quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Spoken Word

Recentemente um amigo leu que um artista se enquadrava no "gênero" spoken word e me perguntou que raio era isso. Respondi que, mais que uma vertente musical, tratava-se de um recurso interpretativo e composicional, que tinha como intuito trazer a oratória para a canção.

Pensando nisso, listei momentos interessantes do spoken word.

Obs: Lembro de ler que o compositor Arnold Schönberg desenvolveu uma técnica entre o canto e fala chamada sprechgesang. Mesmo em óperas anteriores é possível reconhecer esse tipo de canto falado. Todavia, não me sinto gabaritado a entrar nesta esfera erudita.

Gil Scott-Heron
O primeiro nome que me vem quando penso em spoken word é o lendário Gil Scott-Heron, hoje muito associado as origens do rap por conta do seu estilo de cantar, mas também devido os temas de contestação presentes em suas letras. Por mais que "The Revolution Will Not Be Televised" seja um clássico, recomendo também dar atenção para outras faixas de seu ótimo repertório. O disco Pieces Of A Man (1971) é maravilhoso.

The Last Poets
Conheci esse grupo de poetas do Harlem lendo uma lista dos álbuns prediletos do David Bowie. Talvez mais até que o Gil Scott-Heron, muito da origem do hip hop está aqui.

Saul Williams
Um rapper atual que faz excelente uso do spoken word é o Saul Williams. É claro, tantos outros também fazem, mas o fato dele estar mais ligado a poética e ao discurso que propriamente a questão sonora/musical, coloca ele em destaque.

Grandmaster Flash
Para encerrar a questão do spoken word no hip hop, trago "The Message" do Grandmaster Flash, faixa que praticamente definiu a estética do rap. Posteriormente muitos outros artistas do gênero viriam a fazer uso do canto falado, mas todos são variação disso aqui. Melle Mel fez escola.

Serge Gainsbourg
Tão talentoso quanto canastrão, o grande Serge Gainsbourg conseguia com seu canto falado soar viril e encantador, principalmente diante de composições e arranjos majestosos. Vale notar que Jane Birkin também fazia uso do recurso, parecendo suspirar no pé do ouvido, soando libidinosa.

Frank Zappa
Embora o Zappa fosse um instrumentista espetacular, compositor brilhante e dono de letras sagazes, ele tinha pouca capacidade vocal. Uma das saídas que ele encontrou foi fazer uso do spoken word. Não poderia ter dado mais certo.

Lou Reed
Assim como Zappa, Lou não era dono de uma grande voz, mas escrevia como poucos. Sendo assim, declamava com personalidade letras densas que narram o submundo sombrio de prostituas e drogados.

Kraftwerk
Acho interessante como o Kraftwerk não apenas fez uso do canto falado, como aplicou o recurso de maneira robótica. Aqui está a raiz para o que futuramente veio a fazer o Daft Punk, vide "Technologic".

Jello Biafra
Embora o Biafra sempre tenha tido excelentes performances à frente do Dead Kennedys, sua sagacidade com a palavra é mais forte que o desempenho vocal. Com isso, sua transição para o mais puro spoken word em carreira solo foi muito bem sucedida. Inteligente e engraçado.

Slint
Com seu instrumental denso e climático, o spoken word caiu muito bem no post-rock, sendo as canções do Slint exemplos dessa inclinação no estilo.

Arrigo Barnabé
O canto falado está presente em toda a vanguarda paulista, basta observar o Itamar Assumpção ("Prezadíssimos Ouvintes") e o Grupo Rumo ("Minha Cabeça"), sendo que o Luiz Tatit é um verdadeiro estudioso sobre a questão da fala na canção brasileira. Todavia, são as narrativas que misturam história em quadrinho com Gil Gomes do Arrigo Barnabé que mais fazem a minha cabeça.

Cordel do Fogo Encantado
A tradição dos cantadores e da literatura de cordel se faz presente na voz do Lirinha. Sua interpretação é sempre apaixonada.

Anthony Joseph
Para finalizar, um ótimo exemplo do spoken word atual fora do hip hop. É bem bacana.

Um comentário:

  1. Ótimo apanhado, feliz em conhecer o blog!

    Deixo link para o meu também, obrigado!

    http://thedaringartof.blogspot.com.br/

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