terça-feira, 30 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Otis Redding - Otis Blue/Otis Redding Sings Soul (1965)

Quando o assunto é soul music e r&b, não é nenhum absurdo dizer que a Motown é a grande gravadora dos gêneros. Todavia, tão boa quanto, e ainda mais "roots", é a Stax, que tinha em seu esquadrão músicos espetaculares e aquele que talvez seja o melhor cantor da música popular americana: Otis Redding. Lançado três anos antes de sua trágica/prematura morte, Otis Blues (1965) é o grande clássico em sua produtiva, embora enxuta, carreira. 


Filho de cantor gospel, Otis fez sua escola no coral das igrejas americanas. Uma de suas maiores influências era Sam Cooke, que colabora em composições seminais do disco, vide a clássica "Respect" - aquela mesmo regrava posteriormente por Aretha Franklin - e as belas baladas "Ole Man Trouble" e "I've Been Loving You Too Long", sendo essa última dona de romantismo avassalador.

O grande mérito da Stax está na sua banda de apoio, formada pelos lendários integrantes da M.G.'s - Booker T. Jones (teclado), Steve Cropper (guitarra), Donald "Duck" Dunn (baixo) e Al Jackson Jr. (bateria). Assinando a produção estava ninguém menos que Isaac Hayves. Definitivamente a música pop americana no seu auge.

De partes melodicamente emocionantes, vide "A Change Is Gonna Come", passando pela dançante "Shake", a voz afiadíssima em "Down In The Valley" - com direito a seus berrinhos característicos -, o hit pop "My Girl" e o flerte com o rock em "Satisfaction" - para muitos, versão melhor que a do Rolling Stones -, o disco apresenta diversos momentos eletrizantes intercalado com baladas primorosas.

Clássico da soul music e da música pop, não é difícil encontrar que ainda hoje tenha o trabalho de Otis como referência. Não é mesmo, Jay-Z e Kanye West?

Meus 3 baixistas de rock prediletos estão mortos, mas são suas carreiras solo que precisam ser desenterradas

Ontem morreu Chris Squire, um dos meus baixistas prediletos desde sempre. Sua morte inesperada (aos 67 anos) marca o fim do Yes (assim espero, não me venham com picaretagem), grupo fundamental do rock progressivo, que teve as rédeas comandadas pelo baixista desde sua fundação.

O mais estranho dessa morte é que me dei conta que meus três baixistas de rock prediletos já se foram, sendo que dois deles num período de um ano. Pensando nisso, dedicarei esse post aos três maravilhosos músicos que me tanto inspiraram, chegando a influenciar nos meus limitadíssimos dotes enquanto contrabaixista.

Um adendo: ao invés de percorrer por suas já manjadas bandas, trago aqui suas subestimadas carreiras solo. Vamos a elas:

Chris Squire
Manda chuva do Yes, a carreira solo de Chris Squire não difere tanto do seu grupo. Seu Rickenbacker de timbre robusto, as belas melodias (tanto vocais, quanto de baixo), sua sofisticação no quesito arranjo, além da enorme capacidade técnica, salta aos ouvidos no obscuro Fish Out Of Water (1975). Quem gosta de rock progressivo não pode passar batido pela obra.

Jack Bruce
Já disse mais de uma vez aqui no blog e repito: a carreira solo do Jack Bruce é de audição obrigatória para qualquer um que goste de música, independente do estilo. Sem dúvida é a melhor carreira solo de qualquer membro do Cream (veja bem, disse "solo", não me refiro a todos os trabalhos feito pelos integrantes fora do grupo). Soul, jazz-rock, pop, blues, progressivo, psicodelia... seus três primeiros brilhantes (e subvalorizados) discos solo tem tudo isso, com direito a arranjos primorosos e interpretação avassaladora de Jack Bruce tanto nos vocais quanto, é claro, no baixo.

John Entwistle
O menos lembrando membro do The Who é também um dos grandes baixistas da história do rock. Méritos de um grupo com integrantes tão destacáveis (esse mesmo fenômeno acontece no Led Zeppelin). Arranjador de mão cheia e multi-instrumentista, Entwistle tem em seu brilhante primeiro disco solo - Smash Your Head Against The Wall (1971) - o exemplo de seu enorme talento. Desdobrando entre vocais, trompetes, percussão e teclados, Entwistle não deixa de atacar seu baixo de timbre enorme em faixas que percorrem o hard rock e o rock psicodélico.

Apenas para registro, completando minha lista de baixista de rock prediletos estão Paul McCartney, John Paul Jones e Geezer Butler. Felizmente esses estão vivos.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not (2006)

Não sou dos maiores entusiastas do indie rock 00's. Não que eu ache ruim, só não me importo. Mas tem quem se importe e, querendo ou não, os grupos dessa leva ganharam relevância no rock. Entre as mais aclamadas bandas está o Arctic Monkeys, que guarda justamente em seu primeiro álbum o registro definitivo de pura urgência jovem do período.


Talvez pela primeira vez na história, um artista construía reputação não via os palcos, imprensa ou gravadora. O Arctic Monkeys é fruto da internet, interligado diretamente ao seu público, que demonstrava alvoroço antes mesmo da banda lançar seu primeiro disco. Através de downloads no Myspace, as canções que viriam a fazer parte do álbum de estreia do grupo já tocavam nos iPod da molecada. Quando o trabalho foi fisicamente lançado - pela gravadora independente Domino -, tornou-se um sucesso instantâneo, sendo até hoje o debut mais rapidamente vendido de uma banda inglesa, com impressionantes 360 mil cópias somente na primeira semana.

Observando a árvore genealógica do rock inglês, o Arctic Monkeys pode ser considerado bisneto dos Kinks, neto do The Jam e filho do Oasis. Como seus antepassados, suas canções são crônicas da juventude britânica, agora pertencente a geração Y, extremamente conectada e ambiciosa, mas com as aflições existenciais de sempre.

Na cola do Strokes, musicalmente o disco é energético e urgente. O mínimo a se esperar de garotos ainda espinhentos. Se a execução garageira não apresenta ousadia ou grande destreza técnica, ao menos o clima dançante e os temas corriqueiros das composições agradaram um público carente por sonoridades viscerais em climas rockeiramente dançantes. Entre os destaques estão as já clássicas "I Bet You Look Good On The Dancefloor", "Fake Tales Of San Francisco" e "When The Sun Goes Down".

Premiado pela imprensa, aceito pelo público e de grande inovação comercial, Whatever... merece sua atenção.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Virada Cultural 2015

Pelo quinto ano consecutivo, posto neste humilde blog o meu roteiro (nunca seguido a risca) na já tradicional Virada Cultural, que ocorre todo ano na cidade de São Paulo. Faço isso porque muita gente não quer perder o evento (já que é gigante e gratuito), mas não sabe o que ver. Fica aqui minhas sugestões.

Importantes: embora com muitos inconvenientes típicos de um evento deste porte numa metrópole caótica, não deixe de participar da Virada Cultural. É só não ficar moscando que não tem erro. A cidade precisa ser ocupada e a arte consumida.

Obs: Caetano Veloso creio que vá estar tão abarrotado que sequer recomendo!

AUDITÓRIO DO IBIRAPUERA (chegue cedo para pegar ingresso ou nem apareça por lá)
20h - Dona Ivone Lara

TEATRO MUNICIPAL (chegue cedo para pegar ingresso ou nem apareça por lá)
00h - Hermeto Pascoal, Arismar do Espirito Santo e Nenê
03h - Bacamarte
18h (domingo) - Ira!

PALCO RIO BRANCO
16h - Odair José
00h - Serguei e Edy Star
04h - Far From Alaska
06h - Krisiun
12h -  Dr. Sin
16h (domingo) - Robertinho de Recife

PRAÇA DA REPÚBLICA
00h - Matuto Moderno e Índio Cachoeira

PALCO ESTAÇÃO LUZ
18h - Ruído/mm
02h - Faust
16h (domingo) - Metá Metá

PALCO SÃO JOÃO
10h - Erasmo Carlos
18h (domingo) - The Jordans

PALCO TEST
17h35 (domingo) - Test

FESTIVAL CULTURA INGLESA - MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA
16h (domingo) - Strypes 
19h (domingo) - Johnny Marr

Boa diversão a todos.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Talking Heads - Remain In Light (1980)

O Talking Heads teve como berço o punk rock nova-iorquino. Todavia, seu som foi se distanciando de seus companheiros de cena através de inquietantes experimentações. Em Remain In Light (1980), a principal inovação se deu via os ritmos africanos.


Sendo esse o quarto trabalho do Talking Heads - terceiro em parceria com o lendário produtor/músico Brian Eno -, a banda liderada por David Byrne busca referências na world music, sendo o afrobeat Fela Kuti sua principal inspiração. Desta forma, a new wave ganha ainda mais personalidade, se afastando de vez da simplicidade do punk rock e soando mais funky.

Além de polirritmias complexas e loops ousados, muita da estranheza do álbum se dá graças as guitarras esquizofrênicas de Adrian Belew - anteriormente David Bowie e Frank Zappa, posteriormente King Crimson -, tanto no que diz respeito aos timbres peculiares, quanto as ideias rítmicas/melódicas, vide o solo pitoresco de "Born Under Punches".

A cozinha freneticamente funkeada formada por Tina Weymouth (baixo) e Chris Frantz (bateria) é subestimada. A maneira com que eles fazem soar divertidas/dançantes as passagens intrincadas de "The Great Curve" (que guitarras do Belew!) e "Houses In Motion" (com um tempero à la "Stevie Wonder do oriente médio") é por vezes assustadora. Já o clima ambient music do Brian Eno se revela em "The Overload".

Paralelo a tudo isso, David Byrne cria camadas vocais para letras não menos que surreais. Entre as canções que melhor trazem as vocalizações singulares de seu líder estão "Crosseyed And Painless" e o hit "Once In A Lifetime" (world music ao extremo!).

Apesar de ter se tornado uma obra referência para novas sonoridades, Remain In Light é antes de tudo um trabalho de artistas dispostos a desafios. Todo o resto é consequência. 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

ACHADOS DA SEMANA: La Carne, Tad, Clap Your Hands Say Yeah e Luisa Mandou Um Beijo

LA CARNE
Lembrei por acaso dessa boa banda brasileira que une guitarras limpas estranhamente barulhentas à letras estranhas. Já vi ao vivo e é bem bacana.

TAD
Estava eu lendo o clássico livro Barulho do André Barcinski e lembrei dessa subestimada banda. Uma das melhores do começo da década de 1990.

CLAP YOUR HANDS SAY YEAH
A banda nem é grande coisa, mas adoro essa música.

LUISA MANDOU UM BEIJO
Arranjo ousado, letra esquisita... um quase dream-indie-pop-psicodélico brasileiro. Divertido.

terça-feira, 16 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Can - Tago Mago (1971)

Lançado em 1971, Tago Mago, a obra-prima do Can, é uma ótima porta de entrada para um estilo muito falado, embora pouco escutado: o krautrock, vertente experimental da música alemã que funde o rock progressivo com elementos de vanguarda.


Nem tão eletrônico quanto seus companheiros de cena - Kraftwerk, Faust, Neu!, Tangerine Dream, dentre outros -, o Can investe numa sonoridade mais rockeira, com vestígios psicodélicos, jazzisticos, tribais e experimentais, além de lampejos conceituais de Velvet Underground. Tudo isso faz da banda uma das prediletas entre os apaixonados pelo rock setentista, sendo citada como referência para grupos como PIL, Primal Scream, Radiohead, Flaming Lips, Jesus And Mary Chains, The Fall, Portishead, LCD Soundsystem e Spoon.

Embora o grupo tenha origem e razão típica da juventude alemã da época - que procurara romper com muitas das raízes culturais do passado -, quem ficava em primeiro plano era vocalista japonês Damo Suzuki, um líder performático - até então artista de rua -, dono de uma timbre bizarramente versátil. Sua voz se completa magistralmente as produções ousadas do baixista Holger Czukay, ao estilo hendrixiano do guitarrista Michael Karoli e ao ritmo hipnótico/influente - o tal "motorik" - do baterista Jaki Liebezeit.

O nome do disco remete ao mago ocultista Aleister Crowley e seus atos misteriosos na Ilha de Tagomago. Não por acaso o trabalho tem um clima sombrio.

O minimalismo transcendental de faixas épicas como "Paperhouse" (altamente lisérgica), "Mushroom" (adoro a profundidade dessa captação), "Halleluhwah" (um trance com direito a tape loops), "Aumgn" (uma sinfonia fantasmagórica preenchida por ruídos e dalays) e "Peking O" (de sonoridade não menos que surreal), priorizam texturas timbristicas, intercaladas por grooves estranhamente consistentes e repetitivos, capazes de causar epifania.

Ousado e influente, Tago Mago é uma viagem musical difícil de embarcar, embora de grande recompensa artística. 

sábado, 13 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: The Mamas & The Papas - If You Can Believe Your Eyes And Ears (1966)

Símbolos do Verão do Amor, The Mamas & The Papas resume toda a utopia lúdica de uma geração. O disco de estreia do grupo, If You Can Believe Your Eyes And Ears (1966), é o embrião do sonho hippie.


Formado pela linda Michelle Phillips, a gordinha de vozeirão Cass Elliot, o discreto Denny Doherty e o talentoso John Phillips, o quarteto é acima de tudo um grupo vocal, sendo neste disco acompanhado pelos lendários músicos da Wrecking Crew, vide o baterista Hal Blaine. 

O casal Phillips fez durante muito tempo a cabeça romântica/sexual da juventude. Assim sendo, sobrava gente disposta a vigiar a banda. Falso moralista que são os EUA, a arte da capa chegou a ser censurada. Motivo? Os quatro dividindo a banheira e, acredite, o vaso sanitário ao lado. 

Embora oriundo de Nova York, o quarteto traz em suas canções o clima ensolarado, jovem e divertido da Califórnia. Em meio a melodias grudentas e climas suaves, eles encabeçaram o que ficou conhecido como sunshine pop. É comum também encontrar quem os aponte como precursores do dream pop. Faz sentido.

Entre as boas composições de autoria do grupo estão o hit "Monday, Monday", a divertida "Straight Shooter" (com clara influência das bandas da Invasão Britânica) e o chamber pop de "Go Where You Wanna Go". Mas é mesmo a emblemática "California Dreamin"o hino da geração. A interação das vozes, os violões e o solo de flauta calcados na música folk, além do inesquecível refrão, soam mágicos ainda hoje.

Elementos psicodélicos brotam na delicada "Got A Feelin". O talento vocal da dupla feminina chega ao auge na romântica "I Call Your Name" (Lennon/McCartney). O lado mais rockeiro do grupo está em "The 'In' Crowd". Já a mão do mitológico produtor Phil Spector é sentida na composição de "Spanish Harlem".

Momentos mais breguinhas surgem em "Do You Wanna Dance" (vide o arranjo ultra pomposo), mas nada que tire o valor da obra, muito pelo contrário, ajuda a contextualizar uma época sonhadora, divertida e, de certa forma, alienada.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

De encontro ao jazz via caminhos tortuosos de Ornette Coleman

Lembro perfeitamente de quando a Folha lançou a coleção Clássicos do Jazz. Vendido em bancas de jornais, os CDs por preço convidativos eram a minha oportunidade de desbravar um estilo que eu pouco conhecia. Na época não existia as facilidades do YouTube, muito menos aplicativos de streaming. As opções eram comprar os disco ou tentar baxar algo numa velocidade de caramujo.

Entre coletâneas do Nat King Cole, Herbie Hancock, Charlie Parker, Chet Baker, Thelonious Monk, Miles Davis, Billie Holiday, Duke Ellington, Chick Corea, Dizziy Gillespie, John Coltrane, Ella Fitzgerald, Charles Mingus e tantos outros geniais nomes que, ao menos já tinha ouvido falar, um ilustre desconhecido saltou aos meus ouvidos: Ornette Coleman.

"Gênio ou charlatão? Musica visionária ou fraude sonora?", assim era a apresentação deste lendário saxofonista americano, que criou a vertente mais vanguardista do jazz: o free jazz.

Músicas como "The Garden Of Souls" e "We Now Interrupt For A Commercial" me chamaram atenção de imediato. Finalmente, por mais improvável que fosse, passei a gostar de jazz via uma experiência limite, onde a tonalidade é posta de lado em prol da liberdade do improviso. Ruídos e melodias exóticas começaram a fazer parte do meu repertório. Logo eu estava ouvindo Sun Ra, Albert Ayler, Pharoah Sanders, John Coltrane, Charles Mingus, Pat Metheny, John Zorn, Henry Kaiser, Bill Frisell, Vernon Reid, Lanny Gordin e tantos outros instrumentistas que, em algum momento de suas respectivas carreiras, com influência direita ou não, seguiram os passos de Ornette Coleman.

 
Discos como The Shape Of Jazz To Come (1959) - qualquer semelhança com o álbum do Refused não é mera coincidência - e Free Jazz (1960) tornaram-se álbuns de cabeceira. Neles é possível encontrar ótimas composições, improvisações e interpretações vibrantes não só de Ornette, mas também do lendário baixista Charlie Haden e do trompetista Don Cherry.


Tive a oportunidade de assistir uma apresentação do Ornette Coleman há uns seis anos atrás. Foi avassalador! Após temas complexos, vinha um solo mais delirante que o outro, com direito a uma formação inusitada contendo dois baixista e Coleman atacando não só seu sax, mas também um violino. Um dos grandes shows da minha vida!

Sua morte, aos 85 anos, é a confirmação de que os grandes do jazz já não pertencem mais a esse plano, mas que suas obras ainda são visionárias.

Obrigado, Ornette Coleman.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Parliament - Mothership Connection (1975)

Parliament é o nome dado ao comboio liderado pelo lendário George Clinton, que anos antes já fazia estrago com o funk-rock lisérgico do Funkadelic. Sem abrir mão do seu primeiro grupo, aqui ele rege os músicos para uma sonoridade mais próxima do R&B e conceitumente do afro-futurismo. Mothership Connection (1975) é o ponto alto desta guinada.


Se assemelhando a um pastor alucinado, George Clinton se porta como um verdadeiro mestre de cerimônia (MC), jogando falas delirantes enquanto Maceo Parker (sax), Bootsy Collins (baixo), Fred Wesley (trombone), Bernie Worrell (teclado) e Jerome Brailey (bateria) dilaceram seus instrumentos.

Guiado pelo baixo espacial de Bootsy, "P-Funk (Wants To Get Funked Up)" é memorável devido seu simples e empolgante refrão. Não é nenhum absurdo ao ouvir "Mothership Connection" associar aos rockeiros do Primus e aos momentos mais divertidos de rappers como Snoop Dogg. Qualquer semelhança de "Night Of The Thumpasorus People" com "Remedy" do Black Crowes também não deve ser descartada.

O groove que embala "Unfunky UFO" é extremamente dançante, sendo o maior exemplo da nova abordagem/vertente dada ao funk pelo George Clinton, comumente chamada de p-funk.

Os sintetizadores (elemento eletronico até então nem tão presentes na música negra) de "Supergroovalisticprosifunkstication" remetem aos filmes de ficção científica. O mesmo vale para a divertida/bizarra capa, contendo o Clinton prestes a se jogar de uma nave espacial. 

O naipe de metais, as várias possibilidades de vocalização e o timbre de baixo borbulhante (tipico do Bootsy) ditam a direção na ótima "Handcuffs". Todavia, foi mesmo "Give Up The Funk (Tear The Roof Off The Sucke)" o grande hit do disco, levando o trabalho a ser um grande sucesso na época e, posteriormente, alçando o prestigio digno de um dos grandes clássicos da black music.

terça-feira, 9 de junho de 2015

No centenário de Les Paul, suas criações ainda fazem a diferença

Les Paul é para muitos apenas um modelo de guitarra fabricado originalmente pela Gibson e copiado por tantas outras marcas. Ainda são poucos os que reconhecem em Lester William Polfus - ou simplesmente Les Paul - uma vida doada não só ao instrumento, mas a música.

Seu interesse pela música se deu logo na infância, aos oitos anos de idade. Diante da primeira adversidade musical, que era tocar gaita simultaneamente com o banjo, inventou um suporte que prendia o instrumento de sopro na cabeça. Posteriormente, Neil Young, Bob Dylan e tantos outros fizeram sucesso usando essa invenção simples, mas eficaz.


Após trocar o banjo pela guitarra elétrica, Les Paul sentiu a necessidade de criar um instrumento de corpo sólido. Se foi o primeiro a fazer isso eu não sei - Leo Fender e até mesmo a dupla Dodô e Osmar foram outros precursores - mas fato é que a guitarra que leva seu nome fez sucesso.

Com o caminhar dos anos, o modelo passou pelas mãos de nomes como Paul McCartney, Duane Allman, Mike Bloomfield, Mick Taylor, Pete Townshend, Jimmy Page, Neil Young, Robert Fripp, Billy Gibbons, Ace Frehley, Joe Perry, Mick Ronson, Marc Bolan, Al Di Meola, Gary Moore, Neal Schon, Peter Frampton, Randy Rhoads, Slash, Zakk Wylde, Warren Haynes e tantos outros, escrevendo assim não só a história do instrumento, mas da música na segunda metade do século XX adiante.


Mas tem uma invenção do Les Paul que foi ainda mais importante, fazendo a diferença na obra dos maios diversos artistas, do Muddy Waters ao Skrillex, passando por Beatles, Beach Boys, Stevie Wonder, Steely Dan, Queen, Michael Jackson, Peter Gabriel, Public Enemy, Chemical Brothers, Metallica e quem mais você possa imaginar. Falo da gravação multi-canal. 

A gravação multi-canal deu a possibilidade de gravar cada instrumento individualmente, contribuindo não só para a qualidade da captação e das performances, mas também para a criação de camadas sonoras. 

O interessante é que Les Paul fez isso não utilizando fitas magnéticas, mas discos de acetato, trabalhando com trilhas sobrepostas, não paralelas. Além disso, ele era capaz de alterar a velocidade da gravação, criando assim efeitos inimagináveis até então. Escute a faixa "Lover (When You're Near Me)", gravada somente por ele em sua garagem (meio século antes de qualquer um poder ter um software de gravação em casa) e lançada pela Capitol.


Como se tudo isso não bastasse, como instrumentista ele percorreu pela música popular americana, jazz, country e tantos outros gêneros, fazendo shows, gravando discos, trilhas para rádio/TV, em parcerias com sua esposa Mary Ford e com o também lendário guitarrista Chet Atkins. Tudo isso faz com que ele seja admirado por 10 entre 10 guitarristas.


Les Paul morreu aos 94 anos em 2009. Sua idade não o impediu de manter até o fim da vida uma apresentação semanal com seu trio no Iridium Jazz Club em Nova York. Na plateia não era difícil encontrar nomes como Jeff Beck, Brian May, Slash, Zakk Wylde, Steve Vai, Eric Johnson, Joe Bonamassa e tantos outros.

domingo, 7 de junho de 2015

TEM QUE OUVIR: Janis Joplin - Pearl (1971)

Discos póstumos costumam ser um engodo da indústria da música para gerar dinheiro fácil em cima do saudosismo putrefato. Pearl (1971), lançado apenas três meses após a morte da lendária Janis Joplin, é uma entre poucas exceções.


Embora póstumo, o trabalho foi produzido diretamente por Janis. Ou seja, não se trata de uma compilação de sobras, mas de uma obra finalizada pela cantora.

A rockeira "Move Over" abre o disco com a potência elevada e ótimo desempenho tanto de Janis quanto de sua banda. Mas é na abordagem blues de "Cry Baby" que a cantora impressiona. A dinâmica que intercala entre berros viscerais e sussurros suaves é maravilhosa.

Tanto no quesito técnico, quanto interpretativo e timbristico, Janis é genial, podendo ser comparada as grandes divas do blues, jazz e soul, vide a excelência de seu trabalho na linda "A Woman Left Lonely" e na swingada "Half Moon". Atrelado ao seu talento musical está sua rebeldia junkie, sorriso tímido e visual hippie - todas características presentes na capa do disco. Com isso, não é difícil entender o porque da sua chama manter-se acesa décadas após sua morte.

Se por um lado "Buried Alive In The Blues" é, devido a morte prematura da cantora, uma ótima faixa instrumental, por outro lado a clássica "Mercedes Benz" é uma divertida e majestosa canção a cappella de Janis.

Entre as faixas restantes, impossível não destacar o refrão explosivo de "My Baby", a maravilhosa melodia da balada-folk-hippie "Me And Bobby McGee", o poderoso timbre de hammond em "Get It While You Can" e o talento de Bobby Womack na composição de "Trust Me".

O disco é para muitos (inclusive eu), de longe, o melhor trabalho da Janis Joplin. Infelizmente, seu auge artístico é também seu ato final.