quinta-feira, 22 de setembro de 2016

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: #1 Record, do Big Star

Depois de ter sacaneado a Re com o estranho Araçá Azul do Caetano Veloso, vou dar uma apaziguada e apresentar um grupo pouco conhecido, mas maravilhoso: Big Star. Acho que ela vai curtir!

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por Rena Alves, do Maria D'escrita

Essa semana o Jú pediu que eu ouvisse o disco #1 Record do Big Star. A dúvida inicial que pairou sobre essa pobre cabecinha foi: Big Star é um cara ou uma banda? Digam-me, amigos!

Quando o Spotify mostrou a capa do disco eu pensei na Britney. Muito POP essa capa e sem graça. Eu já tinha ouvido o nome “Big Star” sair da boca do Ju, mas não tinha ideia do tipo de música que esse(s) ser(es) tocava(m).

Comecei por "Feel" e os gritinhos me fizeram pensar em rockeiros cabeludos que usam calça de couro bem apertadinha. Além disso, algo no som de Big Star me lembrava a abertura da serie That 70’s Show.

Me questionei se eles faziam a música tema e "The Ballad Of El Goodo" começou a tocar. Que música bonita, né gente? Gostei muito! Nos 40 segundos de música tive a sensação de que já a ouvi em alguma série. Coisa de louco. Seria Big Star o Roupa Nova das séries americanas?

E aí, "In The Street" começou a tocar! PÁ! Ponto pra Rena no texto de hoje! Eu estava certa sobre That 70’s Show. Adoro essa música, mas na abertura da série ela parece mais animada, né?

"My Life Is Right" e "Watch de Sun" ficam com o título... legaizinhas. "Thirteen" é daquelas músicas de luau de filme da sessão da tarde... Falta algo nessas 3 músicas.

"Give Me Another Chance" é chata pra caralho. E bem de corno né, porque com esse nome...

"Don’t Lie To Me" é mais uma que me faz acreditar nas calças de couro apertadas.

Enfim, Big Star é bem legal. Fiquei apaixonada por "The Ballad Of El Goodo", ainda mais tendo essa sensação que já ouvi em algum lugar.

Podem ouvir sem medo viu gente? O disco é bem legal! Será que os outros também são?

Ah, alguém pede pra eles contratarem um artista melhor pras capas? Obrigada.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

TEM QUE OUVIR: The Human League - Dare! (1981)

No início da década de 1980, a guitarra tinha perdido seu espaço. A onda era os sintetizadores. Disso saiu aquela sonoridade tão datada/questionada quanto admirada/copiada. Quer um exemplo? Escute Dare! (1981) do The Human League.


Vindo de discos densos, conceituais e até mesmo experimentais, o grupo se deparou com seu leito de morte após debandada geral, restando em sua formação apenas o vocalista Philip Oakey. Se em qualidade ele jamais conseguiria repor as peças perdidas, ao menos ele recorreu a uma saída perspicaz: chamar duas belíssimas cantoras - Joanne Catherall e Susanne Sulley -, que conhecera numa discoteca, para integrar a banda, formando um duo de backing vocals sexy e afiadíssimo.

Numa época em que o Duran Duran e toda cena new romantic eclodia, a sensualidade imposta pelas cantoras foi determinante para o sucesso do grupo. Aliado as harmonias vocais, as composições ficaram ainda mais pops e melódicas, sendo ainda hoje referência quando o assunto é synthpop. A começar pela ótima abertura de "The Things That Dream Are Made Of", passando pelo ritmo motorik roubado do krautrock em "Seconds" e soando absoluto nos hits "Open Your Heart" (tremenda melodia!), "The Sound Of The Crowd" (synth e ritmo esquisitamente cativantes), na climática "Darkness" e, principalmente, na ganchuda "Don't You Want Me" (dona de clipe metalinguístico especial).

Como havia apontado anos antes o Roxy Music e o Kraftwerk, o rock agora era pop, eletrônico e dançante. Datado ou não, açucarado ou não, através de discos como esse é que o rock se manteve jovem e relevante.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Grandes músicos e suas deficiências físicas

Post dessa semana no Maria D'escrita

Com o fim das Paralimpíadas, me recorreu elaborar um post sobre alguns artistas que, mesmo com alguma limitação física, não tiveram o talento calado.

Selecionei os nomes sem pensar muito. Coloquei os primeiros que vieram em mente. Caso lembrem de mais alguns, citem nos comentários.

Ludwig van Beethoven
Uma das grandes lendas da história da música envolve a surdez daquele que foi um dos maiores compositores de todos os tempos: Ludwig van Beethoven. Embora envolto de mistérios, fato é que sua surdez já foi comprovada. O mais incrível é pensar que uma de suas obras mais famosa, a 9ª Sinfonia, foi composta já no final de sua carreira, quando a limitação auditiva já se encontrava em estágio avançado.

Michel Petrucciani
Pianista virtuoso, Petrucciani tinha a conhecida "doença dos ossos de vidro", que não somente prejudicou seu crescimento, mas também tornou seu corpo sujeito a fraturas constantes. Devido sua baixa estatura, o músico tinha que fazer verdadeiro malabarismo para cobrir toda a extensão do piano. Existem relatos que ele chegou a quebrar os ossos da bacia em uma apresentação, mas ainda assim permaneceu tocando. Nada disso impediu ele de ser um dos maiores instrumentistas do jazz, para não dizer do século XX.

Ray Charles
Ok, o que não falta são artistas cegos - do Andrea Bocelli, passando por inúmeros percursores do blues que levaram "Blind" em seus nomes, Jeff Healey e até mesmo integrantes da Tribo de Jah -, mas Ray foi tão grande que sua deficiência passa completamente batida diante de sua esplendida obra. Eis um compositor, pianista e cantor genial.

Stevie Wonder
Tudo que escrevi sobre Ray vale também para Stevie Wonder, mas com um adendo: além de tudo ele é multi-instrumentista. Gênio absoluto.

Robert Wyatt
Membro da tão sofisticada cena de Canterbury, Robert Wyatt chamou atenção inicialmente como baterista do Soft Machine. Todavia, após um estúpido acidente, o músico tornou-se paraplégico. Mas nada o impediu de continuar criando, sendo o estupendo álbum Rock Bottom de sofisticação instrumental e poética poucas vezes alcançada.

Django Reinhardt
Uma das maiores lendas da guitarra jazz é o brilhante Django Reinhardt. Quem ouve suas gravações mal pode imaginar que o músico debulha seu violão com apenas dois dedos. Ao que parece, o problema é fruto de um acidente durante um incêndio. Nada que tenha sido capaz de tirar o encanto de seu jazz cigano.

Tony Iommi
Muito da peculiaridade sonora do Black Sabbath se deve ao guitarrista Tony Iommi, que ao ter seus dedos parcialmente amputados num acidente, teve que reaprender a tocar seu instrumento abusando de acordes enxutos e afinações graves que minimizava a tensão das cordas. Eis a criação do heavy metal.
Obs: após o seu acidente, ele pensou em abandonar o instrumento, mas foi em frente após o ouvir o já citado Django Reinhardt.

Rick Allen
Pense num jovem baterista rockstar no auge da popularidade. Agora imagine ele sofrendo um terrível acidente de carro, tendo como consequência um dos braços amputado. Embora inegavelmente abalado, Rick Allen do Def Leppard seguiu em frente e criou uma nova forma de tocar seu instrumento, abusando de recursos eletrônicos que moldaram a sonoridade da banda dali em diante.

Jason Becker
O virtuoso guitarrista Jason Becker tinha tudo pra ser um rockstar. Estava ocupando o cargo que outrora foi de Eddie Van Halen e Steve Vai quando descobriu ser portador de uma grave doença degenerativa conhecida como ELA. Com isso, teve seus movimentos completamente limitados, embora com atividade mental perfeita, restando se comunicar via o movimento do globo ocular. Embora com tantas dificuldades, desenvolveu um método que possibilitou compor apenas com o piscar dos olhos. Um exemplo de força, perseverança e amor a música.

João Carlos Martins
Durante alguns anos o pianista brasileiro João Carlos Martins foi um dos maiores intérpretes de Bach, tendo se apresentado mundo afora. Todavia, a história músico é repleta de adversidades que causaram problemas em ambas as suas mãos. Nem por isso ele parou de tocar, se adequando aos seus limites físicos. Além disso, ele desenvolveu importantes projetos enquanto maestro, inclusive em comunidades carentes.

Acho válido deixar aqui também uma homenagem aos inúmeros músicos que não conseguiram nenhum grande holofote, mas que continuam criando e lutando por um espaço, ainda que com inúmeras dificuldades físicas. Se sobreviver como artista no Brasil já é difícil, imagine para caras como Jonathan Bastos. Um exemplo de talento e perseverança.

ACHADOS DA SEMANA: Fleet Foxes, Robert Gordon, The Darling Buds e Paul Horn

FLEET FOXES
Minha amiga Mariane me mandou essa música bem legal de uma banda que nada conhecia. Ouvi o disco e adorei. Neo-psicodelia folk aconchegante. Excelentes composições. Vou correr atrás.

ROBERT GORDON
Música divertida do Marshall Crenshaw na voz de Robert Gordon.

THE DARLING BUDS
Sem grandes informações. Apenas acho essa música bem legal.

PAUL HORN
Inside, discão do Paul Horn gravado no Taj Mahal. Ao que parece um dos predileto do Jimmy Page. Delirante.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

TEM QUE OUVIR: Radiohead - Kid A (2000)

Após o sucesso de Ok Computer (1997), os holofotes se viraram para o Radiohead. Todos queriam saber o que aquele quinteto formado por ingleses estranhos e cabisbaixos estava tramando. Fugindo do óbvio o grupo lançou Kid A (2000), trabalho desafiador que consagrou a banda como uma das mais criativas e relevantes das últimas décadas.


Produzido por Nigel Godrich em parceria com o grupo, o álbum abre mão das guitarras em favorecimento de timbres eletrônicos abstratos. Não que isso afetasse o Jonny Greenwood, já que era ele o responsável pelos arranjos pouco ortodoxos e incursão pelos instrumentos eletrônicos, tanto os mais antigos (Ondes Martenot) quanto os modernos (via softwares).

A letra delirante de "Everything In Its Right Place" é amparada pelo instrumental minimalista, atmosférico, pulsante e de harmonia arrojada. Já em "Kid A" a voz do Thom Yorke é manipulada até tornar-se irreconhecível. Isso, claro, em cima de ritmos complexos e texturas oriundas da música ambient e glitch.

A cozinha ultra subestimada formada por Colin Greenwood (baixo) e Philip Selway (bateria) domina a poderosa "The National Anthem". Ao menos é o que acontece antes de frases jazzísticas de sax atropelarem a canção. A faixa foi inspirada na obra do Charles Mingus.

A melancolia predomina na dilacerante "How To Disappear Completely", que é irresistível em sua melodia contida e belíssima no arranjo orquestrado. Curiosamente, a canção foi gravada dentro de uma igreja, o que gerou sua intensa reverberação. Um das canções mais profundas do grupo.

A experimentação eletrônica do grupo toma novos rumos via a espetacular "Idioteque", que explora samples de trabalhos do Paul Lansky, traz uma das performances mais versáteis do Thom Yorke (ora agitada, ora num lindo falsete) e tem uma construção rítmica refinada e frenética.

O disco ainda reserva a atmosfera ambient de "Treefingers", a oxigenação do krautrock em "Optimistic", a deliciosa estranheza de "Morning Bell" e a magia épica de "Motion Picture Soundtrack".

Talvez devido as incertezas sonoras do novo milênio, a liberdade artística de Kid A se fez possível, sendo o disco um sucesso comercial e merecedor de prêmios no Grammy. Radiohead abriu novas possibilidades e foi copiado por inúmeras bandas, que por outro lado, não tinham nas experimentações nada há dizer. Em seu mundo particular de criação, o Radiohead reina isolado numa exuberante criatividade.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ACHADOS DA SEMANA: Go, Mazzy Star, Moraes Moreira, Therion e Hiromi's Sonicbloom

GO
Não conhecia esse projeto que, entre o até então desconhecido para mim percursionista Stomu Yamashta, tem também os geniais Steve Winwood e o Al Di Meola. Qualidade técnica e musical acima de qualquer suspeita.

MAZZY STAR
Uma daquelas bandas que sempre ouvi falar e somente agora escutei. O She Hangs Brightly (1990) é um clássico do dream pop, mas curiosamente, as canções mais energéticas me soaram mais bacanas.

MORAES MOREIRA
Disco de estreia da carreira solo do Moraes. Com direito a muita psicodelia, pitadas de frevo e o Armandinho na guitarra. Sem erro.

THERION
Sempre associei o nome a algo babaca, mas não é que o heavy metal do banda (com pitadas de doom, gótico e death) é bem legal. Isso ao menos no álbum Lepaca Kliffoth (1995). Sinfônico, ousado e encorpado. Vale a pesquisa.

HIROMI'S SONICBLOOM
Já estava terminando esse post quando esse vídeo praticamente caiu no meu colo. Sem mais informações. Recomendo para quem curte jazz rock. E o guitarrista David Fiucznski é um monstro.

TEM QUE OUVIR: The Crickets - The "Chirping" Crickets (1957)

Se tem um artista que fez a ponte do rock n' roll do Elvis Presley e Chuck Berry para o que faria anos depois Beatles e Rolling Stones, esse é Buddy Holly.


Talentoso e inquieto, Buddy somou força com alguns amigos do colégio e formou o Crickets, grupo que tinha como grande diferencial a sensibilidade pop daquele que os liderava. Batendo de frente com produtores e empresários, Buddy mostra em The "Chirping" Crickets (1957) que tinha faro apurado para tendências sonoras juvenis.

Em menos de 30 minutos o que vemos é o blues ganhando vitalidade, a começar pela abertura de "Oh Boy". Já em "Note Fade Away" ele aplica a famosa batida de Bo Diddley numa faixa certeira. Mas é o hit adolescente "Maybe Baby" que talvez melhor retrate a musicalidade do Buddy Holly. Adoro o arranjo vocal desta gravação.

Ainda que suas composições sejam ótimas, recorrer ao talento de Roy Orbison em "You've Got Love" e "An Empty Cup (And A Broken Date)" assegurou um repertório coeso ao álbum.

Todavia, a canção que realmente salta aos ouvidos é a clássica "That'll Be The Day", dona de influentes frases extraídas de sua fender stratocaster, que fazem um branquelo desengonçado e portador de miopia parecer o cara mais cool do planeta. Que canção!

Pena que sua trajetória pela Terra durou tão pouco, tendo o artista morrendo precocemente num trágico acidente. Felizmente, a contribuição de Buddy Holly ao rock já estava dada para todo sempre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

MINHA NAMORADA E MEUS DISCOS MERDA: Araçá Azul, do Caetano Veloso

A Re sempre disse adorar o Caetano Veloso. Nada mais oportuno do que propor o disco mais controverso/estranho/experimental do artista para ela ouvir. Feito!

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por Rena Alves, do Maria D'escrita


Hoje o Juliano me indicou um disco de um artista que eu gosto muito muito muito. Ou talvez não goste tanto, afinal, não conhecia esse disco. Araçá Azul do Caetano Veloso é a minha análise do dia. Não sei o que vocês acham dessa obra mas eu fiquei bem confusa.

Antes de ouvir o disco queria entender: Existe araçá azul? Eu já vi araçá amarelo, mas azul... E GENTE, PORQUE ESSA BARRIGUINHA DE COCÔ DO CAETANO NA CAPA? Me deu um ataque de risos. Perdão pra quem curte.

A música que dá nome ao disco é bem bonita e me pareceu mais um poema do que uma música mesmo. A frase “Com fé em Deus eu não vou morrer tão cedo” me deixou bolada...

"Viola Meu Bem" é puro amor, apesar de tão pequena (não gosto de músicas com 1 minuto e poucos segundos). Essa coisa de mulheres do sertão cantando me encanta muito.

Daí pra frente acho que foi só desgraceira, ou quase.

"De conversa/Cravo e Canela" me lembrou do Juliano acordando e falando coisas sem sentido. Depois me remeteu aos personagens daquele desenho do pinguim que passa na Cultura, o Pingu, sabem? Em algum momento dos grandiosos seis minutos de música finalmente um pedaço realmente musical, bem gostoso, mas foi um momento isolado em que gostei da música.

O disco é cheio de canções fora do tamanho comum. Sim, porque o correto pra mim são uns 3 minutos cada música! "Gilberto Misterioso" poderia ser cortada ao meio, pura enrolação essa música! Ah, ela foi feira pro Gil?

"Sugar Cane Fields Forever" é gigante também e não tem nexo algum. Chega a ser ludibriador o modo como a música muda de música dentro da mesma música, entendem o que quero dizer?

Também tive um pequeno pico de amor quando as senhoras do sertão começaram a falar e bater palmas. Quis botar minha saia rodada e sair girando por aí! Mas aí a música já mudou de novo e fiquei com raiva.

Não me senti bem com essa "Farofa Veloso", mas fiquei cantarolando “e pra burar nhem, e pra burar nhem nhem nhem” e “só pra passar fevereiro em Santo Amaro”.

"De Palavra em Palavra" é bizarra de estranha, os gritos pedindo silencio são horríveis, "Julia/Moreno" da vontade de bailar, tem guitarra, é mais normal então gostei. "De cara/ Eu quero essa mulher – Medley" me parece meio Raul, tô ficando louca? Ah, gostei da percussão confusa dela.

Finalizei o disco com "Épico", que pra mim foi uma mistura circense com terror e uma tentativa frustrada do Caetano imitar as senhorinhas do nordeste que tanto gosto. Falando em circense, essa música me lembrou "Panic At Circense" dos Mutantes. Certeza que esse disco é da fase Tropicália. Ah, tem uma parada em espanhol, mas não vejo graça nisso.

Meu amor por Caetano continua gigante, mas não aumentou depois dessa obra. Talvez eu não tenha entendido, talvez seja ruim mesmo. Me contem o que acham desse, por favor!

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ACHADOS DA SEMANA: David Axelrod, Albert Ayler e Pink Fairies

DAVID AXELROD
Música maravilhosa de um compositor que, devo confessar, pouco conheço. Arranjo espetacular.

ALBERT AYLER
Uma cacetada free jazz de vanguarda. Escutem apenas se forem fortes.

PINK FAIRIES
É "apenas" rock n' roll.

TEM QUE OUVIR: Madonna - Ray Of Light (1998)

Na virada do século, a música pop parecia ter se rendido a mediocre padronização comercial. Boy bands, Britney Spears e outras teen pop dominavam as rádios, MTV e tabloides de fofocas. Madonna, tida como rainha, sequer teve seu posto ameaçado, mas precisava sinalizar em que direção iria. Incrivelmente, abriu mão do pop óbvio e produziu o seu mais sofisticado e aclamado trabalho, Ray Of Light (1998).


Se antes ela tinha alcançado bons picos, aqui o salto foi brutal. Isso se deve parcialmente as aulas vocais que tivera para estrelar o filme Evita (1996). Quarentona, sua outrora personalidade sexy e explosiva deu lugar ao cabala, budismo, hinduísmo e a prática de yoga. Madonna era outra mulher e, consequentemente, outra artista. De seu passado, trouxe o melhor: Pat Leonard, produtor de Like A Prayer (1989). O compositor Rick Nowels e o produtor William Orbit também somaram forças e tiveram papel fundamental para o êxito artístico do disco.

As experiências esotéricas e filosóficas da Madonna se fazem valer na dobradinha "Sky Fits Heaven" e "Shanti/Ashtani", sendo essa última cantada em sânscrito.

Musicalmente, nos momentos mais dançantes o disco bebe do techno e do drum and bass, vide "Nothing Really Matters" e a empolgante "Ray Of Light", que fez enorme sucesso. Já a música ambient, o soft rock e o trip hop aparecem na linda "Drowned World/Substitute For Love" e no hit "Frozen". Outras faixas como "Skin", "Swim" e "Little Star" são ainda mais elegantes e sofisticadas, principalmente no que diz respeito a produção.

Com tamanho brilhantismo atingido, o prestigio foi alcançado e logo a Madonna se rendeu ao pop rasteiro, vide o apenas ok, Music (2000). Ao menos Ray Of Light mostra que ela é uma artista diferenciada e que, quando quer, surpreende a todos.