quinta-feira, 31 de março de 2016

Decupando "Pump Up The Volume - A História da House Music"

Dias atrás assisti o ótimo documentário Pump Up The Volume, que narra a história da música eletrônica, começando pelas boates de disco music, passando por suas raízes em Chicago, partindo para a ascensão da house music em Nova Iorque e, posteriormente, no Reino Unido. Disso compilei alguns sons e acrescentei algumas outras faixas, que ajudam a narrar essa rica história. Com áudio junto, as minhas prediletas:

Larry Levan, Frankie Knuckles e Tee Scott

Cybotron - Techno City (1984)
Marco da música pré-house, pré-techno. Meio synthpop, bebendo tanto do Kraftwerk quanto do Afrika Bambaataa. É a house em desenvolvimento inicial e espontâneo.

Jesse Saunders - On & On (1984)
O primeiro grande hit da chamada chicago house partiu de alguns malucos que escreveram, gravaram e prensaram o próprio disco para tocarem nas festas da região. DIY ao extremo. A faixa "On & On" é assinada pelo Jesse Saunders. É das melhores do estilo? Claro que não, mas inspirou outros diversos artistas a arriscarem suas próprias produções.

Chip E - Time To Jack (1985)
Com a house music começando a chamar a atenção em toda Chicago, choveram moleques juntando linhas de baixo contagiantes com bumbos pesados e letras nonsense. "Time To Jack" é um exemplo.

Steve 'Silk' Hurley - Music Is The Key (1985)
Entre a evolução sonora e o crescimento da popularidade do estilo, vieram outras pérolas como essa, de ritmo pulsante, sintetizadores luminosos e melodiosa linha vocal.

Jamie Principle (com produção do Frankie Knuckles) - Your Love (1986)
Esses dois jovens não viram de corpo presente a comoção explosiva que os DJs promoviam em Chicago reciclando a disco music (vide Larry Levan (Paradise Garage), Frankie Knuckles (The Warehouse), Ron Hardy (Muzic Box), François Kevorkian (Studio 54), Farley Jackmaster Funk e os todos caras da rádio Hot Mix 5). Todavia, de alguma forma eles sentiram a vibração no ar para criar aquilo que ficou conhecido como house music. "Your Love" é um hino underground.

Larry Heard (Mr. Fingers) - Can You Feel It? (1986)
Quando soar dançante não era mais o suficiente e a necessidade de explorar a música pela música falou mais alto, nasceram hinos como "Can You Feel It?", de sofisticação impressionante e, pela primeira vez, completamente sem voz.

Marshall Jefferson - Move Your Body (1986)
Nessa de expandir os limites da house music, Marshall Jefferson misturou um ritmo dançante com timbre de piano acústico, melodias vocais pop e jogou para fora de Chicago um estilo que agora virara universal, chegando com força na Inglaterra.

Farley Jackmaster Funk feat. Darryl Pandy - Love Can't Turn Around (1986)
Com um cantor de vozeirão que mais parecia um reverendo gay somando forças com artistas rodados da cena de Chicago, nasceu esse peculiar hit da música eletrônica.

Phuture - Acid Tracks (1987)
Se nenhuma grande gravadora se interessava em lançar discos do estilo, nada mais lógico e ousado que criar o próprio selo. Assim nasceu a Trax. Junto com ela veio diversos sequenciadores, sintetizadores e outros apetrechos eletrônicos que levaram a música para novas direções. Em "Acid Tracks" é som do Roland-303 que salta aos ouvidos. O responsável por traz da obra é o desbravador DJ Pierre. Nascia a minimalista e delirante acid house.

T-Coy - Carino (1987)
Com certa resistência dos mais preconceituosos (e não digo somente no quesito musical, mas também racial e sexual), mas com aprovação de diversos DJs, que enfureciam a noite em danceterias inglesas, a house music deixou de ser exclusiva de Chicago e britânicos passaram a produzir suas próprias obras. Essa é uma das primeiras. Curiosamente, dona de uma latinidade peculiar.

Joe Smooth - Promised Land (1987)
Com a house dominando a noite inglesa, mais precisamente em Manchester, os artistas de Chicago fizeram uma tour por lá. O grande destaque dessa viagem foi Joe Smooth, que acabou deixando como fruto esse hino da house music.

Rhythim Is Rhythim - Strings Of Life (1987)
Foi via o jovem Derrick May que a house sofreu uma mutação elaborada e ainda mais agressiva, se transformando no que viria a ser a música techno oriunda de Detroit. "Strings Of Life", a obra-prima singular deste período, foi explicada pelo Derrick como "o encontro do Kraftwerk com George Clinton num elevador separados apenas por um teclado". Faz sentido.

Inner City - Big Fun (1988)
Regado a ácido e agora com anos de aperfeiçoamento, a Inglaterra tomou de assalto a música techno e fez seu próprio verão do amor em 1988. A trilha sonora foi essa música, uma típica acid house repleta de vocais melódicos.

A Guy Called Gerald - Voodoo Ray (1988)
Como uma espécie de mantra hipnótico, a delirante "Voodoo Ray" fez o ácido das festas eletrônicas ficar mais intenso. Dona de ritmo minimalista e melismas vocais com traços indianos, nada se igualava a obra do Gerald Simpson, posteriormente integrante do 808 State.

Bomb The Bass - Beat Dis (1988)
Também na Inglaterra, o produtor Timothy Simenon, sob o pseudônimo de Bomb The Bass lançou, o disco Into The Dragon (1988), uma pérola da dance music, que elevou em muito as produções de house, deixando-as mais dinâmicas, atraentes e pulsante. É uma maravilha. A clássica "Beat Dis" retrata muito bem o artista. 

The Todd Terry Project - Weekend (1988)
Voltando para os EUA, uma entre tantas músicas que faziam a trilha sonora dos clubs da época, já que house music era barrada nas rádios americanas. Com o peso das batidas do hip hop, Toddy Terry chamou atenção de quem descriminava a house. Pesado, hard, cru e com o pé nas origens de Chicago.

Ten City - That's The Way Love Is (1989)
Marshall Jefferson foi o DJ de Chicago que melhor entendeu os ingleses. Em busca de montar o grupo definitivo que representasse o som de Chicago - pretensioso, não? -, formou o Ten City, que presenteou a Inglaterra com canções de sensibilidade pop e instrumentação "orgânica".

Danny Rampling
Foi a partir de uma ida de alguns jovens ingleses para comemorar o aniversário de um ainda jovem Paul Oakenfold em uma festa em Ibiza, que a Europa entendeu definitivamente a música que viera de Chicago. E isso ocorreu com ajuda de muito ecstasy e da mistura bombástica de estilos feita pelo pouco lembrado DJ Alfredo. Esse clima foi levado de volta para Inglaterra. Nascia a pequena danceteria Shoom, o berço da cultura rave. O DJ principal do local: Danny Rampling.

S'Express - Theme From S'Express (1989)
Raves a milhão e um novo club aberto a cada semana. O estilo clubber se faz presente em Londres, regado por drogas e roupas excêntricas. No falantes, alimentando a cena, esse tema da S'Espress.

Adamski - NRG (1989)
As festas acid chamaram atenção na mídia e viraram caso de policia para os tabloides, curiosamente ajudando a fomentar o movimento e fazendo com que ainda mais jovens quisessem fazer parte daquilo. As festas ficaram maior que a música. O dinheiro começou a entrar como nunca na e-music.  

Happy Mondays - WFL Think About The Future Mix (1989)
E claro que o indie rock de Manchester da época iria se atentar a tudo isso, sempre regado a ecstasy, trazendo de volta a psicodelia para o rock. Para auxiliar a banda: Paul Oakenfold. Eis a cena de Madchester. Com o rock adentrando a cena house, logo brancos e negros estavam se unindo por uma causa: dançar até o amanhecer.

Masters At Work - Chic Mystique (1992)
Aqui vale um salto temporal pra dizer que, só três anos mais tarde, que a música eletrônica alcançou verdadeiro sucesso comercial nos EUA. Isso via o Masters At Work, que faziam remixes para hits da parada pop americana.

Black Box - Ride On Time (1989)
Na Inglaterra, a house chegava ao Top Of The Pops através de DJs italianos com sample da disco music e a uma modelo dublando os vocais da faixa. Tudo para tornar a coisa mais rentável.

Orb - Little Fluffy Clouds (1990)
Mas nem tudo era meramente comercial, vide a riqueza sonora do Orb. Ambient house, acid house, downtempo... novas vertentes da música eletrônica que ressaltavam sons hipnotizantes da natureza. Eis o Chill Out.

Orbital - Chime (1990)
O duo Orbital também levou a arte eletrônica para novo patamar, ressaltando o que realmente importava. Através de novos sequenciadores, ainda havia muito a se criar dentro da dance music inglesa.

Shut Up And Dance - 10 Pounds To Get In (1990)
Independente da fusão com outros estilos, a house evoluía por si só através dos ritmos complexos do Shut Up And Dance. Nada mais de "bate estaca" em 4/4, o groove quebrado do hip hop chegara de vez ao estilo. Daí vieram jungle, uk garage, house hardcore e outras subvertentes. Para muitos apenas a evolução natural da house music.

Joey Beltram - Energy Flash (1990)
Enquanto isso, na América, um moleque que cresceu ouvido a chicago music vira um dos grandes nomes da música eletrônica. Eis o techno na pura essência, embora ainda sem a "criação" do gênero.


Carl Cox - I Want You (Forever) (1991)
Beliscando a música techno e o que viria a ser o drum and bass, Carl Cox lançou essa cacetada e logo se tornou um astro em Ibiza. 

Goldie - Terminator (1992)
Movidos por drogas, em festas darks, aumentando o bpm e trazendo timbres cada vez mais pesados, a cena inglesa estava entrando em combustão. Contribuindo para essa insanidade sonora e sensorial, Goldie cria uma nova subvertente, o drum and bass.

Goldie - Inner City Life (1994)
Quando Goldie entregou essa pérola, ficou visível para todos: a música eletrônica chegara ao ápice. Linhas de baixo e batidas sampleadas não eram mais suficientes. A sofisticação de Goldie levou a música para outro patamar artístico. Logo Madonna e U2 também queria fazer parte disso. A e-music chegou ao pop.

Leftfield - Open Up (1995)
O Leftfield por sua vez levou para os palcos a presença de uma banda e fez dos show de e-music um espetáculo como qualquer outro. Com essa capacidade, sons aborígenes, dub e reggae também faziam parte do repertorio do grupo. Até John Lydon se rendeu ao som da banda. Fez enorme sucesso na Inglaterra.

Housey Doingz - Gobstopper (1996)
Com o surgimento de subgeneros, apareceram variações especificas da house music. Para muitos, essa faixa do Terry Francis com o Nathan Coles representa o nascimento da tech house, ou seja, a fusão do techno com o house.

Tori Amos - Professional Widow (Remix do Armand Van Helden) (1996)
E claro, gravadoras visando o lucro, bancaram que DJs dessem uma turbinada com remixes em canções pop insossas. Tudo agora tinha que ter cara de club, mesmo quando feito em estúdio. Aqui o resultado é bacana.

Theo Parrish - Sweet Sticky (1998)
Esse produtor de Detroit sabe como soar tão estranho quanto dançante. Um dos maiores representantes do deep house. Garimpar discos é com ele mesmo. Ainda hoje um nome importante no cenário eletrônico. 

Sasha - Xpander (1999)
Um clássico da fusão da house com o trance, isso num formato bastante palatável, apontando para uma das vertentes que o estilo caminharia daqui em diante.

Isolée - Beau Mot Plage (2000)
Esse produtor alemão brilhou nessa faixa ultra bem construída. Sua primeira parte traz sintetizadores kraftwerkianos numa melodia/ritmo palatável. Já na metade final a coisa fica mais "borbulhante", pulsante e densa. Rola interação com o glitch. É comumente chamada de microhouse.

Alan Braxe - Intro (2005)
Lembrei da compilação The Upper Cuts (2005), que reúne trabalhos deste produtor francês que tão bem trouxe a disco music de volta para house. Mas falando da pura house music, "Intro" é uma pérola.

Luomo - Market (2005)
O produtor Vladislav Delay num trabalho que atende por gêneros como microhouse e deep house. Para mim, apenas a música eletrônica em grande momento. Dançante, elaborada e… “charmosa”. É som de casa noturna de rico, talvez pela sofisticação quase lounge. Eu gosto bastante do disco Vocalcity (2005)

terça-feira, 29 de março de 2016

TEM QUE OUVIR: Chico Science & Nação Zumbi - Afrociberdelia (1996)

Neste mês de março, choveram homenagens ao Chico Science, que se estivesse vivo faria 50 anos. Pensando nisso, recapitularei o espetacular Afrociberdelia (1996) da Nação Zumbi, que embora não seja tão cultuado quanto o clássico Da Lama Ao Caos (1994), sempre me pareceu melhor acabado.


Embora com vendas pouco expressivas, a banda oriunda de Recife (PE) já havia começado sua revolução musical que rendera aclamação entre artistas e a mídia especializada, além de uma ruptura comercial do eixo Rio-São Paulo, fortificando uma identidade cultural brasileira.

Ainda calcando sua sonoridade na fusão de sons regionais - principalmente o maracatu -, com heavy metal, dub e hip hop, além de letras que misturam literatura de cordel com surrealismo, a Nação Zumbi aperfeiçoou sua formula única nas composições, execução e produção.

Se "Crianças de Domingo" é de autoria do Cadão Volpato (Fellini), por sua vez, a emblemática "Maracatu Atômico" é de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Mas foi a versão da Nação, que passou massivamente na programação da MTV Brasil - sendo o último clipe a ser exibido pela emissora, tamanha a influência -, que definiu o movimento Manguebeat. Outra canção clássica que contribuiu para isso foi "Manguetown", dona de letra não menos que fantástica e interpretação voraz do Chico Science.

"Sangue de Bairro" e "Enquanto O Mundo Explode" formam uma dobradinha ultra pesada que, de certa forma, se comunica com o que o Sepultura vinha fazendo até então. Muito disso é mérito do guitarrista Lúcio Maia, que também brilha nos riffs e grooves de "Etnia".

É interessante também observar que, entre extremos tão distintos, em "Macô" é possível ouvir as vozes de Gilberto Gil e Marcelo D2, além de sample de Jorge Ben.

O peso das alfaias em "O Cidadão do Mundo" se comunica muito bem com a consistente cozinha formada pelo Pupilo (bateria) e Dengue (baixo).

Entre tantas pérolas dentro desse mangue, não seria possível deixar de citar o balanço funky/afrobeat de "Um Passeio No Mundo Livre", a poesia concreta de "Samba do Lado" (com participação do Fred 04), a sombria "Corpo de Lama" e a paulada "Um Satélite Na Cabeça". 

Infelizmente, menos de um ano após o lançamento do disco, Chico Science morreu num trágico acidente de carro. Restou a lenda o seu legado.

segunda-feira, 14 de março de 2016

PITACOS SOBRE O LOLLAPALOOZA

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

Antes de tudo preciso ser franco: pouco dei atenção para o Lollapalooza. Entre programas com amigos e zapeadas pela TV na manifestação da ala mais conservadora e hipócrita da sociedade brasileira, pouco me restou para avaliar no festival. Sábado mesmo não vi nada. Pouco me interessava ali. Talvez o Die Antwoord, Eagles Of Death Metal, The Joy Formidable, Vintage Trouble, The Baggios e Tame Impala, que insisto em dar nova chance.


Mas no domingo até conseguir ver alguma coisa. A primeira surpresa foi o Gramatik. Para um show no meio da tarde, de um DJ e visto pela TV - quem da música eletrônica além do Prodigy, Daft Punk e Chemical Brothers faz shows que não é um porre de assistir pela TV? - achei tudo muito legal. Groove dançante, samples calcados na soul music e um bom guitarrista lançando frases bluseiras. Legal o suficiente pra eu ir atrás do disco.

Depois dei um espiada no Albert Hammond Jr, mas não aguentei muito. Som insosso que só deve cair no gosto de quem tem uma predileção surda pelo Strokes. O contrário foi a performance do Noel Gallagher e seu High Flying Byrds, que com boas composições - é pastiche dos Beatles? Sim, mas ta velendo! - e ótima banda de apoio, fizeram um show bastante consistente.

Bom também foi o Alabama Shakes. Goste ou não, é indiscutível que a cantora Brittany Howard é dona de uma grande performance vocal. Já o instrumental da banda, em suas devidas proporções, me lembra muito a Booker T. & The M.G.'s.  Isso definitivamente não é pouca coisa.

Em meio a tantas bandas de sonzinho bunda - coloque o Walk The Moon, Twenty One Pilots, e outras presepadas indescritíveis neste pacote -, assistir o Planet Hemp é quase como ver o Bad Brains, ainda mais agora com o repertório calcado nos sons mais hardcore do grupo. Sobrou até para o João Gordo dar seus habituais berros. Showzão!

Como saldo final, Lollapalooza é um festival que atende bem seu público, que adora tirar foto na roda gigante e postar em sua rede social favorita com hashgtag de marca de chicletes, ora ou outra fazendo polichinelo ao som fofinho do Mumford & Sons. Um sinal dos tempos. Cada geração tem o festival que merece.

domingo, 13 de março de 2016

TEM QUE OUVIR: Emerson, Lake & Palmer - Pictures At An Exhibition (1971)

O rock progressivo é um gênero de excessos, mesmo quando feito por um trio. É isso que fica claro em Pictures At An Exhibition (1971), terceiro trabalho do Emerson, Lake & Palmer.


Formado respectivamente por membros oriundos dos grupos The Nice, King Crimson e Atomic Rooster, o EL&P nasceu como um supergrupo inglês, conquistando respeito no difícil mercado americano, chegando ao cúmulo deste álbum ser um dos recordistas de importação, já que nenhuma gravadora americana bancava seu lançamento.

Sendo os três músicos virtuosos de seus instrumentos, não é difícil encontrar no álbum passagens intricadas, que por vezes foi vista como puro exibicionismo, para deleite de uns e detrimento de outros.

Fato é que a ousada interpretação por um trio rockeiro da obra do compositor erudito russo Modeste Mussorgsky é a epifania egocêntrica - mas de extrema excelência -, do rock progressivo e do que ficou conhecido como rock sinfônico.

Todavia, vale dizer que, alinhada a essa perfeição técnica, havia um estrondo violento, alcançado pela execução visceral e timbres volumosos. Aqui o progressivo não é pomposo.

Basta a introdução de "Promenade" para voltarmos num tempo em que o rock era feito por instrumentistas e não estudantes de publicidade.

Entre tantos méritos individuais, não tem como não enaltecer o estilo desbravador de Keith Emerson, que levou sintetizadores - que eram verdadeiros trambolhos -, para o palco, popularizando não só o Moog e Hammond, mas também uma linguagem que fundia boogie-woogie com Tchaikovsky. 

Atenção ainda para a bateria consistente, repleta de levadas complexas em compassos absurdos do Carl Palmer. E claro, a voz doce de Greg Lake, que se contrapunha ao seu monstruoso timbre de baixo.

O que um dia foi tendência e depois ficou careta, hoje se mostra desafiador e rebelde.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Sim, nós temos pós-punk

Devo confessar que conheço a maioria das bandas do rock underground paulistano oitentista somente pelo nome. Sendo assim, a coletânea The Sexual Life Of The Savages (lançada pelo selo inglês Soul Jazz Records em 2005) foi uma maravilhosa porta de entrada a esse mundo oposto ao som ensolarado do Paralamas do Sucesso.


Logo de cara no disco temos duas estupendas músicas ("Inimigo" e "Pânico") das Mercenárias, banda da Sandra Coutinho. Para um grupo que sempre associei a tosquice do movimento punk, achei tudo extremamente complexo e bem tocado. Alguém saberia me informar se o Scandurra ainda fazia parte da formação quando ambas as faixas foram gravadas? O que sei é que preciso ouvir mais o grupo. Sensacional!

Sobre o Akira S & As Garotas Que Erraram (baita nome!) só sabia que era a banda do Alex Antunes, um agitador cultural que ficou bastante ligado a revista BIZZ. Fiquei surpreso com a qualidade sonora - que linha de baixo fretless fantásticas em "Eu Dirijo O Carro Bomba" - e as letras surrealistas. Bem a frente do tempo se pensando em Brasil.

Fellini, banda cultuada que nasceu na ECA e que tinha na sua formação Cadão Volpato, Ricardo Salvagni e Thomas Pappon, participa da coletânea com a clássica "Rock Europeu". Destaque para a ótima linha de baixo, a bateria quase tribal, guitarras cacofônicas e um estilo de cantar que me remete ao começo da carreira do Arnaldo Antunes.

Já havia escutado o disco da Gang 90 (do lendário Júlio Barroso), mas não lembrava de ser tão bom quando a música aqui presente, "Jack Kerouac". Preciso reouvir o disco. Som meio etéreo.

Depois veio uma banda da qual nunca ouvi falar: Chance. E pela primeira vez percebi que a célula rítmica do samba pode virar pós-punk. Faixa bastante psicodélica. Talvez algo que aconteceria se o krautrock fosse um movimento brasileiro.

Quando chegou na Patife Band finalmente estava em território conhecido. O grupo liderado pelo Paulo Barnabé é um dos meus prediletos de todo o rock brasileiro. Sua mistura de música de vanguarda, rock progressivo, jazz e, claro, pós-punk, é o maior símbolo do que seria a no wave paulistana. E nada supera "Poema Em Linha Reta". Genial!

Gosto do Gueto, inclusive tenho o disco, mas confesso que "Borboleta Psicodélica" passou batida diante das outras novidades que eu aguardava.

E ai veio o Nau, banda do guitarrista Zique e da cantora Vange Leonel. Sempre ouvi falar, mas nunca tinha parado para escutar com a devida atenção. Gostei muito! Preciso agora procurar o cultuado disco lançado pelo grupo em 87.

Smack é o grupo que compila o talento de toda a cena alternativa da época (Pamps, Scandurra, Sandra Coutinho e Thomas Pappon). Ambos os sons selecionados ("Fora Daqui" e "Mediocridade Afinal") são sensacionais. Vale conferir os discos da banda, tanto o urgente Ao Vivo no Mosh (1984) quanto o esquisito Smack (1986). 

Já o Muzak, o Killing Joke brasileiro, é de sonoridade doentia. "Ilha Urbana" é uma paulada. É legal ressaltar que o critico musical Régis Tadeu chegou a fazer posteriormente parte da banda.

Cabine C (do ex-Titãs, Ciro Pessoa) soou a banda mais comum e menos interessante dentre tantos grupos legais. Talvez a música mais gótica do disco.

Para finalizar temos o Harry do Johnny Hansen com a doce melodia de "You Have Gone Wrong", tentando (e de certa forma conseguindo) emular o som eletrônico das bandas inglesas.

É isso. Um coletânea bem legal e disponível no YouTube para todos ouvirem. Portanto, quando falarem de pós-punk nacional, evitem os dois simpáticos primeiros discos da Legião Urbana. Temos algo melhor que aquilo.

Obs: Ótimo trabalho da gravadora que compilou as músicas, mas não poderia deixar de mencionar o Luiz Calanca, a cabeça por trás da Baratos Afins, que lançou a maioria dessas bandas.

quinta-feira, 10 de março de 2016

TEM QUE OUVIR: Etta James - At Last! (1960)

Durante muito tempo o blues foi visto com maus olhos. Antes dos grupos ingleses se renderem ao estilo, a música era praticamente restrita aos negros. Mas a voz poderosa de Etta James também teve papel fundamental para essa mudança.


Lançado pela Argo e produzido pelo irmãos fundadores da Chess Records, Phil e Leonard Chess, o disco de estreia da cantora teve êxito imediato.

Sua abordagem vocal é melódica e potente. Já os arranjos das composições trazem elementos do jazz orquestrado, pop, r&b e gospel. Disso saem maravilhas como a sexy "I Just Want To Make Love To You" (Willie Dixon).

Se por um lado "My Dearest Darling" é essencialmente pop, "Stormy Wealther" é daqueles standards de jazz memoráveis, de exuberância plena. Todavia, nada supera a clássica interpretação de Etta James para o hino "At Last", que assim como "Trust In Me", fez enorme sucesso.

Etta James foi eleita numa votação realizada pela revista Rolling Stone a terceira maior voz feminina de todos os tempos, atrás somente de Aretha Franklin e Tina Turner. Ouvindo At Last é fácil entender o porque de tamanho prestigio.

John McLaughlin e sua Mahavishnu Orchestra


segunda-feira, 7 de março de 2016

ACHADOS DA SEMANA: André Christovam, Rory Gallagher, Desgraçado e Col. Bruce Hampton And The Aquarium Rescue Unit

ANDRÉ CHRISTOVAM
Após recomendar (e reiterar) o canal Um Café Lá Em Casa do grande Nelson Faria, recomendo agora o Blues No País Do Samba, do André Christovam. Obrigatório pra todo guitarrista. André não é somente um excelente músico, mas também um sujeito muito didático e preciso em seus comentários. Um fato triste é ver tais canais com tão poucos inscritos, enquanto o do Nando Moura já passa de 600 mil.

RORY GALLAGHER
Um sonho: ter um pub estilo irlandês com meu pai e só tocar esse tipo de som:

DESGRAÇADO
Não vou fazer nenhum comentário. Tire suas próprias conclusões.

COL. BRUCE HAMPTON AND THE AQUARIUM RESCUE UNIT
Conheci somente agora esse bom grupo que tem em sua formação o ótimo guitarrista Jimmy Herring. Vale a pesquisa!

terça-feira, 1 de março de 2016

RENA RECOMENDA: ESPECIAL OSCAR (TRILHA SONORA) - ENNIO MORRICONE

Tenho postado aqui no blog textos que faço para o Maria D'escrita. Da mesma forma farei com os vídeos que faço para o vlog da minha namorada, Rena Alves. Segue abaixo: