sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ACHADOS DA SEMANA: Ludovic, Kronos Quartet, Megadeth e Miles Davis

LUDOVIC
Devo confessar que conheço o trabalho solo do Jair Naves, mas nunca tinha ouvido Ludovic. Que banda legal! Idioma Morto (2007) é provavelmente um dos melhores discos de rock brasileiro da época em que foi lançado.

KRONOS QUARTET
Sem compromisso, estava apenas assistindo alguns vídeos desse requisitado quarteto de cordas no YouTube. Vale a pesquisa.

MEGADETH
O que fazer quando fica sabendo que o Vinnie Colaiuta gravou as bateras de um disco do Megadeth? Ouvir o disco! Mas já adianto, infelizmente não é grande coisa. 

MILES DAVIS
Esqueça todo o resto e escute o At Plugged Nickel do Miles Davis. Nesta fase seu famoso quinteto era formado por Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams. Parece piada, né!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: R.E.M. - Out Of Time (1991)

A ascensão do R.E.M. ao mainstream se deu de forma progressiva e arrasadora, chegando ao seu ápice global no lançamento de Out Of Time (1991), que se para muitos não representa a melhor fase da banda, ao menos é um fenômeno pop impressionante.


Foi aqui que o R.E.M. definitivamente deixou de ser alternativo. Esqueçam as rádios universitárias, seu público agora estava na MTV, o que justificou a alta produção e rotação do premiado clipe de "Losing My Religion", uma balada fantástica guiada pelo bandolim de Peter Buck e a letra sagaz de Michael Stipe.

A consistência sonora de uma das grandes bandas do rock é evidente logo na abertura de "Radio Song", um power pop grooveado, de arranjo enorme e com direito a participação do rapper KRS-One.

Um dos maiores hits do grupo e da década de 1990 é a divertida e ironicamente politizada "Shiny Happy People", que traz a participação de Kate Pierson (B-52's). Seu clipe colorido também fez sucesso na programação da MTV.

A dramática "Low" e a instrumental "Endgame" revelam que o disco, apesar de pop, não poupa rebuscamento nas composições.

Além da guitarra à la Byrds de Peter Buck, é o vocal do baixista Mike Mills que chama atenção no belo single "Near Wild Heaven". Já seu baixo rouba a cena na ótima "Texarkana".

Destaque também para a acústica "Half A World Away" e a delirante "Country Feedback". Ambas lembram a sonoridade que o Pearl Jam viria a fazer posteriormente, o que revela que, mesmo com o sucesso, o R.E.M. não perdera admiração das novas estrelas do cenário alternativo. 

Lançado com um espaço de três anos de seu último trabalho, o R.E.M. acertou em cheio com Out Of Time, não só comercialmente, mas também artisticamente, dando relevância a um grupo que passou ileso pelo furacão grunge mesmo fazendo música pop.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

TOP 5: Discos de samba

Muito tem se falado sobre o centenário do samba. Embora eu não seja dos maiores apreciadores do ritmo, não posso deixar de citar ao menos um TOP 5 pessoal dos meus discos prediletos do estilo.

Uma lista óbvia, mas preciosa. Curiosamente todos os álbuns lançados num espaço de 4 anos.

Nelson Cavaquinho - Nelson Cavaquinho (1973)
Uma amostra emocionante da tristeza de Nelson Cavaquinho, retratada tanto em suas composições quanto na sua interpretação única de dicção falha e sincera. Se as clássicas "Juízo Final" e "Folhas Secas" não te provocam nenhuma emoção, então há algo de muito errado com você.

Paulinho da Viola - Nervos de Aço (1973)
Paulinho da Viola é elo perfeito entre o que há de mais tradicional no samba com a modernização quase erudita do estilo através de sua poética exuberante e arranjos pouco convencionais de suas canções. Isso sem falar na sua voz maravilhosamente delicada. Nervos de Aço é seu auge.

Adoniran Barbosa - Adoniran Barbosa (1974)
Décadas de cultura proletária imigrante em um único disco. Um documento fundamental do samba paulista. Isso sem falar na charmosa voz de tabagista do Adoniran.

João Bosco - Caça à Raposa (1975)
Um símbolo da cultura afro-brasileira, parceiro de Aldir Blanc, dono de um violão singular, que fez do ritmo sincopado do estilo algo ainda mais complexo. Não por acaso o repertorio envolvente desse disco deixou Elis Regina boquiaberta.

Cartola - Cartola (1976)
Do morro, via Cartola, veio o que há de mais sofisticado na estética da canção popular. Um duro golpe a quem atribui a baixa cultura aos subúrbios. São poucos os que escrevem tão bem quanto o Cartola. No momento, ao som da melodiosa "O Mundo É Um Moinho", não consigo pensar em nada melhor que isso.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Leonard Cohen - Live In London (2009)

Aos 75 anos, Leonard Cohen era um artista mais que consagrado. Havia se afastado da carreira artística para desfrutar seus últimos anos de vida num mosteiro budista. Foi quando um golpe financeiro da sua empresária o levou a falência. Solução: voltar para os palcos.

Com shows de mais de 3 horas de duração, o músico/poeta registrou tal fase no exuberante Live In London (2009), que traz um apanhado de toda sua carreira e um vigor/humor incrível para sua idade. Se você não conhece sua obra, essa é a melhor porta de entrada.


Logo de cara, ovacionado pela plateia, Cohen entrega "Dance Me To The End Of Love", com aquele clima de saloon e influência da música francesa de Serge Gainsbourg. Isso sem falar na sua voz encantadoramente fúnebre que mais parece cochichada ao pé do ouvido.

"The Future" é uma de suas canções mais politizadas, onde com ironia prevê o caos. Já seu lado pop pode ser exemplificado na melódica em "Ain't No Cure For Love" e na divertida "I'm Your Man".

A poética do compositor se faz valer na linda "Bird On The Wire", com direito a deliciosas passagens de guitarra. É não menos que cinematográfico o arranjo de "Anthem". Enquanto isso, a épica "Tower Of Song" remete as suas inserções pelo synthpop na década de 1980, embora aqui em versão completamente acústica.

A delicada voz de Sharon Robinson em "In My Secret Life" faz um belo contraponto ao timbre grave de Cohen. Já o violonista Javier Mas esmerilha seu instrumento na introdução flamenca de "Who By Fire".

É emocionante ouvir sua interpretação para clássicos do seu primeiro disco, vide "Hey, That's No Way To Say Goodbye", "Suzanne", "Sisters Of Mercy" e, claro, "So Long, Marianne". Outro hit que aqui ficou melhor que na versão original é "Hallelujah".

Muitos são os pecados que se podem cometer na vida. Entre tantos, só não cometa o absurdo de passar despercebido por esse disco.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Close To The Edge, do Yes

Vire e mexe falo pra Re sobre rock progressivo (eu devo ser um saco!) e ela nunca entende do que se trata. Quem sabe com um exemplo prático a coisa fique mais fácil.

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

Demorei mas voltei.

Na semana passada o Juliano me indicou o álbum Close To The Edge da banda Yes. Dessa vez a indicação veio com um adendo: Eu só deveria ouvir as 3 primeiras músicas do álbum.*

Meu primeiro pensamento foi “vai ser coisa rápida”, até me deparar com a primeira música que tinha 18 minutos e 38 segundos de duração! Para uma ansiosa isso é tortura. Só de olhar pro Spotify eu já tava me tremendo. Loucuras minhas à parte, vamos para as loucuras do Yes.

A primeira música, que dá nome ao álbum, tem vibe de natureza no inicio e me pareceu legal. Mais ainda quando surge a guitarra nela. Teve um sonzinho de cordas tocadas bem rápido que eu adorei e um “ahhhh” que eu achei desnecessário.

É claro que em dado momento a ansiedade bateu e eu queria logo era passar de música, mas foi aí que rolou um tipo de transição e a música pareceu virar outra. Fiquei me perguntando se o Yes é tão bom a ponto de saber em que momento fazer essa transição.

Mas não pensem que essa transição foi só alegria. Os próximos minutos eram instrumentais e eu tenho um pouco de bode de música instrumental (me julguem). Mas, mais uma vez, a banda foi certeira e uma voz surgiu quando eu já estava ficando cansada novamente. Depois de tudo isso ainda me restavam TREZE minutos de música. Pensem no meu pé torto batendo no chão e meu dedo querendo clicar em “next”.

Fui pro Facebook, voltei e ainda me restavam 9 minutos de "Close To The Edge". Essa parte era meio dark e eu definitivamente não curti pois sou mais do sol do que das trevas. Podiam ter terminado a música de maneira ótima hein, YES? Mas não, exageraaados que só eles.

Enfim, a música termina com um som de natureza similar ao inicio e foi aí que a brisa bateu. "Close To The Edge" é como um mundo todo dentro de uma só música. Eu tive varias sensações, momentos, pensamentos e ela amarrou tudo isso muito bem. Caramba Yes, vocês são danadinhos mesmo, hein!?

Depois de uma vida para analisar a primeira música, eu fui para "And You And I", que já me encantou logo no comecinho. Pareceu algo um tanto psicodélico e já tinha gente cantando desde o inicio. Prefiro assim! Essa também parecia ter mais uma música dentro a música, mas dessa vez gostei de ambas.

Pra finalizar ouvi "Siberian Khatru". Que chave de ouro! Música animada, gostosa e me deu vontade de sair dançando por aí. Parece música da Disco, não?

Enfim, coisa de maluco esse disco. Mas eu não esperava algo diferente do meu namorado. Apesar das estranhezas eu simpatizei com as músicas e achei bem interessante o misto de sensações/impressões que elas me trouxeram.

Bom feriado, pessoal! Até a próxima quinzena!


*Obs: Apenas quis livra-la das bônus tracks.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

TOP 5: Adrian Belew

Neste mês de novembro, mais precisamente no dia 27, um dos grandes guitarristas da história tocará em São Paulo. Não, não me refiro ao Slash e seu enfadonho Guns N' Roses, mas sim ao grande Adrian Belew.

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar dele, seu currículo certamente provocará o interesse de conhece-lo.

Ele já trabalhou com Frank Zappa, Talking Heads, David Bowie, King Crimson, Paul Simon, Laurie Anderson e Nine Inch Nails. Isso sem contar seus bons discos solo.

Com tantas parcerias em mais de 40 anos de carreira, decidi selecionar um ingrato TOP 5 dos meus momentos prediletos dele. Claro que vai faltar muita coisa, mas ao menos é uma boa porta de entrada para um músico brilhante.

01: David Bowie - Stay
Ainda que tenha tocado no derradeiro berlinesco Lodger (1979), a grande parceria de Belew com o Bowie ocorreu ao vivo, vide o clássico Stage (1978). Essa é minha fase ao vivo predileta do camaleão. É interessante salientar que Belew acompanhou o Bowie também durante sua passagem pelo Brasil, se não me engano em 1990. Tem quem ouse dizer que ele roubou a cena do show. Isso definitivamente não é pouca coisa. Mas aqui, como registro, deixo o vídeo de "Stay" gravado para a TV alemã logo no inicio da parceria, onde Bowie não esconde no olhar a admiração por seu mais novo guitarrista.

02: Talking Heads - Born Under Punches
Embora goste do Talking Heads, devo confessar que não sou dos maiores admiradores. Mas quando calho a ouvir, minha escolha é sempre o disco Remain In Light (1980), obra precursora da chamada world music e que traz na guitarra o Adrian Belew tirando sons "incomuns", para não dizer bizarros. Algo mais próximo de sons de elefantes e computadores do que do virtuosismo do Eddie Van Halen tão em voga na época.

03: Paul Simon - Crazy Love Vol. II
Se o Talking Heads foi quem começou com esse papo de world music no rock, Paul Simon foi quem popularizou no clássico Graceland (1986). O álbum traz a participação do guitarrista na complexa balada "Crazy Love Vol. II".

04: King Crimson - Elephant Talk
Foi com esse vídeo que entrei em contato pela primeira vez com o trabalho do Belew. Já conhecia e adorava a obra do King Crimson da década de 1970, mas como na década seguinte a grande maioria das bandas de progressivo tinham virado um troço intragável, nem me dei o trabalho de ouvir. Foi então que um sujeito me mostrou esse video de "Elephant Talk" e meu mundo caiu! O arranjo das guitarras definitivamente abriu minha cabeça. É absurdamente complexo e técnico, mas sem ser chato. Isso sem falar nos timbres malucos. São muitas as qualidades! Hoje acho o Discipline (1981) um dos grandes discos do King Crimson. Poucos se adequaram tão bem a época quanto eles (ou ele, o senhor Robert Fripp).

05: King Crimson: Happy With What You Have To Be Happy With
A prova definitiva de que Adrian Belew e Robert Fripp formam uma das grandes duplas de guitarra de todos os tempos. Como que ele consegue tocar esse ritmos complexos e ainda cantar? Como uma banda da década de 1960 consegue soar ainda hoje tão consistente? Como perder o show do Belew em São Paulo?

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Jefferson Airplane - Surrealistic Pillow (1967)

Na segunda metade da década de 1960, grupos dissidente do chamado "Verão do Amor" brotaram principalmente na região de São Francisco. Dentre os mais cultuados está o Jefferson Airplane, um símbolo da contracultura americana que sobrevive no consciente de qualquer um que se interesse por psicodelia.


Surrealistic Pillow (1967), o segundo trabalho da banda, marca exatamente o momento de transição entre a saída do lendário Skip Spence e a entrada da maravilhosa Grace Slick.

Um detalhe interessante que une a costa oeste americana é menção do Jerry Garcia (Grateful Dead) nos créditos do disco, intitulado como "conselheiro musical e espiritual". Especificamente, é dele o violão na contagiante "Plastic Fantastic Lover" e a voz em "Comin' Back To Me".

É não menos que viajante ouvir canções como a energética "She Has Funny Cars", a balada "My Best Friend", a lisérgica "3/5 Of A Mile In 10 Seconds" e a bluseira "Come Back Baby". Todas com as linhas de baixo poderosas do Jack Casady.

Mas se tem canções que possam ser considerados clássico inquestionáveis são a eletrizante "Someone To Love" e a delirante "White Rabbit", que entre citações de Alice no Pais das Maravilhas e uma dinâmica instrumental crescente, se mantém como um hino da época.

sábado, 5 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Sepultura - Roots (1996)

Em 1996 o Sepultura já era uma realidade dentro do heavy metal. Ao lado do Pantera, era uma das maiores banda do estilo no mundo. Um pouco disso culpa dos medalhões de thrash metal que, ou pareciam não ter mais nada a oferecer, ou tinham se rebaixado artisticamente para chegar ao mainstream (não é mesmo, Metallica?).


Foi nesse contexto que o grupo brasileiro lançou Roots, obra que transcendeu o metal, sendo elogiada pela Björk, Dave Grohl, Ozzy Osbourne, Caetano Veloso, Jello Biafra e quem mais ouviu. É verdade que um grupinho de metaleiros conservadores desaprovou, mas o Sepultura agora era alternativo, era relevante, era internacional e tinha muito mais com o que se preocupar.

Produzido por Ross Robinson, a banda soou mais brutal do que nunca. Nem tão veloz, mas assombrosamente perturbadora. A clássica "Roots Blood Roots" logo de cara já entrega tudo isso. Quando Max Cavalera berra pela primeira vez a coisa desanda para um nível assustador.

O berimbau e o ritmo tribal na introdução de "Attitude" deixa claro que esse não é um disco de metal comum. Já a afinação grave das guitarras e as dissonâncias tão características do Andreas Kisser em "Cut-Throat" aponta para o que seria feito tempo depois no new metal.

Tudo ótimo até aqui, quando não mais que de repente, eis que surge "Ratamahatta", com sons indígenas, cacofonias, percussão do Carlinhos Brown e letra em português invocando Zé do Caixão, Zumbi e Lampião. Tenho certeza muita gente não entendeu porra nenhuma. Daí para entrar uma bateria de escola de samba em "Breed Apart" foi dois pulos. Claro que tudo legitimado pela pegada assustadora do Iggor Cavalera. Ouvindo tais faixas é impossível sentir qualquer estereótipo do metal. O Sepultura estava na vanguarda.

Para estruturar o conceito abrasileirado do álbum, o grupo foi até uma região afastada do Mato Grosso de encontro a uma tribo xavante. As influências mais evidentes dessa viagem estão em "Jasco" e "Itsári", sendo essa última gravada às margens do Rio da Morte.

Mas nada de caricatura ufanista. O disco traz também Mike Patton (Faith No More), Jonathan Davis (Korn) e Dj Lethal na esquisita "Lookaway". Não dá para deixar também de destacar o instrumental esquizofrênico de "Dusted", a agressiva "Endangered Species" e a paulada hardcore "Dictatorshit".

Roots foi lançado e o prestigio alcançado. Nada parecia atrapalhar a banda. Mas um conflito familiar/empresarial resultou na saída do Max Cavalera. Uma ruptura drástica que ainda hoje ecoa. Max foi para um lado e os três remanescentes bem que tentaram, mas perderam parte da relevância comercial. Passado o auge do Sepultura só fica um certeza: em nenhum outro momento um grupo brasileiro foi tão relevante e prestigiado fora do país.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Peculiaridades do POP brasileiro

*Logo de cara um adendo: se você se interessa por cultura POP, indústria fonográfica e MPB, o livro Pavões Misteriosos do André Barcinski é de leitura obrigatória. Isso posto, deixo agora minha impressões sobre uma época extremamente peculiar da música brasileira.

A indústria fonográfica e a cultura POP sempre caminharam de mãos dadas. Mas no Brasil existem particularidades típicas de um país subdesenvolvido e adepto da "malandragem".

Um dos fenômenos musicais mais curiosos é o dos brasileiros que cantavam em inglês. Alias, não só cantavam, mas fingiam ser gringos. Com o atraso do lançamento de hits internacionais no país - as vezes chegava a demorar mais de 2 anos -, diretores de gravadoras tiveram uma sacada genial: regravar com artistas locais sucessos internacionais.

Vale o adendo que nada disso era ilegal, já que as gravadoras compravam os direitos das canções e não o fonograma em si. Essa ação era muito mais barata e, respectivamente, lucrativa.

Isso ocorria desde a década de 1960, principalmente com os artistas da Jovem Guarda. Jerry Adriani, por exemplo, fez enorme sucesso regravando canções italianas. Mas ok, todos sabiam que Jerry era brasileiro, tanto que paralelamente ele também apresenta canções exclusivas do seu repertorio, vide "Doce, Doce Amor" (vale a curiosidade, composta por Raul Seixas).


Bizarro foi quando brasileiros começaram a se passar por artistas internacionais. Daí surgiram nomes como Malcolm Forrest, Terry Winter, Pete Dunaway, Morris Albert, Dave Maclean, Patrick Dimon, dentre outros.

Mark Davis, que fez enorme sucesso com "Don't Let Me Cry", era na verdade o Fábio Jr.. Para piorar, nesse meio tempo ele foi também Uncle Jack. A coisa era tão armada que o Fábio Jr. não podia dar entrevista, já que correria o risco de ser desmascarado.


Mas Fábio Jr. não foi o único que posteriormente "abrasileirou". Jessé, por exemplo, era o Tony Stevens e o Christie Burgh. Já a dupla Cristian & Ralf era, respectivamente, Don Elliot e Chrystian.

Morris Albert foi o único brasileiro que chegou a desfrutar de prestigio internacional cantando em inglês (anos depois teve o Sepultura, mas aí é outro papo). Além de ter feito grande sucesso comercial, sua canção "Feelings" chegou a ser interpretada por Frank Sinatra, Nina Simone, Johnny Mathis e até mesmo pelo Offspring.



Outro caso curioso na nossa indústria fonográfica é Os Carbonos, grupo formado por ótimos músicos de estúdio e que tinha como grande qualidade copiar sucessos internacionais. É interessante pensar que a trilha sonora da novela Dancin Days (lançada pela Som Livre), não continha as versões originais dos hits do Bee Gees, mas sim regravações dos Carbonos com o grupo vocal Harmony Cats. O público pouco se importou se era cópia ou não. O disco foi um enorme sucesso.


É preciso lembrar que Os Cabornos não eram somente encarregados de copiar sucessos internacionais, já que serviram como banda de apoio para inúmeros hits brasileiros da época, vide "Que Pena" (Jorge Ben), "Fuscão Preto" (Almir Rogério), "A Onde A Vaca Vai O Boi Var Atrás" (João da Praia), além de jingles, vide "Toddy, Sabor Que Alimenta". Na maior parte das vezes eles não eram creditados, já que recebiam por hora. Eles sequer sabiam o que estavam gravando. Apenas liam a partitura e obedeciam o arranjo.


Outro exemplo de como a coisa era esquizofrênica no Brasil é que qualquer sucesso internacional ganhava vida própria no país. E não me refiro somente as músicas, mas também aos grupos. Um exemplo é o Brazilian Genghis Khan, uma versão do grupo POP alemão Dschinghis Khan. Todavia, o sucesso "Comer, Comer" não tinha relação alguma com o grupo europeu.

Tudo era tão maluco que sequer o Brazilian era liderado por um brasileiro, mas sim pelo argentino Jorge Danel. Se existe um exemplo de globalização cultural POP, é esse.

ACHADOS DA SEMANA: Téo Azevedo, Andy Timmons, Sting e Saint Vitus

TÉO AZEVEDO
Sem grandes informações sobre o artista. Todavia, essa música é espetacular. A começar pelo nome: "O Novo De Hoje Já É Velho Aqui". E o que dizer desse visual na capa do disco? Sensacional!

ANDY TIMMONS
Ouvi o disco Resolution (2006) deste virtuoso guitarrista na época em que foi lançado. É verdade que quando eu tinha 16 anos ele fazia mais sentido, mas ainda é um dos melhores neste segmento shred.

STING
Adoro o Police, logo, por que não pegar o primeiro disco solo do Sting para ouvir? Tem canções bem boas que flertam jazz com o pop. A banda de apoio dele na época era espetacular, com destaque para o baterista Omar Hakim, o baixista Darryl Jones e o Branford Marsalis nos instrumentos de sopro.

SAINT VITUS
Banda dita precursora do doom metal que conhecia só de nome. Adorei o primeiro disco. É tão positivamente tosco que parece aqueles grupos de heavy metal brasileiro do começo da década de 1980.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido (1975)

Ao falar sobre Rita Lee é preciso desmistificar alguma coisas. Primeiro sua saída dos Mutantes, que por mais importante que tenha sido para história da banda, atingiu apenas um pequeno nicho de rockeiros brasileiros. Apesar da inquestionável excelência do grupo, Os Mutantes não era um sucesso comercial como muitos imaginam. Prova disso é que Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974), disco mais vendido da banda, sequer tinha em sua formação a estrela Rita e o cultuado Arnaldo Baptista.


Me atento a isso pra tentar explicar como uma personagem emblemática, mas segmentada, tornou-se um dos maiores ícones pop do país. E isso se deu não no trio tropicalista da Pompéia, mas em sua carreira solo, quando ainda era acompanhada pelo Tutti Frutti.

Após discos artisticamente bem sucedidos com Mutantes, trabalhos solo, parceria com Lúcia Turnbull e o debut com o Tutti Frutti - Atrás Do Porto Tem Uma Cidade (1974) -, Rita finalmente alcançou fama e prestigio com o espetacular Fruto Proibido (1975).

Da capa glam rock, passando por letras divertidas como a de "Esse Tal De Roque Enrow', a figura da Rita transborda atitude.

O alto astral é elevado desde o piano boogie/ragtime de "Dançar Pra Não Dançar", passando pelo hit "Agora Só Falta Você" (destaque para a bateria alucinante do Franklin Paolillo), as bluseiras "Cartão Postal" (sobre Arnaldo?) e "Fruto Proibido", o riff stoniano da maravilhosa "O Toque", o hard rock de "Pirataria" e "Luz Del Fogo" e a clássica "Ovelha Negra", balada radiofônica dona de um dos mais emblemáticos solos de guitarra brasileiro, autoria do lendário Luis Sérgio Carlini.

Passar indiferente pelo baixo preciso de Lee Marcutti e a produção do Andy Mills também não é justo. Mas apesar da boa companhia, foi mesmo a Rita Lee que despontou com esse trabalho, vendendo disco como poucos antes na história do Brasil. Clássico do rock, pop e da música brasileira em geral.