terça-feira, 31 de janeiro de 2017

TOP 5: Glam Rock

Como prometido, um TOP 5 discos do glam rock especialmente para minha amiga Clau.

Por se tratar de uma lista de glam rock, ficarei na década de 1970. Ou seja, nada de glam metal oitentista por hoje.

Mesmo preso a uma época, o glam rock foi um fenômeno pop que gerou muitos frutos, então procurei ser objetivo na lista e cortar possíveis "aventureiros". Deixei apenas o que é GLAM (com letras garrafais) na essência. Nessa rodaram Iggy Pop e Lou Reed (beberam da fonte por influência do Bowie, mas são muito mais que isso), New York Dolls e Elton John (são colocados no pacote mais pelo visual do que pelo som), Roxy Music, Sparks e Queen (tão mais pra art rock), além de Alice Cooper e Kiss (tão mais para o hard rock ou até mesmo para o tal shock rock).

Mas o que é glam rock para mim? É algo dançante, divertido (uma evolução do bubblegum), nem tão pesado quanto o hard rock, mas também com raízes no blues. Tem um clima cósmico (tanto nas letras, quanto nos timbres dos instrumentos) e se passa num mundo paralelo, andrógeno, hedonista e pansexual, regado tanto a cocaína quanto a gliter e plumas. Completamente cheio de GLAMour. Seu auge foi na Inglaterra até meados da década de 1970.

Deu para entender? Caso não, ouça e veja as capas dos discos abaixo que tudo ficará mais claro.

David Bowie - The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars (1972)
Uma escolha tão óbvia que seria impossível deixar de fora. É que tudo está reunido aqui: o alienígena andrógeno, as roupas espalhafatosas, canções futuristas, os arranjos refinados, a guitarra cósmica do Mick Ronson e o apelo pop que só Bowie consegue dar a uma obra de vanguarda. Um fenômeno comportamental que foi além das artes.

T. Rex - The Slider (1972)
Embora pouco lembrado no Brasil, Marc Bolan foi tão importante para o glam rock quanto o David Bowie. Após anos batalhando no cenário do rock inglês, despontou com seu T. Rex, sempre coberto de gliter e plumas. Mas é seu som, deliciosamente cósmico, que fez os mais velhos clichês do rock/blues/gospel parecerem de um tempo que ainda não chegou. Méritos também para o produtor Tony Visconti.

Slade - Slayed? (1972)
Vou ser sincero, quando quero escutar Slade me restrinjo ao clássico disco ao vivo de capa vermelha, Slade Alive!. Todavia, o disco é tão intenso que tá mais para um proto-punk, sendo o Slayed? um legitimo álbum de glam. Divertido, cru e extremamente influente. Que o diga os integrantes do Kiss, Ramones, Cheap Trick e Mötley Crüe.

Mott The Hoople - Mott (1973)
Bowie era tão fã do grupo que chegou a ceder o sucesso "All The Young Dudes" só para a banda não acabar. Mas o Mott The Hoople obviamente não se resume a isso. Basta se atentar as guitarras ultra melódica do Mick Ralph (posteriormente Bad Company) e a voz singular do icônico Ian Hunter para perceber que estamos diante de uma das grandes bandas do seu tempo.

Sweet - Desolation Boulevard (1974)
"Ballroom Blitz" e "Fox On The Run" são clássicos fanfarrões do glam rock. Beira ao caricato, embora inegavelmente divertidas. Todavia, o disco traz outros momentos genuínos de rock n' roll que dão legitimidade a obra.

Adendo 1: O glam rock incrivelmente também chegou com força no Brasil, sendo o disco de estreia do Secos & Molhados, o debut do Made In Brazil, o Fruto Proibido da Rita Lee & Tutti-Frutti, o primeiro solo do João Ricardo e qualquer coisa feita pelo Edy Star exemplos disso.

Adendo 2: Conheço a figura de Gary Glitter, mas confesso nunca ter escutado um disco dele. Deixem nos comentários informações sobre o sujeito.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Elvis Costello - My Aim Is True (1977)

"Os jornalistas musicais gostam do Elvis Costello porque eles se parecem com o Elvis Costello". Por mais que essa frase do David Lee Roth seja a primeira coisa que me vem a mente quando olho para a capa do álbum de estreia do Costello, quando o disco toca outros pontos falam mais alto.


Costello é um perito do rock. Filho de cantor, tem em seu DNA a música pop das girl groups e o rock inicial do Buddy Holly, do qual pegou até mesmo o visual. Todavia, viveu a ascensão do pub rock e do punk rock, sendo que no auge deste movimento, lançou esse disco que alia doçura composicional com crueza interpretativa, explicada tanto como um reflexo da cena em voga, quanto pelo baixo orçamento e poucas sessões de gravação.

Logo no início, a urgência da curtinha/preciosa "Welcome To The Working Week" já salta aos ouvidos. Seu ritmo é extremamente cativante, principalmente no empolgante refrão.

Na sequência há um clima pop-garageiro em "Miracle Man". Atenção para o bom trabalho de guitarras e o reverb na voz, que dá uma ambientação rústica à gravação. 

A divertida/sacana "No Dancing" tem excelente melodia e refrão poderosos. Isso sem mencionar o beat à la Ronettes, a interpretação vocal dramática e o coro de vozes. Soaria pastiche não fosse feito com tanta personalidade e conhecimento de causa.

Interessante o encontro do blues com a new wave na irresistível "Blame It On Cain". Por mais simples que seja, a banda se mostra bastante azeitada na execução.

Nunca um branquelo geek soou tão soul music quanto em "Alison", uma linda balada impecavelmente interpretada, tonando-se um dos principais hits do cantor. Adoro a progressão harmônica, a linha de baixo, a melodia, a guitarra "country-jazzy" respondendo ao canto... Uma pérola.

Falando em jazz, aquela vertente mais urbana e "primitiva" dá as caras em "Sneaky Feelins", faixa de carisma irradiante.

(The Angels Wanna Wear My) "Red Shoes" soa vibrante em sua simplicidade. Tem muito de power pop/jangle pop nela. 

"Less Than Zero" é a faixa que melhor representa a gravadora e produtor do disco: Stiff Records e Nick Lowe, respectivamente. Há algo de reggae à la Clash, mas feito antes da banda punk. Dizer que é o berço da sonoridade da 2 Tone também não é absurdo. 

Por sua vez, "Mystery Dance" é o revival do rock n' roll da década de 1950 antes mesmo de Cramps e Stray Cats. 

Posteriormente, Costello se envolveu em diversas parcerias, formou o Attractions e tornou-se um dos mais importantes compositores do rock inglês. Mas em nenhum outro momento ele soou tão espontâneo quanto aqui.

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Secos & Molhados, do Secos & Molhados

Um clássico brazuca só para ela não perder a confiança nas minhas escolhas.

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

O disco de hoje é de um grupo que eu já ouvi muito falar, mas achava que não conhecia nenhuma música. Acreditem se quiser, Secos e Molhados é a escolha de hoje do Juliano e eu paguei micão não conhecendo esse clássico. Mas tá tudo bem, sei que posso ser sincera com vocês. Vamos à análise?

Comecei por “Sangue Latino”. Pô, claro que eu conheço essa, inclusive acho boa demais. O Ney fazia parte do grupo? Genteeee! Adoro este homem!

Pera aí, eu conheço também “Rosa de Hiroshima”. Caralho, não é que eu conheço mesmo algumas músicas! De qualquer modo vamos continuar a brincadeira e torcer para que eu não conheça tudo. Sobre essa faixa, vale falar que me dá MÓ BAD!

“As Andorinhas” é minha próxima tentativa de ouvir algo que não conheço e PÁ! Agora sim. Música com cara de anos 80 e... acabou a música.

Quando comecei a ouvir “Assim Assado” algo me remetia a “O Vira”. Viagem ou não, gostei dessa. Sobre “O Vira”? Adoro! Mas é 100% época de folclore na escola.

Passei por “Amor” achando que talvez a conhecesse. E nesse ponto do disco comecei a ver um pouco de Mutantes no som dos caras.

Uma psicodelia inesperada surgiu em “Fala” e, junto com a ótima letra, a música me ganhou.

Quando eu comecei a pensar o quanto o disco era bom, “Rondó do Capitão” começou a tocar e eu fique extasiada, putaqueopariu, que música boa! 

Infelizmente “Primavera Nos Dentes” cortou minha brisa boa e só me fez sentir uma coisa: sono. Mas, logo depois fui compensada por “Prece Cósmica”, que também ganhou meu coração.

Fim de jogo e o saldo para Secos e Molhados foi positivaaaasso. Acho que o mais positivo imediatamente, até agora (uso “imediatamente” pois Big Star não teve uma avaliação tão boa e depois acabei pirando na banda quando ouvi com calma).

E vocês, o que acham do disco?

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

12 capas de discos que deixariam João Doria repudiado

Nessa altura do campeonato, todos já sabem a polêmica envolvendo as pixações (pichações) na cidade de São Paulo. Em meio a discussão sobre o que é ou deixa de ser arte, que manifestação artística pode ou não ser expressada, se pintar ilegalmente é uma forma de violência ou não... o programa Cidade Limpa não ouviu os dois lados e passou por cima de pixos e grafitis, autorizados ou não.

Ainda que minha opinião pouco importe, deixo registrado apenas para não ficar em cima do muro: não sou pixador, mas gosto de pixo, tanto pela estética urbana quanto pelo seu confronto. Não faço separação entre grafiti e pixo.

Para ressaltar alguns momentos em que a pixação me agradou esteticamente, postarei algumas capas de discos contendo a arte. E fica a provocação: o que João Doria e seus eleitores acham de tais capas?

Obs: ainda que a cultura hip hop esteja diretamente ligada ao grafiti, honestamente não lembrei de nenhuma capa de disco de rap contendo a arte. Postem nos comentários caso saibam alguma.

01: Rolling Stones - Beggars Banquet
Antes mesmo da explosão do movimentos punk e hip hop, os Stones já traziam na capa de seu disco um banheiro imundo todo obscenamente rabiscado. Sempre imaginei o banheiro do CBGB assim.

02: Alice Cooper - School's Out
Quem nunca rabisco na carteira da escola que atire a primeira pedra.

03: Ramones - Ramones
Lançado em 1976, o clássico disco homônimo de estreia dos Ramones não causou tanto impacto comercial quanto muitos imaginam. Todavia, hoje só de olharmos para a capa contendo aqueles quatro jovens de jeans rasgados, jaquetas de couro e all star sujos em frente a um muro pixado, já sabemos de imediato o que esperar. Imagem definitiva do punk rock.

04: Ramones - Subterranean Jungle
Do subúrbio nova-iorquino que são, os Ramones não param na capa de seu primeiro disco, sendo o trem pixado de Subterranean Jungle total condizente com a cultura de hip hop de levar para bairros distantes a marca de alguém nunca sairá de seu próprio bairro. É interessante lembrar que o Dee Dee Ramones posteriormente ao disco se envolveu com o rap. Detalhe também para Marky Ramone, que no auge do alcoolismo, não participou da sessão de fotos, restando como opção uma montagem de seu rosto na janela do trem.

05: Lou Reed - New York
Quando Lou Reed, o Rei de New York, decidiu prestar uma homenagem a cidade que tão bem cantou - como esquecer suas narrativas sobre o submundo da prostituição e das drogas? - na capa do disco ele não deixou de fora a estética suja de seu habitat. Um cronista legitimo.

06: Killing Joke - Killing Joke
Em meio a ascensão de Margaret Thatcher e Reagan, o clima sombrio não era propicio para delicadezas. O Killing Joke logo entendeu isso. Basta olharmos para a capa de seu disco de estreia, contendo uma foto de autoria do Don McCullin, onde jovens irlandeses pulam um muro durante conflito com tropas inglesas. O nome da banda posteriormente pixado deixou a arte ainda mais interessante.

07: Pink Floyd - The Wall
Um clássico que dispensa apresentações.

08: Blur - Think Tank
Gosto do Blur, mas no caso desse disco, a capa é melhor que as músicas. Artista: Banksy

09: Rage Against The Machine - The Battle Of Los Angeles
Apenas mais um momento artisticamente imponente do RATM. Artista: Joey Krebs

10: Madball - Hardcore Lives
Mais um símbolo de NY, agora através do hardcore.

11: Charly García - Clics Modernos
Clássico da carreira solo do Carly García, gênio do rock argentino. Se não me engano (e posso tá enganado), essa foto foi tirado em Nova York.

12: Chico Buarque - Calabar
No auge da truculenta ditadura militar, em meio a censura artística, não só as letras de Calabar foram retalhadas, mas a própria capa do disco foi proibida. Fica aí a reflexão para que rumos queremos tomar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

1997, O ANO DE CONSOLIDAÇÃO DA MÚSICA ELETRÔNICA

Post dessa semana no Maria D'escrita

Desde o começo do século XX, a música eletrônica é uma realidade. Compositores de vanguarda como Luigi Russolo, Pierre Schaeffer, Pierre Boulez, Stockhausen, dentre outros, já faziam experimentações usando diferentes estruturas, timbres e texturas sonoras.
Com o passar dos anos, surgiu o típico progressivo eletrônico experimental das bandas alemãs de krautrock (Kraftwerk, Tangerine Dream, Neu!), o synthpop dominou a década de 1980 (New Order, Pet Shop Boys, Human League) e a house music tornou-se a principal vertente sonora de uma geração (do Frankie Knuckles ao Joey Beltram).
Mas se teve um ano fundamental para a música eletrônica foi 1997. Talvez ao avistar um novo milênio, despertou em alguns artistas a necessidade por novas formas de música POP. Claro, nada foi de uma hora pra outra. As evoluções tecnológicas na forma de gravar e distribuir música contribuíram para isso.
Mas o que de tão espetacular foi feito em 1997? Respondo com três discos:
01: Daft Punk - Homework
Formado por Guy-Manuel de Homem-Christo - que raio de nome é esse? - e Thomas Bangalter, esse hoje consagrado duo francês, começava a despontar através de singles lançados pelo pequeno selo escocês Soma. Quando chegou ao mercado o álbum Homework, "Da Funk" e "Rollin' & Scratchin'" já eram hinos das raves. O disco ainda trazia o hit "Around The World", que ganhou o público na base da insistência melódica altamente repetitiva e, consequentemente, dançante. 2 milhões de cópias vendidas foi o resultado. Se apropriando da disco music setentista e do synthpop e hip hop oitentista, a house music nunca soou tão retro-futurista.
02: Chemical Brothers - Dig Your Own Hole 
Formado pelos produtores Ed e Tom, o Chemical Brothers foi fundamental pra eclosão do big beat, subgênero da música eletrônica que se caracteriza por timbres pesados, batidas aceleradas, riffs de guitarra e influência do hip hop. A abertura alucinante do disco com "Block Rockin' Beats" evidencia toda essa energia. Mas o álbum ainda reserva elementos do funk/disco ("Lost In The K-Hole"), pop melodioso ("Where Do I Begin?") e a típica acid house ("It Doesn't Matter"). Sobra espaço até pra um clássico: "Elektrobank" - como esquecer do clipe dirigido pelo Spike Jonze com atuação da Sofia Coppola? -, que traz o clima de uma fuga cinematográfica, com direito a sintetizadores esquizofrenicamente encorpados. O que antes se resumia a festas esfumaçadas e transpirantes nos porões londrinos, a partir daqui tomava de assalto os grandes festivais.
03: The Prodigy - The Fat Of The Land
Mais um clássico do big beat, que eleva em peso e urgência a agressividade do estilo. A clássica "Breathe" é um verdadeiro hino eletrônico de atitude punk. O peso absurdo da produção e o vocal visceral do Keith Flint só ajudaram a deixar a obra ainda mais doentia. A espetacular "Smack My Bitch Up" - com direito a sample de Kool And The Gang e melodia vocal com características da música indiana - ganhou um clipe paranoico, repleto de drogas e sexo. A proibição do vídeo só contribuiu para o sucesso da faixa e para que o disco chegasse ao primeiro lugar em 22 países. Mérito também do produtor Liam Howlett, que ao encaixar perfeitamente ritmos frenéticos, melodias marcantes, guitarras encorpadas e samples escolhidos a dedo, tornou-se um dos grandes nomes da música eletrônica.
Paralelo aos grupos genuinamente eletrônicos, bandas de rock como Radiohead, U2, Spiritualized, Cornershop e, até mesmo, artistas POP como a Madonna também flertavam com sonoridades do novo milênio. Por essas e outras, 1997 foi o ano definitivo do estilo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Chuck Berry, Sly & Robbie e Death Angel

CHUCK BERRY
Muito se falou durante essa semana sobre a versão improvisada do Bruce Springsteen para "You Never Can Tell". Foi muito legal, mas esse vídeo do próprio Chuck Berry é melhor ainda.

SLY & ROBBIE
Cozinhada lendária da música pop (com pitadas nada moderadas de reggae e dub). Tocaram com meio mundo. Extraiam grooves e timbres completamente particulares de seus instrumentos. Tem que conhecer! Esse disco em questão foi produzido pelo grande Bill Laswell.

DEATH ANGEL
Segundo escalão do thrash metal americano, mas que não deve nada em qualidade. Muito pelo contrário, Act III (1990) é uma paulada que transborda criatividade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

TEM QUE OUVIR: Moby Grape - Moby Grape (1967)

Devo confessar que não sou dos maiores fãs da cultuada cena psicodélica de São Francisco. Entendo seu valor para a contracultura, mas quando o assunto é psicodelia, tenho a tendência a recorrer aos grupos ingleses. Todavia, se eu tivesse que apontar uma banda predileta do cenário americano, seria sem dúvida o Moby Grape.


Encabeçado pelo malucaço/lendário Skip Spence (ex-Jefferson Airplane), o grupo reuniu músicos de inquestionável talento: os guitarristas Jerry Miller e Peter Lewis, o baterista Don Stevenson e o baixista Bob Mosley. Nenhum se restringia ao seu instrumento, sendo todos ótimos compositores e cantores.

Logo de cara a energética "Fall On You" salta aos ouvidos trazendo um emaranhado de guitarras alucinantes. Alias, o desempenho com as seis cordas era uma das principais qualidades do grupo, vide "Ain't No Use", "Lazy Me" e "Indifference".

Já em "Mr. Blues" é o vocal potente/convicto de Mosley que rouba a cena. Falando em voz, é acachapante a parede sonora que eles formam no arranjo vocal de "Fall On You". O mesmo ocorre na divertida "Come In The Morning".

Muito mais melodiosa, mas não menos especial, é a acústica "8:05". Todavia, em meio a tantos bons momentos, é possível apontar "Omaha" como a canção mais emblemática, sendo um retrato da explosão criativa do Spence.

Com tantas qualidades, é claro que o grupo foi um sucesso comercial, certo? Errado! Coloque como justificativa para o fracasso o auto-boicote (ou seria promoção exagerada?) da gravadora Columbia, que lançou cinco faixas como singles simultaneamente; a prisão de três integrantes por porte de drogas e a suspeita de ligação com garotas menores de idade; o surto psicótico do Spence após meses tomando LSD feito água; e até mesmo o inocente dedo do meio que o Stevenson mostra na capa do disco.

Se o sucesso comercial não veio, ao menos o tempo reservou um lugar especial para o Moby Grape, sendo um dos grupos mais cultuados da época.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

TOP 5: Melhores baladas do rock (Parte II)

Há alguns anos atrás, fiz um TOP 5 "Melhores Baladas do Rock" (veja aqui). Tema variado que é, posto hoje uma "Parte 2".

Obs: se é TOP 5 e é "Parte 2", logo não é TOP 5! Todavia, não se apegue a problemática. O tema é vasto e merece tais trapaças. Se bobear mais pra frente rola até uma "Parte 3".

David Bowie - Life On Mars?
Bowie foi um gênio, inclusive na arte de compor baladas. Tanto que fiquei matutando entre "Space Oddity", "Heroes" e até mesmo a mais recente "Lazarus". Todavia, acabaram todas as dúvidas quando lembrei de "Life On Mars?", um clássico de arranjo de cordas exuberante, piano de Rick Wakeman, solo de guitarra pontual do Mick Ronson e letra surrealista. Para mim a canção mais emocionante do Bowie.

Velvet Underground - Sunday Morning
Uma caixinha de música com doce melodia se abre e logo a canção é tomada por um lindo arranjo de cordas e a voz suave do Lou Reed, como poucas vezes ouvida. Tão bela quanto a própria Nico. Nem parece que estamos falando da faixa de estreia da banda que aniquilou o sonho hippie.

Pink Floyd - Fat Old Sun
Tá certo, "Wish You Were Here" é linda, mas o Pink Floyd tem momentos ainda mais belos. Tome como exemplo essa doce balada de final apoteótico presente no famoso "disco da vaca". Um dos melhores momentos do David Gilmour. Me sinto privilegiado de ter visto a canção sendo tocada ao vivo por ele.

Big Star - Ballad Of El Goodo
Somada a beleza da canção com a história que beira a tragédia desta espetacular banda, não consigo ouvir "Ballad Of El Goodo" sem me emocionar. Nível de composição alto na "escala Beatles". Power pop maravilhoso.

My Bloody Valentime - Sometimes
Em meio a um emaranhado de guitarras distorcidas, que preenchem o espaço como se fossem blocos de cimento, eis que surge uma doce melodia vocal, de timbre etéreo, reverberando e encantando quem ouve com atenção. Completamente o oposto ao óbvio. Balada criativa e definitiva do shoegaze.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Albert Ayler, Electronic, Tower Of Power e Focus

ALBERT AYLER
Eu estava essa semana ouvindo algo de black metal quando me recorreu: quem será que foi o primeiro baterista a usar o blast beat? Para variar, a resposta estava no jazz.

ELECTRONIC
Projeto do Bernard Sumner com o Johnny Marr que até então nem sabia da existência. Claro, não é o melhor trabalho de ambos, mas vale conferir.

TOWER OF POWER
Grupo sensacional de funk que contém o espetacular baixista Rocco Prestia. Nunca havia citado a banda aqui no blog. Falha minha. Tem que ouvir!

FOCUS
Acho que não ouvia essa maravilhosa banda holandesa de rock progressivo há mais de uma década. Cheguei a conclusão que a "Eruption" deles é melhor que a do Van Halen.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

TEM QUE OUVIR: David Bowie - "Heroes" (1877)

Em 1977, no auge no punk rock, David Bowie era um dos poucos artistas ditos consagrados que conseguia provocar algum tipo de entusiasmo na juventude. Já estabelecido na Alemanha, ele lançou o clássico "Heroes", o segundo álbum da famosa Trilogia de Berlim.


Gravado em paralelo a sua parceria com o Iggy Pop - tanto em tour quanto no também histórico The Idiot -, Bowie buscou referências sonoras no krautrock e somou forças ao produtor Tony Visconti para chegar em seu delirante resultado.

Diferente de tudo, "Beauty And The Beast" traz elementos instigantes, incluindo o estranhíssimo solo de guitarra do Robert Fripp. Mas não é somente nesta faixa que o líder do King Crimson brilha, vide seu riff em "Joe The Lion" e o timbre/melodia futurista na emblemática "Heroes", obtido através de camadas sobrepostas. Paralelo a isso, Bowie interpreta a letra com uma paixão poucas vezes vista. Um refrão no mínimo emocionante. Clássico!

A riqueza de sua banda - que contava com Carlos Alomar (guitarra), Dennis Davis (bateria) e George Murray (baixo) - se faz valer na bela "Sons Of The Silent Age", com direito a ótima performance vocal do próprio Bowie.

O experimental/eletrônico lado B, arquitetado em colaboração com o Brian Eno, é um momento único na música pop, a começar pela sonoridade inovadora "V-2 Schneider" (explicitamente influenciada pelo Kraftwerk), atingido pela pobreza dos bairros turcos em "Neuköln", apaziguado na zen "Moss Garden" e, principalmente, assombrado pelo muro em "Sense Of Doubt".

De tão histórica, a capa de "Heroes" - que diga-se de passagem, traz a atmosfera do cinema expressionistas alemão, vide O Gabinete de Dr. Caligari e Metropolis -, foi revisitada no álbum The Next Day (2003), mais uma prova que David Bowie nunca esqueceu seus anos na Alemanha. O mundo da música também não, sendo a obra referência de criatividade, vanguardismo e hibernação cultural.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

RETROSPECTIVA 2016: Lançamentos (Incluindo os MELHORES DISCOS DO ANO)

Mais um ano se passou e mais uma lista que ninguém pediu dá as caras. É hora do País do Baurets expor sua lista de Melhores Discos de 2016.

Reconheço que citar mais de 100 discos de um único ano é exagero, ainda mais nos tempos atuais em que tudo parece ser tão descartável. Todavia, não deixaria de postar algo bacana só para me enquadrar num número pré estabelecido.
Apesar da grande quantidade de álbuns, fiz pequenas descrições (não são criticas, muito menos resenhas, são descrições), justamente por reconhecer que, embora as pessoas tenham sede de conhecimento, nem todos tem tempo/interesse/prazer de ouvir todos os lançamentos um a um, muito menos ler a minha irrelevante opinião sobre tais obras. 

Mesmo assim tá ai, o trabalho sujo está feito! Com direito até mesmo a uma faixa destaque para os mais preguiçosos (exceto nos "Melhores Discos do Ano", ao menos esses escutem inteiro). Mais que uma crítica, esse post é um apoio para quem quer caçar uma novidade (e um HD externo para mim mesmo catalogar minhas audições/preferências).


MELHORES DISCOS DO ANO (SEGUNDO EU MESMO)

Emma Ruth Rundle: Marked For Death
Daqueles discos invocam atenção, onde uma adorável melodia é muito mais profunda do que parece. Linda voz, letras amarguradas e o peso instrumental proveniente de ricos arranjos.

Danny Brown: Atrocity Exhibition
Adoro quando determinada obra produz certo desespero junkie. É o que acontece aqui. O flow do rapper tem até uma aura de ragga. Beats consistentes, pesados e com certo grau de ousadia. Méritos também do grande produtor Paul White. Participação do Kendrick Lamar, Earl Sweatshirt e Kelela.

David Bowie: Blackstar
Um epitáfio. Um álbum póstumo autobiográfico. Um testamento pop. E David Bowie mais uma vez fez o improvável. Devaneios jazzístico e eletrônicos completamente densos. Sombrio, mas esperançoso. Fechando a carreira com um dos melhores discos de sua rica obra.

Death Grips: Bottomless Pit
Sem surpresa! Hip hop furioso somado a timbres eletrônicos doentios e atitude hardcore na performance. Fora que as composições são experimentais, ritmicamente quebradas, densas, estranhas e viciantes. Tudo o que eu espero desse que é um dos melhores projetos musicais da atualidade. Uma pedrada rica em texturas. Até a capa já é clássica.

Future Of The Left: The Peace & Truce Of Future Of The Left Post
Hardcore bastante encorpado, tortão e barulhento. Auto nível de composição, arranjo e visceralidade na execução. Ou seja, tudo que vai de oposto ao senso comum do mainstream.

Heron Oblivion: Heron Oblivion
Um timaço de músicos, com selo de qualidade 4AD, num trabalho de dream pop com ótimos momentos psicodélicos. Recheado de guitarras, oferecendo corpo sonoro suficiente para nos lembrar que o indie rock não é bundão.

Jeff Beck: Loud Hailer
Jeff Beck não cansa? Discão de rock, bastante acessível, moderno e com belos vocais femininos. Sua guitarra dispensa apresentações, basta dizer que é digna de seus grandes momentos. Um exemplo de como envelhecer artisticamente com dignidade.

Kendrick Lamar: untitled unmastered
Um dos grandes discos de rap do ano ser demo/sobras do já clássico To Pimp A Butterfly apenas confirma a excelência do trabalho anterior. Restos extremamente relevantes. Thundercat rouba a cena.

Meshuggah: The Violent Sleep Of Reason
Tá certo que é uma das minhas bandas prediletas, mas não contava com um dos melhores discos do grupo nesta altura do campeonato. A brutalidade infernal de sempre, só que agora com timbres mais orgânicos. Composições impressionantes, sempre ressaltando fórmulas de compassos inimagináveis. E para meu deleite, os solos de guitarra voltam a remeter ao Allan Holdsworth. Discão.

Metá Metá: MM3
Não existe nada sendo feito no Brasil melhor que isso. Uma seleção de artistas talentosos que não decepcionam nas composições, arranjos e interpretação, oferecendo uma obra complexa e sem restrição de estilos. O mundo reconheceu o talento do grupo, não seja você a besta a ignorar.

Oathbreaker: Rheia 
Aquele cruzamento de black metal e post-hardcore tão comum nos tempos atuais e que surpreendentemente dá certo. Peso instrumental consistente, poética densa e grande variação vocal. No fim, é o clima desesperador que prevalece. 

Sinistro: Semente
Banda portuguesa numa mistura incrível de post-rock, doom e até mesmo trip hop. A voz feminina e suave apresenta um contraponto interessante ao som denso e pesado do grupo.


The Last Shadow Puppets: Everything You've Come To Expect
Composições pop com abordagem psicodélica sessentista e arranjos que remetem até mesmo ao western do Ennio Morricone. E ainda tem o apelo indie. Nada que o Alex Turner fez anteriormente me agradou tanto. Surpreendente! Obs: Detalhe para a excelente capa com a Tina Turner.

Thee Oh Sees: A Weird Exits
Eles não param! Mais um belo disco reunindo a fórmula tão agradável de psicodelia, garage rock, krautrock e indie rock. Álbum rico, consistente e viajandão. Perfeito para calar a boca de “tiozões conservadores do rock”.

Ty Segall: Emotional Mugger
Dessa tal onda neo-psicodélica ele é sem dúvida o maior nome. Seu trabalho tem elementos do passado, mas traz uma estranheza atual. E adoro essa produção crua. Baita disco legal.

Virus: Memento Collider
Não conhecia nada da banda e dei logo de cara com um math rock bastante denso, com traços de pós-punk e dramaticidade tanto nas letras quanto na interpretação. Tudo bastante elaborado, vide as brilhantes linhas de baixo. Grande descoberta!

Zóõ: Zóõ
Eu costumo reclamar muito da qualidade lirica do rock nacional atual. Isso posto, esse disco salta aos ouvidos. Muito criativo e bem escrito. Fora que instrumentalmente é tão pesado quanto grooveado. Produção saturada e robusta. Grata surpresa.

Wilco: Schmilco
Temas tristonhos e arranjos enxutos, quase minimalista e majoritariamente acústico. Diferente da polidez de outros trabalhos, igualmente bom em suas composições e ousadia. 

DAQUI PRA BAIXO É O GROSSO DA LISTA. SÃO ÁLBUNS QUE OUVI PARA FORMAR OS MEUS PREDILETOS. CLIQUE NO MAIS INFORMAÇÕES CASO INTERESSAR. 

AS DECEPÇÕES E OS RUINS ESTÃO NO FIM DO POST