sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: Muse - Black Holes & Revelations (2006)

O Muse sempre foi uma banda que deu margem as criticas, afinal, vão contra tudo o que é a essência do rock. São rapazes tranquilos, de classe média, bons instrumentistas e apresentam produções pomposas em canções palatáveis. Só uma coisa pode ser mais careta que isso: banda atual emulando sujeira para agradar tiozinho conservador. Sendo assim, acho legal observar que, em meio ao ranço setentista/alternativo que infesta o rock, o trio conseguiu oxigenar o gênero e atingir grande (e jovem) público, principalmente com o ótimo Black Holes & Revelations (2006).


Evidente que existem influências claras, do Queen ao Radiohead, passando por Rush, U2, Depeche Mode e RATM. Até mesmo a capa do disco pertence a um nome já consagrado: Storm Thorgerson, o autor de inúmeras artes do Pink Floyd. Todavia, as referências são tantas que o trio mais parece um frankenstein que traduz todas as demandas sonoras da geração 2000.

Embora o Muse seja um trio, as orquestrações e o uso inteligente de sintetizadores trazem grandiosidade aos arranjos e produções. Isso fica evidente logo na faixa que abre o disco, a progressiva "Take A Bow". Já a crueza certeira proporciona pelos bons riffs de guitarra do inventivo Matthew Bellamy chamam a atenção na pesada "Assassin" e em "Supermassive Black Hole", sendo essa última extremamente dançante.

Em "Soldier's Poem" e "City If Delusion" as melodias vocais, narrando letras de alienação, são uma preciosidade numa época em que seus contemporâneos de mainstream choravam amores juvenis. Mesmo com a polidez de algumas composições, o grupo conseguiu alcançar o grande público principalmente devido o apelo pop da consistente "Starlight" (timbrão de baixo!) e da bela "Invincible".

Fechando o disco temos "Knights Of Cydonia", um épico com influência das trilhas de cinema western, mas que se apropria do rock de arena, tendo na guitarra seu grande trunfo. Não por acaso a melodia da canção é cantada nos quatro cantos do mundo. E como é bom ver uma banda deste gabarito conseguindo tamanho sucesso.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

30 anos do Rock In Rio

30 anos do Rock In Rio e dez entre dez posts sobre o evento enaltecem a coragem de Roberto Medina em fazer um festival destas proporções no Brasil, um país até então sem crédito na indústria do entretenimento.

É fato que o Rock in Rio contribuiu para a explosão do BRock, além de ter inaugurado o mercado para shows internacionais no Brasil, ao mesmo tempo em que o país iniciava uma abertura politica, tornando a marca extremamente forte, tanto aqui quanto no exterior.

Todavia, honestamente não tenho relação direta com o festival. Não fui em nenhum e pouco acompanhei pela TV. Nasci em 1990, não tinha como eu me identificar com algo tão corporativo e pouco corajoso na escalação das atrações. Ainda assim, relembrarei alguns shows de todas as edições brasileiras do Rock In Rio.

ROCK IN RIO I
Queen
A banda estava na crista da onda (ao menos em popularidade), sendo inacreditável até então um grupo desta grandeza tocar no Brasil. O público reagiu maravilhosamente bem a "regência" de Freddie Mercury, sendo a execução "Love Of My Life" um clássico em solos tupiniquins.

AC/DC
A banda perfeita para grandes festivais em um de seus momentos mais populares. Em cima do palco não tinha pra ninguém, foi clássico atrás de clássico, ensinando ao Brasil como não soar raquítico. É importante lembrar que a banda trouxe equipamentos que até então só existia no imaginativo no público rockeiro brasileiro, extremamente carente de boas estruturas.

Iron Maiden
O heavy metal, que parecia pertencer a um pequeno nicho aos olhos da mídia e das gravadoras, se revela uma força da natureza através de um público gigantesco. Todos se uniram para o show impecável do Iron Maiden na sua talvez melhor fase.

Nina Hagen
Imaginem um show da Nina Hagen sendo transmitido pela Rede Globo. Sem mais.

Barão Vermelho
Ainda com Cazuza, apresentando ao grande público não só o ótimo repertório, mas também o BRock.

Paralamas do Sucesso
O grande destaque brasileiro do festival. Apenas o trio no palco, sem grande produção (apenas alguns vasos de plantas), mas executando com propriedade o repertório matador, incluindo "Inútil" do Ultraje, um hit condizente com a época.

ROCK IN RIO II
Guns N' Roses
O show, pelo que vi no YouTube, nem foi grande coisa, mas é bacana lembrar que a banda já tocou no Brasil com Slash e Axl dividindo o palco.

Faith No More
Se já havia um burburinho sobre a banda na época, com o show ele foram reconhecidos como a grande revelação do festival. Sempre souberam fazer ótimos espetáculos, sendo que aqui apenas repetiram sua excelência. Mike Patton é um gigante nos palcos.

Sepultura
Já despontando internacionalmente, embora ainda sem o alcance dos anos seguintes. Talvez a consagração em solo brasileiro.

Judas Priest
O Judas Priest voltara nessa época a ganhar destaque através do clássico Painkiller. O que acho curioso é que já ouvi de muita gente que este show teve das melhores produções sonoras no Brasil. O Judas simplesmente soou destruidor. Eu já vi a banda ao vivo duas vezes e não duvido.

Megadeth
Se o Iron Maiden mostrou que havia público para o metal no Brasil na primeira edição do festival, o Megadeth foi a consolidação de um sonho. Grande show no auge da banda. [1]

Queensryche
Se o Iron Maiden mostrou que havia público para o metal no Brasil na primeira edição do festival, o Queensryche foi a consolidação de um sonho. Grande show no auge da banda. [2]

George Michael
Na época ninguém fazia música pop tão bem como ele. Rolou até um encontro com Andrew Ridgeley, seu antigo parceiro de Wham!.

Happy Mondays
Show histórico justamente por não ter acontecido. Se por um lado banda sequer era popular no Brasil, ao menos serviu para mostrar que a produção estava antenada com a cena de Madchester. Pena (ou não) que o grupo deu uma enfiada de pé na jaca história aqui pelo país. Dizem que o equipamento não chegou, já as drogas...

Prince
Única passagem do genial artista pelo Brasil. Ao que parece fez um show confuso, mas esbanjando sua enorme capacidade como instrumentista.

ROCK IN RIO III
Oasis
Chegaram numa época de alta popularidade e atirando para todos os lados, seja através da provocação ao Guns N' Roses ou via seu bom repertório.

R.E.M.
O R.E.M. já havia tocado no Brasil antes desse show? Eu acho que não. Só por isso já vale a menção. Caso contrário, as excelentes músicas e a honestidade da banda em cima do palco fazem valer.

Queens Of The Stone Age
O show que o Nicki Olivieri fez peladão. A época mais stoner da banda. O show mais improvável da história do Rock In Rio. Maluco e pesado. Pena que o grupo era ainda desconhecido no Brasil e tomou vaia. Diz muito sobre o festival.

Cássia Eller
Apresentação memorável da Cássia Eller no ano da sua morte. É rocker e MPB. Mostrou as tetas e entregou um bolo para o Dave Grohl. Que falta faz.

Neil Young
Tá no meu TOP 5 shows que já tiveram no Brasil e eu não vi. Sem mais.

Iron Maiden
Mais um show histórico da banda inglesa no festival. Desconfie de quem nasceu após 1990 e não se identifica de alguma forma com essa apresentação. 

ROCK IN RIO IV
Stevie Wonder
Repertório matador, execução acima de qualquer suspeita, interação total com a platéia... uma série de fatores fizeram desse um dos melhores shows que esse país já viu. Fiquei emocionado só de ver pela TV, ao vivo então deve ter sido acachapante.

ROCK IN RIO V
Bruce Springsteen
Ainda que o Brasil não dê o devido valor ao Bruce Springsteen, quando um artista deste nível sobe no palco, não tem quem não se deixa levar pela força de suas composições.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: John Coltrane - A Love Supreme (1965)

John Coltrane foi indiscutivelmente um dos maiores instrumentistas de todos os tempos. Ele já vinha chamando atenção através de passagens inspiradas em seu saxofone tenor, principalmente após sua participação no clássico Kind Of Blue (1959) do Miles Davis. Como compositor e líder de banda, teve seu melhor momento registrado no emblemático A Love Supreme (1965), lançado pelo selo Impulse! apenas dois anos antes de sua morte. 


Em A Love Supreme, Coltrane buscou a redenção após anos de abuso. Trancou-se em seu porão e, diferente do que ocorria no jazz daquele período, escreveu não somente os temas, mas também detalhes dos arranjos.

O álbum transcende os conhecidos caminhos da música modal. Coltrane é guiado por melodias sofisticadas em improvisos irradiantes. Isso é fruto de uma interação religiosa do indivíduo com sua obra, transformando sua música numa plataforma espiritual.

O icônico baterista Elvin Jones é um eterno solista na faixa "Acknowledgement", enquanto Coltrane guia seu quarteto numa espécie de mantra não linear. 

A coisa se agrava em "Resolution", desembocando em momentos quase lisérgicos, impulsionado desta vez pelo baixo esquizofrênico do Jimmy Garrison e o piano virtuoso do McCoy Tyner, esse um especialista em oferecer contraponto harmônico para os solistas.

A dobradinha "Pursuance"/"Psalm" é extremamente viajante em seus quase 18 minutos. A cada solo, uma nova forma de se desligar da Terra em busca de um plano superior. É um passo além da fórmula sonora. A eterna busca pela divindade talvez tenha chegado ao ponto máximo via mãos e mentes dos instrumentistas.

Toda essa conexão foi captada magistralmente pelo lendário engenheiro de som Rudy Van Gelder. Como resultado, temos faixas emocionalmente arrebatadoras, que não por acaso inspirou os mais variados artista, do Carlos Santana ao Outkast passando por Grateful Dead, The Stooges, Pat Metheny e Chris Potter. Isso se deu devido a entrega dos músicos pela música, com destaque para seu criador.

Genial.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: Black Sabbath - Black Sabbath (1970)

Black Sabbath (1970) do Black Sabbath, um disco tão óbvio que chega a ser ridículo recomendar. Esqueça tudo que foi feito antes, eis aqui a criação definitiva do heavy metal.


Gravado em poucas horas por quatro garotos pobres da cidade industrial/cinzenta de Birmingham (Inglaterra) e lançado numa sexta-feira 13, o álbum traz logo de cara a tenebrosa faixa "Black Sabbath". O clima aterrorizante da tempestade na introdução, a letra macabra e o riff de guitarra em trítono - intervalo de notas dissonantes que chegou a ser proibido pela igreja católica -, foram inspirados nos filmes de terror que lotavam os cinemas. Daí saiu o conceito genial da banda, arquitetado pelo letrista, baixista e "líder intelectual do grupo", Geezer Butler. E pode apostar, se ainda hoje a faixa não passa despercebida, há 40 anos atrás ela fez muito moleque se borrar de medo.

O grupo, inicialmente de blues/jazz rock, carrega na espetacular "The Wizzard" o seu DNA. A banda como um todo trabalha o som como ferramenta de dramaticidade. Somando riffs monstruosos - há guitarrista que faça isso melhor que Tony Iommi? -, linhas de baixo gigantescas e a bateria troglodita de Bill Ward, surgem verdadeiros hinos de missa negra, vide "N.I.B.".

Se o lendário Ozzy Osbourne por um lado não tem tecnicamente uma grande voz, por outro sempre soube dar vida as canções. Basta reparar no que ele faz na divertida "Evil Woman" e na tensa "Behind The Wall Of Sleep".

No fim do álbum, o cheiro de napalm e o clima nebuloso jazzisticamente bluesy volta a dar as caras em "Wicked World". Não há utopias, não há Paz & Amor. Espetacular!

Considerado por muito um disco ingênuo e mal acabado, para outros ele é a essência da música pesada, tendo influenciado qualquer vertente de metal que surgiu ou venha a surgir.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ACHADOS DO DIA: Lincoln Olivetti & Robson Jorge, Front 242, Fellini e Philm

LINCOLN OLIVETTI & ROBSON JORGE
Morreu o grande Lincoln Olivetti, subestimado músico, produtor e arranjador que trabalhou com inúmeros nomes da música brasileira. Escutem o disco dele de 1982 com Robson Jorge, é o mais alto patamar do pop brasileiro. São quase como um Steely Dan tupiniquim.

FRONT 242
Os criadores do EBM, a música pesada eletrônica dançante com influencia do industrial. Precisava de algo pra acordar motivado. Funcionou.

FELLINI
Morreu a atriz Anita Ekberg, que fez A Doce Vida do Fellini, Eu, bitolado musicalmente que sou, lembre dessa grande banda do rock brasileiro oitentista. Essa música é um clássico do underground.

PHILM
Essa banda do Dave Lombardo (lendário ex-baterista do Slayer) vai tocar no Brasil. Fui correr atrás de alguns sons pra ver qual é do grupo. Achei sensacional.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: Joni Mitchell - Blue (1971)

Uma garota de coração partido, que acabara de perder o namorado - neste caso, ninguém menos que Graham Nash -, se joga na arte da composição. Não, essa não é (somente) a história da Adele ou da Taylor Swift. 40 anos antes, Joni Mitchell lidava com suas dores escrevendo as canções do clássico Blue (1971).


Confessional, cru e intimista, Joni Mitchell é a abordagem feminina para o desbrotar folk de trovadores como Leonard Cohen, Neil Young, Van Morrison, Nick Drake, dentre outros.

A abertura do álbum com "All I Want" revela que estamos diante de uma artista muito acima da média. Tremenda melodia, interpretada com força singela. Isso enquanto é sustentada pelo violão convicto do James Taylor.

Em tom de compaixão e despedida, "My Old Man" invoca temperos jazzísticos, seja através dos acordes do piano ou dos caminhos melódicos.

Mas não somente por seu relacionamento fracassado que Joni Mitchell chora. "Little Green" é uma comovente canção sobre a filha que ela deu para adoção anos antes de conseguir se estabelecer financeiramente, fato que a traumatizou por toda a vida. Faixa tão devastadora quanto linda. Vale aqui destacar sua performance ao violão.

Embora calcado na música folk, há uma proposta quase pop dado aos arranjos, o que fez com que a artista canadense requeresse os violões de Stephen Stills ("Carey") e James Taylor ("A Case Of You") para lapidar a obra. Por sua vez, seu uso de afinações alternativas em seu violão proporcionou sonoridades profundas e rústicas, vide "This Flight Tonight". 

Mais uma vez o canto gracioso e desenvolto - recheado de inspiradas melodias que dramatizam as dolorosas letras -, volta a transparecer magia na apaixonante "River".

Entre sucessos como a pianistica "Blue" e "The Last Time I Saw Richard" (que chegou a ser regravada pela Legião Urbana), o álbum tornou-se o grande clássico de uma artista que viria a dar saltos ainda mais ousados.

ACHADOS DO DIA: R.E.M., Daniela Mercury e Cassiano

R.E.M.
Passei o dia ouvindo R.E.M. tentando escolher meu disco predileto. Fiquei com Murmur, o subestimado disco de estreia da banda. Mas Document, Green, Automatic For The People e Monster não estão muito atrás não. Alias, tá aí uma banda que não costumava errar. E que baita baixista que é o Mike Mills, não? Já o Peter Buck é um Alex Lifeson sem glamour. 

DANIELA MERCURY
Vi uma matéria sobre os 30 anos da axé music e lembrei dessa versão da Daniela Mercury para a música do Caetano. Eu gosto bastante. Ótima produção do Liminha. 

CASSIANO
Um dos artistas mais subestimados do Brasil. É possível que entre dezenas de grandes composições dele, alguma esteja entre sua predileta e você sequer saiba que é dele.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

TEM QUE OUVIR: Tim Maia - Tim Maia (1970)

Muito tem se falado sobre o Tim Maia nos últimos meses devido o filme biográfico e, posteriormente, a série que passou na Rede Globo. Sem entrar na polêmica das obras audiovisuais, venho aqui focar na música de Tim, destacando aquele que é na minha opinião - e de muitos - o seu melhor disco: Tim Maia (1970), o clássico álbum homônimo de estreia do artista.


Ainda que seja seu primeiro disco, Tim já havia sido parceiro do Roberto Carlos, formado um grupo vocal de soul music nos EUA e produzido o Eduardo Araújo. Essa pluralidade artística permitiu que seu primeiro álbum tivesse um amplo leque sonoro, a começar pelo baião divertido "Coroné Antônio Bento" (João do Vale). 

Um dos momentos mais rockeiros de Tim está na fantástica "Cristina Nº 2", em que ele divide a autoria com Carlos Imperial. Outro parceiro importante é Cassiano, um compositor subestimado, com forte talento para melodia, vide as lindas "Padre Cícero", "Você Fingiu", "Eu Amo Você" e "Risos", todas com interpretação brilhante de Tim Maia. 

Ainda que o disco percorra por diferentes estilos, o álbum é acima de tudo uma obra fundamental para a black music/soul music brasileira. Essa bagagem swingada, recheada por arranjos de metais e voz potente, é elevada ao último grau na fantástica "Jurema".

O álbum ainda guarda na manga dois grandes sucessos da música brasileira: a bela "Primavera (Vai Chuva)" e a maravilhosa "Azul da Cor do Mar", dona de melodia arrebatadora.

No decorrer de sua problemática carreira, Tim lançou outros bons discos, mas é principalmente seu trabalho de estreia que continua saltando aos ouvidos.

TEM QUE OUVIR: Tangerine Dream - Phaedra (1974)

Hoje é comum ao ligarmos o rádio/TV nos depararmos com músicas enquanto pano de fundo, servindo de cenário narrativo para programas jornalísticos, esportivos ou de entretenimento. Para isso, o desenvolvimento dos sintetizadores como expressão de sentimento foi fundamental para otimizar o custo das grandes orquestras. Tal evolução tem esse disco como aliado.


É claro que o cinema sempre utilizou a música instrumental como parte narrativa - e isso vem desde o cinema mudo -. O mesmo vale para a música erudita e o jazz. Todavia, a música eletrônica, enquanto exploração timbristica e semiótica, tardou a lapidar sua linguagem dentro de um contexto "pop".

Edgar Froese, líder do Tangerine Dream, foi um desbravador. Seu trabalho hoje pode parecer surrealista/psicodélico/viajandão demais, mas é a base para muito das evoluções sonoras e narrativas contemporâneas, seja na música de vanguarda, eletrônica, pop ou em trilhas sonoras de jogos/filmes. Tanto era a persuasão comunicativa do artista que sua música, por mais experimental que fosse, chegou a fazer sucesso comercial na Inglaterra.

A maioria já sabe a revolução sonora proposta pelo krautrock - vertente da música alemã de vanguarda, que fundia rock com elementos eletrônicos, feita pelos filhos da pós-guerra -, sendo desnecessária qualquer outra explicação. O interessante aqui é perceber que o Tangerine Dream fez isso de forma menos rítmica que seus contemporâneos. Suas músicas são sinfonias eletrônicas espaciais e futurísticas, recheadas de arpejos exuberantes, osciladores, delays e revebs. 

Nem seria o caso de descrever faixa a faixa este disco, visto que é fundamental ouvi-lo na íntegra e buscar a própria percepção. Todavia, me encanta a construção do trabalho, sendo o Lado A formado na integra pela homônima "Phaedra", um perfeito trance psicodélico (proto-psytrance) de ritmo e desenvolvimento avassalador. Do outro lado do vinil temos uma dobradinha inicial que remete ao que o Brian Eno faria se assinasse a trilha de Twin Peaks; além de uma derradeira faixa "new age atmosférica". Tudo brilhantemente pensando e impecavelmente produzido, chegando a resultado emotivo.

As texturas aqui alcançadas são frutos de diferente sintetizadores, vide moogs, mellotron e EMS VCS 3. Evidente que a pulsação está lá, mas é tudo tão alucinante que é mais fácil aproximar o grupo do som hipnótico Pink Floyd que da música dançante do Deadmau5. Todavia, fato é que as quatro suítes aqui encontradas foram tão importantes para o desenvolvimento da música eletrônica quanto a obra do Kraftwerk.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

RETROSPECTIVA 2014: Shows do ano

Já ia me esquecendo de fazer uma retrospectiva dos show do ano. Isso acontece porque, ao menos para mim, está cada vez mais difícil ir aos espetáculos. Coloque neste pacote o preço proibitivo dos ingressos, a canseira que é se locomover por São Paulo, falta de tempo e até mesmo a preguiça de aguentar um público cada vez mais mal educado.

Lembro também que a quantidade de eventos em 2014 foi bastante decepcionante. Talvez devido a Copa do Mundo ter atraído toda a atenção/capital. Ou então foi culpa do mercado aquecido na América do Norte e a desvalorização da nossa moeda. Fato é que foi um ano capenga para shows.

Tirando o show do Dinosaur Jr., sequer lembro um grande show que perdi e fique triste (no caso do evento da Converse, posteriormente ao ver a roubada que foi, fique até feliz de não ter conseguido ingresso).

De destaque mesmo deixo apenas dois espetáculos, ambos destrinchados em outras postagens:

Uma reflexão sobre Jesus (And Mary Chain):
http://paisdobaurets.blogspot.com.br/2014/05/eu-vi-jesus-e-isso-merece-uma-reflexao.html

Pitacos sobre o show do Macca:
http://paisdobaurets.blogspot.com.br/2014/11/pitacos-sobre-paul.html

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

RETROSPECTIVA 2014: Lançamento (Incluindo os MELHORES DO ANO)

Finalmente saiu minha nada esperada lista pessoal com os melhores lançamentos de 2014. Reconheço que citar mais de 100 discos de um único ano é exagero, ainda mais nos tempos atuais em que tudo parece ser tão descartável. Todavia, não deixaria de citar algo bacana só pra me enquadrar num numero pré estabelecido.

Apesar da grande quantidade de discos, fiz descrições (não são criticas, muito menos resenhas, são descrições) curtinhas dos álbuns, justamente por reconhecer que, embora as pessoas tenham sede de conhecimento, nem todos tem tempo/interesse/prazer de ouvir todos os lançamentos um a um, muito menos de ler a minha irrelevante opinião sobre tais obras. 

Mas tá ai, o trabalho sujo está feito, com direito até mesmo a uma faixa destaque para os mais preguiçosos (exceto nos Melhores Discos do Ano, ao menos esses escutem inteiro).

Mais que uma critica, esse post é uma ajuda para quem quer caçar uma novidade (e um HD externo para mim mesmo catalogar minhas audições/preferências).

PEQUENAS OBSERVAÇÕES 

- RELANÇAMENTOS: Led Zeppelin, Sun Ra, Crosby Stills Nash & Young, Jethro Tull, Cramps, Wilco, Cabaret Voltaire, Ave Sangria, Os Mutantes, Pantera… são mais relançamentos do que o dinheiro me permite desfrutar.
- LIVROS: Além das dezenas de biografias que finalmente saíram no Brasil, o mais legal foi ver ótimos livros de jornalistas como André Barcinski, André Forastieri, Fábio Massari e Zé Antônio. 
- DVD: Só assisti o do Meshuggah e curti muito mais que o anterior (que já era ótimo).
- PERDÃO, MAS NEM OUVI: AC/DC, Ace Frehley, Banda do Mar, Banda Malta, Blondie, Coldplay, Eric Johnson, Exodus, Fernanda Takai, Gus G., Iggy Azaela, Judas Priest, Lucas Santtana, Mr. Big, Patu Fu e Santana.


MELHORES DISCOS DO ANO (SEGUNDO EU MESMO)

Behemoth: The Satanist 
Seria esse um dos melhores discos de black metal da história? Dada a incrível capacidade do grupo de costurar boas melodias e texturas com um peso épico e brutal, é possível dizer que sim.

Death From Above 1979: The Physical World 
Incrível como essa banda consegue soar tão acessível quanto pesada com seus riffs cabulosos de baixo e refrões pegajosos. É acima de tudo um disco divertido. E só para polemizar (ou não): é bem melhor que o Royal Blood. 

Far From Alaska: modeHuman 
Há tempos uma banda de rock nacional não me agradava tanto. Atende desde o indie até o stoner. As letras em inglês permitem um futuro comercial fora do país.

Future Islands: Singles 
Por trás de um vocalista esquisitão/figuraça, a banda se saí bem fazendo um pop oitentista com propriedade e talento. Daquelas músicas pegajosas que atormentam (no bem sentido) o ouvinte. 

Juçara Marçal: Encarnado 
Arranjos estupendos e inusitados em um disco que soa surpreendente logo na primeira audição, sem perder a qualidade com o passar do tempo. A poética e o canto da Juçara são um destaque no cenário da música brasileira contemporânea. Encantador e desafiador.

Lucifer In The Sky With Diamonds: The Shining One 
Grata surpresa. Achei que seria apenas mais uma banda viajandona, mas é algo entre hard rock 70's, Alice in Chains e Mastodon. Isso não é pouca coisa.

Old Man Gloom: The Ape Of God I & II
Ao menos o fim do Isis rendeu essa volta de positivo. Aaron Turner em um épico de doom/sludge. Brutal, atmosférico e denso.


Ratos de Porão: Século Sinistro 
O Ratos de Porão não erra nunca. Estão tocando melhor, continuam com a pegada brutal de sempre e a produção ficou porrada. Tão velhacos, mas continuam mestres no que se propõem a fazer.

Swans: To Be Kind 
O Michael Gira não conseguiu superar o genial The Seer (2012), mas impressionantemente chegou bem próximo. Denso, caótico, estranho e delirante. É definitivamente um disco absurdo.

The War On Drugs: Lost In Dream 
A prova de que o indie rock atual pode ser inteligente. Sonoramente acessível, mas com composições rebuscadas, cósmicas e densas. Ótimos arranjos. Não por acaso recebeu ótimas criticas.

Triptykon: Melana Chasmata
A evolução natural do Hellhammer e do Celtic Frost. Moderno e extremamente pesado. Tom Warrior subiu muito no meu conceito. Possivelmente o melhor disco de metal do ano.

Ty Segall: Manipulator 
Cria de São Francisco abusando de sonoridade vintages. Talvez o maior nome da famigerada neo-psicodelia, só que no caso dele, sem grandes afetações.

DAQUI PARA BAIXO É O GROSSO DA LISTA. SÃO OS ÁLBUNS QUE OUVI PARA CHEGAR NOS MEUS PREDILETOSCLIQUE NO MAIS INFORMAÇÕES CASO INTERESSAR. 

AS DECEPÇÕES E OS RUINS ESTÃO NO FIM DO POST 

domingo, 4 de janeiro de 2015

RETROSPECTIVA 2014: Tem que conferir

Sabe aquele grupo/artista que não lançou um grande disco, mas que soltou uma música legal que não pode passar despercebida numa retrospectiva, seja por ter tocado muito, por apontar novos horizontes, por ter um clipe divertido ou simplesmente pela música ser bacana? Pois então, são essas músicas que reúno neste post.

Tais músicas não são necessariamente as melhores do ano, até porque exclui deste post as grandes músicas que estão dentro dos grandes discos. Estão aqui as faixas isoladas que merecem atenção. Vamos a elas:

ADAM - Go To Go
O clipe por si só já é sensacional (criativo, provocativo, sexy), mas a música vale atenção também.

Babymetal - Gimme Chocolate!!
Não leve tão a sério, jovem guerreiro do metal. É divertido.

David Bowie - Sue
Uma nova versão para a música do Bowie. Teve quem sentiu "referência" da melodia de "Cais" (Milton Nascimento). Faz sentido.

Dethklok - Children Of Batman
Porrada engraçadíssima.

Iggy Azalea - Fancy
O Eminem tem finalmente sua versão feminina? Ao meu ver não, mas tem quem coloque no mesmo degrau. Maluquice, claro. Bombou.

Jessie J, Ariana Grande e Nicki Minaj - Bang Bang
Gostei da música. É pop, grooveada, carismática, bem interpretada... Tá ótimo.

Michael Jackson & Justin Timberlake - Love Never Felt So Good
Quando a picaretagem de lançamentos póstumos resulta em algo legal. O Justin salvou.

Mogwai - Teenange Exorcism
Coisa séria. Tanto a música quanto o clipe.

Nicki Minaj - Anaconda
A bunda que mais balançou na TV. Acho bizarro, mas ok, não sou eu que vou lutar contra. 

Nirvana + Kim Gordon - Aneurysm
Vou me abster de grandes comentários, só vou dizer que ficou sensacional. E como o Dave Ghrol é um puta baterista, né.

Pablo - Homem Não Chora
A canção que fez os homens chorarem. O hit que colocou a palavra "sofrência" no vocabulário. A breguice novamente em alta pra 2015? Tô torcendo que pare por aqui.

Pharrell Williams - Happy
Tocou até dizer chega. Mas é bacana.

Snarky Puppy - Lingus

Curiosa uma faixa instrumental ter viralizado. Também, todo mundo ali toca muito. O solo do tecladista Cory Henry é o ponto alto.

Unlocking The Truth
Pode anotar e cobrar: Unlocking The Truth vai lançar o melhor disco de metal de 2022.

Ah, teve ainda o Sleepify, álbum inteiramente de silêncio feito pelo Vulfpeck para golpear o Spotify. Achei bem bolado (como crítica, como publicidade pra banda, como forma de ganhar dinheiro). Pena que não tem o que ouvir, se não postava aqui. (risos).