sábado, 30 de abril de 2016

TEM QUE OUVIR: Tears For Fears - Songs From The Big Chair (1985)

Tem algo que vivo constatando aqui no blog e que vou reforçar novamente: ninguém faz música POP (com letras garrafais) melhor que os ingleses! Dos Beatles ao Depeche Mode, passando por David Bowie, New Order e Pet Shop Boys, tudo sempre soa moderno, melódico, ultra produzido, brilhantemente arranjado, com letras intrigantes e resultados comerciais que justificam a difícil alcunha de ser POP. Dentre tantos exemplos já citados, o Tears For Fears e seu Songs From The Big Chair (1985) também merece destaque.


Formado por Roland Orzabal e Curt Smith, o duo que vinha do aclamado The Hurting (1983), encontrou ainda mais força na parceria com os produtores Chris Hughes e Ian Stanley, sendo esse segundo disco o fruto colhido.

Definindo o gênero synthpop, alguns faixas logo tornaram-se hits da época. A encorpada "Shout" é o primeiro exemplo. Sua riqueza instrumental, arranjo detalhado e refrão que salta aos ouvidos logo na introdução, fez da canção um enorme sucesso, mas não o único. Com as mesmas características, "Head Over Heels" também alcançou grande destaque. Sua complexa melodia é certeira. 

Já "Everybody Wants To Rule The World" é radiofônica mesmo trinta anos após o lançamento, ainda que liricamente reflexica e num 12/8 pouco dançante. E que outra banda dita de synthpop colocaria um solo de guitarra desses em seu single? 

Impossível não destacar o melódico solo de saxofone de Mel Collins - sim, aquele mesmo do King Crimson - na ótima "The Working Hour". Alias, essa não é a única referência progressiva, tendo em vista que a letra de "I Believe" é dedicada a Robert Wyatt, ícone da cena de Canterbury. Atenção para a interpretação vocal ultra sensível do Roland Orzabal.

Vale menção ainda para a construção intrincada de "Mothers Talk". O resultado sonoro é poderoso.

De perfeccionismo tanto nas composições quanto na elaborada produção, Songs From The Big Chair é uma pérola do POP oitentista.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

PRINCE, O ÚLTIMO EXCÊNTRICO DO POP

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Prince morreu. O singular artista foi encontrado morto em sua casa/estúdio aos 57 anos.

Devo confessar que minha interação com a obra do Prince foi tardia e pontual. Por muito tempo o artista foi para mim - e para muitos que nasceram na década de 1990 - apenas um cantor espalhafatoso, "gayzão", dono de um estranho hit chamado "Kiss".

Tudo começou mudar conforme amadureci. Quando ele lançou o Musicology (2005), - álbum que colocou o artista de volta ao topo das paradas após anos de fracassos comercial -, eu já tinha meus 14 anos. De imediato percebi que o groove do disco era riquíssimo. Chegara a hora de adentrar com seriedade sua obra.

Purple Rain (1984) foi a porta de entrada óbvia. Trilha sonora de um filme cafonaço, o álbum ao menos é uma unanimidade pop, que funde funk, rock, r&b e synthpop. Melhor ainda era o anterior, 1999 (1982), onde sua magnitude artística beira o absurdo.

Sua excentricidade, ao contrário de muitos "artista" criados, não está somente em sua roupa, postura e dança, mas também em seu talento sonoro. Multi-instrumentista virtuoso - GRANDE guitarrista -, produtor impecável e compositor de mão cheia, seu absurdo talento se contrapunha a mediocridade que reinou na música pop. Prince conseguia reunir em sua baixa estatura pitadas de James Brown, Stevie Wonder, Jimi Hendrix, Miles Davis, George Clinton, Sly Stone e Giorgio Moroder. Duvida? Ouça seus espetaculares dois primeiros álbuns, onde gravou TODOS os instrumentos. É genial!

Outro lado de sua excentricidade está em seu combate ao corporativismo da música. Quando se deu conta que não tinha direito sobre suas gravações originais, chegou a mudar seu nome para um símbolo impronunciável e lançar discos de qualidade questionáveis só para boicotar sua gravadora, a Warner. Quando vinha a público, era sempre com a palavra "Slave" ("escravo") escrita na cara.

Ao se livrar da gravadora, voltou a produzir insanamente. Logo de cara saiu o triplo Emancipation (1996). Todavia, sua música ficara cada vez mais complexa, lisérgica, funkeada e menos acessível. Produtivo como poucos em estúdios. Incansável nos palcos.

Resistente ao compartilhamento de músicas pela internet, lutou contra a exposição da sua obra pela rede. Não tinha página do Facebook, mandou retirar seus vídeos do YouTube, não estava presente nos sites de streaming e nem mesmo nos de download ilegais. Isso inevitavelmente o afastou de uma nova geração acostumada a ter as coisas com apenas um click. Aparentemente nada disso o incomodou. Ele fez do auto boicote um charme.

Pós-Prince, nenhum arista do pop reuniu tanto talento e excentricidade. Lady Gaga tentou, mas não chegou nem perto. Hoje não é nem excêntrica, nem pop, nem talentosa. Na monarquia da música, Prince é único.

sábado, 16 de abril de 2016

TEM QUE OUVIR: Merle Haggard - I'm A Lonesome Fugitive (1967)

Aqui no Brasil, a música country ficou restrita a nichos, sendo comumente associada a caipiras americanos. Talvez o único artista que transcendeu o gênero foi o Johnny Cash, que mais pela sua  vida conturbada do que pela música, caiu no gosto da molecada.


De vida tão maluca quanto do homem de preto, com direito a bebedeiras e passagem pela prisão - onde assistiu o lendário show de Cash em San Quentin em 1959 - Merle Haggard é o próximo passo para quem quer adentrar a country music.

Os trabalhos do artista lançados pela Capitol evidenciam o exímio compositor/cantor/guitarrista que era Marle Haggard. O principal disco desta fase talvez seja I'm A Losesome Fugitive (1967), sendo justamente a faixa titulo um enorme sucesso do gênero.

Músicas como "Life In Prison" - regravada pelo Byrds -, discorre sobre sua passagem pela cadeia. "All Of Me Belongs To You" por sua vez recorre ao tema mais universal: o amor. Mais apelativo somente a dolorosa balada "House Of Memories".

Uma visita ao passado é feita na versão de "My Rough And Rowdy Ways", de autoria do folclórico Jimmie Rodgers.

Acompanhado de sua lendária banda de apoio The Strangers, além de requisitados músicos de estúdio como Glen Campbell e James Burton, sobram boas passagens de guitarra e steel guitar. Claro, isso sem falar do vozeirão de Merle. Tamanha qualidade fez dele um fenômeno americano e um dos principais nomes da subestimada música country.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

BLOGS, SELOS E ARTISTAS CONTRA O GOLPE

Não costumo alimentar meus textos com opiniões politicas que julgo pouco importarem aos leitores do blog. Mas diante de um momento histórico do Brasil, creio que o posicionamento é fundamental.

Observando os fatos, embora sem conhecimento jurídico, vejo todo o processo de impeachment como algo oportunista, financiado não só por figuras odiosas da politica, mas também por setores do imperialismo, que ameaçam a democracia brasileira e os poucos - embora extremamente importantes - avanços do governo atual. Sendo assim, humildemente, o Pais do Baurets, junto com diversos outros blogs, selos e artistas, se coloca contra o golpe.

https://blogseseloscontraogolpe.wordpress.com

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Para quem não viveu a cena techno

Essa semana fiz um post desbravando a house music, indo dos clubs de Chicago até a eclosão das raves em Manchester. Agora, volto para música eletrônica justamente de onde o outro post parou, adentrando a música techno.

Eu conheço porquíssimo dessa cena, mas diante de pesquisas que tenho feito, consegui selecionar minhas faixas prediletas.

Vitalic

Model 500 - No UFO's (1985)
Diretamente de Detroit - berço do gênero -, uma das faixas precursoras do techno. Inclusive, ela é bastante avançada pra época. Obra do Juan Atkins, DJ importantíssimo para a cena eletrônica.

Mescalinum United - We Have Arrived (1991)
Assinando como Mescalinum United, o Marc Trauner já em 1991 lançou essa paulada, que prevê o hardcore techno. The Advent e Aphex Twin são apenas alguns que se influenciaram pela faixa, sendo que posteriormente ambos fizeram seus remixes.

CJ Bolland - Camargue (1992)
Seria esse o primeiro hit de pista do techno? Acho que sim, até porque fez bastante sucesso na noite do período, além de ser uma bela composição.

Plastikman - Spastik (1993)
Com ritmos e até mesmo breakdowns "estranhos", o Richie Hawtin fez do embrião do techno algo bastante ousado e complexo. Tem quem chame de minimal techno ou até quem jogue no balaio do IDM. Especial.

Underground Nation Of Rotterdam - I Am The Master (1993)
Pesado, veloz, ruidoso e saturadíssimo. Dá para considerar precursor daquela cena gabber, desta forma transcendendo o techno. Brutal.

Basic Channels - Phylyps Trak (1993)
Esse duo alemão funde duas propostas de manipulação de áudio: a sujeira techno com com as mixagens impulsivas do dub. O resultado é explosivo.

Choice - Acid Eiffel
Um épico do techno. É techno pra quem curte progressivo. É pra derreter na pista. 

Dave Clarke - Wisdom To The Wise (1994)
Dono de conhecidos remixes para Depeche Mode e New Order, Dave Clarke lançou também EPs nomeados Red que foram extremamente importantes para a cena techno. Até o John Peel rasgou seda pra ele. Nesta faixa chama atenção como a composição se desenvolve numa crescida hipnotizante.

Josh Wink - Higher State Of Consciousness (1995)
Acid techno americano que chegou no topo das paradas da dance music inglesa. Ela tem um "pulso" drum and bass espetacular. Fora esse synth que parece perfurar nosso crânio a cada subida no pitch.

Speedy J - Ping Pong (1995)
Techno holandês. É claramente um desenvolvimento do estilo se comparado ao que era feito até então. Um dos pilares da IDM.

The Advent - Bad Boy (1995)
Duo formado por um inglês e um português que lançou o importante álbum Element Of Life, que contém a ótima "Bad Boy". Clássico da época.

Adam Beyer - Decoded (1995)
Logo no inicio da carreira, esse espetacular DJ já entregava faixas corrosivas, de graves densos e ritmos intrincados.

Underworld - Born Slippy (1995)
Esse duo fez bastante sucesso em meados da década de 1990, sendo que essa música tornou-se um hit após ser incluída da trilha-sonora do Trainspotting. Assim como outros momentos do grupo, ela explora batidas de techno ultra pesadas dentro de um contexto bastante progressivo. Seu vocal tem uma atitude punk tipicamente britânica.

DJ ESP - Birdman (1996)
O EP Basketball Heroes (1996) foi um um marco do acid techno. Na faixa "Birdman" está suas principais qualidades: é alucinante, pesado e dançante. 

Elektrochemie LK - Schall (1996)
Apenas se atente a essa linha de baixo ultra saturada. Espetacular.

Jeff Mills - The Bells (1996)
Um super hit do cenário eletrônico. Faixa de abertura memorável, com aquele peso típico de Detroit. Sensacional.

DJ Rush - Maniac (1997)
Um dos DJs mais singulares e frenéticos do estilo. Suas produções transbordam personalidade.

Neil Landstrumm - Tension In New York (1997)
Um clássico do techno "estranho". É um estilo mais esquelético em elementos, mas com graves definidos capazes de deslocarem o cérebro do lugar. O álbum Bedrooms And Cities (1997) marcou época.

Thomas Krome - Bitches From Hell (1998)
Quando suecos se propõe a fazer algo, se prepare que vem porrada. [1] É cavernoso.

DJ Hell - Copa (1998)
Figura fundamental pra cena eletrônica da Alemanha. Ele tem décadas de serviços prestados, proporcionando ótimas produções, vide "Copa", feita uma homenagem ao Brasil. A faixa mais solar aqui listada.

Underground Resistance - Afrogermanic (1998)
Oriundo de Detroit, esse coletivo em muitos momentos bebeu nos primórdios do miami bass para a construção de um techno sinistro, encorpado e político.

Ben Sims - Body Music (1999)
Aqui há uma forte presença de graves na construção de uma batida que invade nossos corpos. É uma produção bastante moderna.

Innerzone Orchestra - Eruption (1999)
Programmed (1999), disco espetacular deste projeto que consiste no encontro do DJ/produtor Carl Craig com instrumentistas de jazz. O resultado é um trabalho rico em timbres, climas, ritmos e de resultado não menos que memorável. Pra ser bem honesto, na maior parte de tempo nem se enquadra no techno, mas vale a menção para sinalizar as possibilidades que englobam o estilo.

Laurent Garnier - The Man With The Red Face (2000)
Um dos melhores DJ's - tanto em termos técnicos quanto de repertório -, num épico da música techno, com direito a elementos jazzisticos.

Moodymann - Tribute (2000)
Diretamente de Detroit, esse DJ/produtor traz uma organicidade em seu trabalho, sabendo capturar os sons que o ronde-a (do jazz à música africana) e inserindo dentro do contexto do techno e da house music. O álbum Forevernevermore (2000) é uma maravilha.

Chris Liebing - Analog EP (2001)
Ótimo DJ alemão. Essa produção é suja e nocauteante. Vale ainda dar uma pesquisada no EP American Madness (2003). É uma cacetada.

Surgeon - Death Before Surrender (2001)
Obra-prima do inglês Anthony Child. Extremamente pulsante, grave e volumosa. Levanta pista. 

Vitalic - La Rock 01 (2001)
Uma pérola do talentoso Pascal Arbez, renomado DJ francês. É um clássico do gênero, completamente pensada para grandes festas. Vale pontuar que o disco OK Cowboy (2005) é um dos clássicos do gênero. 

Mr. Sliff - Rippin And Dippin (2001)
Quando suecos se propõe a fazer algo, se prepare que vem porrada. [2] Beat rápido e carismático.

Oxia - Domino (2002)
Dá para chamar isso de acid techno, né? Faixa imersiva, feita pra dançar até derreter.  

Alexander Kowalski - Speaker Attack (2002)
Pesado, dançante e viajante.

Renato Cohen - Pontapé (2002)
Um clássico do techno paulistano que transcendeu o seu local de origem.

Glenn Wilson - Enemies (2003)
Precursor do hard techno. Para mim, nervoso até demais. Nada que alguns aditivos não me façam adentrar esse estado de espírito.

DJ Murphy - Tem Lenha (2004)
Esse DJ foi muito responsável por animar a noite paulistana. Isso desde a década de 1990. Lembrei dessa música que traz certa "brasilidade não caricata" pra música techno dentro de uma produção pesadíssima. 

DJ Mau Mau - The Lov.e Club (2004)
Mais um personagem importante da cena brasileira. Aqui, no nome da faixa, ele já entrega seu habitat natural.

Oscar Mulero - False Statement (2012)
Pra finalizar, um tremendo disco techno que descobri há pouco tempo: Black Propaganda (2012) do madrilense Oscar Mulero. É um techno já experimental, que se apropria do glitch, do ambient, do noise... da liberdade. Vale muito conferir.