quinta-feira, 31 de julho de 2014

Humoristas e a música

Ontem morreu Fausto Fanti, o comediante por trás dos personagens Renato, Padre Gato, Nego da Porra, Palhaço Gozo, o Filho do Capeta, o apresentador do Jornal Jornal, dentre tantos outros, todos do programa Hermes e Renato, o maior grupo de humor brasileiro pós Casseta & Planeta. Como forma de homenagem, postarei aqui algumas canções memoráveis feitas por humoristas. É claro que algumas são tosquices puras, mas nem por isso deixam de ser engraçadas.

Em breve faço um post com músicos que fizeram canções bem humoradas.

Massacration - Metal Is The Law
Uma sátira perfeita ao heavy metal melódico. Fãs radicais do Angra e Manowar não veem graça, da mesma forma que narcisistas se admiram no espelho sem perceber.

Também Sou Hype - Bichinho de Matar com Pedra
Cansei de Ser Sexy (e muito do indie atual) nunca foi tão bem explicado quanto aqui.

"Unidos do Caralho a Quatro"
Lindo samba-enredo em homenagem ao... caralho (!!!).

Banda Coração Melão - "Pira Pira Piro"
"Juliano, qual a sua música predileta da axé music?". Resposta:

"Jesus Negão"
Tem que ter coragem para fazer piada com Jesus, racismo, avacalhar os Racionais MC's e o rap nacional em geral. Um tapa na cara nos "limites do humor". Com direito a célebre frase "o melhor álbum dos Beatles é o branco, o pior do Metallica é o preto".

"Gaiola das Cabeçudas"
O funk carioca encontra o erudito. Tem quem não goste, mas eu curto o Marcelo Adnet.

Os Originais do Samba
Como esquecer do Mussum e seu genial Os Originais do Samba? Tá certo que aqui não é um humor escrachado, mas sim a inclusão de letras engraçadas em sambas de primeira. Inclusive, o Mussum foi antes sambista e só depois se consagrou como humorista do grupo Trapalhões. Vale uma pesquisa apurada no som do grupo.

Jô Soares
Seja com diretor, ator, escritor ou apresentador, Jô Soares sempre guarda traços de humor em sua obra. Na música não foi diferente. "Vampiro" é uma pérola obscura do rock nacional.

Falcão
Esclareçam uma duvida: Falcão, o brega, é antes cantor ou humorista? Deixo a dúvida no ar. Sobre a música, eu vejo graça e gosto muito. Tremenda figura.

Tiririca - Florentina
Uma das mais fortes lembranças da minha infância é de escutar pela primeira vez essa canção e não conseguir parar de rir. Fiquei gargalhando mesmo. Nada ali fazia sentido. Hoje pode ser besta, mas na hora foi um absurdo.

Baianos e Os Novos Caetanos
Chico Anysio, ao lado do Arnaud Rodrigues e Renato Piau, avacalhando os baluartes da música brasileira. Não preciso dizer mais nada. Fez muito sucesso na época.

Chaves
As músicas do Chaves não são tão engraçadas quanto o programa em si. Na verdade são até um tanto quanto melancólicas. Ainda assim, tenho carinho por canções como essa:

Chaplin e Keaton
Não é exatamente uma música, mas uma atuação sensacional dos dois maiores comediantes do cinema mudo: Charles Chaplin (que diga-se de passagem, era o compositor das trilhas sonoras de seus filmes) e Buster Keaton. A suposta rivalidade foi aqui encerrada com uma "performance" musical. Cena clássica da história do cinema presente Luzes da Ribalta (Limelight) de 1952.

Spinal Tap
Uma piada tão perfeita que muitos nem perceberam que era humor. Depois do filme, o rock nunca mais foi o mesmo. E fica a dúvida, é comédia ou é documentário?

Monty Python
É claro que eu não poderia deixar os maiores nomes do humor de todos os tempos, ao menos no que se diz respeito ao humor escrachado, sem pudor e limites. Lembrando que o Neil Innes colaborou muito com os humoristas. Fora que "Always Look On The Bright Side" é um clássico da canção popular inglesa.

Tenacious D - Kickapoo
Imagine se o Pete Townshend fosse comediante, abobado e amigo do Ronnie James Dio. O resultado seria esse. O Jack Black tem seu carisma.

Dethklok
Hoje o Brendon Small tem tanto respeito na indústria da comédia quanto da música, mas ele começou fazendo humor. No Dethklok ele junta suas duas paixões neste que é um dos mais rentáveis projetos de death metal atual. Fora que musicalmente é uma porrada acachapante. Diga-se de passagem, Gene Hoglan é quem toca bateria nas gravações. Vale conferir o desenho Metalocalypse.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Soundgarden - Superunknown (1994)

Antes do grunge ganhar status de "geração salvadora do rock", o Soundgarden movimentava o rock alternativo de Seattle. Com seu som bastante pesado, nitidamente influenciado por Black Sabbath, eles fomentaram uma cena que anos depois mudaria os rumos da música. Todavia, apesar do respeito que a banda havia conquistado - inclusive entre os integrantes de outros grupos já bajulados do mesmo movimento -, o Soundgarden tardou para se consolidar perante mídia e público. Isso se deu justamente com o Superunknown (1994), quarto trabalho da banda, lançado no mesmo ano em que Kurt Cobain tirou a própria vida e liquidou o grunge.


Superunknown equilibra peso e sensibilidade melódica em prol do rock. Os riffs densos do guitarrista Kim Thayil e a voz potente/profunda de Chris Cornell remetem diretamente a década de 1970, só que aqui com uma produção lapidada, repleta de overdubs que deixam tudo extremamente encorpado, embora sem perder a organicidade. Aqui vale dizer que a produção é assinada pelo Michael Beinhorn, a mixagem pelo Brendan O' Brien e a masterização pelo Dave Collins. Um time de peso no auge da gravação analógica no rock.

"Let Me Drown" abre o disco de forma irretocável, vide o ótimo riff de guitarra, refrão, linha de baixo, levada de bateria e performance do Chris Cornell. Em resumo, uma faixa de rock perfeitamente construída.

"Mailman" e "4th Of July" representam com perfeição o que muitos chamariam anos depois de metal alternativo, comprovando que o grunge não era um estilo, mas uma cena. Atenção para as afinações graves das guitarras, gerando riffs poderosíssimos. 

Já o lado mais melódico do grupo fica explicito através dos sucessos de "Fell On Black Days" e, principalmente, da ótima balada "Black Hole Sun", que rodou incansavelmente na programação da MTV, contribuindo para que o disco estreasse em primeiro lugar da Billboard.

Os violões entrelaçado às guitarras no arranjo de "Head Down" expõem um das principais características sonoras do grunge.

O hard psicodélico em 5/4 de "My Wave" (onde a cozinha brilha), a caipirice tribal de "Spoonman", a experimental/oriental "Half" e a delirante/sombria "Limo Wreck" são outros destaques do álbum. Já para o final, "Like Suicide" cresce através de seu arranjo denso, climático e com excelentes passagens de guitarra.

Eis um disco que através da sua excelência e versatilidade musical ajudou a manter o rock no centro da música popular mundial.

terça-feira, 29 de julho de 2014

ALGO ENTRE: Sunny Day Real Estate e Immortal

SUNNY DAY REAL ESTATE
Banda do verdadeiro emo noventista. Quem gosta de Foo Fighters tem que ouvir. É a banda do baixista Nate Mendel. Essa música vira e mexe volta aos meus ouvidos.
 
IMMORTAL
Talvez a banda de black metal norueguesa mais sonoramente coesa. Seu último disco é bem legal. O clipe é pateticamente incrível.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Queen - Queen II (1974)

O Queen é definitivamente uma banda grandiosa. E não me refiro somente a sua popularidade. Seus discos e shows foram grandes atos que marcaram para sempre a história da música popular, sendo Queen II (1974) o primeiro registro verdadeiramente imponente do grupo.
 

Sua fama não corresponde a mediocridade. As composições deste disco flertam com rock progressivo e trazem arranjos soberbos, vide "Some Day One Day" e a linda "White Queen (As Began)", ambas arquitetadas após a gravadora dar a liberdade para que a banda fizesse o que quisesse no estúdio. Vale dizer que aqui foram usados equipamentos multicanais avançados para a época.

Brian May dá uma aula de melodias, timbres majestosos e sobreposições sonoras logo na abertura do disco, na tão curtinha quanto épica "Procession", que desemboca na intensa "Father To Son", que assim como "Ogre Battle" e "Seven Seas Of Rhye" (com traços de The Who), mostram que a banda conseguia soar pesada quando queria, sendo uma espécie de Black Sabbath mais refinado.

Freddie Mercury evidencia sua inegável força vocal nas impressionantes "The Fairy Feller's Master-Stroke" (com traços de opereta), "Nevermore" e "The March Of The Black Queen". Já os injustiçados Roger Taylor (bateria) e John Deacon (baixo) saltam aos ouvidos em "The Loser In The End", um hard rock com toques glam.

Esse é apenas o primeiro grande passo de um grupo que viria a dar salto celestiais. Para os fãs mais tradicionais, é o registro definitivo da banda. Sua capa, contendo os quatro integrantes em sua pose mais famosa - revistada anos depois no clipe de "Bohemian Rhapsody" -, é uma das imagens mais emblemáticas do rock, sendo ela autoria do lendário Mick Rock.

domingo, 27 de julho de 2014

Shows dos sonhos (os impossíveis)

Um post pessoal com shows que adoraria ter assistido. Todos hoje impossíveis. Todos no passado viáveis (nada de "banda dos sonhos" ou tour que nunca existiu).

Justificando dois grandes nomes ausentes: 
- A precariedade dos equipamentos somado aos gritos histéricos do público faziam das apresentações dos Beatles uma experiência nem tão interessante. Talvez o mais legal de assistir seria o do Rooftop, mas deixei de fora.
- Já o Led Zeppelin sempre considerei muito mais interessante em estúdio que nos palcos.

Em breve faço um post sobre shows dos sonhos ainda possíveis de serem vistos.

Cream
Concordo que Jimi Hendrix ao vivo era espetacular, mas na década de 1960 ninguém batia de frente com o Cream. Se liguem como as improvisações do grupo viram longas sessões de jazz com fraseado blues e atitude rock.

Stax
O seleto time da gravadora Stax numa tour na Noruega. É muito balanço. É a soul music da melhor qualidade possível.

Deep Purple
Eu sei que eles tocam com frequência no Brasil, mas eu queria ter visto essa que é minha banda predileta no auge da carreira, por volta de 1973.

Pink Floyd
Fazer dessa apresentação um show particular não seria nada mal.

Ramones
Sorte daqueles que tem idade suficiente para ter visto os Ramones ao vivo (independente da época). Minha geração ficou na vontade.

Pantera
Sorte daqueles que tem idade suficiente para ter visto o Pantera ao vivo. Minha geração ficou na vontade.


Citações honrosas: 
- Jerry Lee Lewis (pode ser na tour da Alemanha que rendeu o disco de 1964),
- Miles Davis (com seu segundo quinteto),
- The Who (o de Woodstock tá de bom tamanho),
- Grateful Dead (qualquer um no Fillmore West em 1969),
- Stooges (de preferência em Detroit),
- Cramps (o do manicômio, mas de preferência sem ser um dos internados),
- Ministry (qualquer um entre 1989 e 1991),
- Nirvana (qualquer um em 92),
- David Bowie (em todas as tours).

sábado, 26 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Gary Numan - The Pleasure Principle (1979)

Há não muito tempo, escrevi aqui no blog que "1979 foi o ano do Gary Numan". Disse isso ao abordar o seminal disco Replicas do Tubeway Army (leia aqui). Agora é hora de falar sobre o segundo ato deste criador inquieto, que desbravou sonoridades eletrônicas no cultuado The Pleasure Principle.


Uso a palavra "cultuado" porque é praticamente impossível pensar em Human League, Depeche Mode, New Order, Soft Cell - ou resumindo, tudo que tenha a típica sonoridade oitentista, seja no rock ou na música pop -, sem esse trabalho audaz. Sua imagem robótica e andrógina na capa é uma mistura de Kraftwerk com Roxy Music. Musicalmente são justamente essas as maiores referências. 

A instrumental "Airlane" deixa explicito que esse não seria um disco comum para a época. Os ritmos dançantes e eletrônicos em "Observer", a dureza de "Metal" e as melodias sintetizadas do hit "Cars" - que impressionantemente chegou ao primeiro lugar nas paradas britânicas -, só confirmam o vanguardismo da obra.

A base instrumental é repleta de violinos, baixos e pianos manipulados com delays, reverbs, phaser, flangers e outros efeitos, vide a doce "Complex". Essa proposta traz um tom futuristas para instrumentos outrora "clássicos". Além disso, sintetizadores como o polymoog são constantemente explorados, dando ao trabalho um caráter extremamente moderno. Neste sentido, destaque para a ótima "M.E.".

Seja para a new wave ou qualquer gênero que tenha "synth" no nome, The Pleasure Principle precisa ser compreendido como uma ruptura com o velho - sem abrir mão das influências -, e como pilar para novas sonoridades. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

ALGO ENTRE: Burt Bacharach e Napalm Death

BURT BACHARACH
Porque o tal do easy listening não é tão horrível quanto dizem. A melodia é boa e o arranjo grandioso. Burt Bacharach é um grande compositor.

NAPALM DEATH
Por mais legal que seja o Burt Bacharach, recomendo ouvir um Napalm Death logo após para a cabeça voltar ao normal. Clássico do grindcore.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Kyuss - Welcome To Sky Valley (1994)

Quem acompanha o cenário atual do rock já percebeu uma recém tendência de boas bandas de stoner rock, estilo que se estabeleceu através do Kyuss no início da década de 1990. Entre os melhores discos do grupo está Welcome To Sky Walley (1994), uma base para o que é feito ainda hoje no gênero.

  

O stoner nada mais é que uma continuação do rock/metal/hardão da década de 1970, só que transportado para os anos 90, superando assim a pasteurização sonora da década passada. Riffs endiabrados herdados do Black Sabbath, gravações cruas e extremamente graves, além de ritmos densos e trogloditas, bastante semelhantes ao doom, estão entre as características do estilo.

Após a ascensão dos sintetizadores no rock oitentista, a formação básica guitarra/baixo/bateria voltara a fazer sentido. Com a explosão dos sons pesados motivados pelo grunge, o Kyuss conseguiu chamar atenção mesmo não sendo oriundo da cena de Seattle. Liderando a banda estavam John Garcia (vocal) e um jovem Josh Homme (guitarra), que anos depois formaria o Queens Of The Stone Age.

O álbum tem um formato bastante peculiar. Ele é formado por três suítes de mais de 15 minutos cada, que não necessariamente se encaixam perfeitamente. Mais parecem canções dentro de canções. Todas exageradamente intensas na interpretação, reverenciando o passado e trazendo um peso alucinante. É a trilha perfeita para a chapação no deserto americano.

Em "Gardenia", os timbres robustos de guitarra (os amps de baixo que o Josh Homme utilizava colaboram para essa sonoridade), o baixo saturadíssimo (poderosa linha!) e bateria que parece tocada com uma marreta, funcionam como amostra do potencial dessa estética.

Impossível passar ileso diante do riff de "Asteroid" e das performances em "100°". Os fãs de hardão vão ao deleite com "Supa Scoopa and Mighty Scoop".

Embora com elementos retrôs, não dá pra imaginar "Demon Cleaner" e "Odyssey" em outro período que não seja a década de 1990. Elas são donas de uma liberdade composicional que é fruto do rock alternativo.

Adoro a urgência esmagadora de "Conan Troutman" e gordurice psicodélica "N.O.".

Pela sua honestidade, coragem (sonora e comercial) e competência, o Kyuss tornou-se uma referência cult. Parte do melhor que estamos vivendo no rock atual - do Kadavar ao Far From Alaska -, tem parcela de culpa (direta ou indiretamente) do Kyuss.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

45 anos do festival de Woodstock

O mais importantes evento da contracultura comemora 45 anos. É evidente que falo de Woodstock, festival símbolo da geração hippie.


O festival aconteceu entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, não em Woodstock, mas em Bethel (Nova York), numa propriedade de 600 acres do fazendeiro Max Yasgur. Apesar dos problemas de estrutura, que se agravaram com a superlotação - era esperado 200.000 espectadores, mas estimasse que meio milhão de pessoas estiveram no evento -, Woodstock é tido como um sucesso cultural e comportamental.

Em meio ao clima chuvoso, enlameado, lisérgico e de "Paz & Amor", rolaram shows emblemáticos, alguns até mesmo devido o inesperado fracasso. O documentário Woodstock lançado em 1970 e sua fantástica trilha sonora, narram os pontos altos e baixos destes três dias históricos.

15 DE AGOSTO
Intimista e explosivo, Richie Havens abriu o festival com uma apresentação memorável. Apesar de sua longa carreira, sua força ao cantar e atacar o violão foi tamanha que permaneceu como a mais forte imagem associada ao artista. 

A cultuada The Incredible String Band representou com categoria o folk psicodélico que despontava no Reino Unido. Já o indiano Ravi Shankar, popularizado através de seu fã George Harrison, tocou mantras viajantes para um público atento entupido de maconha e ácido. Por outro lado, o Country Joe fez todo o público levantar e berrar "FUCK". Fechando o dia estava Joan Baez, artista símbolo da luta contra a Guerra do Vietnã, trazendo ao festival o lado mais contestador desta geração.

16 DE AGOSTO
Por mais legal que tenha sido o dia anterior, foi aqui que o caldo começou a entortar. O Santana fez uma apresentação altamente lisérgica. Ele chegou até mesmo a dizer que sua guitarra havia se transformado numa serpente. Conversa fiada ou não, fato é que sua performance é venenosa. Seu fraseado já naquela época era primoroso. Vale ainda mencionar a espetacular execução do baterista Michael Shrieve em "Soul Sacrifice". 

Na sequência, rolou o blues elétrico tão chapado quanto gracioso do Canned Heat, as longas jams do cultuado Grateful Dead (prejudicados pela forte chuva) e a psicodelia de São Francisco representada pelo Jefferson Airplane. Nada mais flower power.

O Creedence, no auge da sua criatividade (eles 1969 eles lançaram três álbuns emblemáticos) enfileirou um hit atrás do outro. Por ter sido no meio da madrugada, dizem que a recepção do público não foi das melhores, fato que fez com que a banda arquivasse os registros da apresentação. 

Já o Mountain, liderado pelo grande guitarrista Leslie West, levantou a plateia com uma performance pesada e virtuosa (pra época).

Mas foi mesmo o combo multirracial Sly & The Family Stone que mostrou todo poder de fogo. Sua mistura de funk com rock não por acaso veio a influenciar meio mundo de artistas, incluindo Miles Davis. Histórico.

Iniciando o show as 4h da madrugada, chegando ao nascer do Sol, o The Who atacou 25 canções, incluindo pérolas da ópera rock Tommy. Eis um show para se estar.

Todavia, tudo foi ofuscado pela icônica Janis Joplin, que com sua voz poderosa e repertório acima de qualquer suspeita, acabou apresentado o mais memorável (com justiça ou não) espetáculo da noite.


17 DE AGOSTO
O imponente Joe Cocker fez o primeiro grande show do último dia de festival. Sua interpretação antológica para "With A Little Help From My Friends" é ainda hoje impactante, assim como a performance do guitarrista Alvin Lee (Ten Years After) na furiosa "I'm Going Home". Tudo levaria a crer que o músico seria o grande nome das seis cordas do festival. Nem mesmo Johnny Winter, que se apresentou ao lado de seu irmão Edgar Winter, conseguiu roubar a cena.

A The Band, grupo dono de maravilhosas canções e que foi extremamente influente na época, deixou registrado seu nome em Woodstock. Paul Butterfield Blues Band, Blood, Sweat & Tears e Crosby, Stills, Nash & Young (em uma das primeiras aparições enquanto quarteto) também fizeram grandes apresentações, mas nada que pudesse se comparar com a performance do Jimi Hendrix. O lendário guitarrista estraçalhou sua Stratrocaster durante riffs envolventes, solos lisérgicos e ruídos que simulavam bombardeios. Isso tudo acompanhado do Mitch Mitchell (bateria), Billy Cox (baixo) e de mais dois percursionistas que foram limados da mixagem. Um dos maiores momentos da história do rock, pra não dizer da música em geral. Infelizmente (ou não), por ter acontecido já no amanhecer de uma segunda-feira e após três dias intensos, a cereja do bolo do Hendrix foi vista presencialmente por poucas pessoas. Felizmente tudo foi documentado.


A marca do festival foi algumas vezes revisitada, sempre fracassando. De Woodstock restou "apenas" a memória, os registros e os frutos de um momento histórico da cultura popular do século XX.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Elis Regina & Tom Jobim - Elis & Tom (1974)

Quando o assunto é a Música Popular Brasileira (com letras garrafais), é fácil encontrar quem considere Elis Regina a melhor interprete e Tom Jobim o maior compositor. Sendo assim, a parceria de ambos no clássico disco de 1974 foi imediatamente vista como um acontecimento.


Numa época em que as gravadoras brasileiras ainda investiam em seus artistas, a Philips bancou a gravação deste disco no MGM Studios em Los Angeles, o que tecnicamente lapidou uma música que prima por detalhes sonoros. A bossa nova nunca foi tão bem tocada e gravada.

Vale sempre dizer que, embora o disco traga uma luz sobre nossas vidas, sua confecção não foi das mais simples. Desentendimento na seleção do repertório, na elaboração dos arranjos, na disputa estética entre o "violão e piano acústico vs a guitarra e teclados elétricos", na abordagem pianistica e na gestão dos egos. Tudo isso atenuado conforme a gravação se desenvolvia, restando no fim "apenas" o talento dos envolvidos.

Não somente os artistas da capa merecem os créditos. O arranjador e produtor César Camargo Mariano fez um trabalho brilhante. O mesmo vale para os geniais Hélio Delmiro (violão e guitarra), Oscar Castro-Neves (violão), Paulo Braga (bateria) e Luizão Maia (baixo), com destaque para a performance em "Triste", de autoria de Tom Jobim com Vinícius de Moraes. Que time, hein!

Foram muitas as canções que tornaram-se hinos e trilha sonora perfeita do Brasil, visto por um olhar caricato ou não. Neste degrau estão as clássicas "Águas De Março" (com seu jogo de palavras encantador), "Corcovado" (uma fotografia histórica do Rio de Janeiro) e "Retrato em Branco e Preto" (composição do Chico Buarque, aqui interpretada com enorme dramaticidade).

É impossível passar indiferente diante da riqueza sonora de "Pois É", da ternura de "Chovendo Na Roseira" (tremenda melodia!), do balanço vagaroso de "Só Tinha De Ser Com Você" (com direito a piano elétrico no lugar do acústico, para desespero inicial do Tom Jobim) e do groove envolvente de "Brigas, Nunca Mais". Fora os arranjos espetaculares e performances vocais exuberantes de Elis Regina em "Modinha", "O Que Tinha de Ser" e "Fotografia".

Resumindo, a cada faixa é uma nova pérola a ser enaltecida. Escute sem soberba. Escute apenas apreciando o que de mais bonito já foi produzido do Brasil para o mundo.

domingo, 20 de julho de 2014

ALGO ENTRE: The Hellecasters e Medications

THE HELLECASTERS
Quando fedelho, tive aulas de guitarra com um cara que curtia muito country music. Nessa época ouvi vários discos do estilo, mas o que mais curtia era um do Hellecasters. Aprender as músicas do álbum é uma aula para a vida toda.

MEDICATIONS
Banda muito legal que descobri essa semana. São de Washington e já tocaram na Verdurada. Sonoramente é cria do Minutemen, Gang Of Four, Fugazi, Pavement... ou quase isso. Não confundir com o Medication do Roy Mayorga.

sábado, 19 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Michael Jackson - Off The Wall (1979)

A vida do Michael Jackson é enigmática. Por trás de um talento raro, estão dificuldades inflamadas por seu sucesso avassalador. Se na infância ele teve que lidar com a fama do Jackson 5 enquanto paralelamente recebia cacetadas de seu pai, na adolescência ele viu sua popularidade fluindo lentamente ralo abaixo. Como num grito de socorro, pediu orientação para o ícone do jazz/funk Quincy Jones - com quem havia trabalhado no filme The Wiz (1978) -, que por sua vez ajudou o jovem garoto produzindo aquele que, para muitos, foi seu melhor trabalho. Falo do clássico Off The Wall (1979).


Lançado pela Epic, descrever as qualidades desse disco é desnecessário. Que outro trabalho pode contar com compositores do nível de Paul McCartney ("Girlfriend"), Stevie Wonder ("I Can't Help It") e Rod Temperton ("Burn This Disco Out")? E ter na ficha técnica músicos do gabarito dos guitarristas Phil Upchurch e Larry Carlton, dos tecladistas George Duke, Steve Porcaro e Greg Phillinganes, do baixista Louis Johnson e do batera John "J.R." Robinson? Isso sem falar no próprio Michael Jackson, um criador/cantor/dançarino muito acima da média, além do já citado Quincy Jones, produzindo e arranjando este brilhante escalão.

Com tudo isso, não surpreende o quão genial e popular sejam as canções aqui presentes, com destaque para a frenética "Don't Stop 'Til You Get Enough" (com direito a um ritmo maluco e arranjo de cordas e metais não menos que espetacular) e a maravilhosa "Rock With You" (obra-prima atemporal da música pop e dona de clipe emblemático).

Tão dançante quanto sofisticadas, estão canções que transitam entre o funk, r&b, disco music e o soft rock/aor. Impossível não destacar o groove intenso de "Get On The Floor" (espetacular linha de baixo, com direito a slap de rancar o dedo) e a riqueza melódica e harmônica da balada romântica (um tanto quanto cafona) "She's Out Of My Life".

É fácil encontrar DJs/produtores que constantemente garimpam neste disco bases para o hip hop e críticos musicais que colocam a obra no mais alto degrau da música pop. Há também simples ouvintes, que ainda hoje utilizam o álbum de trilha de suas vidas, sendo justamente esses ouvintes que legitimaram a carreira do Michael Jackson, possibilitando que anos depois ele chegasse no topo comercial com Thriller (1982). Todavia, Off The Wall é mesmo o seu auge musical.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Franz Ferdinand - Franz Ferdinand (2004)

Se teve um sentimento que o indie 00's gerou no rock foi o de frescor. Não discutirei aqui legitimidades ou preferências, mas sim estética e mercado. É admirável olhar para trás e ver - em meio ao auge da popularidade de engodos como o Creed - a ascensão do escoceses do Franz Ferdinand, que teve seu debut como um destaque deste cenário.


Enquanto a maioria das bandas do indie rock buscavam suas referências no Gang Of Four e Television, o Franz Ferdinand fundiu Talking Heads com Roxy Music e David Bowie, dando luz a uma nova forma de se fazer art rock, bem mais crua, embora ainda estranhamente elaborada e "funkeada". O mesmo pode se dizer sobre o visual da banda, simples e impactante, vide a minimalista capa do disco.

As músicas do álbum são curiosamente dançantes. O groove proporcionado pela cozinha formada por Bob Hardy (baixo) e Paul Thompson (bateria) é coeso, como evidenciam as ótimas "Tell Her Tonight" e "Darts Of Pleasure". Já as encantadoras "The Dark Of Matinée" e "Auf Achse" são tão pops quanto densas e recheadas de detalhes que prendem a atenção do ouvinte, muito disso graças aos talentosos Alex Kapranos (voz) e Nick McCarthy (guitarra).

O grande hit do disco é a ótima "Take Me Out", de refrão simples, batida dançante, guitarra ganchuda e mudanças constantes de andamento. "This Fire" também fez sucesso, elevando a força do álbum.

De todas as banda do indie rock 00's, prevejo que o Franz Ferdinand é a que melhor vai sobreviver ao teste do tempo. Isso se dará graças as boas melodias e o clima divertido das canções. Não se levar tão a sério e ter boas referências garantiram isso.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O que é que os albinos tem?

Hoje morreu Johnny Winter, lendário guitarrista americano de blues-rock. Mas não prestarei um tributo ao guitarrista aqui, já tem gente mais talentosa já fazendo isso (vide os posts recentes do Régis Tadeu e do André Barcinski em seus respectivos blogs). Farei na verdade um link do Johnny Winter com o trabalho de outros três talentosos músicos albinos:

Edgar Winter
Falando em albino e Johnny Winter, impossível não lembrar de seu talentoso irmão, Edgar Winter. Entre tantas boas faixas do seu repertório, não da pra deixar de citar "Frankestein", possivelmente a faixa instrumental de maior sucesso na história do rock, tomando como medida sua primeira colocação entre as mais tocadas da Billboard. Dave Grohl já chegou a dizer que essa foi a primeira composição que fez ele se interessar verdadeiramente por música.

Hermeto Pascoal
Talvez o maior nome da música instrumental brasileira. Fez de tudo: jazz, música experimental, baião, samba, "world music", choro, música radiofônica, acompanhou outros artistas... Hoje não só faz música, ele encarnou a música. Toca todos os instrumentos com a mesma desenvoltura e personalidade. Referência total para quem não quer ficar estagnado musicalmente.

Sivuca
Incrível a irmandade musical entre os albinos, tendo em vista que um dos maiores parceiros do Hermeto Pascoal foi o Sivuca, e isso vem lá da década de 1950. Ele tem as mesmas características de Hermeto, mas é mais pé no chão, embora não menos brilhante, tendo flertado de maneira mais sóbria com a música popular, sem ignorar seu approach erudito.

R.I.P. Johnny Winter, R.I.P. Sivuca. E vida longa e produtiva para Hermeto Pascoal e Edgar Winter.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Accept - Restless And Wild (1982)

Ontem eu tive uma experiência simples e honesta que me fez admirar uma banda que até então não dava bola: ouvir um disco do Accept na integra! A audição foi tão surpreendentemente prazerosa que decidi dissecar esse inegável clássico do heavy metal lançado em 1982, Restless & Wild.


Assumo que fui ouvir o disco devido o poeiraCast desta semana ser sobre o álbum. Outro fator importante é que o Andreas Kisser citou no Instagram o álbum entre seus prediletos.

O lance é que tenho pé atrás com heavy metal "tradicional" em geral. Dio, Iron Maiden, Saxon, Judas Priest, Scorpions 80's... gosto das bandas, mas acho a postura caricata. Com os alemães do Accept a impressão era a mesma.

Entretanto, quando olhamos para a arte gráfica do disco - seja a capa com a guitarra flying v em chamas ou a com a banda no palco, cercada de amplificadores, bumbo duplo e luzes vermelhas - é impossível (ao menos pra mim) não achar impactante, embora divertidamente datada.

Mas o que não é datado é o som. A frenética "Fast As A Shark" é tudo que qualquer banda de thrash metal, metal melódico ou speed metal gostaria de fazer, tamanha a velocidade da canção. Diz a lenda que a faixa era a única de metal ovacionada dentro do CBGB (lendária casa de punk rock em Nova York).

Udo pode até ser um dos personagens mais feios da historia do rock, mas até isso é legal. Um quase anão, alemão, de voz rouca, que mistura Rob Halford com Brian Johnson. Escute as ótimas "Shake Your Heads" e "Get Ready" e veja se elas não tem respectivamente toques de Judas Priest e AC/DC.

Wolf Hoffmann é um guitarrista subestimado. Ele manda bala em bases ferozes, é criador de riffs energéticos e solos melódicos com arpejos herdados da música erudita, isso antes do estilo neoclássico do Malmsteen virar tendência. Vejam o que ele faz em "Ahead The Pack" e "Neon Nights".

Fica o adendo: só gostei do disco porque curto metal. Se você não tolera backing vocals másculos em refrões ogros, riffs recheados de palhetadas e bumbos insanos, então passe longe deste disco. Ele é uma obra-prima do heavy metal tradicional.

terça-feira, 15 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Motörhead - Overkill (1979)

1979 foi um ano importante para a música pesada. Fosse através do heavy metal do Judas Priest ou do punk rock dos Ramones, todos estavam fazendo grandes trabalhos. Mas os estilos não se misturavam. Foi então que o Motörhead despontou para apaziguar os ânimos e arrebentar os ouvidos mais sensíveis.


Tocando rock n' roll com velocidade punk e o peso oriundo do metal, o Motörhead presenteou o mundo com discos brilhantes, vide o Overkill (com produção do lendário Jimmy Miller), base para o que viria a fazer anos depois as bandas do thrash metal. Basta se atentar a introdução espetacular de dois bumbos do Phil "Animal" Taylor na faixa que abre o álbum. É um esporro ainda hoje acachapante.

O baixo gorduroso/distorcido e a voz rouca/ébria com traços de tabaco do Lemmy é o que há de mais rock n' roll no mundo. Com essa combinação explosiva ele construiu verdadeiros clássicos, vide "Stay Clean" e "No Class", ambas sacanas, ambas sempre tocadas em seus barulhentos shows.

O guitarrista Eddie Clarke completa esse trio matador com ideias simples e eficazes. Não tem como não se divertir com os riffs energéticos e solos rockeiros presente nas espetaculares "Damage Case", "Tear Ya Down" e "Limb From Limb", ainda que seja o baixo de Lemmy a grande força real por trás do instrumental. Para comprovar isso basta prestar atenção nas introduções de "I'll Be Your Sister" e "Capricorn".

No rock existem muitas subdivisões e só uma certeza: Lemmy é Deus!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

ALGO ENTRE: Leptospirose e Tom Jones

LEPTOSPIROSE
Uma dentre tantas maravilhas do rock nacional underground. Desgraça linda. 

TOM JONES
Quem foi no show do Faith No More no SWU tem uma relação maluca com essa música. A versão original do Tom Jones é não menos brilhante.

domingo, 13 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Beatles - A Hard Day's Night (1964)

A discografia dos Beatles é comumente dividida em entre antes e pós Revolver (1966). Na fase inicial, pejorativamente avaliada como "rock bobinho", temos A Hard Day's Night (1964), a primeira grande obra-prima do quarteto de Liverpool.


A "ingenuidade" das composições é inegável. O grupo apresenta canções que passam longe do experimentalismo que o grupo viria a desenvolver nos anos seguintes, mas nem por isso a obra deve ser desvalorizada. Muito pelo contrário, é o retrato sincero de uma banda ainda em desenvolvimento que acabara de lançar seu primeiro álbum contendo somente composições próprias. E levando em conta um grupo que contem Lennon e McCartney, isso definitivamente não é pouca coisa.

Desde o primeiro e misterioso acorde do disco, até sua última nota, o que vemos é George Harrison arrebatador com sua guitarra rickenbacker de 12 cordas em "A Hard Day's Night" e "You Can't Do That". Tem que ser muito coração frio para não se encantar com a ótima "I Should Have Known Better" e, principalmente, a clássica "Can't Buy Me Love" .

Mesmo as baladas românticas "If I Fell" e "And I Love Her" são pequenas preciosidades melódicas e vocais. E quando essa fórmula esta preste a saturar, as rockeiras "When I Get Home", "Tell Me Why", "Anytime At All" e "I'll Cry Instead" surgem e dão conta do recado.

Lançado como trilha sonora do filme homônimo, a obra catapultou ainda mais os Beatles para o estrelato. Sua capa, seu filme e suas músicas são o retrato perfeito da época. É o rock n' roll sem firula e com alcance pop.

sábado, 12 de julho de 2014

Bandas/Artistas da Holanda

Dando sequência na torcida contra a seleção da CBF, chegou a hora falar sobre os grandes nomes da música holandesa.

Ressalto que conheci a maior parte das bandas aqui citada através da edição Nº49 da revista Poeira Zine, número dedicado exclusivamente ao rock holandês. Vale a pesquisa.

E ok, eu sei que os irmão Van Halen são holandeses, mas não da pra considerar o Van Halen uma banda holandesa. Eles são puro hard rock americano.

Focus
Banda clássica do rock progressivo. Quem não se impressionou com as vocalizações do Thijs Van Leer em "Hocus Pocus" que atire a primeira pedra. Fora que o Jan Akkeman é um senhor guitarrista. Vale ouvir atentamente a discografia da banda.

Golden Earring
Mais de 50 anos com a mesma formação fez da banda uma instituição holandesa. Eles são donos de uma discografia especial, que merece a devida atenção.

The Outsiders
Ultra recomendado para quem pira no rock da década de 1960, mas quer fugir dos nomes óbvios.

Earth & Fire
Rock progressivo da melhor qualidade. As vezes flertando com belíssimos arranjos sinfônicos. Anos depois se perderam num pop cafona.

Q65
Todos país tem sua cena garageira. Na Holanda não foi diferente. É obscuro e espetacular.

Cargo
Uma mistura de Wishbone Ash com Grateful Dead. O que significa isso? Guitarras entrelaçadas e longas jams para ninguém botar defeito.

Group 1850
E você pensando que só na América e na Inglaterra o LSD estava comendo solto. Psicodelia excelente.

Cuby + Blizzards
Seguindo as tendências inglesas, a Holanda também foi fundo no blues americano e deu ao mundo essa boa banda de blues rock.

Kayak
Outro grande nome do progressivo holandês. Tem até quem considere melhor que os gigantes Focus e Golden Earring. É mais melodioso, chegando a beirar o cafona. A mim muito agrada.

Picture
Sim, a Holanda também tem heavy metal. Clássico para os fãs do gênero na década de 1980.

Lärm
Nem conheço tanto a cena hardcore holandesa (!!!), ainda mais quando o assunto é straight edge. Todavia, acho essa banda uma das melhores deste segmento.

Shocking Blue
Caramba, já ia esquecendo do Shocking Blue, um dos maiores nomes da psicodelia europeia. Mais uma entre tanta bandas que conheci via o Kurt Cobain, por mais desconexo que isso possa parecer. 

DJ Paul Elstak
Mas nem só de rock vive a música holandesa. Deixo aqui um representante da cena gabber, sendo que esse DJ se notorizou por produções velozes que fundem eurodance, hardcore e techno. Beira o bizarro.

TEM QUE OUVIR: Raimundos - Raimundos (1994)

O rock brasileiro viveu seu auge comercial na década de 1980. Bandas como Titãs, Paralamas e Barão Vermelho estavam presentes na TV e rádio. Todavia, a década de 1990 começou mal para o rock nacional. Raul Seixas e Cazuza morreram e tudo que sobrou envelheceu rápido demais.

Com o surgimento da MTV Brasil, a efervescência da cena alternativa - representada através de festivais como o Junta Tribo - e a revista BIZZ buscando o equivalente ao que o Nirvana começara a fazer pelo mundo, restou a quatro moleques de Brasília - com sangue nordestino - o posto de principal banda da renovação rockeira em solo tupiniquim. Surgia assim os Raimundos.


Influenciados tanto por Ramones quanto pelo desbocado Zenilton - cantor/compositor/sanfoneiro pernambucano -, os Raimundos fizeram a união perfeita de punk rock com o forró, algo que mais tarde ficou conhecido como forró-core. Essa mistura bombástica chamou atenção do produtor Miranda, que levou a demo do grupo até as mãos dos Titãs, que por sua vez lançaram o debut dos Raimundos pelo selo Banguela, com produção simples/eficaz/violenta e capa positivamente tosca.

Mas não foi só o Miranda e os Titãs que ficaram embasbacados com o som do quarteto. O público jovem adorou a banda. Todos se identificaram com aquele som pesado e sacana. As letras cheias de gírias cantadas na velocidade da luz pelo Rodolfo, traziam temas corriqueiros para a molecada, vide a putaria explicita nas clássicas "Puteiro Em João Pessoa" (muito bem escrita) e "Selim" (bobinha, mas divertida).

Sexo e palavrões são explorados naturalmente, vide o estrago presente em "MM's", "Minha Cunhada", "Carro Forte" e "Cintura Fina". Já as drogas aparecem nas espetaculares "Rapante" e "Nega Jurema". Se moralmente é possível tecer criticas sobre o conteúdo das canções, por outro é difícil negar a espontaneidade.

Instrumentalmente, é incrível a quantidade de bons riffs despejados pelo Digão, além do baixo ultra encorpado do Canisso e a pegada avassaladora do baterista Fred. Nestes quesitos, é fácil destacar a "brega" "Palhas do Coqueiro" e a paulada "Bê a Bá". 

O forró e a malícia de Zenilton surgem em "Deixe de Fumar/Cana Caiana" e "Cajueiro/Rio das Pedras", duas dobradinhas absurdamente inventivas, carismáticas e acachapantes. Escolha Genival Lacerda de composição. Já "Marujo" chega até a incluir sanfona e triângulo no arranjo.

Grande parte do rock nacional posterior a esse disco foi de alguma forma influenciado pelos Raimundos, embora poucas bandas demonstrem tanta atitude, carisma e inventividade quanto estes quatro lazarentos. Sendo assim, o disco de estreia do grupo continua relevante e, até mesmo, revigorante frente a um cenário pasteurizado.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Grandes riffs do rock nacional

Leia, escute, concorde, discorde... faça a sua lista e deixe nos comentários. Lembrando que são escolhas pessoais e que, obviamente, muitos outros que ficaram de fora desta seleção. 

Andreas Kisser

Roberto Carlos - Não Serve Pra Mim
A Jovem Guarda muito além da suas baladas bobinhas. Aqui o fuzz áspero do Renato Barros fala alto num riff empolgante que se repete no refrão. É o grande gancho da música.

Gal Costa - Pérola Negra
Lisérgico e estranho, Lanny Gordin quebra tudo antes de proporcionar uma cama perfeita com sua doce e arrojada harmonia.

Novos Baianos - Tinindo Trincando
O groove tropical de Pepeu Gomes com doses nada moderadas de Jimi Hendrix.

Os Mutantes - Jardim Elétrico
Tocado com pegada assustadora e timbre encorpado, Sérgio Dias desce a mão em meio a passeata contra a guitarra elétrica. Moderno para a época.

Antonio Carlos & Jocafi - Kabaluere
Tremendo riff, dobra por violão e guitarra. Muito provavelmente foi tocado pelo Lanny Gordin. Simples e eficaz, além de dono de uma malemolência contagiante.

Rita Lee - O Toque
O Luiz Carlini é muito rock n' roll. Sua guitarra rítmica com abordagem à la Keith Richards é de extremo bom gosto. Atenção também para as brilhantes levadas de bateria que respondem ao riff.

Jorge Ben - Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)
Tem quem não considere propriamente rock, mas não há quem discorde que é um riff grooveado e espetacular.

Casa das Maquinas - Londres
Dentre tantos bons riffs feitos na ignorada cena do rock brasileiro setentista, esse talvez seja o meu predileto. Adoro as frases angulares.

Raul Seixas - No Fundo Do Quintal Da Escola
É pesado, sacana e ultra bem tocado. Um dos meus preferidos.

Walter Franco - Canalha
Não o solo introdutório, mas o riffs pós-refrão. O complemento perfeito ao grito de "canalhaaaaa!". As viradas de bateria ajudam na força do riff.

Robertinho de Recife - Fogo
Hoje parece bobinho, mas é o primeiro ecoar do heavy metal no Brasil. Eu adoro!

Barão Vermelho - Pro Dia Nascer Feliz
Empolgante, divertido e pesado, principalmente quando tocado na fase pós-Cazuza. Conheci na versão do Barão (Ao Vivo) (1990).

Ira! -  Núcleo Base
Poderia ser "Dias de Luta" ou "Mudança de Comportanento", mas esse me emociona mais. O fraseado do Scandurra é bastante particular, unindo Hendrix, mod e punk.

Patife Band - Tô Tenso
É punk, é atonal, é maluco... E em 7/4.

Golpe de Estado - Não É Hora
Se bem interpretado, três acordes e um timbre pesado são mais que suficientes na criação de um grande riff. Quando entra a bateria é de tirar o fôlego.
Obs: Quase coloquei o riff de "Filho de Deus". Hélcio Aguirra foi um mestre dos riffs.

Sepultura - Roots Blood Roots
Duas notas graves em afinação baixa, acentuação rítmica típica de berimbau e dissonâncias. Um dos pilares do new metal.

Nação Zumbi - A Praieira
Riff com ginga brazuca. Lúcio Maia é simples e direto. Sua guitarra coberta por wah-wah deixa tudo ainda melhor.

Raimundos - Eu Quero Ver O Oco
O baixo pode até começar o riff, mas é quando entra as guitarras que a coisa evolui para um dos riffs mais potentes e cativantes do rock nacional.

Dr. Sin - Emotional Catastrophe
Frases rápidas, técnica absurda e groove típico do hard rock. Clássico!

Cachorro Grande - Você Não Sabe O Que Perdeu
Marcelo Gross já é um guitar hero do rock brazuca. Qualquer semelhança com The Who não é mera coincidência.

TEM QUE OUVIR: Pink Floyd - The Wall (1979)

*Atenção! Criticas negativas serão feitas. Caso você seja um fã bitolado e não queira saber a minha opinião, pare de ler esse texto agora.

Quem me conhece sabe que eu estou longe de ser fã do The Wall (1979), clássico inegável do Pink Floyd, uma das minhas bandas prediletas. Acontece que considero ao menos metade da discografia do grupo superior ao "disco da parede". Seria isso birra minha devido a popularidade da obra? Afirmo categoricamente que não, caso contrário, o também clássico Dark Side Of The Moon não seria um dos meus álbuns de cabeceira. Todavia, reconheço que, apesar das minhas preferências, The Wall tem momentos muito exitosos.


O grande problema do álbum não é a bajulação, mas o conteúdo em si. O "problema" é o Roger Waters, um grande compositor que, por vezes, se coloca acima da arte. Se em outros momentos ele acertou no conceito, aqui ele me soa presunçoso. 

O pai morto na Segunda Guerra Mundial, a superproteção da mãe, os professores tiranos... nada me atraia para o personagem Pink - o alter ego de Roger Waters retratado na obra -, nem mesmo para a postura adotada pela banda na tour de divulgação do disco, que incluía os lendários espetáculos em que um muro era erguido separando o público do grupo. Não é difícil diante disso entender a ascensão da cena punk na mesma época, não é mesmo?

Se por um lado o verdadeiro tirano Roger Waters peca no conceito, David Gilmour, como sempre, acerta musicalmente. Seus vocais, solos e timbres de guitarra nas clássicas "Another Brick In The Wall" - meio funk de branquelo - e, principalmente, "Comfortably Numb", beira o celestial.

Entre as chatices adoradas - e outras nem tantas - estão "Mother" e "Empty Spaces", além de algumas vinhetas que deveriam ser restritas ao também superestimado filme homônimo. Inclusive, há um tratamento de sonoplastia e "climas" dado ao álbum que o coloca bem próximo de uma produção cinematográfica por si só.

Apesar das minhas ressalvas, assumo não conseguir passar ileso diante da beleza de "Goodbye Blue Sky", da intensidade dramática de "Hey You" e do peso de "Run Like Hell", essa última com direito a delays pré The Edge.

A dobradinha de abertura com "In The Fhesh?" (ótima performance do Nick Mason e uma evolução das dobras vocais do Beach Boys) e "The Thin Ice" também tem grande força.

Pode ser absurdo pensar nisto diante de uma obra conceitual, todavia, se o ótimo produtor Bob Ezrin tivesse insistido para limar algumas canções, penso eu que a experiência do álbum seria menos arrastada. Além disso, sinto falta de uma maior presença do genial/subestimado tecladista Richard Wright, além de uma produção mais orgânica (culpa da "polidez" que ocorreu no rock progressivo no final da década de 70).

Recomendarei tantas outras maravilhosas obras do Pink Floyd no decorrer deste blog, todas mais legais que este disco. Todavia, não estou no controle. Uma hora ou outra o The Wall cairá em seu colo e sua audição não deve ser dispensada. Por isso recomendo manter o álbum acessível na prateleira e fresco nos ouvidos, nem que seja para se contrapor a sua bajulação.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

ALGO ENTRE: John Cale e John Cage

JOHN CALE
O lendário integrante do Velvet Underground em sua pouco explorada (por mim mesmo) carreira solo. Vale pesquisa.

JOHN CAGE
Composição do John Cage numa execução precisa. Tem quem sequer considere isso música. Eu adoro.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Bruce Springsteen - Born In The U.S.A. (1984)

Bruce Springsteen é indiscutivelmente um ícone da música norte-americana. Mais que um grande compositor, Bruce personifica o cidadão comum que saltou das ruas de New Jersey para os palcos. Só que obviamente não foi bem assim. O artista já vinha há tempos refinando seu trabalho e encontrando brechas comerciais quando lançou o sucesso Born In The U.S.A. (1984).


Com determinação, pose de operário/borracheiro/construtor civil, voz rouca, camaradagem, uma banda de apoio excelente/grandiosa (a E Street Band) e talento enquanto interlocutor, Bruce Springsteen se comunica com seu público brilhantemente. Suas composições misturam country, folk, r&b, blues, pop, rockabilly e rock de arena, servindo de aparelho para suas crônicas. É o mais genuíno heartland rock. Sete singles no TOP 10, 15 milhões de cópias vendidas somente nos EUA e clipes que não paravam de circular na programação da MTV foram alguns frutos desta combinação.

Enquanto alguns acusavam a clássica "Born In The U.S.A." de ufanista, Bruce trazia aos holofotes os soldados americanos lesados pela Guerra do Vietnã e, segundo a imaginação de alguns, urinava na bandeira do país na capa do disco. Sua produção reverberosa (mãos do Bob Clearmountain) e refrão enaltecido desviou o real significado da canção. Ao menos rendeu impressionante vendagem.

Mas engana-se quem pensa que a faixa titulo foi o maior sucesso do álbum. "Dancing In The Dark" e "Glory Days", ambas de refrães contagiantes, foram hits instantâneos e encabeçaram as listas de mais tocadas.

Entre outras canções que merecem destaque está a bluseira "Cover Me", a explosiva "Darlington Country" - com direito a ótimas passagens do saxofonista Clarence Clemons -, a power pop "No Surrender", a poeticamente reflexiva "Working On The Highway", a stoniana "Downbound Train" e "Bobby Jean", feita para seu fiel escudeiro Steven Van Zandt.

Ser relevante e popular talvez seja o sonho de qualquer artista. Na América, onde as coisas tendem a trilhar o caminho mais conservador, Bruce Springsteen conseguiu um feito admirável.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Bandas/Artistas da Alemanha

Dando sequência na torcida contra a CBF, chegou a hora falar sobre os grandes nomes da música alemã. Certamente o post mais fácil de fazer entre todos os países adversários da seleção de Neymar.

Richard Wagner
A escola da música erudita alemã é incomparável. Que outro país pode se orgulhar de ter compositores como Bach, Beethoven, Händel, Brahms, Carl Off, Strauss e Offenbach? Todavia, quando penso em compositor alemão, o primeiro que me vem à mente é o Wagner, o mestre das óperas. Sua dramaticidade e eloquência é não menos que majestosa. 

Kraftwerk
Influenciados pelo também alemão Stockhausen, o Kraftwerk deu luz a música eletrônica em formato pop. É clichê dizer isso, mas é verdade: eles são os Beatles da música eletrônica. Além de todo o prestigio, as músicas em si são realmente brilhantes.

Neu!
Tangerine Dream, Can, Faust... qual o grande representante do krautrock (vertente alemã que mistura rock progressivo com elementos de vanguarda)? Escolhi o Neu! por preferência pessoal. Sem esses nomes o David Bowie nunca teria sua fase Berlim.

Lucifer's Friend
Banda fundamental no desenvolvimento do heavy metal. Infelizmente, pouco lembrada até mesmo pelos fãs do estilo.
Gostou? Procure o Night Sun.

Scorpions
Talvez a banda alemã de maior sucesso comercial. Tudo que o Scorpions fez na década de 1970 merece audição. É hard rock de primeira. Uma escola de bons guitarristas.

Helloween
Uma das bandas mais influentes de power metal. Eu gosto? Não. Mas até aguento seu vocais estridentes, temas épicos e perfeccionismo técnico se o intuito for torcer para a Alemanha. É o auge do metal melódico.

Rammstein
Mais uma vez o rock flertando com o eletrônico, só que aqui com uma pitada de perturbação jovem manifestada também na performance. Timbres sintetizados num caldeirão infernal. Curiosamente, é também acessível. Industrial dos bons cantado em alemão.
Gostou? Escute Oomph!.

Atari Teenage Riot
Uma das minhas bandas prediletas dos últimos tempos. É hardcore, é big beat, é noise, é alternativo... é doentaço!

Tankard
Sempre achei o thrash metal americano muito mais legal que o alemão. Os europeus são muito "duros". Todavia, bote um som do Kreator, Sodom ou Destruction e acabe com qualquer carnaval fora de época. E depois, para comemorar, abra um cerveja ao som dos beberrões do Tankard. A festa está feita.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: Rancid - ...And Out Come The Wolves (1995)

Muito se fala, principalmente aqui no Brasil, sobre a cena de punk rock californiana da década de 1990, fomentada pela gravadora Epitaph. São incontáveis os grupos brasileiros - dos Raimundos ao CPM 22 - que beberam desta fonte, sendo ...And Out Come The Wolves (1995) do Rancid o melhor representante deste cenário.


O Rancid faz a ponte entre o ska punk - tão mal explorado por grupos como Sublime - com o punk rock do Social Distortion. Neste caldeirão, a influência de Clash é óbvia.

O que torna o Rancid sonoramente tão consistente são as linhas de baixo frenéticas e de timbre metálico do Matt Freeman em faixas como "Maxwell Murder" e "Journey To The End Of The East Bay". Somando a isso temos as guitarras barulhentas do Tim Armstrong, influenciadas por Ramones, The Specials e rockabilly em geral (destaque para "Lock, Step & Gone" e "Listed MIA"). Vale dizer que ambos são remanescentes do Operation Ivy.

A fórmula de intercalar momentos esporrentos com passagens melódicas caí bem em "The 11th Hour" e "Roots Radical", ambas com típico backing vocals de "pirata beberrão" em seus refrães. 

As letras divertidas tratam de temas como skate, as ruas, a juventude e justificam o porque do álbum ter caído no gosto da molecada. Não por acaso a altamente fixante "Time Bomb" tornou-se um hit entre aquela geração. Clássico da união do rock com o ska.

Outro grande sucesso do álbum é "Ruby Soho", com sua interpretação beberrona tão característica e refrão poderoso.

Vale lembrar que o álbum tem a produção do Jerry Finn (um arquiteto do pop punk), mixagem do Andy Wallace e masterização do Howie Weinberg. A Epitaph deve ter gasto todo o dinheiro do Smash (sucesso do Offspring) neste disco.

Com 19 faixas sequenciadas sem deixar a peteca cair, ...And Out Come The Wolves é perfeito pra iniciar uma festa, tentar uma manobra de skate ou simplesmente curtir sem grande pretensão enquanto se é jovem. Afinal, é disso que se trata o rock.

domingo, 6 de julho de 2014

ALGO ENTRE: The Increadible String Band e Chemical Brothers

THE INCREADIBLE STRING BAND
Uma entre tantas maravilhas do folk psicodélico do Reino Unido feito na segunda metade da década de 1960.

CHEMICAL BROTHERS
Bigbeat clássico e clipe espetacular com direito a participação da Sofia Coppola. Relembrar é viver.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Who - Tommy (1969)

O The Who nunca esteve na música para brincadeira. Fosse através da sua intensa postura nos palcos ou de suas magnificas obras em estúdio, a ousadia os coloca entre os grandes nomes das artes de todos os tempos. Com a finalidade de deixar seu trabalho musical ainda mais amplo, Pete Townshend revisitou seus fantasmas infantis para conceber Tommy, o personagem principal do álbum homônimo lançado em 1969.


A narrativa do disco é surreal. Tommy, um garoto de sete anos, presencia o assassinato de seu pai (que acabara de voltar da Primeira Guerra Mundial) pelo amante de sua mãe. O casal força o menino a acreditar que ele nada viu/ouviu e não contará o ocorrido a ninguém. Como resultado, Tommy torna-se cego, surdo e mudo.

O jovem cresce atormentado em conflitos existenciais, abusos sexuais e jornadas espirituais. Já adulto, consagra-se mestre do pinball, arrebatando seguidores que o tratam como o novo messias. Sua queda de popularidade se da através da exploração de seus parentes, que o leva novamente ao aprisionamento interno.

Saindo da fórmula básica (embora espetacular) que a banda adotou no começo da carreira através de seu mod encorpado, o The Who se mostra cada vez mais ousado em seus arranjos, trazendo elementos sinfônicos, psicodélicos e melódicos. Se na qualidade técnica o grupo nunca foi posto em dúvida, as composições brilhantes só enfatizam o talento do quarteto.

É isso que presenciamos desde a fabulosa "Overture" - onde Pete revela o porque de ser sempre mencionado como um dos principais guitarristas rítmicos e criadores de todos os tempos - até a épica "We're Not Gonna Take", passando por "Christimas", "Cousin Kevin", "The Acid Queen" e, claro, a clássica "Pinball Wizard".

Lançado em formato de ópera rock, com direito a show apoteótico de divulgação no festival de Woodstock e, posteriormente, releitura no cinema, Tommy foi um sucesso artístico e comercial. Mas a ambição não parou por aí. Quatro anos depois a banda aperfeiçoou o formato através do Quadrophenia. Um marco na história das artes.