domingo, 26 de fevereiro de 2017

A MPB NO CLIMA DO CARNAVAL

Post dessa semana no Maria D'escrita

O carnaval chegou! Época de folia, álcool e fluidos corporais. Que tal um momento de descanso? Claro, mas sem abrir mão do clima que rondeia uma das festas mais populares do Brasil. Sendo assim, sugiro a audição de algumas pérolas carnavalescas da música brasileira.

"Carnaval o caralho! Festa de vagabundo que só serve pra parar o Brasil. Vou é me trancar em casa e ficar ouvindo Led Zeppelin e assistindo séries no Netflix!", esbravejou o moralista da vez. Sugiro para essa criatura, ao menos uma vez no ano, abrir mão dessa postura, ir pra rua, conhecer outras pessoas, ocupar a cidade e adentrar culturas diferentes. Apenas uma sugestão.

Sem mais ladainha, vamos para a lista. 10 músicas para animar seu carnaval.

Obs: Evitarei as antigas e famigeradas marchinhas de carnaval para que os sensíveis arautos da moralidade não sintam-se ofendidos. Aqui só o fino da música brasileira.

Paulinho Da Viola - Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida
No final da década de 1960, o espetacular Paulinho da Viola, portelense de coração, fez um samba em homenagem a Mangueira. Seus companheiros de Portela obviamente não ficaram nada felizes. Para amenizar o ocorrido, Paulinho compôs "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida". Clássico!

João Bosco - Mestre Sala dos Mares
Violonista e interprete genial, João Bosco quando soma forças com Aldir Blanc, forma uma das maiores duplas de compositores da música popular mundial. Regravada por Elis Regina, "O Mestre Sala dos Mares" é um samba enredo que imortaliza João Candido e a Revolta da Chibata.

Gal Costa - Deixa Sangrar
Uma mistura de frevo e psicodelia, com a guitarra do Lanny Gordin falando alto no ritmo do carnaval. Gal Costa não era mole.

Caetano Veloso - Atrás do Trio Elétrico
Mais um vez a guitarra de Lanny serve de sustentação, desta vez para que Caetano mande a emblemática frase "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu".

Jorge Ben - Taj Mahal
Um clássico que embalada qualquer festa brasileira. Por que não também o carnaval?

Raul Seixas - Aos Trancos e Barrancos
Para desespero dos rockeiros conservadores, o baiano Raul Seixas se joga no carnaval nesta bela e sarcástica faixa.

Gilberto Gil - Toda Menina Baiana
Alguém sabe informar quando começou a axé music? Eu chuto que foi aqui:

A Cor do Som - Zanzibar
O estupendo guitarrista Armandinho, filho musical dos carnavais de Dodô e Osmar, abraça a música pop e cria essa maravilha carnavalesca.

Chico Buarque - Vai Passar
Chico Buarque em mais uma de suas excelentes canções, essa lançada em meio a abertura política. Quem mais usou tão bem a palavra "paralelepípedo" numa música? Adoro o crescer de seu arranjo, como se a cidade toda entrasse no "desfile".

Spok Frevo Orquestra
O frevo mais tradicional encontra a contemporaneidade através da Spok Frevo Orquestra. O fino da música instrumental brasileira.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Emperor, Lou Reed, Porcupine Tree e Can

EMPEROR
In The Nightside Eclipse (1994), clássico do black metal que, honestamente, nunca tinha parado pra ouvir. É interessante como os teclados climáticos em meio a fúria interpretativa resultam em algo claustrofóbico. A produção precária dá ainda mais urgência para as canções.

LOU REED
Magic And Loss (1992), disco nem sempre lembrado. Vale ouvir com atenção, afinal, o Lou Reed não ficou parado no tempo. O tom depressivo de algumas faixas é arrebatador. 

PORCUPINE TREE
Meu amigo Doug me mandou esse som do Porcupine Tree. Produção excelente, levada de bateria sensacional e a guitarra sempre interessante do... Robert Fripp. Belo encontro.

CAN
Porque o Can não é só o Tago Mago (1971). Se bobear eu até gosto mais do Ege Bamyasi (1972)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

TOP 5: Jaco Pastorius

Ontem assisti o filme Jaco (2015), dirigido e financiado pelo Robert Trujillo (ex-Suicidal Tendencies, ex-BLS, ex-Ozzy, atual Metallica) sobre o lendário baixista Jaco Pastorius.

Nem vou me estender sobre a obra. Qualquer um que conhece minimamente a qualidade do músico e suas vicissitudes sabe o potencial do filme.

O que venho fazer aqui hoje é eleger um TOP 5 pessoal (e de certa forma previsível) de grandes momentos do baixista. Vamos nessa!

01: Pat Metheny - Bright Size Life
Se o filme teve uma falha, foi não abordar a gravação do Jaco no disco de estreia do Pat Metheny. Sem dúvida um dos melhores power trios do jazz. Foi com essa faixa que conheci o trabalho do baixista.

02: Jaco Pastorius - Donna Lee
Interpretação histórica do Jaco para a clássica "Donna Lee" (Charlie Parker/Miles Davis). O filme mostra o Bobby Colomby (baterista do Blood, Sweat & Tears e produtor do primeiro disco do Jaco) explicando como o fraseado fluido do baixista lembrava o de instrumentistas de sopro.

03: Joni Mitchell -  The Dry Cleaner From Des Moines
Um dos maiores momentos da história do baixo fretless. Jaco deu nova vida a carreira da Joni Mitchell e ela o colocou nos maiores festivais de música do mundo.

04: Weather Report - Teen Town
Claro que não deixaria de fora essa grande banda de jazz rock. Ao lado de músicos não menos que geniais como Joe Zawinul (teclados) e Wayne Shorter (saxofone), Jaco apresenta essa pérola extremamente climática e dona de frases virtuosas de contrabaixo.

05: Jaco Pastorius - Crisis
A prova de que Jaco não era "apenas" um excelente baixista, mas também um grande compositor e arranjador de visão ampla e complexa.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

TEM QUE OUVIR: The Teardrop Explodes - Kilimanjaro (1980)

Em Liverpool, no final da década de 1970, em meio a explosão punk que dominava a Inglaterra, Ian McCulloch e Julian Cope fomentavam a cena local com o Crucial Three. Sem um consenso na direção do grupo, ambos desistem da empreitada. Ian forma o Echo And The Bunnymen e o Julian Cope o The Teardrop Explodes, bem menos conhecido que a banda de seu antigo parceiro, mas fundamental para o pós-punk.


Com ótima reputação local, o grupo abandonou o selo independente Zoo e assinou com a grande Mercury. Para isso, tiveram que chutar da banda o guitarrista/compositor Mick Finkler, dando a impressão para muitos que Kilimanjaro (1980) não apresentava a essência real do grupo. Todavia, o álbum fez sucesso considerável e tornou-se um clássico da época.

De capa péssima, o disco é salvo devido a qualidade das canções. Guiado por teclados estridentes e atmosféricos, "Ha Ha I'm Drowning" abre o álbum com a energia elevada. É sacolejante as novas versões - tendo em vista que elas já haviam sido gravadas como single ainda na Zoo - de "Sleeping Gas" e "Bouncing Babies".

Os timbres pós-punk se fazem valer na melódica "Treason" e na paranoica "Second Head". Em "Poppies" a cozinha dub e as guitarras etéreas soam psicodélicas. Já a faixa que nomeia o disco é um puro deleite krautrock.

Não lançado originalmente no álbum, mas incluído posteriormente, o single "Reward" fez bastante sucesso e ajudou a vender o grupo. Todavia, a banda não foi muito mais longe. Mas o Julian Cope, hoje um personagem cult, segue interferindo na música alternativa, tanto com suas maluquices sonoras, quanto com suas opiniões/textos/livros sempre interessantes.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Antibalas, Duran Duran, Trouble e Godley & Creme

ANTIBALAS
O afrobeat vive. É botar pra tocar e abrir a pista.

DURAN DURAN
Notorious (1986). Resgatei aqui em casa esse disco do Duran Duran produzido por Nile Rodgers. Com direito a guitarras do Warren Cuccurullo. Sem chance de dar errado.

TROUBLE
Banda cultuada entre os fãs de doom, stoner e metal alternativo. Sempre ouvia falar, mas só agora escutei o cultuado Psalm 9 (1984). É sonzeira. Ao que parece, há um teor cristão em meio o clima arrastado à la Black Sabbath. 

GODLEY & CREME
Grupo de dois remanescentes do 10cc que desencadeou numa sonoridade pop bem pasteurizada. Entretanto, é interessante o experimentalismo do primeiro disco deles.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

8 motivos para gostar do Chicago

Dias atrás, o canal BIS televisionou a edição de 2016 do Rock N' Roll Hall Of Fame. Expliquei para a Renata, minha namorada, do que se tratava o evento. Disse que grupos importantes do rock como King Crimson, Iron Maiden, Judas Priest, Motörhead, Pixies e Sonic Youth não haviam adentrado a instituição, mas que Green Day, Hall & Oates e John Mellencamp sim. Logo ele entendeu a problemática.

Em certo momento, ela desembestou a criticar o Chicago que ali adentrara. Claro, a apresentação deles em 2016, completamente desfalcada dos integrantes principais, com os que sobraram na casa dos 70 anos, mais pareceu um show de churrascaria feito por uma espécie de Roupa Nova americano. Todavia, fiz o advogado do Diabo e defendi o Chicago.

Agora virou uma brincadeira nossa. Toda vez que ela está ouvindo algo de qualidade duvidosa (na maioria das vezes é alguma nova dupla sertaneja xaropenta) eu digo "é, e Chicago que é ruim!".

Sem mais delongas, apontarei oito motivos que justificam o porquê do Chicago ser um grupo legal. Leia, ouça e dê sua opinião.

Naipe de metais no rock
É verdade que quando o Chicago surgiu já havia o Blood, Sweet & Tears. Todavia, é indiscutível que o naipe de metais era um grande diferencial do grupo na época. Momentos funkeados, jazzisticos e psicodélicos ficavam muito mais intensos com os arranjos dos sopros. Méritos do Walter Parazaider, Lee Loughnane e James Pankow.

Terry Kath
Uma espécie de "Jimi Hendrix branco", se não em inventividade, ao menos na eloquência de seus solos ácidos, na ótima mão direita para bases e na voz expressiva. Morreu estupidamente com um tiro acidental disparado por ele mesmo. A combinação de drogas e armas nunca dá certo.

Peter Cetera
Um baixista de timbre estrondoso e cantor de consciência pop absurda. Tá certo que caiu no limbo das canções melosas ("limbo" artístico, já que fez muita grana), mas ainda assim é um personagem fantástico.

Robert Lamm
Tecladista acima da média e bom cantor (sim, mais um, o terceiro). Além disso, era o principal compositor do grupo. Um músico subvalorizado na história do rock.

Danny Seraphine
É verdade que o baterista Danny Seraphine foi demitido da banda em meados da década de 1980 por apresentar deficiência técnica, mas na década anterior ele espancava seu instrumento livremente com interlocuções jazzisticas.

As composições
Se com a morte de Terry Kath a banda desandou em canções ralas de apelo popular, melodias chatas e produção pasteurizada, anteriormente o grupo se mostrava inquieto ao misturar funk, rock psicodélico, soul, pop, jazz-rock e progressivo. Abaixo, uma das minhas composições prediletas da banda.

O minimalismo estético

Capas de discos com a mesma arte/logo e nomes que apenas numeram a discografia. Embora faça pouca diferença, não deixa de ser um aspecto interessante.

Caribou Ranch
Não foi só os Novos Baianos que tiveram um sitio, o Chicago também! Só que ao contrário do grupo baiano, que dividia o tempo entre a música e o futebol, o grupo americano repartiu o tempo entre a música e festas regadas a drogas e sexo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Prince - 1999 (1982)

Prince sempre foi um cara diferenciado no mundo da música. Audacioso, inquieto e virtuoso, o artista conseguia ser imponente mesmo sendo um nanico. Embora com discos anteriores excelentes, 1999 (1982) talvez seja a primeira grande obra do verdadeiro Rei do Pop.


Dando uma direção mais sintética para a sonoridade dos artistas que o influenciava - principalmente Sly Stone, George Clinton, Stevie Wonder e Jimi Hendrix - Prince tornou-se um Frankenstein da música.

A produção impactante da dançante "1999", a consciência pop do hit "Little Red Corvette" - com direito a ótimas guitarras - e o blues estranhamente modificado de "Delirious", já asseguram ao disco um lugar especial na história da música. Mas tem mais!

"Let's Pretend We're Married" é um épico do synthpop. Os ritmos programados e vozes processadas em "Automatic" devem ter agradado os integrantes do Kraftwerk. Já "D.M.R.S" é muito mais próxima do Giorgio Moroder, invocado eletronicamente as passagens mais funkeadas da disco music. Fora o groove contagiante da sexual "Lady Cab Driver", dona de ótima linha de baixo, bateria esquizofrênica, sintetizadores futuristas e solo de guitarra virtuoso.

Com exceção de alguns vocais, 1999 foi composto, tocado e produzido exclusivamente pelo Prince. Um dos momentos mais impressionantes do pop.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

GRAMMY: A PREMIAÇÃO QUE SERVE PRA NADA

Post dessa semana no Maria D'escrita

Primeiramente, uma coisa tem que ficar clara: o Grammy não é um prêmio artístico, mas da indústria musical. Nada ali é genuíno ou transgressor. Todavia, já que é a "premiação da música" mais comentada, não vou deixar de dar meus pitacos.

A constatação é que a ousadia e a rebeldia ficam cada vez mais distantes da música pop. Tudo soa raquítico. A começar pelas dezenas de cantores country de pastiche. Contra Little Big Town, eu fico com Maiara e Maraisa mesmo.

Adele, cantora tão talentosa, mas enfadonha, repetiu o feito de 2016 e desafinou na péssima "Hello". Já cantando em homenagem ao George Michael, não aguentou a própria semitonada, interrompeu e repetiu a performance, igualmente equivocada. Mas seu "bota essa porra pra funcionar" gerou engajamento no Twitter, então funcionou.

Até mesmo artistas legais se perdem num evento tão careta. O Daft Punk, que anos atrás botou todos para dançarem ao lado de caras como Stevie Wonder, Nile Rodgers, Pharrell, Omar Hakim e Nathan East, dessa vez apareceu com o fraquíssimo The Weeknd. Nem mesmo a boa dobradinha do influente grupo A Tribe Called Quest com o talentoso Anderson .Paak funcionou, mais parecendo um constrangedor espetáculo da Broadway.

Beyoncé - que é tratada como "diva" e "empoderada" seja cantando ou peidando - fez da sua "não-música" o perfeito cruzamento Enya com Rei Leão e Nossa Senhora Aparecida. Já a Katy Perry e sua dança do Morto Muito Louco não merece maior menção.


E o que dizer do Metallica com a Lady Gaga? Pose de malvados, todos de preto, fogo à la Cirque du Soleil e Gaga se arrastando pelo palco, como se estivesse na capa do disco Out Of The Cellar do Ratt. Nada mais caricato! James Hetfield podia ter aproveitado que seu microfone deu problema, ter copiado Adele e mandado parar, só que para não mais voltar.


Para não dizer que tudo foi uma porcaria, Chance The Rapper - que ganhou o prêmio de artista revelação e de melhor álbum de rap -, apresentou com convicção seu cruzamento de hip hop com gospel, evidenciando a força do cenário independente. Sturgill Simpson e a galera do Dap-Kings trouxe um pouco de dignidade para a música country. E o Gary Clark Jr. mostrou para o Keith Urban como se toca guitarra.

O insosso do John Legend mandou bem em "God Only Knows", muito graças a qualidade da composição, que ficaria linda até mesmo se fosse interpretada pela Joelma em dueto com o João Gordo.

No momento homenagens, The Time entregou muito groove e guitarras em nome do Prince, enquanto Bruno Mars forçou a barra, não fazendo feio, mas deixando claro que não é "o homem, a lenda" que João Marcello Bôscoli havia dito minutos antes. Pior foi a Demi Lovato que conseguiu arruinar as boas canções do Bee Gees.

No que diz respeito aos prêmios, David Bowie ganhou algumas categorias; Megadeth - agora com o brasileiro Kiko Loureiro - ficou com o troféu destinado ao metal; Caetano Veloso e Gilberto Gil não levaram o prêmio de world music e Adele fez a rapa nas categorias música e disco do ano. Nada que importe muito. Mas fiquei com uma dúvida: que raio é Urban Contemporary?


Foi isso, mais de 3 horas que pouco dizem. Nada ali mostra o que realmente admiro na música. Talvez o momento mais revelador tenha sido justamente o que mostra os artistas que morreram no último ano. Deprimente. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Dead Can Dance, Between The Buried And Me, Lucky Peterson e Rattus

DEAD CAN DANCE
Within The Realm Of A Dying Sun (1987). Darkwave (com motivos étnicos) dos bons, lançado pela 4AD. Basta isso para justificar a audição.

BETWEEN THE BURIED AND ME
Vi uma lista com os principais disco de metal progressivo da história, sendo que o único que não conhecia era o Colors (2007). Fui ouvir e curti bastante. Não só dos grandes álbuns de prog metal, mas também de metalcore.

LUCKY PETERSON
Dias desses tava passando um show no BIS deste artista. Gostei tanto que corri pro Spotify para ouvir algumas faixas. É bacana.

RATTUS
Saiu uma ótima matéria sobre o o punk escandinavo no Slikeus. Inspirou a ouvir essa influente banda.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

TOP 5: Músicas do Black Sabbath

O Black Sabbath acabou. Eles fizeram o último show semana passada em Birmingham, a cidade natal da banda.

Já fiz inúmeros textos aqui no blog sobre o grupo. Não ia escrever mais nada sobre o quarteto, só que o post do André Barcinski com sua seleção de músicas prediletas da banda me foi inspirador. Decidi fazer a minha lista. Não necessariamente as melhores ou mais clássicas, mas as minhas prediletas.

Lista curtinha e até mesmo óbvia. Está em ordem de lançamento.

01: The Wizard
Do primeiro disco, gravado com urgência e crueza interpretativa encantadora. Uma pérola blues endiabrada.

02: Into The Void
Não existe sequência de riffs mais avassaladora que essa. Iommi é o rei das introduções. Para completar, Geezer e Bill Ward acompanham tudo com precisão assustadora. Eis a criação do stoner/doom/sludge.

03: Lord Of This World
Mais um riff troglodita e empolgante. Paz & Amor é o escambal!

04: Hole In The Sky
Sabbath movido a cocaína numa canção paranoica e intensa.

05: Symptom Of The Universe
Isso é brutal! Parecem que eles estão dando marretadas em seus respectivos instrumentos. A voz do Ozzy soa desesperadora.

Obs: adoro Sabbath tanto com o Dio quanto com o Gillan, mas nada com eles bate esse TOP 5.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Fela Kuti And Afrika '70 - Zombie (1976)

Fela Kuti foi um dos artistas mais produtivos do seu tempo. Dono de uma vasta e excelente discografia, muitos se perdem ao adentrar seu trabalho. Mas até mesmo por questões extra musicais, é justo reconhecer Zombie (1976) como um destaque dentro de sua obra.


Ao lado de brilhantes músicos - vide o baterista Tony Allen - que formavam o Afrika '70, o artista nigeriano criou uma linguagem musical própria batizada de afrobeat, que trazia elementos da música tradicional de seu continente - como o highlife e ritmos iorubás -, fundidos com o jazz, funk, psicodelia e até mesmo a música latina.

Com essa fórmula, Fela tornou-se um superstar do terceiro mundo. Ainda que fosse de classe média, sua consciência política/racial herdada de sua mãe fez com que ele se comunicasse com boa parte do continente africano, principalmente os setores mais pobres. Posteriormente sua música cruzou barreiras ao ser citada por caras como James Brown, Stevie Wonder, Ginger Baker, dentre outros.

Em seu quartel general - área conhecida como República Kalakuta -, formou um comunidade paralela à guerra civil nigeriana e construiu um estúdio de gravação. De lá saiu a épica "Zombie", que em meio ao seu instrumental borbulhante - coberto por um groove complexo, guitarra swingada, naipe de metais delirantes e linhas de baixo consistentes -, questiona a alienação "zumbilesca" dos soldados nigerianos, que massacravam seu próprio povo.

É arrebatadora a forma em que as canções evoluem diante do clima de jam. É irresistível o balanço de "Mr. Folow Folow", que faz o ouvinte querer dançar mesmo diante de solos improvisados e jazzisticos. Atenção também para os vocais em coro, dando uma sensação de união.

Se para nós o ritmo sincopado de "Observation No Crime" soa complexo, para o grupo a execução se dá naturalmente. No final ainda há um registro ao vivo de "Mistake", numa performance não menos que abrasiva.

Como resultado de tanta transgressão musical e social do Fela Kuti, o governo militar nigeriano atacou seu habitat, destruindo seu equipamento, o ferindo gravemente e matando sua mãe, que foi jogada pela janela. Como resposta, Fela mandou o caixão direito para o quartel general e continuou com sua metralhadora sonora de composições verdadeiramente engajadas, revolucionárias e donas de balanço energizante. Definitivamente um ícone da música e símbolo do pan-africanismo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

TEM QUE OUVIR: X - Los Angeles (1980)

Na história do rock, muitas são as bandas que não conseguiram o sucesso esperado embora o resultado sônico fosse avassalador. O X é um dos principais exemplos. Los Angeles (1980), é seu álbum de estreia.


Embora o grupo esteja diretamente ligado ao punk rock americano, eles abrem mão dos esteriótipos de agressividade em prol da crueza genuína do rock n' roll. Isso fica evidente logo de cara na potência de "Your Phone's Off The Hook, But You're Not".

Na linha de frente da banda estava os compositores John Doe e Exene, homem e mulher, ambos revesando os vocais principais, algo incomum no punk rock. Ao lado o não menos importante guitarrista Billy Zoom, que reunia em suas bases a pegada energética de um Johnny Ramone e em seus solos bends à la Chuck Berry, vide a ótima "Johnny Hit And Run Paulene".

A produção do disco ficou a cargo do Ray Manzarek - sim, aquele mesmo do Doors! -, que não perdeu a oportunidade de colocar suas teclas para funcionar na espetacular "Nausea", que chega a remeter ao Deep Purple. O quarteto também faz uma homenagem ao antigo grupo de seu produtor na regravação punk de "Soul Kitchen".

É não menos que contagiante ouvir a intensa "Sugarlight" e o ritmo esquizofrênico da divertida "Los Angeles". E ainda sobra espaço para a delirante "The Unheard Music".

O grupo ainda lançou outro disco tão bom quanto - Wild Gift (1981) -, que vire e mexe é citado entre os prediletos de integrantes do Guns N' Roses, RHCP e Pearl Jam. Mas a banda não passou disso. X virou cult entre os músicos.