terça-feira, 30 de maio de 2017

TEM QUE OUVIR: Creedence Clearwater Revival - Bayou Country (1969)

O Creedence foi um grupo de acensão rápida e isso se deu através de um medida prática. Após um bom disco de estreia, mas sem grande repercussão, os integrantes apostaram todas as suas fichas no John Fogerty. O resultado foi alguma das canções mais icônicas do rock americano.


Bayou Country (1969), apesar de capa psicodélica, não faz concessão a cena que despontava em São Francisco, sendo na verdade uma volta as origens, bebendo diretamente na fonte do blues e da música country, como pode ser visto na longa "Graveyard Train", onde John Fogerty canta com visceralidade impressionante. Já em "Penthouse Pauper" é seu domínio feroz na guitarra que chama atenção.

Impossível não se sentir energizado ao ouvir a acachapante versão para "Good Golly Miss Molly" ou o épico sulista "Keep On Chooglin'". Envolvente é também a levada acústica de "Bootleg".

Compositor de mão cheia, John Fogerty confeccionou dois hits: "Born On The Bayou" (dona de ótima linha de baixo e três insistentes notas de guitarra que embalam a canção) e "Proud Mary" (tocada até hoje nos botecos mais sujos de tiozinho rockeiro). Clássico!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

3 LANÇAMENTOS QUE MERECEM SUA ATENÇÃO

Post dessa semana no Maria D'escrita

Toda segunda-feira trago aqui ao blog um texto saudosista (Ex: 40 anos do punk rock). Hoje farei diferente. Eis três lançamentos que merecem ser escutados. Estão longe de serem os melhores do ano (deixa esse tópico para dezembro), mas ainda assim merecem destaque. Vamos a eles:

01: Kendrick Lamar - DAMN.
Disco ultra aguardado, lançado há pouco mais de um mês, mas que devido a velocidade da informação parece já ter sido esquecido. Após o já clássico Pimp To A Butterfly, o rapper mais talentoso da nova geração mostrou que não é possível acertar sempre. Não que o álbum seja ruim, longe disso, mas está também longe do hype que o cerca. Se o single "HUMBLE." elevou as expectativas, o restante do trabalho parece não ter a mesma força. Não se trata simplesmente de ser mais pop, mas de ser menos inspirado e arrojado. Todavia, vale escutar e, até mesmo, se surpreender com algumas faixas, vide a pesada "DNA." e "XXX.", essa última com participação do U2, sendo a melhor coisa que o grupo fez em mais de uma década.

02: Criolo - Espiral de Ilusão
Seus detratores podem esbravejar, mas ele segue sem errar. Dessa vez apostou no samba e soou legitimo. Se via o rap ele traz uma sonoridade brasileira inovadora/agregadora ao estilo, no samba ele não inovou. São os mesmos violão de 7, cuíca e crônicas bem humoradas tradicionais do gênero. Já com seu canto ele parece remeter a cada a faixa a diferentes personagens (ou até mesmo a diferentes interpretes do passado). Belo trabalho.

03: Harry Styles - Harry Styles
Sempre soube do sucesso do One Direction, mas nunca me atentei à música do grupo. Sem preconceito, é conceito mesmo: não foi feita para mim! Todavia, li seguidamente que o álbum de um tal de Harry Styles (que só depois  fui saber que é/era integrante do One Direction), estava em primeiro lugar em 80 países. No Spotify, ele tem mais seguidores que Justin Bieber, Beyoncé, Beatles, Michael Jackson e até mesmo que seu antigo grupo. Decidi dar uma chance! É um pop rasteiro, com referência tanto do rock de arena (de refrães pegajosos para cantar junto) quanto de psicodelia (nos singelos arranjos). Não é um disco ruim, mas passa longe da maravilha que muitos estão dizendo. Todavia, ao saber que ele tem apenas 23 anos e tanto alcance, dá para esperar algo melhor no futuro. Se você não for fã do menino, ouça sem preconceito. Se já é fã (tipo a Letícia Sande, que pediu um review do disco), ouça sem pré bajulação. Em ambos os casos é possível se surpreender. Já tá ótimo!

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Yé-Yé Girls: Jovem, divertido e sexual

Nessa de me aventurar por playlists do Spotify, uma em especial teve grande rotação em meus canais auditivos nos últimos dias. Me joguei na música pop francesa feita na década de 1960, dando prioridade para as músicas interpretadas por garotas, muitas delas beldades do cinema.

O estilo é mais uma entre tantas respostas aos Beatles. Algo como uma Jovem Guarda francesa, só que com mais dinheiro injetado (resultando em ótimas gravações e arranjos de enormes orquestras), além de parecer livre de tabus sexuais (com direito a gemidos, vozes ofegantes e capas sensuais). É uma maravilha!

Deixarei aqui alguma faixas destaque para quem quiser pesquisar sobre o gênero!

Brigitte Bardot - Moi Je Joue

Brigitte Bardot - Ne Me Laisse Pas L'Amier

France Gall - Poupee De Cire, Poupee De Son

Sylvie Vartan - La Plus Belle Pour Aller Danser

Jacqueline Taieb - La Fac De Lettres

Gillian Hills - Zou Bisou Bisou

Jane Birkin - Orang Outan

Françoise Hardy - Tous Les Garcons

quinta-feira, 25 de maio de 2017

TEM QUE OUVIR: Led Zeppelin - Led Zeppelin IV (1971)

O que ainda não foi dito sobre Led Zeppelin IV? Nada. Por isso, só para deixar registrado, discorrerei brevemente sobre o álbum do quarteto inglês que definiu muito do que foi feito posteriormente no hard rock e heavy metal, reunindo hits radiofônicos que fazem parecer que estamos diante de uma coletânea.


Se o trabalho anterior do grupo focou em elementos acústicos e, de certa forma, experimentais, Led IV é muito mais direito ao ponto. A começar pela clássica "Black Dog", dona de riff envolvente do Jimmy Page, bateria pesada e "de freio de mão puxado" do John Bonham, além de pausas que deixam espaço para a voz sexy do Robert Plant, com direito aos berrinhos "oh yeah" e "hey baby" tão característicos.

Na sequência temos "Rock N' Roll", um ode ao estilo, de introdução voraz de bateria e refrão emblemático. A faixa só não é mais icônica que "Stairway To Heaven", um épico que passeia por linda introdução de violão (chupada de "Taurus" do Spirit), flauta doce, dinâmica crescente e um dos solos de guitarra mais emblemáticos da história. Oito improváveis minutos feito para as rádios.

Impossível também não mencionar as tolkianas "Misty Mountain Hop" - onde John Paul Jones rouba a cena tanto nos teclados quanto na poderosa linha de baixo - e a balada folk "The Battle Of Evermore". Mas o destaque acústico é mesmo a belíssima "Going To California", uma das mais doces canções do Led Zeppelin.

De sobra ainda temos a tribal "Four Sticks" - as duas baquetas em cada mão que Bonham usou para gravar a faixa justificam o nome da canção - e "When The Levee Breaks", um blues dark e reverberoso.

Além do repertório acima de qualquer suspeita, Led IV ainda traz como curiosidade a primeira utilização dos quatro famosos símbolos que representam cada integrante. Toda a mitologia por trás do grupo estava criada. A banda agora pertencia aos estádios.

terça-feira, 23 de maio de 2017

MALLU MAGALHÃES E A PROBLEMÁTICA DO "SAMBA DE BRANCO"

Post dessa semana no Maria D'escrita

Mallu Magalhães lançou nova música. Batizada "Você Não Presta", a canção é um "sambinha" insosso, feita para a classe média que adora declarar seu amor pela cultura brasileira. Neste propósito a música funciona. Vale tanto quanto um par de havaianas. Se bobear pode também ser exportada.


Posso listar uma série de defeitos estéticos que me fazem não gostar da faixa: a dicção da Mallu é péssima (o que ela diz logo na primeira frase?), sendo sua interpretação tão contagiante quanto um jogo de dominó. Acho a letra bobinha (pesquisei depois na internet, já que como frisei, através do canto da Mallu eu pouco havia entendido). Além disso, reconheço certa caricatura no arranjo e na melodia. Não me agrada não por ser samba, mas por ser ruim. Todavia, não sou o público da cantora e defendo o direito dela fazer o que quiser, ainda que eu ache uma porcaria.

Mas nem todos pensam assim. A Rena me contou do patrulhamento que a Mallu sofreu na internet. Entre os argumentos desta critica está desde a "utilização estereotipada" de negros no videoclipe, até o absurdo de que "branco não deve fazer samba". 

Claro que esse tipo de posicionamento pouco muda os fatos: ela vai continuar com suas músicas e seus detratores vão continuar esbravejando. Quem dera toda censura fosse assim. Todavia, não deixa de ser temerária essa fiscalização moral e estética que nada interfere no âmbito social.

Para não me estender muito no assunto, vou direito ao ponto, listar 5 grandes momentos de "samba de branquelo". Todos fazendo jus a essa nobre arte, coisa que a Mallu não foi capaz.

01: Noel Rosa
Para muitos o maior compositor brasileiro, Noel Rosa fez a ponte entre o morro e o asfalto, sendo um cronista sem comparação. Foi regravado por Aracy de Almeida, recebeu arranjos de Radamés Gnattali e é sem dúvida um dos pontos altos da nossa cultura popular.

02: Adoniran Barbosa
Patrono do samba paulista, Adoniran interpretava com voz rouca (com traços de tabaco) e linguajar informal suas canções tão melancólicas quanto divertidas. Seu disco de 1974 retrata século de cultura proletária imigrante numa só obra.

03: João Bosco
Filho de pai libanês, João Bosco compôs ao lado de seu parceiro Aldir Blanc algumas das maiores pérolas do samba, sendo inclusive regravado por Elis Regina (outra branca). Seu violão é de inegável riqueza rítmica, harmônica e melódica. O perfeito encontro da origem afro do estilo com uma riqueza jazzistica contemporânea.

04: Marisa Monte
Ainda que não que se limite ao repertório do samba, Marisa Monte ganhou parte de sua notoriedade interpretando canções de Paulinho da Viola, Jamelão, dentre outros. Alguém duvida que ela faz isso muito bem?

05: Douglas Germano
Para não ficar no passado, eis o Douglas Germano, compositor excelente que já teve suas canções regravadas por Elza Soares e Criolo. Embora pouco comentado, Golpe de Vista (2016) é um dos melhores discos nacional lançado nos últimos anos.

Com esse texto não pretendo esconder as matrizes africanas do estilo ou desqualificar os músicos do morro carioca majoritariamente negros. É mais uma resposta ao patrulhamento que ignora as inserções culturais e a liberdade artística.

TEM QUE OUVIR: Ryan Adams - Heartbreaker (2000)

Por mais que busque novas tendências globais, o mercado musical americano sempre fomenta em paralelo compositores que preservem suas raízes. Na virada do século, Ryan Adams se consagrou como um dos mais importantes nesse sentido.


Vindo de fracassos comerciais com a boa banda de alt-country, Whiskeytown, além de relação problemática com a bebida, Ryan afastou-se de todos e focou sua energia na carreira solo. O resultado foi Heartbreaker (2000).

Como um trovador solitário, acompanhado de um violão, maço de cigarro e doses de álcool, trancou-se num estúdio em Nashville e elaborou canções que passeiam pela sonoridade dos Byrds, Beatles, Don McLean, Bob Dylan e Neil Young, O resultado foi tão bom que ele conseguiu contar com a participação de Emmylous Harris (ícone da música country americana) na chorosa "Oh My Sweet Carolina".

Mas o disco reserva momentos melhores, a começar pela entorpecida crueza de "To Be Young (Is To Be Sad)", de refrão não menos que contagiante. Essa faixa, junto da rockeira "Shakedown On 9th Street", são exceções no repertório, tendo em vista que o álbum se concentra em doces e dolorosas acústicas baladas.

O aspecto confessional das letras somado a percepção melódica apurada resultada em maravilhas como "My Winding Wheel", "Amy", "Bartering Lines", "Call Me On Your Way Back Home" e "Why Di They Leave?". Tais faixas contam com a colaboração de Gillian Weich e David Rawling, além de arranjos concisos e perfeitos.

Heartbreaker não vendeu muito, mas trouxe prestigio, o que possibilitou a continuidade de sua carreira, que com o passar dos anos se mostrou prolifera.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Vital Farias, Ray Conniff, Buddy Miles e The Jim Carroll Band

VIRAL FARIAS
Vi uma entrevista do José Ramos Tinhorão em que, entre suas habituais criticas a bossa nova e ao tropicalismo, ele comentou a excelência desse compositor que eu não conhecia. Ainda prefiro o tropicalismo, mas vale a pesquisa.

RAY CONNIFF
Pois é, é ele mesmo. No poeiraCast o Ricardo Alpendre recomendou o disco Hi-Fi Companion do velhinho, então dei uma chance. É easylistening muito bem feito e divertido. Já a capa é digna de emoldurar.

BUDDY MILES
Claro, conhecia seu trabalho com o Hendrix, mas acreditam que eu nunca tinha escutado seu disco solo? É espetacular. A capa é TOP 10.

THE JIM CARROLL BAND
Uma espécie de Lou Reed, só que ainda mais punk (se é que é possível). Não conhecia, mas gostei do que ouvi.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Reign In Blood, do Slayer

Chega de brincadeira com a Renata! Vou levar a relação ao extremo.

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

“Em algum momento ia ter que acontecer” Foi assim que o Juliano me avisou que o disco que eu analisaria essa semana seria o Reign In Blood do Slayer. Acreditem ou não, mas nunca ouvi os caras, apesar de saber da fama de ser uma banda de rockdosatãcomedoresdecriancinhas.

Abaixei o volume e dei o play em "Angel Of Death". Percebi que com volume baixo a experiência não seria completa e tratei de botar logo pra fuder. Deu tempo de acompanhar um solo de guitarra (Alô Paula Toller!) maneirinho ao final da música. Gostei, juro!

"Piece By Piece" me faria perder vários quilinhos na esteira. Vocês já pensaram em como essas músicas dão um gás para fazer academia? Sempre achei essas músicas desgraçadas ótimas para o momento fitness. Voltando ao som, também gostei.

O problema é que no meio de "Necrophobic" eu comecei a sentir um twin na cabeça e tudo que eu queria era dar um pause na música. Resolvi aguentar e admito que precisei diminuir um pouco o volume. Vocês ouvem esses caras por quanto tempo ininterruptamente? Me add, vamos falar sobre essa artimanha.

"Jesus Saves" e "Criminally Insane" têm a tarja de “explícito” e não pude deixar de procurar a tradução delas e, sinceramente, achei engraçado. Não consigo levar essas letras a sério. É pra levar?

Ah, a dor na cabeça continua. Mas não é um metalzinho que vai me fazer arregar. Não sei bem porque, mas "Epidemic" tem algo que me lembra a música dos Power Rangers (o original, claro). A trilha era deles? Risos.

Considerações finais: Apesar de ter confirmado que a música não é para mim, acho incrível a qualidade desses caras que tocam tão rápido. Acho muito doido a velocidade e bla bla bla. Deve ser um comentário idiota, mas queria fazer.

Espero que o próximo disco seja bem tranquilinho, vou precisar tomar um remédio pra dor de cabeça depois desse texto.

Nota: 6,5 na escala enxaqueca.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Biffy Clyro, Eduardo Dussek, Nekromantix e Stereophonics

BIFFY CLYRO
Não gostei do último disco do grupo, mas vi essa apresentação no Jools Holland e achei muito boa.

EDUARDO DUSEK
Sempre ouvi sobre como o Dusek (ou Dussek?) era subversivo dentro do cenário BRock carioca, então decidir pegar um disco para escutar. O escolhido foi Olhar Brasileiro (1981). Resultado: Gostei muito! Nem sei se é BRock. Tá mais para a "música popular brasileira" sendo apropriada pela juventude. Quase como uma resposta do Rio para a vanguarda paulista. Ótimas composições.

NEKROMANTIX
Uma continuação na minha pesquisa sobre psychobilly.

STEREOPHONICS
Ouvi uma vez: achei bem legal. Ouvi outra vez: achei um saco. Alguém quer tirar a prova?

sexta-feira, 5 de maio de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Alceu Valença, Hank Williams, Jean-Luc Ponty e Lee "Scratch" Perry

ALCEU VALENÇA
Sempre ouvi falar sobre o emblemático disco Vivo! (1976) do Alceu, mas somente agora ouvi. Achei irregular, embora os pontos altos sejam bem bons. Agora, fantástico mesmo é o álbum Espelho Cristalino (1977). Tem violas não menos que espetaculares (assinadas pelo Ivinho e Paulo Rafael). É também uma amostra da interferência da cultura moura dentro do regionalismo brasileiro. 

HANK WILLIAMS
Um ícone da música americana que é sempre bom dar uma reouvida. Adoro seu canto, suas composições e as guitarras. Alias, alguém sabe informar quem gravou os solos de guitarra (seria o próprio Hank)? Tem alguns muito bons.

JEAN-LUC PONTY
Vi um post do Frank Gambale falando o quanto o disco Enigmatic Ocean (1977) foi importante para sua formação musical. Na guitarra está o recém falecido Allan Holdsworth. Vale destacar ainda as passagens do baterista Steve Smith.

LEE "SCRATCH" PERRY
Me bateu vontade de ouvir dub. Como não conheço muito do estilo, parti para o óbvio.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

TEM QUE OUVIR: Wu-Tang Clan - Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993)

No começo da década de 1990, o hip hop havia virado seus holofotes de Nova Iorque para a costa oeste dos EUA. Todavia, o berço de grupos como o Public Enemy logo voltou a reivindicar seu protagonismo com o lançamento de Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993).


Liderado pelo produtor/maestro RZA - uma espécie de George Clinton do hip hop -, o Wu-Tang é mais que um grupo, sendo na verdade um coletivo de MC's que uniu os bairros mais afastados de Nova Iorque (mais precisamente de Staten Island) entorno da sua produção agressiva, vide o som literalmente de lata de tinta somado ao timbre de caixa em "Bring The Ruckus", um dos beats mais cabulosos da história do hip hop.

Faixa a faixa, temos dez MC's disputando espaço em versos que envolvem conflitos sociais, o amor pela maconha e até mesmo simples e divertidas ofensas que, ao contrário do que acontece em outros grupos, no Wu-Tang não cai na mesmice devido as particularidades de cada integrante. Deste modo, é interessante brincar de escolher o MC predileto em cada música. Exemplo: na violenta, funkeada e criativa "Shame On A Nigga", o destaque vai para os vorazes Raekwon e Ol' Dirty Bastard. Já em "Clan In Da Front" quem rouba a cena é o GZA. E independente de quem fosse melhor nos versos - sempre sob olhar de RZA -, financeiramente o êxito era compartilhado igualmente. Competição sadia em prol da música é isso.

Com tantas personalidades em jogo, a clássica "Protect Ya Neck" destaca-se por reunir todas, embora seja possível apontar os versos do Method Man e GZA como os mais inspirados. Seu beat grave e piano sinistro é um passarela para os rappers.

Se em "Can It Be All So Simple" (que baixão!) o Ghostface Killah ressalta o valor da música como uma alternativa para o crime, por outro lado, a interpretação eufórica de U-God em "Da Mystery Of Chessboxin'" é explicada devido o pouco tempo que ele teve para gravar a faixa, já que foi captada numa brecha de sua condicional. Deste modo, fica ao ODB, Ghostface e Masta Killa os versos mais intrincados.

A dobradinha "Wu-Tang Clan Ain't Nuthing Ta F' Wit" e "C.R.E.A.M." - dona de uma das melodias de piano mais memoráveis da história do hip hop -, é daquelas pra levantar a pista sob o flow frenético e ganchudo dos envolvidos. Clássicos.

Intercalando as canções, é possível ouvir vinhetas de filmes de artes marciais japoneses e diálogos improvisados pelos próprios integrantes, o que dá uma sensação cinematográfica ao disco. O auge disso acontece na introdução da memorável "Method Man".

RZA soube gerir diversos talentos com sabedoria, sendo que muitos se destacaram em suas respectivas carreiras posteriormente. Todavia, é este disco que representa o retorno de NY ao centro do hip hop.