova gravadora, a Atlantic, pela qual lançou o clássico I Never Loved A Man The Way I Love You (1967).


A ideia inicial era que Aretha gravasse o disco no estúdio FAME em Muscle Shoals (Alabama) com a Swampers, banda de apoio gerenciada pelo produtor Rick Hall, que já havia trabalhado em gravações de Etta James e Wilson Pickett. Todavia, um desentendimento do produtor com o Ted White, marido explosivo de Aretha, fez com que apenas uma faixa fosse registrada lá, justamente a clássica "I Never Loved A Man (The Way I Love You)".

A briga não fez com que Aretha desistisse da sonoridade enorme/crua dos integrantes da Muscle Shoals Rhythm Section. Levou parte dos músicos para Nova York, vide o guitarrista Jimmy Johnson e o pianista Dewey "Spooner" Oldham. Para completar o time vieram King Curtis (saxofone), Cissy Houston (voz) e Tommy Cogbill (baixo).

Com essa nova formação, o canto potente de Aretha, auto acompanhado por seu piano, transitando pelo soul, gospel, blues e jazz, soou ainda mais impactante. Tudo isso envolto a um repertório irreparável, vide a exuberante "Drown In My Own Tears", a delicada "Soul Serenade", a quase bossa nova "Don't Let Me Loose This Dream", a sexualmente atrevida "Dr. Feelgood" e a rockeira "Save Me".

O disco tem até mesmo duas composições do Sam Cooke, a dançante "Good Times" e a linda/celestial "A Change Is Gonna Come", essa última um hino dos direitos civis.

Mas nada disso se compara ao alcance da faixa que abre o álbum. "Respect", canção de autoria do genial Otis Redding, fez ainda mais sentido quando cantada por Aretha. Ela invoca toda a força feminina e exige respeito, soletrando a palavra, cantando com convicção, guiada por um groove borbulhante e explosivo. Genial! Ao que consta, Otis teria dito em tom elogioso: "perdi minha música, aquela menina a tirou de mim".

Clássico não só do R&B, mas da música popular como um todo.

terça-feira, 7 de março de 2017

Quando a "apropriação cultural" deu certo

O tal debate sobre apropriação cultural ficou em alta nas últimas semanas. A história envolto a um turbante usado por uma menina branca já nem faz mais sentido, mas o tema ainda sim.

Desde que o samba é samba, a apropriação cultural na música é assunto. A discussão está lá no clássico filme O Cantor de Jazz (1927). Na história, um jovem judeu desafia sua família ao torna-se cantor de jazz, para desespero de seu pai, um cantor litúrgico de uma sinagoga.

Existem inúmeros textos/vídeos na internet tratando amplamente sobre o tema (veja o que o Canal do Slow disse sobre), portanto, não vou me estender sobre o assunto. Só o que vou fazer é colocar alguns momentos em que artistas se apropriaram de outras culturas para influenciar suas obras musicais. Veja abaixo:

O rock branco de Elvis Presley
Se hoje é normal ver jovens brancos com cara de estudantes de marketing nos palcos do Lollapalooza, em meados da década de 1950 era estranho um branquelo caipira cantando músicas influenciadas por blues e gospel. Essa música "pertencia" a caras como Chuck Berry, Little Richard e Ike Turner. Eis uma dentre tantas revoluções do Elvis Presley.

Ray Charles encontra a country music
Após anos servindo a Atlantic Records, distribuindo hits que transitavam entre o jazz, gospel, blues e r&b, Ray Charles eclodiu no sucesso de Moden Sounds In Country And Western Music (1962), que tornou ainda mais popular a música country através de arranjos primorosos. Um cego trabalhando num repertório country era indiferente, o que causava espanto mesmo era um negro fazendo isso. Felizmente, após grande insistência e diversas divergências de Ray com sua gravadora, a ABC-Paramount concordou em lançar o disco. O impacto social, além de musical, foi estrondoso.

Os ingleses descobrem o blues
Rolling Stones, John Mayall & The Bluesbreakers, Yardbirds, Manfred Mann, Spencer Davis Group e Them são alguns dos grupos da famosa Invasão Britânica que tiveram como influência o blues americano de Roberth Johnson, John Lee Hooker, Muddy Waters e dos três Kings (Albert, B.B. e Freedie). Isso tudo ainda que separados por um oceano das plantações de algodão que inspirou o nascimento do estilo. E o mais legal, ao serem reverenciados pelos jovens brancos britânicos, finalmente os velhos bluesman americanos passaram a ser respeitados (e ganhar dinheiro) em seu próprio país.

A paixão religiosa de George Harrison pela música indiana
No auge da psicodelia, o rock abriu as portas para novas experimentações, dentre elas a incursão da música oriental pelo ocidente, vide a proposta de George em canções dos Beatles como "Love You To" e "Within You Without You", essa última com direito a uso de sitar, harmônium, tabla, tambura e outros instrumentos típicos. Ravi Shankar aprovou!

Miles Davis e a criação do fusion
O jazz entrou na década de 1970 sem a mesma popularidade de tempos atrás. Era o rock que fazia a cabeça da juventude e explorava territórios dos mais variados. Miles Davis, músico já consagrado no jazz, percebeu isso e buscou referências em outros estilos, inaugurando o fusion (ou jazz-rock), com influência direta da música do Jimi Hendrix, Grateful Dead e Sly & The Family Stone. Até o wah-wah foi parar no seu trompete.

"Planet Rock"
Afrika Bambaataa, um negro de uma das regiões mais violentas do Bronx, samplea os alemães robóticos do Kraftwerk e da luz a obra fundamental de toda a dance music. O que seria do hip hop, miami bass, chicago house e funk carioca sem esse cruzamento?

O reggae/ska da 2 Tone
Eric Clapton, Rolling Stones, The Police e The Clash já haviam demonstrado o seu amor pelo reggae, mas o Specials foi ainda mais longe, popularizando o ska, a estética dos rude boys e a cultura skinhead jamaicana para o público punk britânico.

Beastie Boys, os "Elvis do hip hop"
Que o hip hop é uma manifestação legitimamente do gueto americano e levada adiante por artistas negros, isso ninguém ousa negar. Todavia, ninguém ousa desconfiar da excelência do Beastie Boys, grupo de rap formado por três branquelos judeus.

Body Count
Se o Beastie Boys pode se manifestar através do rap, porque Ice-T não poderia se jogar no heavy metal, estilo majoritariamente feito por brancos?
Obs: isso me fez lembrar daquela coletânea Judgment Night, que reúne parcerias do tipo Teenage Fanclub com De La Soul, Slayer com Ice-T, Sonic Youth com Cypress Hill...

As verdadeiras raízes do Sepultura
Quando o Sepultura decidiu gravar o álbum Roots, a banda foi até uma região afastada do Mato Grosso de encontro a uma tribo xavante para estruturar o conceito abrasileirado do álbum. A influência dessa viagem está explicita em "Jasco" e "Itsári", sendo essa última gravada às margens do Rio da Morte.

MAS QUE RAIO É A NEW WAVE?!

Post dessa semana no Maria D'escrita

Semanas atrás a Renata começou com um novo bordão. Toda vez que eu mostro uma música para ela ou falo de alguma banda/artista, ela vem com um "seiii, meio new wave, né?". Pouco importa se é uma banda de black metal norueguesa ou um samba da década de 30, tudo passou a ser new wave. Então, em homenagem a ela, ilustrarei um pouco do estilo neste post.

A new wave é essencialmente um movimento/estilo que despontou após o movimento punk, por volta de 1978. Tem até quem confunda com o pós-punk. Quais as diferenças entre ambos? A new wave é mais "americana", enquanto o pós-punk é mais "inglês". A new wave é pop, dançante e colorida, já o pós-punk é dramático, sombrio e existencialista. Ouça as músicas abaixo e entenda melhor:

Roxy Music - Out Of The Blue
Ainda que seja um grupo do começo da década de 1970, coberto pelo estilo espalhafatoso do glam rock, sintetizadores futuristas e uma ousadia estética que não se prendia a nenhum estilo (o que por si só dá origem ao art rock), tem quem considere o Roxy Music como embrião sonoro da new wave. Faz muito sentido.

Television - See No Evil
No lendário CBGB, berço nova-iorquino do punk rock, muitas bandas se contrapunham a crueza agressiva dos Ramones e Dead Boys. De arranjos elaborados e primorosa execução técnica, o Television foi muito importante para as evoluções do punk rock, pavimentando os caminhos da new wave.

Talking Heads - New Feeling
O mesmo dito para o Television vale para o Talking Heads, só que aqui com mais humor nas composições e com alcance comercial muito maior. Aqui dá pra chamar de new wave sem pestanejar.

Blondie - Heart Of Glass
O Blondie era um grupo curioso. Circulava tanto entre os punks junkies do CBGB, quanto com a alta sociedade do Studio 54. Soava visceral, mas também dançante. E para completar, tinha na linha de frente a linda e talentosa Debbie Harry. É o punk rock encontrando o glamour da discoteca. A new wave nunca fez tanto sentido.

Devo - Jocko Homo
Arranjos pouco convencionais, temática complexa, letras politizadas, capacetes bizarros e, apesar de tudo isso, incrivelmente divertido. Devo fez da new wave não somente entretenimento, mas obra de arte.

The B-52's - Private Idaho 
Eles dançavam, eram divertidos, coloridos, pareciam sexualmente ativos... é a pura new wave.

Eis o básico da new wave. Claro, na década de 80 ela ficou mais abrangente, se entrelaçando ainda mais ao pós-punk e dando luz a outras sub-vertentes, vide synthpop e new romantic. Dessa confusão, são jogados no mesmo saco o Duran Duran, Human League, The Cars, Magazine, PiL, Elvis Costello, Soft Cell, The Police, New Order, Prince, Gang Of Four, Pretenders, dentre outros. No Brasil tínhamos o Lulu Santos, a Blitz e Gang 90. Logo o termo new wave passou a não fazer mais sentido. O estilo envelheceu e hoje sobrevive no legado, na memória saudosista e no flerte estético através dos trabalhos da St. Vincent, MGMT e até mesmo no bom disco After Laughter (2017) do Paramore.

sexta-feira, 3 de março de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Bill Evans, Graham Central Station, The Last Poets e Tim Buckley

BILL EVANS
Affinity (1979), disco do Bill Evans em parceria com o Toots Thielemans. Dois gênios da improvisação numa interação impressionante. Recomendação do Nelson Faria, ou seja, melhor não ignorar.

GRAHAM CENTRAL STATION
Adoro o Larry Graham, baixista lendário que fez parte do Sly & The Family Stone. Todavia, não havia dado a devida atenção ao seu próprio projeto. E é justamente aqui que seus slaps ficam mais em evidência. Ain't No 'Bout-A-Doubt It (1975) é uma paulada funk.

THE LAST POETS
Grupo de poetas do Harlem. Todos negros, rimando em cima de atabaques. Se isso não é rap, eu não sei mais o que é. Álbum registrado na década de 1960. Ao que consta, David Bowie adorava.

TIM BUCKLEY
Confesso que ainda não dei a devida atenção para a discografia do Tim Buckley. Entretanto, me chamou atenção alguns discos experimentais bastante ousados que ele lançou no final da carreira. Lorca (1970) me pareceu o melhor neste quesito. Beira o estranho.

quarta-feira, 1 de março de 2017

TEM QUE OUVIR: The Damned - Damned, Damned, Damned (1977)

Muito se fala sobre a explosão punk britânica que ocorreu em 1977 através de grupos como Sex Pistols e The Clash. Mas se teve uma banda que genuinamente abriu as portas para a ferocidade do estilo na Inglaterra foi o Damned, justamente com o clássico Damned, Damned, Damned (1977), lançado pela Stiff e produzido pelo Nick Lowe.


Se o single da garageira "New Rose" lançado ainda em 1976 já demonstrava todo o poder de fogo da banda, agora embalado numa das capas mais divertidas do rock, a faixa catapultou essa nova tendência de crueza sonora para todo o país. Outro single importante presente no álbum é a explosiva "Neat Neat Neat".

Na sequência temos "Fan Club", muito próxima de algo que possa ser considerado o ponto zero do psychobilly. Muito mais direta é a dobradinha formada pela insana "I Fall" e a urgente "Stab Yor Back".

A velocidade de "See Her Tonite" é digna de um hardcore. É acachapante a intensidade na execução de "Fish". Numa cadência mais delirante e até mesmo sofisticada está "Feel The Pain", certamente muito influenciada pelo Lou Reed.

A banda desenvolveu novos (e surpreedentes) caminhos no decorrer da carreira, todavia, o álbum de estreia é o melhor registro do grupo em sua formação clássica, contendo o vocalista vampiresco Dave Vanian, o baixista e principal compositor Captain Sensible, o guitarrista Brian James e o baterista porra-louca Rat Scabies.

Clássico do punk rock.

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Ok Computer, do Radiohead

Ela nunca tinha escutado. Loucura, né?

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

Depois de algum tempo parada, estou aqui para analisar uma banda que eu já ouvi falar muito, o Radiohead! O disco escolhido pelo Juliano foi o Ok Computer.

A análise começou com muito entusiasmo pois, já que falam tanto da banda, talvez ela seja boa (ok, eu sei que falam muito de Guns N' Roses, o que faz minha teoria ir por água abaixo).

"Airbag" inicia o disco e me dá a impressão de que já ouvi a música antes. Gostei do estilo e a banda parece ter algo meio Oasis. Fossa bonita.

"Paranoid Android" é melódica, sofrida, novamente fossa, mas bonita. Opa, fomos surpreendidos no meio da música. Essa explosão me fez largar a faquinha de pão Pullman e não cortar os pulsos, apenas curtir o som. Rola um final meio gótico, mas dá para aturar. Na verdade o final é bem bom. Não sei bem o que achar dessa. Uma hora é boa, outra é ruim.

Passo por "Subterranean Homesick Alien" chorando, mas gostando. Chega "Exit Music (For a Film)" com um misto de sono e de convicção que minha vida tá desgraçada.

"Let Down" foi uma das minhas queridinhas. Muito bonitinha, gente! Os sons de vídeo-game ficaram muito legais.

"Karma Police" é boa também. Parece que o disco vai saindo do poço com o passar das músicas (ou eu estou me acostumando com essa depressão deles).

Quando começa "Filter Happier" o começo me lembra "Fat Boy Slim is fuckin haven...". Queria que fosse essa música... porque olha...

Mas é "Electioneering" que faz eu me apaixonar. Eles devem até se mexer no show pra tocar essa! Minha predileta (não que seja difícil ganhar das outras né!).

"Climbing Up The Walls" é chata, "No Surprises" é realmente sem surpresas pois é só bad e "Lucky" é algo que não tive, pois eita música chata. "The Tourist?" Bleh!

Enfim, o Radiohed tem seus pontos altos mas eu acho que sou feliz demais para a arte deles. Tentarei ouvir a banda novamente quando levar um pé na bunda do Juliano, vai ser uma beleza!