terça-feira, 29 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Spiritualized - Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space (1997)

Jason Pierce é um artista inquieto que circula pelo rock alternativo desde meados da década de 1980, via o esquisitão Spacemen 3. Na década de 1990 sofreu uma ruptura e criou o Spiritualized, grupo que passeia pelo dream pop, blues, gospel, shoegaze, rock psicodélico e space rock. Em 1997, atingiu o auge de sua criatividade com o aclamado Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space, uma visão futurista do passado.


Tido como um remédio para a cabeça, o disco vem numa arte gráfica que faz jus a sua função. Esse processo químico/sonoro é feito sob supervisão/influência do despirocado/lendário Dr. John, que participa da épica jam transcendental "Cop Shoot Cop...".

A parede sonora se faz presente no arranjo e na produção grandiosa - com traços de Phil Spector e Brian Wilson - em faixas como "Come Together" (com direito a coral gospel) e "All Of My Thoughts" (um "shoegaze" viajante com metais, gaita, órgão e dinâmica variável). A melodia sinfônica domina a lindamente avassaladora "Broken Heart", fazendo da canção um pequena pérola inutilizada de trilha sonora. 

É delirante o approach espacial que tem canções como "I Think I'm In Love" (preenchida por pequenos ruídos) e a cacofônica drone-free-jazz "The Individual". Já "Stay With Me" chega a invocar Syd Barrett e John Cale, enquanto "No God Only Religion" é um perfeito encontro do krautrock com o rock in opposition. 

Entre os momentos de mais fácil compreensão estão a garageira "Electricity", a melodiosa "Cool Waves" e a vidrante faixa de abertura que batiza o álbum. 

NME, Pitchfork, Uncut, Q, Spin e Melody Maker foram algumas das publicações que rasgaram seda para a obra. Spiritualized tem seu lugar reservado no rock alternativo.

Rock In Rio - Balanço final

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:


Passado o Rock In Rio, chegou a hora de fazer o balanço final do festival. Para o assunto não ficar saturado, trago aqui não só aqueles que foram os meus show prediletos no evento, mas também disco de tais bandas que servem de apresentação para quem quer conhecer melhor os grupos.

Mas antes disso, deixo vários adendos:

– Como o Nasi (Ira!) tá cantando mal, não?
– Incrível como o Al Jourgensen chama mais atenção (ao menos da grande mídia) pela sua personalidade pitoresca do que pelo som absurdamente fantástico que ele produz com o Ministry.
– Vince Neil (Mötley Crüe) tá uma pipa de gordo. O Mick Mars, mesmo com seus conhecidos problemas de saúde, parece estar se movimentando melhor que o vocalista balofo. Mas o show foi divertido.
– Não é que o Royal Blood se deu bem mesmo sendo um duo num palco enorme. Boa banda.
– Tá confirmado: Rod Stewart virou crooner de cassino.
– Além do David Bowie e do Paul McCartney, tem alguém que faça musica pop melhor que o Elton John? Acho que só o Prince. Deixo a dúvida no ar.
– Podem me julgar, mas minha memória afetiva se divertiu com os shows do Angra e do Steve Vai.
– Lzzy Hale é mais linda e carismática que a Rihanna e a Katy Perry juntas. Fãs de ambas sintam-se livres para contra-argumentar.
– Não sei se foi o mosh errado, o desinteresse de um artista inquieto por uma banda já consagrada ou até quem sabe umas três Itaipavas litrão mandadas goela abaixo minutos antes de subir no palco, mas fato é que o Faith No More fez um show apenas correto. Eu esperava mais.
– Queimei a língua: o show do Hollywood Vampires foi legal. Banda de baile de luxo + festival que não aceita ousadias = apresentação divertida.
– Incrível como no meio de tanta música pop rasteira o A-Ha soa quase progressivo.
– Não consegui dar a devida atenção para os shows do SOAD e do QOTSA, mas tenho certeza que foram muito bons, embora sem nenhuma surpresa.
– Perdi boa parte dos shows de sábado. Desculpem, é que tinha entretenimento mais interessantes do que ver a apresentação do embusteiro Sam Smith.

5º Lugar: Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Um encontro histórico e a prova definitiva de que a música pop brasileira nas década de 1970 e 1980 eram imensuravelmente mais interessantes que a atual (digo isso sem qualquer vestígio de saudosismo preconceituoso, é só uma constatação). Como se não bastasse reouvir canções emblemática tanto dos Novos Baianos quanto do casal enquanto dupla, a inclusão do filho de ambos – Pedro Baby – contribuiu não só musicalmente, mas também pra deixar tudo ainda mais emocionante. Foi bonito.

Gostou do show? Ouça o Acabou Chorare, clássico disco dos Novos Baianos e flerte definitivo da música brasileira com rock.

4º Lugar: Lamb Of God
A banda apresentou tudo aquilo que mais me agrada no metal. Peso brutal, presença de palco insana, nenhum compromisso com os bons costumes e composições de complexidade muitas vezes ignorada. Observe a técnica de qualquer um do grupo e entenda aonde quero chegar. Ou não, apenas se deixe levar pelo massacre sonoro do quinteto em cima dos palcos.

Gostou do show? Ouça VII: Sturm und Drang, novo álbum da banda e prova definitiva de que o grupo se supera a cada lançamento.

3º Lugar: Deftones
Eu já havia avisado que o som da banda em estúdio é de qualidade inquestionável, mas me surpreendi como tudo funcionou muito bem também no palco. Poucos grupos conseguem unir peso e boas melodias com tanto sucesso quando o Deftones. E assim o heavy metal caminha para o futuro, recebendo influencias do hip hop, música eletrônica, trip hop, shoegaze e tantas outras vertentes costuradas brilhantemente a cada nova composição apresentada pela banda.

Gostou do show? Ouça Diamond Eyes, brilhante álbum do grupo lançado em 2010.

2º Lugar: Gojira
Eu já sabia que o quarteto era extremamente competente, tanto nas composições quanto na execução, mas achava que o show poderia não funcionar num palco tão grande, ainda mais tocando para o público cabeça fechada do Metallica. Mas felizmente o peso descomunal do grupo francês mais uma vez resultou em um estardalhaço que dificilmente vai ser esquecido tão cedo por quem viu ao vivo. Produção sonora impactante.

Gostou do show? Ouça L’Enfant Sauvage, o até então melhor disco da banda.

1º Lugar: Mastodon
Periga ser lembrado como um dos melhores shows de todas edições do Rock In Rio (ao menos por mim). O repertório escolhido foi direito ao ponto, sem firulas, priorizando o peso das composições e a execução visceral do grupo. Stoner, sludge, thrash e death para fã nenhum de metal (ou na verdade música em geral) botar defeito. Genial.

Gostou do show? Ouça Crack The Skye, o trabalho mais progressivo do quarteto e ignorado na escolha do setlist dos shows no Brasil.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Eagles - Hotel California (1976)

Lançado um ano antes da explosão do Sex Pistols, Hotel California (1976) do Eagles é a antítese do punk rock.


Oriundos da Costa Oeste americana, o grupo acumulava ótimas vendagens com os discos anteriores. A fama da banda parecia já ter chegado no limite, assim como suas contas bancárias, intrigas internas e devaneios movidos pela cocaína. Cantar sobre o lado destrutivo da fama, coberto por um glamour aos avessos, fez do grupo ainda maior do que já era.

Logo na estreia do excelente Joe Walsh (vindo do James Gang) na banda, ele faz de sua parceria com o Don Felder uma das mais emblemáticas duplas de guitarra da década de 1970. O solo ultra melódico e harmonioso do hit "Hotel California" sem dúvida impulsionou a canção ao topo das paradas de sucesso. É o pop rock perfeito sobre a decadência do sonho americano. Tocou até torrar nossa paciência? Sim, mas é uma boa canção.

Mais puxado para o rock n' roll temos o também sucesso "Life In The Fast Lane" (ótimo riff e groove) e a cadenciada "Victim Of Love" (muito do que viria a ser o hard rock na década seguinte, do Whitesnake a Cinderella, já tava aqui). 

Já as baladas caipiras com forte influencia da música country que consagraram o grupo se mantém em "New Kid In Town".

Ultra bem produzido e de arranjos pomposos, Hotel California não serve de exemplo de atitude sonora no rock, mas explica sua época. Eis o último prego no caixão do classic rock. Que venha o punk rock!

Como viver num mundo sem os Ramones?

*Um post saudosista. Mera desculpa para reouvirmos clássicos. Acho válido.

Em tempos em que o Maroon 5 lota estádios e uma formação capenga do Queen com o Adam Lambert "emociona" saudosistas sem critério, uma indagação é natural: vale tudo para ouvir música boa novamente ao vivo, até mesmo passar por cima do legado?

Não! Todavia, é lamentável quando nos damos conta que algumas bandas morreram para sempre. Sobrevivem em disco, claro. Isso acontece de Bach ao Nirvana. Mas dói saber que não ouviremos novos álbuns, muito menos assistiremos a show de bandas como essa:


Como conseguimos viver num mundo sem shows dos Ramones, ou até mesmo dos Cramps? O lance é torcer por voltas possíveis. Quem sabe um R.E.M.? Que desgraça!

TEM QUE OUVIR: Adam And The Ants - Kings Of The Wild Frontier (1980)

Tem quem pense que a figura do Malcolm McLaren está ligada apenas ao Sex Pistols. Todavia, sua carreira de empresário se confunde a boa parte do punk rock inglês, chegando até mesmo ao pós-punk do Adam And The Ants.


Adam Ant era o líder do grupo. Talentoso e rodado na cena punk, demorou para construir reputação. Foi com a ajuda de McLaren que ele deu luz ao New Romantic, uma subdivisão da new wave que enfatizava a imagem sexualmente espalhafatosa (de certo ponto até andrógina), apelo jovem e abordagem musical ainda mais pop. Tudo isso combinou perfeitamente com o nascimento da MTV americana.

Musicalmente, se por um lado o Duran Duran se jogava em ritmos funkeados, o Adam And The Ants buscou referência em instrumentos percussivos do Burundi, pequeno país africano com vasta opções de tambores. McLaren se encantou com essa sonoridade, roubou a ideia e boa parte da banda de Adam e formou o Bow Wow Wow. Todavia, o inquieto cantor se reuniu com o guitarrista Marco Pirroni e arquitetou Kings Of The Wild Frontier (1980), o mais bem sucedido resultado alcançado no que ficou conhecido como Borundi Beat.

Ritmos tribais, guitarras que bebem na fonte do rockabilly, surf rock e garage rock, baixos estrondosos e camadas vocais entrelaçadas dominam singles de sucesso como "Dog Eat Dog", faixa que abre disco.

A sonoridade ousada do álbum combina bem com o nome da faixa "Antmusic". Ainda sim, o grupo conseguiu emplacar a fantástica "King Of The Wild Frontier" no topo da parada do Reino Unido.

Enquanto "Feed Me Too The Lions" é fruto do punk rock, "Los Roncheros" mais parece uma caricatura cinematográfica de um "western africano", se é que isso existe. Já "Ants Invasion" é uma pérola do pós-punk dona de misteriosa melodia e variadas linhas de guitarras.

Hoje por vezes ignorado, Adam And The Ants é a prova de que a sede por novidades artísticas (e um tiquinho de raiva do antigo empresário) se sobressai a ganância financeira e resulta em obras desafiadoras. Michael Jackson, Marilyn Manson, Blur, Timbaland e tantos outros artistas ditos influenciados pela obra agradecem.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pitacos sobre o Rock In Rio - Parte 2

Minha coluna dessa semana no Maria D'escrita:

24/09 – Quinta-feira
Dia de bons momentos rockeiros. O System Of A Down deve fazer uma grande apresentação, embora no piloto automático, já que não lança nenhuma novidade há mais de 10 anos. Ao contrário do Queens Of The Stone Age, que não só é muito bom em cima dos palcos, mas também um dos grupos mais interessantes em estúdio da atualidade. Todavia, o que aguardo mesmo é o show do Deftones, grupo que transcendeu o new metal e vem lançando um disco melhor que o outro há mais de uma década. O mesmo vale pro Lamb Of God, talvez a mais importante banda de metal da atualidade, também de discografia irreparável e performances ao vivo violentas.

Outra boa dica é prestigiar o Halestorm, que se por um lado tem um repertório irregular, por outro tem uma cantora linda, carismática e um instrumental afiado. Legal também ver tanto o Project 46 quanto o John Wayne conquistando espaço no festival.

Agora, que raios é esse Hollywood Vampires? O projeto do Alice Cooper com o Joe Perry (Aerosmith) e o Johnny Depp (!!!) é uma daquelas típicas picaretagens que andam na linha tênue entre a diversão e o constrangimento. Não seria melhor trazer um show com super produção do Alice Cooper? Todavia, dependendo dos outros convidados (parece que Tom Morello e Geezer Butler também farão parte da festa), periga ser uma palhaçada legal. Vamos aguardar.

25/09 – Sexta-feira
Mais um dia bacana para os rockeiros (mas não era esse o festival que a molecada emburrada dizia que só tinha pop?). O Slipknot, embora já batido no Brasil, é dono de apresentações no mínimo intensas. O virtuoso guitarrista Steve Vai também pode fazer de seu encontro com a Camerata de Florianópolis uma experiência emocionante. Já o De La Tierra, banda de heavy metal com integrantes sul-americanos (incluindo o Andreas Kisser do Sepultura) também deve fazer uma apresentação consistente.

Agora, bom mesmo vão ser os show do Mastodon e do Faith No More. A primeira, pela primeira vez no Brasil, é das bandas mais criativas da década. Misturando stoner, sludge, hard rock e rock progressivo, o show do grupo tem tudo para ser acachapante. Que os vocais costumeiramente desafinados ao vivo não afetem a apresentação da espetacular banda. Já o Faith No More é dos melhores grupos em cima do palco da história. Não tente prever o que o vocalista Mike Patton vai aprontar, mas espere uma performance tecnicamente impecável de todos os envolvidos.

26/09 – Sábado
Entre o pop perfeito Lulu Santos e a sensualidade musicalmente desinteressante da Rihanna, eu escolho a apresentação do Autoramas como a principal do dia. Sábado fraquinho.

27/09 – Domingo
A Katy Perry é linda e carismática, o A-Ha não é tão ruim quanto alguns pensam (embora extremamente datado), mas o show mais interessante vai ser o do cultuado Marcos Valle na Rock Street. Que escolhas terríveis para fechar o festival, não?

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Black Sabbath - Paranoid (1970)

Paranoid (1970), segundo lançamento do Black Sabbath, tem uma característica curiosa: embora seja possivelmente o mais fraco disco do quarteto em sua formação clássica, ainda assim é um dos mais emblemáticos álbuns de heavy metal da história.


Produzido em meio a Guerra do Vietnã e trazendo os primeiros sinais de descontrole cocainometro, Paranoid, ao contrário do emblemático disco de estreia lançado um ano antes, aterroriza não por conta de temas sobrenaturais, mas de ações humanas cruéis. O pensamento anti-guerra hippie nunca foi tão sombrio. Blasfemar contra autoridades políticas soou oportuno.

Isso fica explicito na clássica "War Pigs", um épico de introdução alucinante - com direito a excelente linha de baixo do Geezer Butler -, breques instrumental preenchidos pela voz esganiçada de Ozzy, letra condizente com o clima de terror da época, groove estranhamente funkeado, solo de guitarra melodioso e viradas de bateria acachapantes.

Tony Iommi entrega aos ouvintes dois de seus mais emblemáticos riffs, vide a acelerada e com traços de ficção científica "Paranoid" e a envolvente "Iron Man". Ambas as faixas alavancaram a venda do disco, sendo ainda hoje o trabalho de maior sucesso comercial do grupo.

A delirante/jazzística "Planet Caravan", o pré-stoner/doom tenebroso "Electric Funeral", a dinâmica variável de "Hand Of Doom", o instrumental rockeiro de "Rat Salad" (com direito a ótimo solo de bateria do Bill Ward) e a espetacular/grooveada "Fairies Wear Boots" completam o disco, legitimando o culto a obra através dos anos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Dolly Parton, Linda Ronstadt & Emmylou Harris - Trio (1987)

Quando artistas consagrados se reúnem num mesmo projeto é comum gerar desconfiança. Afinal, não foram poucos os que usaram de tal artimanha apenas para engordar suas contas bancárias com reuniões picaretas. Todavia, isso não acontece em Trio, disco lançado em 1987 que reuniu Dolly Parton, Linda Ronstadt e Emmylous Harris, as três principais estrelas da música country americana.


Diferente de outras reuniões, aqui ao menos a sensação é de compromisso com a arte. Tanto que não havia outro motivo para o encontro, já que sozinhas as três estavam na época acumulando bons resultados mercadológicos. O problema delas na época era sonoro, já que suas músicas se mostravam pasteurizadas, diluídas em arranjos convencionais de música pop, caídas num limbo perigoso e precisando volta para a essência da música country, que todas fizeram tão bem na década de 1970.

Com um time de estrelas formado pelo que de melhor havia nos estudios de Nashville, é possível encontrar Ry Cooder, Albert Lee e David Lindley revezando entre guitarras, violões, bandolins, slides e tantos outros instrumentos de cordas. O requisitado baixista Leland Sklar também dá as caras.

Se isoladamente as três estrelas não decepcionam, em conjunto a qualidade se eleva com a criação de harmonias vocais lindíssimas para composições preciosas de Phil Spector ("To Know Him Is To Love Him"), Linda Thompson ("Telling Me Lies") e Jimmy Rodgers ("Hobo's Meditation").

Arranjos delicados e melodias que remetem claramente ao interior americano encantam em "The Pain Of Loving You", "Making Plans", "Wildflowers" e "Those Memories Of You". Sobra espaço até para a singelamente orquestrada "I've Had Enough".

O trabalho ainda guarda nas mangas três canções tradicionais da música folclórica americana: "Rosewood Casket", "My Dear Companion" e o hino gospel "Farther Along", que fecha brilhantemente o álbum.

Com um mais de 4 milhões de cópias vendidas e um Grammy na mala, Trio tornou-se um dos principais discos da música country. As três tentaram repetir o sucesso lançando a continuidade da obra em 1999, mas o impacto não foi o mesmo. Culpa da tal picaretagem comentada no começo do texto.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Pitacos sobre o Rock In Rio - Parte 1

No próximo fim de semana começa a sexta edição do Rock In Rio no Brasil. E ontem começou a minha coluna no blog da Renata Alves, Maria D'escrita, onde farei recomendações musicais, sendo o primeiro sobre o famigerado festival brasileiro. Não deixem de conferir por lá textos inéditos toda segunda-feira. Confira abaixo o estreante:

Não sou entusiasta de grandes festivais. Os shows costumam ser reduzidos, a prioridade do evento nem sempre é a música, diferentes apresentações em horários conflitantes impedem o público de ver tudo, a duração é exaustiva, a qualidade sonora questionável e o corporativismo rola solto, vendendo tudo como se fosse um paraíso. Resumindo, festivais funcionam mais no papel do que na prática.

Todavia, tem quem ainda é jovem, paciente e disposto a torrar uma boa grana indo em eventos como o Rock In Rio, festival de sucesso comercial inquestionável. Outros mais sensatos poderão ver os espetáculos do melhor camarote que existe: o sofá de casa, bebendo cerveja sem precisar enfrentar fila e com o banheiro limpo a poucos passos. Obrigado emissoras a cabo por transmitirem o evento.

Mas dentre tantos shows, independente se no festival ou em casa, qual assistir? Eis minhas recomendações:

18/09 - Sexta-feira
A boa banda paulistana Ira! se une ao rapper Rappin Hood e a lenda da soul music brasileira Tony Tornado para um show que tem tudo pra ser ao menos animado. Outro encontro que deve proporcional belo resultado é o do Lenine com a Nação Zumbi. Já o veterano João Donato marca presença com sua sofisticação acima de qualquer suspeita. O lado negativo fica por conta da picaretagem que é essa formação do Queen com o Adam Lambert, que promete emocionar somente saudosistas sem critério. Se preparem para choros de plástico durante a execução de "Love Of My Life". Quem sabe rola até um foco numa "emocionada" Susana Viera. O legado da banda não merecia tamanha ofensa.

19/09 - Sábado
Um dia especial para quem curte sons pesados. Do Motorocker que se apresentará na Rock Street, passando pelo encontro infernal do Ministry com o Burton C. Bell, o new metal preciso do Korn e perfeição técnica do death metal do Gojira, uma das grandes bandas da atualidade e grande surpresa do festival.

E não para por aí. Royal Blood, um dos grupos mais comentados de 2014, tem uma prova de fogo diante de um público gigantesco. Tô curioso pra ver como o bom duo se sai. Já o Mötley Crüe, mesmo tendo um vocalista com voz de Pato Donald, vai fazer dessa despedida dos palcos (será?) um espetáculo extremamente divertido. Finalizando temos o Metallica: sensacional para quem nunca viu ao vivo, de apresentação burocrática para quem conhece melhor a banda.

20/09 - Domingo
Um dia de incógnitas. Tanto o Seal como o John Legend são caras talentosos, mas honestamente não teria saco para show de ambos. O mesmo vale para o produtor Gui Boratto, que se apresentará no palco eletrônico. 

Os Paralamas do Sucesso é uma banda sem dúvida muito competente, mas seus shows não me parecem mais tão empolgantes. Já o Rod Stewart pode se inspirar na recente reunião do Faces para selecionar um repertório rockeiro bacana, ou então fazer da apresentação um típico show de churrascaria de um crooner de baixa categoria.

De certeza temos a presença de canções fantásticas dos Novos Baianos no show da Baby do Brasil com o Pepeu Gomes, além da excelência pop do Elton John, que diga-se de passagem, sempre está acompanhado de uma ótima banda.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

ACHADOS DA SEMANA: David Gilmour, Camisa de Vênus e Raul Seixas, At The Gates e Massive Attack

DAVID GILMOUR
David Gilmour no Brasil empolgou a reouvir seus discos solo. Como o On An Island (2006) é bom, não? Que classe!

CAMISA DE VÊNUS E RAUL SEIXAS
Alguma canção descreveu melhor o jornalismo musical brasileiro e a cena rockeira nacional oitentista? Uma das minhas músicas prediletas quando criança. 

AT THE GATES
Nunca dei atenção pra banda (só sabia que eles são precursores do death metal melódico), mas ouvi o prestigiado Slaughter Of The Soul (1995) e achei bem bom. Vale a pena procurar a discografia?

MASSIVE ATTACK
Essa música te lembra algum filme? Procure saber.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Slint - Spiderland (1991)

No que diz respeito as evoluções de cada subvertente do rock, tonou-se comum batizar tal "passo à frente" de "pós/post-qualquer coisa", vide o que aconteceu com o punk rock (e seu pós-punk) e o grunge (e seu post-grunge, este longe de ser uma evolução). Mas o Slint fez mais e rompeu com a célula-tronco do rock, agregando ao estilo arranjos densos e estruturas nada óbvias com traços de música ambient, jazz e até mesmo música erudita. Embora distante do sucesso comercial, de vendas insatisfatórias até mesmo para a gravadora independente Touch And Go, Spiderland, décadas depois, virou a obra cult do post-rock.


Logo na primeira faixa, a banda oriunda de Louisville abandona o peso grunge da época e, até mesmo, as predileções de seu antigo produtor, o lendário Steve Albini, em favor de novas nuances. Entre harmônicos delicados, notas agudas gritantes e acordes arpejados, as guitarras dominam "Breadcrumb Trail". Os compassos complexos e o arranjo nada ortodoxo fez com que muitos rotulassem o som do grupo de math rock. Vale destacar o explosivo refrão da música, evidenciando as influências hardcore da banda.

Uma das principais característica do Slint é o vocal falado, que domina boa parte do disco, inclusive na lenta "Don. Aman". Tal qualidade fez com que esse álbum torna-se exemplo de spoken word no rock.

Dona de excelente "refrão", beat bastante cru e guitarras dissonantes agudíssimas, "Nosferatu Man" é o clássicos da banda. Não por acaso, afinal, sua estrutura é completamente envolvente.

Transitando entre o minimalismo repetitivo quase erudito e a explosão punk, é impossível não entrar em transe com "Washer" e a abstrata/depressiva/corrosiva "Good Morning, Captain".

Nem tão diferente do que fazia o Fugazi na época, o Slint foi bem menos compreendido. Hoje grupos como Tortoise, Mogwai e Godspeed You! Black Emperor parecem ter aprendido a fórmula iniciada aqui.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Jay-Z - The Blueprint (2001)

Questões sociais sempre estiveram presentes no hip hop. Mas quando o dinheiro começa a entrar na conta dos artistas, cantar sobre as ruas tende a soar falso. Curiosamente, isso não acontece com Jay-Z. Ele trouxe dignidade para a bling era.


O rapper, que já havia despontado em seu disco de estreia lançado em 1996, tem em seu prestigio musical o trunfo para fazer o que quiser. Sonoramente, The Blueprient é o melhor feito de Z, principalmente por abusar do estilo old school, sampleando com autoridade pérolas da soul music/r&b, guiando o rap do novo milênio ao pop.

Contribuindo com o álbum havia um jovem Kanye West, que trabalhou nas composições e produção, construindo paralelamente reputação no circuito hip hop. Entre os destaques que contam com sua colaboração estão a linda "Never Change" e "Takeover", um explicito ataque (diss) ao Nas, carregado por um synth bass poderoso/saturado e sample de Doors.

Já em "Hola' Hovito" são as mãos do requisitado Timbaland que falam alto. Seria injusto também não mencionar o produtor Just Blaze após ele confeccionar o beat espetacular de "U Don't Know".

Entre as principais canções do álbum estão a majestosa "The Ruler's Back", a pop/contagiante "Izzo (H.O.V.A.)" e a sentimental "Blueprint (Momma Loves Me)". Os dois mundos econômicos em que Jay-Z circula são retratados em "All I Need". E para não dizer que Jay-Z só acerta, é preciso admitir que em "Renegade" é o verso do Eminem que salta aos ouvidos.

Mesmo recebendo insulto de outros rappers (mais uma vez o Nas na linha de frente), estar aguardando um julgamento por porte de arma, ter causado tumulto após esfaquear um produtor e ter lançado o disco num fatídico 11/09, o álbum alcançou grande prestigio entre o público e a crítica. Jay-Z entrara definitivamente no mainstream e no mais alto escalão do hip hop.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

TEM QUE OUVIR: Peter Frampton - Frampton Comes Alive! (1976)

Detratores do Peter Frampton é o que não faltam. Galã de uma geração - as meninas adoravam os cabelos cacheados e os olhos claros do bom moço - era praxe os rapazes atirarem o astro na fogueira, ainda que escondidos adorassem os discos do Humble Pie que tinham Frampton na guitarra. 


A verdade é que todo ódio foi causado pela fama. Fama essa que o guitarrista só conseguiu com o duplo Frampton Comes Alive! (1976), recordista álbum ao vivo de vendas, que resume o que ele havia feito até então.

Independente das gravações serem realmente ao vivo ou não, fato é que o disco é um clássico do rock, lançado numa época em que o estilo era popular e se comunicava com a juventude.

Musicalmente o disco é o mais puro encontro do hard rock com baladas pop. Revezando entre faixas viscerais, com grandes momentos guitarrísticos - vide "It's A Plain Shame" e, principalmente, "Do You Feel Like We Do" - e baladas adocicadas - vide os hits "Baby, I Love Your Way" e "Show Me The Way", sendo essa última dona de um clássico timbre de talk box - o álbum agrada os rockeiros mais tradicionais e uma juventude saudosista. O groove e as melodias de canções como "Something's Happening" e "Doobie Wah" também empolgam.

Posteriormente a imagem de Peter Frampton se desgastou. Seus cabelos caíram e os sucessos pararam de brotar de seus discos. Todavia, talentosos que é, o guitarrista pareceu não se importar, lançando hora ou outra bons trabalhos e matando a saudades de seus fãs nos shows com faixas do clássico Frampton Comes Alive!. Quem dera o pop rock descartável fosse sempre assim.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ACHADOS DA SEMANA: Herbie Hancock, The Amboy Dukes, Manassas e Splattercell

HERBIE HANCOCK
Aqui temos o lendário pianista/tecladista em ação numa de suas fases mais funkeadas. Dê o play e deixe rolar.

THE AMBOY DUKES
Como assim o Ted Nugent tá na ativa desde a década de 1960 e teve uma banda psicodélica e ninguém me fala nada! Esse solo é muito avançado para a época:

MANASSAS
Stephen Stills, Chris Hillman, Al Perkins... as vezes a música americana me surpreende tanto.

SPLATTERCELL
Projeto esquisitão do doentão do David Torn. E sim, isso é uma guitarra!

Guitarras icônicas

Um post só pra relembrar alguns instrumentos que, na mão dos músicos certos, tornaram-se icônicos. 

Gibson Lucille B.B. King
B.B. King sempre foi visto com sua fiel Lucille. A bela cor de diamante negro, o corpo grandioso e a sonoridade grave do instrumento foi peça fundamental para que o eterno Rei do Blues construísse uma carreira preciosa. 

Jimmy Page Gibson EDS-1275 Double Neck
Embora pareça mais uma entre tantas excentricidades do Rock, a Gibson de "dois braços" do Jimmy Page foi de grande utilidade para que o lendário guitarrista do Led Zeppelin arquitetasse canções emblemáticas, vide a clássica "Stairway To Heaven". Inúmeros guitarristas o copiaram, de Alex Lifeson (Rush) ao Slash (Guns N' Roses).

Gibson SG Angus Young
Além do uniforme de colegial, outra peça fundamental no figurino do Angus Young é sua própria guitarra. Curiosamente, o formato do instrumento tem muito em comum com os chifres do Diabo tão famigerados no Rock e que tanto combinam com o endiabrado guitarrista.

Mosrite Johnny Ramone
Esqueça as guitarras caras! Os Ramones revolucionaram o Rock não só pela música, mas também pela postura, vide o guitarrista Johnny Ramone, que renegou todos os almejados modelos de guitarra da época e investiu seu suado dinheiro na mais barata do mercado. Com ela, ela não só tirou ótimos timbres, como também compôs canções emblemáticas.

Red Special Brian May
Mais longe ainda foi o Brian May, que usou uma envelhecida madeira de lareira e peças de uma maquina costura e de uma bicicleta para construir seu próprio instrumento. Músicos no mundo todo hoje sonham com essa guitarra única.

Frankenstein Eddie Van Halen
O mesmo fez Eddie Van Halen, que construiu uma guitarra unindo o que ele mais curtia em cada uma das guitarras mais conhecidas. Ele pegou o formato de uma Fender Stratocaster e extraiu timbres de uma Gibson Les Paul. Nasceu a Frankenstein, coberta por emblemáticas faixas pretas e brancas (anteriormente amarelas) num gritante fundo vermelho (anteriormente preto). A guitarra original foi enterrada com o Dimebag Darrell.