quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

RETROSPECTIVA 2017: Tem que conferir

Sabe aquele grupo/artista que não lançou um grande disco, mas soltou uma música legal que não pode passar despercebida numa retrospectiva, seja por ter tocado muito (é agora que postarei os hits de qualidade duvidosa), por apontar novos horizontes, por ter um clipe divertido ou simplesmente pela música ser bacana? Pois então, são essas faixas que reúno neste post. Vamos a elas:

Obs: Tais músicas não são necessariamente as melhores do ano, até porque exclui deste post as grandes músicas que estão dentro dos grandes discos. Estão aqui as faixas isoladas que merecem atenção.

Está em ordem do que fui lembrando. Em vídeo só realmente as que gostei.

Bruno Mars - That's What I Lke
Por vezes acho que o Bruno Mars tenta muito emular o passado, de forma que vi com certa surpresa o "peso" contemporâneo dessa produção. O resultado é uma tremenda música pop.

Camila Cabello: Havana
A música é chatinha, mas ela é apaixonante. Fez muito sucesso.

Cérebro de Galinha: Vídeo do Cafofo
Melhor vídeo do ano! Bombou do nada. Hardcore/grind feito em meio os escombros. Sensacional!

Dua Lipa: New Rules
Não tive interesse em ouvir o disco da moça, mas ela tá bem hypada. É o POP com letras garrafais. A música é bacana, o vídeo é muito bonito e ela é apaixonante.

First Aid Kit: You Are The Problem Here 
No Dia Internacional das Mulheres, o duo solta essa canção de letra forte e consistência sonora. Muito boa.

Katy Perry: Swish Swish
O tal vídeo com a Gretchen. A típica piada que perde a graça muito rápido.

Kendrick Lamar: HUMBLE.
Baita música e clipe. Pena que o resto do disco não acompanhou o êxito. Mas fica aqui o destaque.

Luis Fonsi: Despacito
O grande hit do ano. Aquele calor latino tão bem-vindo em uma canção meio bosta, mas que não vem ao caso. O lance é que foi sucesso.

Major Lazer feat. Pabllo Vittar e Anitta - Sua Cara
Daqueles encontros que fazem grande barulho, onde a galera já acha que o Brasil vai virar o centro da música pop mundial. 

MC G15: Me Deu Onda
O famoso hit de verão (tocou sucessivamente de dezembro ao carnaval). Os arautos da moralidade acharam uma baixaria. Os músicos ficaram discutindo se há politonalidade ou não. O grande público cantou/dançou pouco se importando com tudo isso. Eu, particularmente, achei a música bem chata, mas...

MC Beijinho: Me Libera Nega
O rapaz foi detido, cantou a música no carro da polícia, Caetano aplaudiu e pronto: eis a fórmula da canção. Tão ruim que é simpática, mas nada sério.

MC Dennin: Vicie Nessa Garota (DJ João, DJ Lukinha e DJ TG da Inestan)
Funk mineiro em mais uma pérola. Os agudos e graves do beat, os espaços vazios, a melodia oriental, o sotaque, a letra... quem não gosta tá errado.

MC Don Juan - Ôh Novinha
Das faixas mais legais de funk deste ano. Atente-se ao diálogo com o técnico/produtor, a variação do beat, o vai e vem do arranjo, os buracos do instrumental... ou seja, a não linearidade da faixa. Fora que a letra é ganchuda. O clipe também não é de se jogar fora.

MC Kevinho e Léo Santana - Encaixa
Fusão interessante de arrocha com o funk e pagode baiano. Bem legal os elementos rítmicos. Não é uma parada que vou ficar ouvindo, mas acho maneiro.

MC Lan (DJ Bruninho Beat): Eh Xuliana
O funk e seu mundo próprio. Não ouso fazer maiores observações.

MC Rick: Eu Quero É O Toba (DJ Cheab)
Mais uma vez o funk mineiro explicito e fixante. Vale observar as referências (talvez inconscientes) de música ambient e minimal. Ouça sem moralismo e perceba sua proposta inusitada para o funk.

MC Wellerzin: Pablo Escobar (DJ Swat)
DJ Swat não perdoa. Isso aqui corrói a mente. Melódico, insistente, cristalino e minimal. Que beat estranho!

Migos ft Lil Uzi Vert - Bad And Boujee
Não sei se gosto. Curto o grave e o beat sinistro, mas sei lá, esse flow. 

O Terno: Não Espero Mais
Clipe bem divertido. Aliás, como eles são bons nisso, não?

Pabllo Vittar: K.O.
Mais uma que tocou demais esse ano. Não curti não, mas ok, não vou lutar contra.

Playboi Carti, XXXTentacion, Ugly God & Madeintyo's (2017 XXL Freshman Cypher)
Tava tudo indo muito bem, até que chega o XXXTentacion (aí só consigo ver graça, não consigo levar a sério). Mas no geral é bem legal.

Seu Jorge: Life On Mars 
Sua versão para a música do Bowie já era conhecida, mas esse vídeo no KEXP nos fez relembrar dela novamente. Bem legal.

Simone & Simaria ft. Anitta: Loka
Vou ser bem sincero: acho essa música legal. Isso basta. Dane-se qualquer análise técnica.

Tommy Cash: Surf 
É um clipe sexualmente doidão. A música também não deve em nada. Legal.

Prudente Madalena (2017)
Leia a descrição do próprio vídeo. Pra quem é de São Paulo, tem um apego extra.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

RETROSPECTIVA 2017: Shows do ano (entre os que vi, claro)

Está cada vez mais inviável listar os melhores shows do ano. Isso ocorre devido a dificuldade que é ir aos espetáculos. Coloque neste pacote o preço exorbitante dos ingressos, a dificuldade que é se deslocar por São Paulo, falta de tempo e até mesmo a preguiça de aguentar um público cada vez mais mal educado. Todavia, consegui ver alguns bons shows, na qual falarei neste post.

Vale lembrar alguns shows interessantes que rolaram no Brasil e que eu perdi: BADBADNOTGOOD, Snarky Puppy, Kamasi Washington, Thundercat, Raekwon, The World Is A Beautiful Place & I Am No Longer Afraid To Die, Acid Mother Temple, DIIV, The Black Angels, Vapors Of Morphine, Carcass, King Diamond, Lamb Of God, Testament, Stoned Jesus, Basement, The XX, Parquet Courts, Duran Duran, Slowdive, Sigur Rós, Arcade Fire, Alice Cooper com Arthur Brown, Lucifer's Friend, Magma, David Cross, Ace Frehley, Paul Gilbert, Steve Vai, Animals As Leaders, Sonny Landreth, Paul McCartney, Cheap Trick, Renaissance, 10.000 Maniacs, Chick Corea com Steve Gadd Band, Ryuichi Sakamoto, Philip Glass, John Mayer, Sting e U2.

Sem mais conversa fiada, lembro que no começo do ano tive a oportunidade de ver o encontro do Hermeto Pascoal com o Heraldo do Monte, ambos lendas do jazz nacional (ou até mesmo mundial) que fizeram história juntos no maravilhoso Quarteto Novo. O que poderia ser um show acomodado de artistas consagrados virou uma aula de improvisação, criatividade, musicalidade e simpatia. Impressionante!

Embora completamente oposto em termos sonoros, igualmente impactante foi ver a apresentação do Ratos de Porão, especialmente num buraco que não cabia 150 pessoas. Apesar de adorar a banda, nunca os tinha visto ao vivo. E a partir do que vi neste show posso dizer com tranquilidade: o Ratos de Porão é a maior banda ao vivo do Brasil na atualidade. Intenso, pesado e impressionantemente bem tocado. 

Assim como nunca tinha visto o Ratos, outra divida que paguei esse ano foi ir numa "balada" (ainda se usa essa palavra?) na Augusta ver o espetacular DJ Marky. Em tempos de Alok, a apresentação vale como um exemplo de como a música eletrônica pode ser jovem e criativa sem se submeter ao entretenimento barato. 

Na já tradicional Virada Cultural, presenciei uma única e espetacular apresentação: Juçara Marçal ao lado de Kiko Dinucci, Cadu Tenório e Rodrigo Campos no que eu chamo de o clã mais criativo da música brasileira da última década. Ótimas letras, performance vocal extraordinária, arranjos nada convencionais, barulhos enlouquecedores... é o fino da música nacional!

Outro evento bem legal que vem ocorrendo em São Paulo é O Dia Da Música, onde tive a oportunidade de ver o bom show do E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, a performance intensa do Jupiterian, a lendária Patife Band, um show emotivo do Ludovic e o Macaco Bong se mostrando extremamente poderoso ao vivo. Parabéns para todos os envolvidos, principalmente para galera da Sinewave.

Assisti também uma apresentação dos Novos Baianos, mas devo confessar que, apesar de adorar a banda, achei o show careta demais. O repertório poderia ser melhor. Sem contar que os membros não pareciam confortáveis com a reunião. Mas valeu como momento histórico.

Hélio DelmiroEntretanto, histórico mesmo for ter a oportunidade de na minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, assistir o lendário guitarrista Hélio Delmiro numa performance intimista no Beco das Garrafas, o templo da bossa nova. Seu cuidado ao lixar as unhas antes da apresentação foi de uma dedicação/seriedade/respeito emocionante. Isso sem falar no seu fraseado bebop, harmonias intricadas, chord melody perfeito, dedilhado virtuoso e o bend mais legal da guitarra brasileira. Foi lindo.

Ah, vi também uma apresentação do Jorge Ben, que ao lado do Skank e da Céu num evento gratuito, tinha tudo para ser uma cafonice, mas foi bem divertido. É o pop nacional perfeito.

De internacional, vi uma apresentação bacana no Joe Satriani, que me levou a várias reflexões, mas que honestamente não me emocionou muito. Escrevi mais sobre o show em outro post (leia aqui).

Assisti também uma performance intensa do Neurosis. A banda em cima do palco entregou seu som denso, pesado e paranoico como esperado, mas achei incrível como, mesmo em um show de uma banda de metal alternativo, existem aqueles manés que vão achando que é balada e não conseguem calar a boca. Por sorte eles foram abandonando o espaço conforme o show ia evoluindo, sendo seu final uma catarse digna do que seus fãs esperavam. Vale destacar abertura barulhenta do Deaf Kids.


Agora, espetacular mesmo foi o show do The Who. Vou até me abster de comentar a apresentação classuda do The Cult, porque diante do The Who, não teve para ninguém. É difícil até colocar em palavras a força que tem as composições do Who. Fora a performance inacreditável de Pete Townshend e Roger Daltrey. Histórico e majestoso!


Tão boa quanto foi a apresentação da encantadora PJ Harvey num teatro aconchegante. Sem dúvida um dos shows mais performáticos que já assisti. Sua banda de apoio é esplendida. Com o repertório baseado nos seus dois excelentes últimos discos, ela se mostrou madura, inquieta, inteligente e dona de uma voz impressionante. Foi um show intenso e elegante.


Claro, perdi muita coisa legal, mas feito o balanço final, acho que foi um ótimo ano no quesito shows. Que venha 2018!

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

TEM QUE OUVIR: Neurosis - Through Silver In Blood (1996)

Tempos atrás eu li o excelente livro Nós Somos A Tempestade - Conversas Sobre O Metal Alternativo Dos EUA, do Luiz Mazetto. Entre bate-papo com integrantes do Eyehategod, Buzzoven, Isis, Mastodon, Baroness, Converge, The Dillinger Escape Plan, Down, dentre outras excelentes bandas, um disco pareceu ser unanimidade. Me refiro ao Through Silver In Blood (1996) do Neurosis.


O que difere o Neurosis de outras bandas de heavy metal é a densidade paranoica de suas canções. Veja por exemplo a faixa "Though Silver In Blood", que cresce a partir de ritmos tribais e melodia misteriosa, culminando numa explosão densa de riffs fantasmagóricos e vocais desesperados.

Faixas como "Purify" e "Enclosure In Flame" mais parecem épicos vindos não do inferno, mas sim do núcleo terrestre, tamanha é a energia abrasiva das composições/execução.

A força de "Eye" chega até mesmo a nos fazer duvidar da inventividade/agressividade do Sepultura. Já "Locust Star" se apresenta através de seu video-clipe como cartão de visitas para o som claustrofóbico do grupo.

Esse é o primeiro disco do grupo a contar com as ambientações ruidosas do Noah Landis, que somada aos riffs doentios de Scott Kelly e Steve Von Till, criam o clima esquizofrênico de faixas como "Aeon".

Lembrando que todo esse peso troglodita e imundo é resultado também da produção do grande Billy Anderson. Eis o guia definitivo do post-metal/sludge.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

RETROSPECTIVA 2017: Bandas que voltaram / Bandas que acabaram

Assim como faço todo mês de dezembro, chegou a hora da retrospectiva do ano. Aguardem posts sobre os grandes lançamentos (e relançamentos), as decepções, as músicas que não podem passar despercebidas, os melhores shows vistos por mim, além de uma pequena homenagem aos ídolos da música que se foram.

Mas hoje falarei sobre as bandas que voltaram e as que encerraram as atividades. Sem mais delongas, vamos a elas!

BANDAS QUE VOLTARAM
Helloween
Goste ou não (no meu caso é não), é a banda mais importante do power metal/metal melódico. Eles saíram em tour com integrantes de todas as formações. Para quem é fã, deve ser legal ver Kai Hansen, Michael Kiske, Michael Weikath, Andi Deris... todos no mesmo palco. 

Barão Vermelho
Liminha morreu. Voltaram, mas sem o Frejat. O rapaz do Suricato entrou no lugar dele. Passou pouco mais de um mês e o Rodrigo Santos já saiu fora. Nem duvido que soe bem, mas ficou meio estranho.

The Shaggs
Aquela que já foi considera a pior banda do mundo, que de tão ruim tornou-se cult, volta para algumas apresentações em um festival com curadoria do Wilco. Achei divertido.

Jawbreaker
Reunião de uma das mais importantes bandas do emo noventista. Acho maneiro que aconteça. [1]

Cap'N Jazz
Reunião de uma das mais importantes bandas do emo noventista. Acho maneiro que aconteça. [2]

The Jesus Lizard
Caramba, tá aí um show que eu gostaria ver. Bandaça!

Não importa: Tribalistas

BANDAS QUE ACABARAM
Black Sabbath
Após uma bem sucedida volta, está tudo devidamente encerrado justamente onde começou. Foi ótimo. Obrigado.

The Dillinger Escape Plan
Após anos de sons violentos e shows nos mais diversos buracos ao redor do mundo, chegou a hora de dar um tempo (acredito que um dia voltam).

Disclosure
Anunciaram um hiato. Chuto dois anos para voltarem.

Patrulha do Espaço
A idade chegou para o Roland Castello Junior. Fizeram história e saíram de cena sem nenhuma atenção da grande mídia. Eis o rock nacional.

Oficina G3
Após o fim do Dr. Sin, mas uma banda que eu escutava na pré-adolescência anuncia uma pausa. O tempo é implacável. Será que o mercado do rock tá ruim até para as bandas gospel? Doidera.

Não importa: Strike, NX Zero, O Rappa e Tihuanna

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Léo Ferré, Sarah Vaughan e Superchunk

LÉO FERRÉ
Diretamente de Mónaco. Devo confessar que cheguei ao artista devido o conteúdo anarquista de suas letras, mas fui surpreendido pelo o todo de suas composições. Sua música tem o pé no erudito. Vale muito a pesquisa.

SARAH VAUGHAN
Escutando o disco Sassy Swing The Tivoli, que contém um registro ao vivo da Sarah Vaughan em 1963, cheguei a conclusão que, dentre tantas cantoras americanas de jazz, Vaughan foi a que mais influenciou as cantoras brasileiras. Elis Regina deve ter escutado muito.

SUPERCHUNK
Disco Come Pick Me Up (1999), pérola do rock alternativo noventista assinada por essa consistente banda. Talvez, o disco mais legal do grupo.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

TEM QUE OUVIR: Banda Black Rio - Maria Fumaça (1977)

Quando pensamos na música de 1977, o punk rock logo vêm a mente. Mas no Brasil, o som dos Ramones e Sex Pistols demoraria alguns anos para gerar frutos. Por outro lado, a black music brasileira vivia seu auge.


Tim Maia, Hyldon, Cassiano, Toni Tornado e Gerson King Combo já haviam começado a escrever a cartilha do funk e da soul music nacional, mas foi em meado da década de 1970, paralelo a disco music que eclodia nos EUA, que a Banda Black Rio consolidou a música negra no Brasil, principalmente após o lançamento do clássico Maria Fumaça, o primeiro a ser produzido pelo posteriormente guru do pop rock oitentista, Liminha.

Formado por nomes como Oberdan Magalhães (saxofone) e Barrosinho (trompete) - ambos recém saídos do grupo Abolição, que gravou com o Dom Salvador o cultuado Som, Sangue e Raça (1971) - além do excepcional Jamil Joanes (baixo), o grupo produziu o disco instrumental mais dançante do Brasil.

Logo de cara, o groove contagiante de "Maria Fumaça" traz uma brasilidade oriunda da gafieira carioca nunca antes vista no funk (e eu não estou esquecendo do Jorge Ben).

O ritmo desconcertante de "Na Baixa Do Sapateiro" comprova a qualidade técnica de todo o grupo. Todavia, no tema de "Mr. Funky Samba" é o baixo tão grooveado quanto melódico do Jamil Joanes que rouba a cena.

A banda mostra que também sabia interpretar canções de outros autores, vide as estonteantes "Baião"(Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira) e "Casa Forte" (Edu Lobo).

Após o sucesso deste disco, o grupo ainda gravou o também ótimo Saci Pererê (1980) e acompanhou nomes como Caetano Veloso e Raul Seixas. Hoje a Banda Black Rio sobrevive nas histórias dos bailes que promovia e. principalmente, através deste álbum, constantemente citado entre os prediletos de caras como Mano Brown e Ed Motta, além de sampleado mundialmente.

ACHADOS DA SEMANA: John Oswald, Jon Hendricks e Charles Manson

JOHN OSWALD
Você já ouviu falar de um "gênero musical" chamado plunderphonics? Pois é, eu até então também não. Ao que parece, é tudo fruto da cabeça desse John Oswald. Trata-se de amontoado de recortes de canções sobrepostas formando novas composições. É mais interessante e divertido do que propriamente "bom".

JON HENDRICKS
Li um texto emocionante do Caetano Veloso sobre o disco Salud! (1963) que o recém falecido Jon Hendricks gravou em homenagem ao João Gilberto. Embora até então não conhecesse o trabalho, devo confessar que foi uma das melhores interpretações da bossa nova feita por um gringo que eu já ouvi. Belo álbum.

CHARLES MANSON
O cara morreu, então sem qualquer juízo de valor pessoal peguei suas músicas para ouvir. Não é grande coisa. Vale só pela curiosidade. O Guns N' Roses gravou essa música abaixo:

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

TEM QUE OUVIR: Magma - Mëkanïk Dëstruktïẁ Kömmandöh (1973)

Uma das razões que me leva a uma obra artística é a de valorização dos sentidos. E não digo isso em tom blasé, mas como questão fundamental. E é justamente isso que oferece o grupo francês Magma, vide o seu cultuado Mëkanik Dëstruktïw Kömmandöh (1973), obra de características singulares.


Apresentado inicialmente como uma banda de rock progressivo, o Magma pouco lembra os artistas contemporâneos do estilo. Embora traga guitarras, baixo e bateria em sua formação, a instrumentação faz uso de elementos sinfônicos, que somado a flautas, clarinetes e pianos, muito se aproxima da música erudita. As vozes grandiosas e dramáticas arranjados em coro, também contribuem para essa percepção. Todas essas características são explicadas devida a influência do compositor Carl Orff em todo o disco, com destaque para "De Zeuhl Wortz Mekanik". Já na última faixa ("Kreuhn Kohrmahn Iss De Hundin"), é possível sentir toques à la John Coltrane.

Por trazer na liderança o baterista Christian Vander, o grupo tem um aprimoramento rítmico impressionante. Isso sem abrir mão de melodias sofisticadas, dinâmica variada e elementos sonoros que mais parecem construir uma nova arte delirante ao invés de simplesmente trabalhar a forma canção. Tais peculiaridades estéticas enquadram o grupo numa subdivisão do rock progressivo chamada Zeuhl, do qual, aparentemente, o Magma reina isolado.

Todavia, dentre tantas características bizarras, a mais diferente se dá no conceito, já que o grupo canta num dialeto próprio, nomeado kobaïan, oriundo do planeta fictício Kobaïa. Toda a trajetória do grupo se deu através desta língua, que somada ao instrumental sui generis, faz com que a banda pareça realmente interplanetária. Talvez seja. Escute o disco e tire suas conclusões.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Annette Peacock, Carlos Dafé e Michael Stanley Band

ANNETTE PEACOCK
Fiquei sabendo que essa cultuada artista nova-iorquina fez recentemente um show no SESC. Não conhecia e não fui no show, mas salvei o disco X-Dream (1978) para ouvir. Logo de cara a sonoridade da banda de apoio já me chamou atenção. Fui ver quem tocava no disco e me deparei como nomes como Mick Ronson, Chris Spedding, Bill Bruford e John Halsey. É espetacular!

CARLOS DAFÉ
Através de um comentário do Biofá (do canal Alta Fidelidade), cheguei a esse disco de estreia do Carlos Dafé. Há boas canções, sonzão da captacão, tremenda performance vocal... é um dos bons trabalhos da black music brasileira.

MICHAEL STANLEY BAND
O Régis Tadeu postou a capa deste disco (North Coast - 1981) no seu instagram e citou como um grande disco de power pop. Já que adoro Big Star e Cheap Trick, mas não conheço outros grupos do estilo, dei uma chance. Passa longe das bandas que citei, soando muito mais pasteurizada. Alias, tá mais para heartland rock do que power pop, mas ok.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O racismo e o rock

Uma publicação no Facebook da RÁDIO KISS FM me chamou atenção. Em homenagem ao "dia da consciência negra", eles postaram: 

"Agradecemos a Chuck Berry, Jimi Hendrix, Fats Domino, Little Richard, Bo Diddley, Phil Lynott, entre tantos negros que contribuíram e ainda fazem a história do Rock!!!".

Entre os citado, apenas o Little Richard está vivo (com avançados 84 anos) e o último a despontar foi o Phil Lynott (na longínqua primeira metade da década de 1970).

Sendo o público do rock majoritariamente conservador - retratado em comentários do tipo "negro não deve ter orgulho de ser negro, somos todos iguais" e "enquanto existir datas para comemora orgulho gay e negro, as coisas não mudarão e até lá será tudo mimimi", presentes no mesmo post - e tendo o estilo seu auge artístico/comercial no passado, até entendo essa predileção pelo clássico. Acho até melhor do que trazer nomes como o do Lenny Kravitz apenas para cumprir uma cota temporal.

Todavia, proponho uma reflexão não baseada no post da RÁDIO KISS FM, mas sim no quão os negros são excluídos no rock, gênero que tem suas raízes justamente na cultura negra do blues e da música gospel.

Não faltam nomes para aparentar uma falsa normalidade racial no estilo: Chuck Berry, Ike Turner, Jimi Hendrix, Otis Redding (tá mais para o soul), Sly Stone (tá mais para o funk), B.B. King (tá mais para o blues), Prince (tá mais para o pop), Gary Clark Jr. e Brittany Howard (olha a nova geração aí), além dos membros do Bad Brains, Living Colour, dentre outros. Grandes artistas, mas quantitativamente muito inferior aos brancos.

Quer mais um exemplo desta disparidade? Basta usar como objeto de análise o rock nacional. Conseguem pensar em outros artistas negros que não sejam o Clemente (Inocentes), Negrete (Legião Urbana), Rodrigo Carneiro (Mickey Junkies), Gilmar Bolla 8 (Nação Zumbi), Cannibal (Devotos) ou Ynaiã (Macaco Bong / Boogarins)? Eu honestamente não. Curiosamente, a maior parte deles é alternativo à grande indústria.

E não se trata de dar preferência a determinada raça na hora de escolher uma banda/artista para ouvir, mas sim de entender que o racismo está presente no rock.

"Mas o racismo é assim mesmo, atinge todas as áreas, não seria diferente no rock", prevejo nos comentários. Mas então por que esse racismo não se deu no rap, estilo que tem a mesma raiz negra do rock?

Talvez seja só uma questão de tempo, o suficiente para seu público envelhecer e "encaretar" (entenda "esbranquiçar"). Uma possível consciência social dentro do estilo também não pode ser descartada. Mas aposto em mais um triunfo da indústria do entretenimento, que usou de uma falsa legitimidade racial para lucrar em cima da população negra.

Negro é mais pobre que branco - a disparidade econômica é inegável -, mas tem muito negro, logo, tem muito dinheiro em jogo. Fora os brancos que, seja pela excelência musical ou por um possível juízo de valor de igualdade que queiram transmitir, são cooptados para o rap (e logo, para a indústria).

Em meio a esse debate envolvendo a inclusão racial nas artes, mais uma vez o capitalismo aparenta ser o único vitorioso.

Bad Brains

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Serestas

Essa semana me peguei ouvindo algumas serestas, gênero que praticamente desapareceu da música popular brasileira contemporânea. Eis alguns clássicos para aqueles que querem conhecer o estilo.

A Volta Do Boêmio

Negue

Chão De Estrelas

Carinhoso

Ronda

terça-feira, 7 de novembro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Roy Smeck, Steve Hillage e Charly García

ROY SMECK
Peguei um ukulele emprestado para dar uma arranhada. Fui então ouvir alguns trabalhos do virtuoso Roy Smeck para entender melhor a linguagem do instrumento. É bem bacana.

STEVE HILLAGE
Motivation Radio (1977). Terceiro disco solo do criminalmente subestimado Steve Hillage, guitarrista símbolo da cena de Cantebury, com passagem pelo Gong e Khan. Seus timbres são dos mais interessantes do instrumento. Já as composições são espetaculares. E como esse baterista (um tal de Joe Blocker que honestamente desconheço) toca, não?

CHARLY GARCÍA
Clics Modernos (1983) e Piano Bar (1984). Um amigo me recomendou esses discos do Charly García. Prefiro seus trabalhos anteriores, mas se for fazer a inevitável comparação com o que era produzido no Brasil no mesmo período, acho que fico com o Charly. É uma tremenda resposta latina à new wave.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

TEM QUE OUVIR: Fats Domino - This Is Fats (1956)

Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Little Richard são alguns dos mais aclamados precursores do rock n' roll. Entretanto, embora menos lembrado, Fats Domino é igualmente importante para as origens do estilo.


Fats teve impressionante sucesso na década de 1950, sendo uma das principais influências para caras como o Paul McCartney. Ele chegou a vender algo próximo a 65 milhões de discos (entre compactos e long play). Vale dizer que ele fez enorme sucesso inclusive na América Central. Seu LP This Is Fats, lançado em 1956, foi seu auge artístico e comercial, tendo sido crucial para a popularização e desenvolvimento do rock.

Esse assombroso sucesso se deve aos boogie-woogies contagiantes de "Blue Monday" e "Honey Chile", além das baladas dançantes "So Long" e "Poor, Poor Me", todas alimentadas por seu piano entorpecido, metais deliciosos e sua voz grave tão contida quanto expressiva. Fora "Blueberry Hill", um antigo standard que tornou-se definitivo na versão de Fats.

Símbolo de New Orleans, Fats Domino é o mais genuíno representante da primeira fase do rock n' roll. Sua música não perdeu o encanto.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Música em prol do vegetarianismo/veganismo

Sou vegetariano há pouco mais de dois anos. Entre documentários, artigos e palestras, fui apresentado inicialmente a essa ideologia através da música.

Já que hoje é o Dia Mundial do Veganismo, deixarei aqui algumas canções que abordam o tema. Quem sabe não seja a fagulha inicial para você adotar o veganismo (ou mesmo o vegetarianismo).

Obs: Apesar de eu acreditar que o veganismo é a melhor opção para os animais, os humanos e o planeta, não vou ficar aqui cagando regra. Cada um com suas escolhas.

The Smiths - Meat Is Murder
"Meat Is Murder" é não só o nome de uma música dos Smiths, mas também de um disco. A letra da canção, assim como as imagens que passam no telão durante as apresentações solo do Morrissey, impressionam mesmo os que comem carne. Vale lembrar que o Morrissey proíbe a venda de produtos de origem animal em seus shows.

Youth Of Today - No More
Os primeiros vegetarianos com que me relacionei eram ligados ao movimento hardcore straight edge. Sendo assim, eis aqui um clássico desta cena que sempre defendeu essa causa.

Heaven Shall Burn - Voice Of The Voiceless
Para quem associa o vegetarianismo a pessoas complacentes, deixo aqui esse esporro, que embora não faça musicalmente meu estilo, eu respeito muito.

Earth Crisis - Broken Foundation
Um dos grupos precursores do metalcore leva a ideologia vegan na atitude/postura. É bacana.

Vitamin X - About To Crack
Uma bagunça dos infernos. Punk rock straight edge dos bons.

Cattle Decapitation - Manufactured Extinct
Por trás de todo a brutalidade sonora e poética, canções que tratam do verdadeiro massacre promovido pela humanidade e sua indústria da carne.
Obs: vale aqui lembrar a sensacional capa do disco Humanure, parodiando a do Atom Heart Mother do Pink Floyd.
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Confronto - Tortura
"Experimentos, diversão ou alimento, não justificam a morte e o aprisionamento".

Children Of Gaia - Quando A Ignorância Se Torna Uma Festa
Representante da cena straight edge brazuca. Direto ao ponto.

Roberto Carlos - As Baleias
Vale lembrar essa que, provavelmente, seja a última grande canção do Roberto Carlos. Embora aborde exclusivamente o massacre das baleias, é uma composição bem profunda sobre o tema. Atente-se a letra como um todo.

Pra fechar, segue uma pequena lista de artistas muito bacanas que são vegetarianos ou veganos:

Paul McCartney, Jeff Beck, Brian May, Geezer Butler, Bill Ward, Joan Jett, Peter Gabriel, Jon Anderson, Thom Yorke, Tom Morello, Zack de La Rocha, Ian Mackaye, Eddie Vedder, Anthony Kiedis, Michael Stipe, Angela Gossow, Rob Zombie, Steve Vai, Chris Adler, Derrick Green, Arrigo Barnabé, João Gordo, KL Jay, dentre tantos outros.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Jimmy Brant & Speed West, Nara Leão e Mark Applebaum

JIMMY BRANT & SPEED WEST
Quando era adolescente gostava muito desse duo de guitarras. Foi quando me atentei ao pedal steel. É o fino da guitarra country.

NARA LEÃO
Muito se fala sobre o primeiro disco da Nara Leão (Nara, 1964), mas devo confessar que o que mais gosto é da capa, contendo o famoso/lindo design da Elenco. Mas não me entenda mal, é um belo disco. Ela era uma interprete diferenciada. Isso sem mencionar os ótimos arranjos.

MARK APPLEBAUM
Ele inventou um instrumento e uma nova escrita musical. Compôs uma obra para três regentes e nenhum músico. Essas são apenas algumas entre tantas aventuras desse sujeito. Vale assistir pela curiosidade.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

TEM QUE OUVIR: Ride - Nowhere (1990)

Hoje é comum encontrar quem morra de amores por Loveless, clássico shoegaze lançado pelo My Bloody Valentine em 1991. Todavia, é preciso lembrar que um ano antes o Ride tinha dado ao mundo o subvalorizado - embora cultuado em seu nicho - Nowhere (1990).


A icônica capa contendo uma onda no meio do oceano - tão linda e aparentemente calma, embora fria e perigosa - representa um pouco do que encontramos no disco. Doces melodias se entrelaçam num emaranhado de guitarras, empilhadas como se fossem uma muralha de autodefesa. O ouvinte após romper essa massa sonora vai de encontro a belas canções confessionais.

Difícil ouvir o disco e não contemplar faixas como a linda "In A Different Place". Mas é a épica "Seagull" que abre o álbum, mais parecendo uma projeção noventista para "Eight Miles High" do Byrds. Já a introdução de "Polar Bear" tem sua semelhança com "How Soon Is Now?" do Smiths.

Embora as guitarras enormes roubem a atenção dentro do shoegaze, é preciso se atentar para o ótimo desempenho da cozinha em "Kaleidoscope".

Já para o final do álbum, chegamos ao ápice da catarse, representada na densidade apaixonante de "Dream Burn Down", "Paralysed" e "Vapour Trail".

Ainda que em qualidade e alcance o Ride não tenha produzido nada próximo ao Nowhere, a banda conquistou o seu lugar na história do rock alternativo. Passado décadas do lançamento, mais que cultuado, o álbum já pode ser categorizado como um clássico de todo o britpop.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Capas espetaculares da Rolling Stone Magazine

A revista americana Rolling Stone completou 50 anos. Pensando nisso, ao invés de escrever um texto extenso analisando o seu papel dentro da cultura POP, resolvi selecionar algumas capas bem legais. Não necessariamente são as mais importantes ou conhecidas, mas sim aquelas que eu teria como pôster na minha sala.

Sem mais papo furado, um pouco da história da música popular do século XX em algumas fotos.

















sexta-feira, 20 de outubro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: The Muffs, Pusha T e Turma da Gafieira

THE MUFFS
Se for para ouvir pop-punk noventista, eu fico com Blonder And Blonder (1995). É arrasa quarteirão!

PUSHA T
Li uma matéria que associava o disco My Name Is My Name (2013) do rapper Pusha T como um exemplo de quando o minimalismo - aquele de caras como Philip Glass - é inserido na música popular atual. Embora não tenha reconhecido nada do minimalismo, é um disco de rap com pontos bem altos.

TURMA DA GAFIEIRA
Altamir Carrilho cercado por nomes como Sivuca, Edison Machado e Raul de Souza num trabalho que é o fino da música instrumental brasileira.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Spoken Word

Recentemente um amigo leu que um artista se enquadrava no "gênero" spoken word e me perguntou que raio era isso. Respondi que, mais que uma vertente musical, tratava-se de um recurso interpretativo e composicional, que tinha como intuito trazer a oratória para a canção.

Pensando nisso, listei momentos interessantes do spoken word.

Obs: Lembro de ler que o compositor Arnold Schönberg desenvolveu uma técnica entre o canto e fala chamada sprechgesang. Mesmo em óperas anteriores é possível reconhecer esse tipo de canto falado. Todavia, não me sinto gabaritado a entrar nesta esfera erudita.

Gil Scott-Heron
O primeiro nome que me vem quando penso em spoken word é o lendário Gil Scott-Heron, hoje muito associado as origens do rap por conta do seu estilo de cantar, mas também devido os temas de contestação presentes em suas letras. Por mais que "The Revolution Will Not Be Televised" seja um clássico, recomendo também dar atenção para outras faixas de seu ótimo repertório. O disco Pieces Of A Man (1971) é maravilhoso.

The Last Poets
Conheci esse grupo de poetas do Harlem lendo uma lista dos álbuns prediletos do David Bowie. Talvez mais até que o Gil Scott-Heron, muito da origem do hip hop está aqui.

Saul Williams
Um rapper atual que faz excelente uso do spoken word é o Saul Williams. É claro, tantos outros também fazem, mas o fato dele estar mais ligado a poética e ao discurso que propriamente a questão sonora/musical, coloca ele em destaque.

Grandmaster Flash
Para encerrar a questão do spoken word no hip hop, trago "The Message" do Grandmaster Flash, faixa que praticamente definiu a estética do rap. Posteriormente muitos outros artistas do gênero viriam a fazer uso do canto falado, mas todos são variação disso aqui. Melle Mel fez escola.

Serge Gainsbourg
Tão talentoso quanto canastrão, o grande Serge Gainsbourg conseguia com seu canto falado soar viril e encantador, principalmente diante de composições e arranjos majestosos. Vale notar que Jane Birkin também fazia uso do recurso, parecendo suspirar no pé do ouvido, soando libidinosa.

Frank Zappa
Embora o Zappa fosse um instrumentista espetacular, compositor brilhante e dono de letras sagazes, ele tinha pouca capacidade vocal. Uma das saídas que ele encontrou foi fazer uso do spoken word. Não poderia ter dado mais certo.

Lou Reed
Assim como Zappa, Lou não era dono de uma grande voz, mas escrevia como poucos. Sendo assim, declamava com personalidade letras densas que narram o submundo sombrio de prostituas e drogados.

Kraftwerk
Acho interessante como o Kraftwerk não apenas fez uso do canto falado, como aplicou o recurso de maneira robótica. Aqui está a raiz para o que futuramente veio a fazer o Daft Punk, vide "Technologic".

Jello Biafra
Embora o Biafra sempre tenha tido excelentes performances à frente do Dead Kennedys, sua sagacidade com a palavra é mais forte que o desempenho vocal. Com isso, sua transição para o mais puro spoken word em carreira solo foi muito bem sucedida. Inteligente e engraçado.

Slint
Com seu instrumental denso e climático, o spoken word caiu muito bem no post-rock, sendo as canções do Slint exemplos dessa inclinação no estilo.

Arrigo Barnabé
O canto falado está presente em toda a vanguarda paulista, basta observar o Itamar Assumpção ("Prezadíssimos Ouvintes") e o Grupo Rumo ("Minha Cabeça"), sendo que o Luiz Tatit é um verdadeiro estudioso sobre a questão da fala na canção brasileira. Todavia, são as narrativas que misturam história em quadrinho com Gil Gomes do Arrigo Barnabé que mais fazem a minha cabeça.

Cordel do Fogo Encantado
A tradição dos cantadores e da literatura de cordel se faz presente na voz do Lirinha. Sua interpretação é sempre apaixonada.

Anthony Joseph
Para finalizar, um ótimo exemplo do spoken word atual fora do hip hop. É bem bacana.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Bark Psychosis, Buraka Som Sistema e Skinny Puppy

BARK PSYCHOSIS
Encontrei uma lista de melhores disco de post-rock que cita o álbum Hex (1994) como o melhor de todos. Como não conhecia, peguei para ouvir. É bem bonito, de arranjo bem amarrado e cheio de nuances interessantes, mas confesso precisar ouvir com maior atenção. É daqueles que precisa de várias audições para se apaixonar.

BURAKA SOM SISTEMA
Claro que já tinha ouvido falar da banda e do hype que foi o kuduro anos atrás, mas só agora peguei o disco de estreia deste grupo, lançado em 2006, para ouvir. É muito bem produzido e divertido, mas serve mais pra "discotecar" numa festa do que para ficar ouvindo em casa.

SKINNY PUPPY
Já ouviram falar de um subgênero chamado agrotech? Pois é. Ao que consta é um pós-industrial, ainda mais eletrônico e cavernoso. Li que disco Mind: The Perpetual Intercourse (1986) do Skinny Puppy é considerado precursor dessa "cena/estética". Independente do nome que dão a isso, é tudo muito intenso, brutal e interessante.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

TEM QUE OUVIR: Thelonious Monk - Brilliant Corners (1957)

Thelonious Monk para muitos não é um nome familiar, o que não muda o fato dele ser um dos principais compositores do século XX, sendo responsável pelos rumos do jazz e o desenvolvimento da linguagem bebop.

Distribuindo suas peripécias pianísticas desde meados da década de 1940, chegou em 1957 com fama de artista problemático e sem contrato com gravadora. Foi então que o selo Riverside apostou no seu trabalho. Como resultado tivemos Brilliant Corners, seu mais prestigiado disco.


Logo de cara, a faixa "Brilliant Corners", com sua a introdução de piano com acordes dissonantes e rítmica peculiar, anuncia uma das mais intrigantes composições da história. A faixa se desenvolve num misto de tensão e originalidade. Ao contrário de muitas gravações lendárias desse período, essa só foi possível após incontáveis takes descartados.

Na sequência a longa "Be-Lue Bolivar Ba-Lues-Are" é prato cheio para Sonny Rollins mostrar o porque de ser considerado um dos mais brilhantes saxofonistas de todos os tempos. O improviso de Thelonious também não fica para trás.

Outros músicos talentosos que participam do disco são o baterista Max Roach, o saxofonista Ernie Henry e o contrabaixista Oscar Pettiford. Mas quem rouba a cena em "Bemsha Swing" é o lendário baixista Paul Chambers.

O disco ainda proporciona a delicada "Pannonica" (com direito a timbre lúdico de celesta) e a linda "I Surrender Dear", sendo essa última uma faixa solo de Thelonious ao piano. Um álbum não menos que majestoso.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Curved Air, The Crystal Method, Towes Van Zandt e MC Deedy

CURVED AIR
Por algum motivo cheguei no disco Phantasmagoria (1972) do Curved Air. É aquele progressivo/psicodélico/folk inglês que a gente já conhece e tanto adora, só que com uma tecladeira (EMS Synthi 100) - principalmente na segunda metade - dando um diferencial "futurístico" ao disco. É massa.

THE CRYSTAL METHOD
Acabei de desenterrar esse grupo. Há mais de 10 anos atrás, quando comecei a pesquisar sobre música eletrônica, o disco Legion Of Boom (2004) era um dos que mais gostava. É um bigbeat genérico, mas soa bem.

TOWES VAN ZANDT
Um caipira americano vive dentro de mim. High, Low And In Between (1972) é discão!

MC DEEDY
Acho maneiro esses funks do começo dos anos 90. É divertido, vai!

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Completando a lista de Rhythm Guitar Gods da revista Guitar Player

Estava eu aqui foliando a matéria de capa da edição de outubro de 2011 da revista Guitar Player americana, que traz os 50 maiores guitarristas rítmicos (ou no bom "português rockeiro": guitarristas "base"), quando senti falta de alguns músicos que eu considero fundamentais no quesito.

A seleção da revista é ótima e ampla, trazendo nomes como Pete Townshend, Joe Pass, Nile Rodgers e até mesmo João Gilberto. No entanto, eis aqui alguns nomes fundamentais ignorados por eles:

John Lee Hooker
Pense naquele groove mais sujo, cafajeste e contagiante de boogie e, inevitavelmente, você ouvirá o John Lee Hooker. Indispensável na história do rock. Lenda do blues.

John Lennon
O responsável pela guitarra base dos Beatles. Simples assim. Muita consistência e consciência harmônica. Ouçam as gravações ao vivo do quarteto para comprovar.

Ron Wood
Talvez por ter sido baixista (do Jeff Beck Group), o Ron Wood desenvolveu um diferente approach rítmico na guitarra. O que ele faz no Faces e, principalmente, no disco Every Picture Tells A Story (1972) do Rod Stewart, é brincadeira. Ele bota o violão pra falar alto. Fora que ele foi o guitarrista que melhor se encaixou ao estilo do Keith Richards, sendo um complemento do outro. O entrosamento deles ao vivo é assombroso. Não por acaso foi com ele que a banda incorporou mais explicitamente influências do funk e reggae.

Mark Farner
Grande guitarrista do Grand Funk Railroad, power trio dos bons, que em sua mistura de blues-rock com pegada hard, sempre incluía levadas funkeadas no groove.

Ernie Isley
Ultra influenciado pelo Jimi Hendrix que ele era, o irmão mais novo dos Isley Brothers sabia como groovear (e tinha espaço para isso). 

Wilko Johnson
Verdadeira escola do punk rock inglês. A excelência e a força sonora dos pub's retratado na mão direita e nos olhos anfetaminados do Wilko. Poucas coisas no rock são melhores que o Dr. Feelgood.

Andy Gill
Da escola Wilko Johnson de martelar a guitarra. Já o vi ao vivo e foi arrebatador.

Billy Zoom
Uma lenda da guitarra punk não poderia deixar de ter uma mão direita não menos que certeira. Adoro como ele traz as origens do rock n' roll para o estilo do X.

Geordie Walker
Grande guitarrista do Killing Joke, que trouxe uma força descomunal para o pós-punk via sua guitarra enorme. Ele soube como construir uma parece consistente com sua ES-295.

Scott Ian
Muito se fala (com justiça) do James Hetfield quando o assunto é guitarra base no thrash metal. Todavia, se for para escolher o meu predileto eu fico sem dúvida com o Scott Ian. Pegada hardcore em canções matadoras, tanto no Anthrax como no S.O.D..

Greg Ginn
Falando em hardcore, eis o maior guitarrista do gênero. Ultra criativo nos riffs, ríspido no timbre e intenso na execução.

Peter Buck
Proporcionando majestosas melodias em meio a suas bases, Peter Buck faz a ponte entre Roger McGuinn com Alex Lifeson. Deveria ter o mesmo prestigio de um Johnny Marr.

John Frusciante
O Frusciante apresentou a guitarra funk para a minha geração, sempre aplicando solos lisérgicos em canções de apelo pop.

Kevin Shields
Na lista da Guitar Player ficou muito claro que a guitarra rítmica não está restrita ao groove, mas sim em preencher o alicerce da música. Tem alguém que faça isso melhor que Kevin Shields? Seu paredão sonoro é o guia definitivo da guitarra shoegaze.

Dean DeLeo
Minha ideia inicial era mencionar o Jerry Cantrell (Alice In Chains) pelo fato dele ser um tremendo criador de riffs. Entretanto, da geração grunge, acho que o Dean DeLeo do Stone Temple Pilots é ainda mais completo ritmicamente. Seus timbres tão nítidos quanto distorcidos, assim como os acordes abertos enormes, formam bases ultra consistentes.

Dimebag Darrell
Para uma banda com o peso do Pantera ser frequentemente chamada de "groove metal" é porque a seção rítmica é muito boa. Os riffs, os timbres (ultra distorcidos sem nunca embolar) e o "grude" com a bateria... é tudo muito intenso. Influenciou toda uma geração.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

TEM QUE OUVIR: Tom Petty And The Heartbreakers - Damn The Torpedoes (1979)

Desde o lançamento do primeiro trabalho, Tom Petty é um fenômeno popular (verdade seja dita, primeiramente na Europa, só depois nos EUA, mas nunca no Brasil). Ele rejuvenesceu a forma do country rock do Byrds, deixando mais digerível e pop, embora sem abrir mão do protagonismo das composições. Seu som é o perfeito heartland rock feito para a classe trabalhadora americana.


Em 1979 - auge do punk rock, new wave e disco music -, o som ligado as raízes do EUA presente em seu terceiro álbum, o aclamado Damn The Porpedoes, sacramentou sua carreira para todo o sempre. Vale lembrar que o disco foi produzido por um ainda jovem Jimmy Lovine.

A abertura com a clássica "Refugee" é a definição máxima do rock de arena. Já o hit "Here Comes My Girl" é uma entre tantas amostras dos refrães poderosos que Tom Petty criava com sua voz anasalada.

Seria injusto não citar sua azeitada banda de apoio, The Heartbreakers, com destaque para seu fiel escudeiro, o guitarrista Mike Campbell, artesão dos timbres vintages, dono de bases enormes e solos energéticos, vide "Even The Losers". Já quem ataca o baixo em "You Tell Me" é o lendário Donald "Duck" Dunn.

O disco prossegue com a espetacular/divertida "Shadow Of A Doubt (A Complex Kid"), a rockeira "Century City" e a radiofônica "Don't Do Me Like That", com direito a ótimas passagens de teclado do Benmont Tench.

Tem quem acuse Tom Petty de ser uma cópia sem graça do Bob Dylan - acho difícil uma mera cópia reunir parceiros como George Harrison, Roy Orbison, Jeff Lynne e o próprio Dylan -, esquecendo dos muitos que se dizem influenciados por ele, vide Jeff Tweddy, Tom Morello e os Strokes.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: S.O.D., Zé Rodrix, Polvo e Propelleheads

S.O.D.
Speak English Or Die (1985). Clássico do crossover! Não há guitarrista no rock pesado mais selvagem que o Scott Ian.

ZÉ RODRIX
Peguei os álbuns Soy Latino Americano (1972) e I Acto (1973) desse subestimado compositor/instrumentista para ouvir. É o fino da música brasileira, inclusive imersa no rock. Adoro como ele é humorado ao abordar temas sérios. Espetacular!

POLVO
Banda importante do math rock e que nada conhecia. O disco Today's Active Lifestyle (1993) é muito bom.

PROPELLEHEADS
Só conheço essa música do grupo e adoro. Fez minha cabeça durante essa semana. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ACHADOS DA SEMANA: Lucas Abela, Affinity, The Decemberists, Steve Howe

LUCAS ABELA
Não me façam perguntas. Conheci esse maluco só agora, já que ele vai participar do próximo disco do Death Grips. O que ele faz? Extrai ruídos e sangue de um puta pedaço de vidro.

AFFINITY
Mais uma daquelas banda que muito ouço falar e pouco escuto. Bela fusão de jazz com psicodelia, folk e progressivo. Fora que a Linda Hoyle é uma grande cantora.

THE DECEMBERISTS
Talvez inspirado pela passagem do The Who pelo Brasil, entrei em contato com The Hazards Of Love (2009), belíssima ópera rock lançada por essa banda do rock alternativo. Ótimo disco!

STEVE HOWE
Nunca tinha me atentado a carreira solo do Steve Howe, o espetacular guitarrista do Yes. Não é que é bem boa, ao menos no que diz respeito ao disco Beginnings (1975). Até sua voz é interessante. Capa linda e sua influência erudita escancarada.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

IGNORE O ROCK IN RIO, ATENTE-SE AO THE WHO

Post dessa semana no Maria D'escrita

O Rock In Rio começou! Não fiz minha lista de recomendações sequer para assistir pela TV. É que nada ali importa muito. Ou melhor, quase nada.

Entre alguns bons shows, o do The Who salta aos olhos. É verdade que a formação não é a mesma que desnorteou o mundo da música há cinquenta anos. Todavia, estar diante do Pete Townshend (guitarrista subestimado e um dos maiores compositores do século XX) e Roger Daltrey (figura chave do rock inglês, cantor/performer ultra carismático) executando aquele repertório maravilhoso, não é algo a se ignorar.


Gosto sempre de ressaltar que a banda lançou o melhor álbum de estreia dentre todos os grupos da dita "invasão britânica" - Beatles, Rolling Stones, The Kinks -, basta ouvir My Generation (1965) para comprovar.

Mas o The Who tem ainda outras pérolas. O que dizer da incursão da banda pela psicodelia no inventivo The Who Sell Out (1967)? E sobre o genial Who's Next (1971), uma seleção de clássicos que mais parece uma coletânea? Fora que eles obtiveram muito sucesso com suas óperas rock, criando (Tommy - 1969) e aperfeiçoando (Quadrophenia - 1973) o estilo.

Ainda assim, se te falta tempo, recomendo ao menos ouvir o ao vivo Live At Leeds (1970). É o atestado definitivo de que eles foram (são?) uma das melhores bandas ao vivo de todos os tempos.

Eles tocam aqui em São Paulo na quinta-feira. Até onde sei ainda tem ingresso. Você vai perder?