terça-feira, 31 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Cazuza - O Tempo Não Para (1988)

Quem me conhece sabe que não sou grande fã do Cazuza. Acho sua carreira solo irregular. Gosto até mesmo mais do Barão Vermelho com o Frejat nos vocais. Todavia, desde a minha infância, fui atraído pelo ótimo O Tempo Não Para (1988), sendo que hoje, reouvindo, posso confirmar que é um dos melhores discos ao vivo brasileiro.


Gravado em três noites no Canecão (Rio de Janeiro), o show faz parte da turnê do álbum Ideologia. É importante lembrar que o espetáculo foi dirigido pelo Ney Matogrosso e teve produção do Ezequiel Neves.

Na capa do disco, é nítido que Cazuza já estava debilitado pela sua doença. Entretanto, suas letras e, principalmente, sua interpretação, são de força nunca antes vista. Curiosamente, num trabalho muito mais MPB que seu passado rockeiro.

Logo na abertura, "Vida Louca Vida" ganha a convicção que Lobão jamais poderia ter dado. Já "Boas Novas" é sarcasticamente depressiva.

Sua parceria com o Frejat é retrata em "Só As Mães São Felizes" - com direito a comentários incestuosos de deixar o público constrangido -, "Ideologia" - talvez o maior clássico da carreira do cantor - e "Todo Amor Que Houver Nessa Vida", essa última com direito a dolorosa frase "e algum remédio que me dê alegria".

Sua capacidade de produzir baladas pop se faz presente na linda "Codinome Beija-Flor" e na bossa "Faz Parte Do Meu Show". Já o peso da sua ótima banda (apesar da mixagem contida) e o lado espinhoso das suas letras são destaques em "O Tempo Não Para", com direito a ótimo solo de guitarra.

Sobra ainda espaço no repertório para as ótimas "O Nosso Amor A Gente Inventa" (com sua introdução de sax tão adorável quanto cafona) e "Exagerado", canções de enorme sucesso e que formam um imaginário do que foi o pop rock dos anos 80.

O Tempo Não Para é para mim o trabalho definitivo do Cazuza, que em meio a uma doença avassaladora, alcançou seu ápice artístico.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Supergrass - I Should Coco (1995)

Em 1995, o rock inglês havia se reerguido através do britpop, principalmente devido o sucesso do Oasis e Blur. Mas faltava descompromisso jovial. Tudo soava sério demais. Foi aí que John Peel, NME e Melody Maker saíram a caça de grupos que poderiam atender essa demanda. Após um single de sucesso - "Caught By The Fuzz" - e contrato com Parlophone, o Supergrass lançou o ótimo I Should Coco, o disco de estreia da gravadora mais vendido desde Please Please Me (1963) dos Beatles.


O alto astral garageiro se dá desde inicio com "I'd Like To Know" e percorre por todo o acachapante álbum. "Caught By The Fuzz", com vocais que lembram o que faria futuramente o Jack White; "Mansize Rooster", dona de ótimo baixo; e "Lenny" estão entre as mais envolventes.

Mas nada que se equipare a divertida "Alright", quase uma obra publicitária de tão perfeita para o verão. Seu clipe rodou incansavelmente na programação da MTV.

Entre outras faixas bem legais estão a pesada "Lose It", a pequena opereta "Strange Ones" e a setentista "Time". Todas sobre o cotidiano jovem e banal. Todas bastante vigorosas na interpretação.

Nenhum músico compromete a sonoridade da banda, mas também ninguém salta aos ouvidos. No máximo dá para destacar os teclados/pianos desengonçados do Rob Coombes.

Futuramente, o som do Supergrass se desenvolveu. Mas foi o divertido I Should Coco que se estabeleceu como a principal cura para a ressaca grunge.

Wilco, country alternativo e camelos - Part. Allan Paioli

terça-feira, 24 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Soft Machine - Third (1970)

A música no começo da década de 1970 foi igualmente rica e confusa. Dentre os antecedentes que explicam isso está a saturação da psicodelia, o desenvolvimento do rock progressivo, o nascimento do jazz rock e as experiências de vanguarda. Na Inglaterra, mais precisamente em Canterbury, uma nova cena se deu à partir da confluência desses fatores. De lá vinha grupos como Gong, Camel, Caravan, Egg, Henry Cow e, aquela que talvez seja a mais importante delas, o Soft Machine.


Third é, obviamente, o terceiro lançamento da banda. Embora seja comumente apontado como um clássico do período, o clima interno do grupo não parecia favorável. Alias, isso era uma premissa, tendo em vista a alta rotatividade dos integrantes. Músicos importantes como Kevin Ayers e Daevid Allen sequer faziam mais parte do Soft Machine quando a obra foi arquitetada.

Mas o genial Robert Wyatt ainda estava lá, desafiando seu público - e colegas de banda - com letras irônicas, ácidas e até mesmo nonsense. A prova está nos quase 20 minutos da delirante "Moon In June".

Todavia, o começo do álbum se dá com "Facelift" (Hugh Hopper), uma longa faixa instrumental dona de ritmos complexos, sons cacofônicos, solos de sax intensos e interação absurda entre os músicos. É aquele tipo de gravação que explode a mente de qualquer um que ouve.

As jazzísticas "Slightly All The Time" e "Out-Bloody-Rageous" (dona de experimentações eletrônicas na pós-produção) também merecem atenção, dada a complexidade épica das composições.

A música do Soft Machine exige foco para a apreciação, já que sua profunda abordagem musical tende a soar absurda no primeiro instante. Não por acaso a banda chamou mais atenção nos palcos de música erudita do que no festivais de rock do período. Um disco ambicioso.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

ACHADOS DA SEMANA: Kevin Shields, Mário Del Nunzio, Divina Increnca e Marvin Gaye

KEVIN SHIELDS
"Juliano, é claro, como você é burro! Com tantos anos parados de My Bloody Valentine, você acha que o Kevin Shields não teria uma carreira solo legal? Pense um pouco!". Disse eu para eu mesmo.

MÁRIO DEL NUNZIO
Na Virada Cultural deste ano, entre shows ultra lotados dos grandes nomes da MPB, do palco Test com seu grindcore espetacular, do Skylab tomando a frente no tributo ao Júpiter Maçã e da boa apresentação do Pin Ups, foram os ruídos de Mário Del Nunzio que mais me intrigaram. Ele é o Glenn Branca brasileiro.

DIVINA INCRENCA
Descobri esse grupo por acaso através de um programa da TV Cultura. É espetacular.

MARVIN GAYE
Um dos vídeos mais espetaculares que você vai ver nos próximos 862 dias.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

TOP 3 Artistas Detestáveis - Part. Rena Alves

ACHADOS DA SEMANA: Gun, Arandu Arakuaa, Swervedriver e Pullovers

GUN
Um amigo me recomendou essa banda britânica, então fui ouvir. É bastante pesado para a época, mas no geral não tem nada de muito especial. Ao que consta fez relativo sucesso no lançamento.

ARANDU ARAKUAA
Já ouviu falar de "heavy metal nativo"? É uma "nova cena" nacional que manifesta através do heavy metal algumas tradições indígenas. Esse é um dos grupos de destaque neste movimento. Não que eu tenha achado propriamente legal, mas vale como pesquisa.

SWERVEDRIVER
Tocaram recentemente no Brasil e eu sequer conhecia. Típico rock alternativo da primeira metade da década de 1990. Tem tanto de grunge quanto de shoegaze. O disco Mezcal Head (1993) é bem legal.

PULLOVERS
Banda alternativa brasileira de sonoridade arrojada e divertida. Algo entre o Los Hermanos e o Pato Fu. Vale pesquisar o álbum Tudo Que Eu Sempre Sonhei (2009).

terça-feira, 17 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Bob Dylan - Blonde On Blonde (1966)

Em 1966, Bob Dylan já era um ícone. De "embaixador" da música folk - sucessor direito de Woody Guthrie -, tornou-se o rebelde do estilo ao eletrificar seu som. Vindo do também clássico Highway 61 Revisited (1965), Blonde On Blonde fecha sua trilogia rockeira, concretizando os caminhos de um artista genial.


Sendo o primeiro disco duplo da história do rock, Blonde On Blonde é o retrato - e, ao contrário da capa, nada desfocado - do quão produtivo era o Dylan. O álbum transita entre a mais fina arte literária e a cultura de massa em voga (no caso, o rock).

Produzido por Bob Johnston em Nashville, Dylan tem sua poética sínica e ácida acompanhada por uma ótima banda de apoio, a futura The Band, com inclusão do Al Kooper e destaque para o guitarrista Robbie Robertson, vide sua performance na linda "I Want You".

Mas a abertura da obra se dá com "Rainy Day Woman #12 & 35", um blues ébrio de sonoridade profunda, que remete diretamente as ruas de New Orleans.

Adoro o desenvolvimento melódico de faixas como "One Of Must Know (Sooner Of Later)", com destaque para a interação do piano com o órgão dentro do arranjo.

A melancolia se faz presente na bucólica "Visions Of Johanna" (que reforça o grande interprete vocal que é o Dylan, ainda que isso nem sempre seja levado em conta) e na balada/valsa "Just Like A Woman", dois dos maiores clássicos do repertório do Dylan.

"Sad Eyed Lady Of The Lowlands", um épico de 11 minutos que ocupa um lado inteiro do vinil, é que fecha a obra, sendo tanto uma declaração de amor para sua esposa Sarah Lowndes, quanto um prefácio de que o sonho de "paz & amor" hippie era somente uma utopia.

Meses após o lançamento, Dylan se envolveu num acidente de moto que quase tirou sua vida. Felizmente, ele se recuperou. Todavia, se ali sua passagem pela Terra tivesse acabado, seu nome já estaria grifado na história.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Crosby, Stills, Nash & Young - Déjà Vu (1970)

Crosby, Stills & Nash já nasceu como supergrupo, tendo como integrantes membros oriundos respectivamente do Byrds, Buffalo Springfield e Hollies. O álbum de estreia lançado pelo trio obteve ótimo êxito artístico e comercial, mas eles tinham ainda mais o que conquistar. Para o trabalho seguinte, Neil Young somou forças ao grupo, contribuindo para um dos mais belos discos da música americana, Déjà Vu (1970).


"Carry On" é uma abertura arrasadora. O violão encorpado tipicamente sulista, as frases de guitarra, o arranjo vocal e o clima latino no solo final são de extremo bom gosto.

É empolgante a performance de Crosby em "Almost Cut My Hair", assim como a encorpada guitarra que rodeia a balada. É possível destacar também o country melodioso "Teach Your Children" - com direito a pedal steel tocado por Jerry Garcia -, a tristonha e rural "Helpless", a rockeira "Woodstock" e a pop beatlemaniaca "Our House", onde Nash esbanja seu lirismo aconchegante ao cantar sobre tempo em que viveu com a Joni Mitchell.

Emendado com a curtinha e folk "4+20" está a épica "Country Girl", ambiciosa e bem sucedida em todos os quesitos possíveis, evidenciando o quão bem o Neil Young fez musicalmente para o grupo, embora o clima interno não fosse favorável.

Mas a canção mais impressionante do disco é a quase progressiva "Déjà Vu". Dona de diferentes climas e dinâmicas, da tão estupenda qualidade vocal do grupo, de violões arrojados, excelente linha de baixo, progressão de acordes criativa e solo de guitarra veludoso executado pelo subestimado Stephen Stills. Obra-prima!

A reunião destes quatro importantes nomes da década de 1960 simboliza a contracultura americana, sendo essa estupenda obra o registro definitivo do quarteto.

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quarta-feira, 11 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Donovan - Sunshine Superman (1967)

Em 1967, Donovan Leitch já era um astro inglês com dois bons discos na bagagem e singles de sucesso. Todavia, Bob Dylan já havia eletrificado seu som e o rock psicodélico despontava nos EUA. Nesse panorama veio Sunshine Superman, uma obra folk-psicodelica-pop-hippie inglesa.


Se a capa colorida já esbanja psicodelia, o hit "Sunshine Superman" - que chegou ao segundo lugar tanto na parada inglesa quanto americana -, traz em seu riff motivos orientais. Essa abordagem fica ainda mais nítida nas cítaras indianas executadas por Shawn Phillips em "Three Kngfishers" e "Ferris Wheel".

É uma experiência quase cinematográfica ouvir canções deliciosas como o blues/folk "The Trip" e a épica "Legend Of A Girl Child Linda", dona de arranjo belíssimo e interpretação majestosa de Donovan.

O disco ainda guarda nas mangas a clássica "Season Of The Witch", muito mais pesada que as demais, dona de riff garageiro executado por um jovem músico de estúdio chamado Jimmy Page.

Comemorando 70 anos nessa semana, Donovan permanece obscuro no Brasil. Sua música, por outro lado, permanece luminosa, lúdica e revigorante.

terça-feira, 10 de maio de 2016

TEM QUE OUVIR: Belchior - Alucinação (1976)

O cearense Belchior é um artista único dentro da música brasileira. Rompeu com o eixo Bahia-Rio-São Paulo através de suas maravilhosas composições cedidas a interpretes como Elis Regina. Em 1976, apostou alto no seu segundo trabalho. O resultado não poderia ter sido melhor.


Sucesso entre critica e público, Alucinação é emotivo, irônico, depressivo e rompe com qualquer otimismo hipponga. Tecnicamente, para refinar suas composições, contou com a produção de Mazzola e o apoio do chefão da indústria André Midani (da então Polygram), além de músicos de alto calibre, vide o pianista/arranjador José Roberto Bertrami, o baixista Paulo César Barros e o guitarrista Rick Ferreira.

Em parte, o sucesso se deu devido o alcance que Belchior teve através de suas composições presentes no aclamado Falso Brilhante da Elis Regina, lançado um ano antes de Alucinação. Entre tais canções com o mesmo êxito artístico em ambas as obras estão a emblemática/desiludida "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida", aqui bem mais progressiva.

Se a voz fanha de Belchior soa peculiar, suas letras e interpretação convicta compensam. A balada pop "Apenas Um Rapaz Latino Americano" é existencialista e sarcástica. A grooveada "Sujeito de Sorte" tem seu ápice na frase "ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro". A autobiográfica "Fotografia 3x4" é emocionante. Já "Alucinação" é o retrato perfeito do tédio urbano.

Se hoje a figura de Belchior é associada com viés cômico as estranhices envolto o seu sumiço, por sua vez, a linda "A Palo Seco" já revelava muito dessa tendência reclusa.

Um álbum genial de um compositor que, embora tenha escrito canções sem firulas, parece ainda não ter sido completamente compreendido.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

ACHADOS DA SEMANA: Charlie Brown Jr., Rick James, Skate Aranha e Led Zeppelin

CHARLIE BROWN JR.
Maluco, o que é essa demo do Charlie Brown! Quem curte Pantera e hardcore NY tem que ouvir. Impressionante.

RICK JAMES
Tá aí um cara que merecia um filme. Baixista e personalidade icônica.

SKATE ARANHA
Tem algo melhor feito no Brasil atualmente em termos de rock? Divertido demais.

LED ZEPPELIN
Só para não perder o costume.