segunda-feira, 30 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Band - The Band (1969)

Após anos de serviços prestados ao Bob Dylan e um clássico álbum de estreia no currículo, a The Band sentiu-se confiante para lançar mais um disco. Assim como aconteceu com Neil Young, esses canadenses conseguiram reunir o que de melhor a música americana tinha para oferecer no ótimo The Band (1969).


As melodias maravilhosas, os pianos de cabaré, os arranjos lapidados, a áurea sulista estadunidense e a influência que transita pelo gospel, blues, folk e country. Tudo é de fácil assimilação. É comum encontrar quem diga que esse trabalho é o flerte definitivo da música rural com a eletricidade do rock. Ouvindo a maravilhosa "Across The Great Divide" e a contagiante "Rag Mama Rag" - essa última de arranjo impressionante, com direito a tuba e pianos virtuosos -, é possível confirmar os dizeres.

"The Night They Drove Old Dixie Down" é uma das melhores baladas de todos os tempos. Sua letra aborda a Guerra da Secessão. Seu refrão contagiante e melodioso (com direito a abertura de vozes) é encantador. Exuberante performance de todos os envolvidos. De chorar.

Na sequência, a linda "When You Awake" comprova que o acerto na canção anterior não foi por acaso. Rick Danko, Levon Helm, Garth Hudson, Richard Manuel e Robbie Robertson sabiam polir a rusticidade.

Em "Up On Cripple Creek", é curioso o uso de um clavinet com wah-wah, prevendo o que seria no futuro linhas de synth bass. A canção tem um "toque reggae". Daquelas faixas solares perfeitas para ouvir na estrada rumo ao interior.

Os destaques não param por ai: "Whispering Pines" é uma balada de melodia linda e interpretação apaixonada do Richard Manuel; "Jemina Surrender" é um petardo de country-rock, "Look Out Cleveland" é um rock n' roll não menos que divertido; e "King Harvest (Has Surely Come)" tem um colorido todo especial.

É assumido pelo Eric Clapton e metade rock inglês o quão o Music From Big Pink (1969) foi influente, mas é neste segundo disco homônimo da The Band que encontramos o melhor resultado do grupo.

domingo, 29 de junho de 2014

ALGO ENTRE: Gillan e Graham Central Station

GILLAN
Não por acaso perdeu a voz. Puta merda, precisava se esgoelar tanto? Mas eu gosto.

GRAHAM CENTRAL STATION
Não somente o criador do slap, mas também o melhor no quesito. Que baixo furioso!

sábado, 28 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Libertines - The Libertines (2004)

A velocidade da informação é uma das características deste milênio. As noticias correm feito água, para o bem e para o mal. Se por um lado a popularidade do Libertines só foi possível graças aos elogios de revistas como NME e Q, por outro, seus problemas internos - e não eram poucos - foram expostos de forma demasiada e deplorável. Em meio a tudo isso a banda lançou The Libertines, segundo álbum, que consagrou e enterrou o grupo. 


Na linha de frente do Libertines estava a talentosa dupla formada pelo bom moço Carl Barât e o problemático Pete Doherty. Na capa, ambos mostram suas tatuagens com o nome da banda escrito na caligrafia do parceiro, celebrando a amizade após tempos de desconfiança. Infelizmente esse clima favorável não durou muito, já que Doherty não segurou a onda e logo voltou a se afundar nas drogas.

Novamente produzido por Mick Jones (eterno The Clash), o disco traz a mistura bombástica do garage rock com punk rock, tão difundidos através das bandas de indie rock pós-Strokes. Alguns notaram uma influencia demasiada de Gang Of Four (até mesmo nas linhas de baixo sacolejantes), levando o grupo a encabeçar o movimento post-punk revival.

Nada aqui é novidade. Do abuso de drogas, passando pelas brigas e chegando no som dançante/jovem/encorpado. Todavia, o resultado é agradável devido o exitoso repertório.

"Can't Stand Me Now", dona de refrão cativante, soa como uma homenagem não declarada ao Clash. "What Became Of The Likely Lads" pode facilmente ser apontada como um dos melhores singles da época. Por sua vez, a narrativa de "The Man Who Would Be King" prende a atenção do ouvinte, enquanto "Music When The The Lights Go Out" surge com traços típicos do rock inglês e "Don't Be Shy" é divertida em sua esquisitice infantil e desafinação ébria.

Com tantas músicas memoráveis, a NME os colocou como a banda do ano. Pena que tudo isso não deu em nada. Os shows foram um fiasco e a chama do grupo se apagou. No fim, parece que a fama se deu mais pela polêmica do que pela obra. Injusto? Ouça o disco e chegue a uma conclusão.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Bandas/Artistas do Chile

Dando sequência na torcida contra a seleção da CBF, chegou a hora falar sobre grandes nomes da música chilena.

Víctor Jara
Victor Jara foi um dos mais populares artistas chilenos. Fez música tradicional e virou cantor símbolo de uma geração contestadora que lutava contra o regime de Pinochet, tendo pago por isso com sua vida.

Violeta Parra
Assim como Jara, Violeta Parra desenvolveu uma carreira chamando atenção para os oprimidos. Sua influencia ultrapassou fronteiras - ainda que sua obra tenha forte pé na música folclórica chilena -, sendo regravada por gente como Milton Nascimento e Elis Regina.

Illapu
Representante da cultura andina, Illapu é o que há de mais autêntico na música folclórica do país.

Los Mac's
Um dos pilares do rock chileno. Seriam eles os Mutantes de lá? Tô forçando a barra, mas vale para efeito de comparação.

Los Jaivas
Com muitos anos em atividade, o Los Jaivas apresenta uma mistura peculiar de folk (ou música folclórica chilena) com rock progressivo. Sem dúvida uma das bandas que mais interessantes e peculiares do Chile.

Los Tres
Sofisticado melodicamente, harmonicamente e liricamente, Los Tres tem muito em comum com o rock argentino. Mais uma vez com forte traço da música tradicional do país, além de referências do rockabilly, rock alternativo e pop rock.

Pinochet Boys
Ainda estou a procura de uma país que não tenha punk rock.

Los Prisioneros
Uma das mais populares bandas de rock na América Latina. Enfoque total na new wave. Chega a ser um New Romantic atrasado. Mas apesar de toda euforia juvenil divertida, há um forte engajamento politico nas composições.

Pentagram
Além do Pentagram americano, criador do doom metal, vale também conhecer essa boa banda chilena de death/thrash metal.

André Godoy
Produtor musical e excepcional/singular violonista. Sua técnica é incrível.

Lucybell
O que há de melhor no rock alternativo chileno. A língua tende a deixar as coisas meio cafona, mas os dois primeiros discos são bons.

Lucho Gatica
E um bolerão chileno para arrebatar com chave de ouro. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Caetano Veloso - Caetano Veloso (1969)

1969 não foi um ano fácil para o Caetano Veloso. Se por um lado o exílio movido pela Ditadura Militar batia a sua porta, liquidando o movimento tropicalista, por outro, ele deixara como registro uma de suas principais obras. Devido sua capa minimalista contendo apenas a assinatura do artista, Caetano Veloso ficou conhecido como o Álbum Branco, assim como o disco de vocês sabem quem (Beatles, para os mais desatentos).


Após dois meses na prisão, Caetano voltou para Bahia, onde compôs e gravou ao violão todas as faixas aqui presentes, deixando o maestro Rogério Duprat encarregado de arranja-las para o formato banda. Sendo assim, o álbum mantém a linguagem psicodélica tropicalista. 

A orquestração discreta e o começo falso na pop "Irene" - única composição feita por Caetano na prisão e um dos primeiros hits via novela, no caso Véu de Noiva (1969) - revela a ousadia do disco logo na primeira faixa. 

Já a linda "The Empty Boat" - com direito a delirante guitarra de Lanny Gordin - e a swingada "Lost In The Paradise" elevam tudo ao extremo da sofisticação, sendo que ambas ajudam a explicar o alcance internacional do Caetano Veloso. 

A ótima versão pra "Cambalache", do argentino Enrique Santos Discépolos, abriu portas na América Latina. Tremendo arranjo e interpretação.

Chico Buarque e Gilberto Gil colaboram com composições, vide respectivamente a linda "Carolina" e a maluca "Alfaomega"

O flerte com o passado, tão presente na obra do artista, é representado pelo bolero/samba-canção "Chuvas de Verão" e pela tipicamente baiana "Marinheiro Só", estruturada num formato lisérgico. O mesmo acontece na carnavalesca "Atrás do Trio Elétrico".

Vale destacar também o fado "Os Argonautas", que contém citação de Fernando Pessoa no refrão ("navegar é preciso, viver não é preciso"). Um dos grandes momentos do Caetano enquanto cantor.

Mesmo com tantas faixas importantes, é a maravilhosa "Não Identificado" - num clima meio Jovem Guarda, mas com guitarra pontual de Lanny num arranjo crescente - e a experimental - tanto poeticamente quanto em sua arranjo - "Acrilírico" os grandes exemplos da inquieta carreira que o Caetano Veloso trilhou. Discoteca básica da música brasileira.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sons presentes na minha vida num passado nem tão distante

Tempos atrás, vi um post em que o jornalista André Barcinski listava os discos que marcaram sua vida (veja aqui). Em meio a álbuns de valor inegável, ele citou O Peru da Festa do Costinha (sim, é o Costinha que você está pensando). O mais legal foi sua justificativa: "Toda vez que leio alguém fazendo uma lista de discos "da vida", o cara só põe jóia. É Velvet Underground pra cá, Bowie pra lá, como se ele tivesse bom gosto desde os oito anos de idade. Pura cascata. Todo mundo ouviu discos vagabundos e adorou, em algum momento da vida. Este, do Costinha, não saía da minha vitrola quando eu tinha uns 12 anos. Decorei algumas partes até hoje".

Concordei com tudo! Sendo assim, fui reouvir algumas "vagabundices" do meu passado e, por incrível que pareça, isso não aconteceu na minha infância. Quando pivete meu mundo se restringia a Raul Seixas, Raimundos e Titãs (do Cabeça Dinossauro ao Titanomaquia), que eu gosto muito até hoje. Foi na adolescência, dos 12 aos 16 anos - fase em que comecei a sair da discoteca dos meus pais (e a do meu pai era ótima, ia de João Bosco ao Deep Purple) - que comecei a estudar guitarra e consumir um tipo de música que dificilmente voltarei a escutar, embora não negue. Deixo aqui alguns exemplos:

Oficina G3
Estou lá eu, numa época pré-YouTube, lendo as revistas Guitar Player e Cover Guitarra e enfiado no meu quarto tocando guitarra. Foi quando surgiu através do meu pai (não lembro como ou porque) o disco Humanos do Oficina G3. Juro por Deus (Deus veio a calhar), a música "Onde Está?" me soou muito mais pesada e virtuosa do que tudo que havia escutado até então. Até sua letra soou contestadora. Não me converti ao cristianismo, mas o Raimundos deixou de fazer sentido naquele instante.

Angra
Estou eu lá com meus 14 anos e o Angra me lança Temple Of Shadows. Guitarras virtuosas, bumbo duplo na velocidade da luz, letras sobre atrocidades e contradições da igreja católica, produção moderna, shows acessíveis, sofisticação herdada do rock progressivo e da música brasileira... não tive como escapar.

Dream Theater
Virtuosismo elevado ao extremo, álbuns conceituais, elementos progressivos... ouvi até saturar. Cada geração tem um Yes que merece. Era hora de deixar de ser um moleque espinhento.

terça-feira, 24 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Joy Division - Unknown Pleasures (1979)

Joy Division é daqueles grupos cult que despertam o comportamento "não ouvi, mas já gostei". A prova disso é que o emblemático Unknown Pleasures (1979), único trabalho lançado em vida pelo quarteto, não corresponde a imagem equivocada que muitos tem sobre a banda.


Sendo um dos pilares tanto da cena de Manchester quanto do pós-punk, o Joy Division é constantemente rotulado como uma banda sombria. Muito pelo fato do vocalista Ian Curtis ter se suicidado antes mesmo do grupo atingir seu prestigio. Ou até mesmo devido a clássica capa, contendo a morte de uma estrela captada por um medidor de pulso. Hoje nada mais que uma estampa de camiseta corriqueira em shows de rock.

Musicalmente, a banda formada pelos futuramente New Order - Bernard Sumner (guitarra e teclados), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) -, apresenta ritmos concisos, linhas de baixo melódicas/agudas, além de produção "cavernosa", que ajudou a definir muito da sonoridade do pós-punk. Mérito também do produtor Martin Hannett. Já a crueza da execução é (des)mérito dos integrantes mesmo.

Outra característica forte do grupo são as letras desesperançosas/existencialistas do depressivo Ian Curtis, que cantava como se estivesse resmungando.

Embora descritivamente a coisa pareça mórbida, as canções curiosamente soam bastante dançantes. Como destaque é possível citar a maravilhosa "Disorder", a esquisita "She's Lost Control", a dark "Shadowplay" e a punk "Interzone". Ouvi-las e acompanhá-las involuntariamente com movimentos corporal epiléticos - tal qual o vocalista - sempre me pareceu apropriado. 

É verdade que faixas como "Day Of The Lords", "New Dawn Fades" (de ótimo riff e que lembra o que faria anos depois o Danzig) e "I Remember Nothing", são donas de atmosfera sombria intoxicante. Entretanto, resumir a sonoridade do grupo a isso é um equivoco.

Este clássico lançado pelo pequeno selo Factory é a obra definitiva de um grupo que com pouquíssimo tempo de atividade alcançou a idolatria. Álbum fundamental para o surgimento de bandas como o The Smiths, Sisters Of Mercy, Depeche Mode, Interpol, Savages, dentre outras.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Bandas/Artistas de Camarões

Dando sequência na torcida contra a seleção da CBF, chegou a hora falar sobre grandes nomes da música camaronesa.

Pouco conheço da música do Camarões. Uma breve pesquisa foi necessária, tanto para conhecer quanto para relembrar nomes perdidos na minha memória.

Manu Dibango
De imediato cheguei no Manu Dibango, um ícone do país. Ele é um saxofonista espetacular, que tanto contribuiu para a rumba africana, afrobeat e a chamada makossa, gênero que ele virou um baluarte. Sua música influenciou até mesmo o Michael Jackson. Além da música ser altamente dançante, só de ver o Dibango no palco com um sorriso no rosto já melhora o dia.

William Onyeabor
Conheci agora esse figuraça que mescla jazz, funk, música eletrônica (ainda em estado embrionário) em grooves acachapantes. Há também guitarras bem solares em alguns momentos. Espetacular!

Francis Bebey
Mais um artista do país a explorar elementos eletrônicos em composições verdadeiramente hipnóticas. É uma maravilha.

Les Têtes Brulées
Ao que consta, esse grupo é dos mais representativos de um gênero chamado bikutsi, que na minha visão ignorante, parece ser uma das inspirações para o trabalho que o Paul Simon fez na década de 1980. Vale conhecer. É altamente dançante. Tem guitarras verdadeiramente frenéticas.

Henri Dikongué
Pelo pouco que ouvi deste compositor, percebi que ele faz uma ponte interessante entre a música popular com a música folclórica do país. Não por acaso ele fez muitas turnês na Europa. Adorei sua voz e abordagem no violão.

Richard Bona
Tem também desse espetacular baixista, que lembro de fazer a cabeça de muito instrumentista quando era adolescente. Era daquelas figurinhas carimbadas em revista de contrabaixo. Não é pra menos, já que sua música é de riqueza e virtuosismo impressionante.

sábado, 21 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Led Zeppelin - Led Zeppelin II (1969)

Após lançar seu disco de estreia, ser bombardeado pela mídia e aclamado pelo público, o Led Zeppelin confirmou todo o seu poder de fogo em seu segundo trabalho. Composto na estrada, em meio aos crescentes shows, e gravado em poucas horas, Led Zeppelin II é a comprovação do quão genial era a banda.


Logo na faixa de abertura, a clássica "Whole Lotta Love", Jimmy Page, guitarrista e produtor do álbum, não só destrói em um dos seus mais emblemáticos riff e solo, como também é peça fundamental na viagem instrumental no meio da faixa, com direito a utilização de um teremim enquanto o John Bonham ataca sua bateria num groove tribal e Robert Plant delira através de berros sexuais. Nem mesmo o plágio da faixa de Willie Dixon (escute "You Need Love" e comprove) tira o brilho da canção.

O blues tão amado pelos ingleses é evidenciado nas espetaculares "Bring It On Home" e "The Lemon Song", essa última com linha de baixo genial do John Paul Jones. Já a tão conhecida abordagem acústica do grupo é representada através da linda "Thank You", uma das melhores baladas do rock.

No alicerce do heavy metal estão pérolas como "Heartbreaker", com seu riff apoteótico, solo inventivo, baixo imundo, vocais potentes e bateria troglodita. Mas o auge do John Bonham é "Moby Dick", que contém o grande solo de bateria (ao menos no rock) de todos os tempos. 

Impossível também não destacar a fantástica "Ramble On", com seu groove atraente, letra influenciada pela obra de Tolkien e dinâmica crescente ("luz e sombra", na visão do Jimmy Page), chegando ao ápice do brilhantismo em seu refrão explosivo.

Falar sobre qualquer disco do Led Zeppelin é chover no molhado. Melhor que ler esse mal escrito texto é reouvir essa pérola do rock n' roll.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Kraftwerk - Autobahn (1974)

Que os alemães do Kraftwerk são, se não os criadores, ao menos os grandes difusores da música eletrônica, todos já sabem. Mas ainda que a banda trouxesse ousadias timbrísticas desde os primórdios do grupo, foi só com o Autobahn (1974) que a sonoridade tomou a forma que conhecemos. O grupo definitivamente se afastara do krautrock de seus conterrâneos.


Dono de duas capas - uma com autovias desenhadas partindo do ponto de vista do motorista; outra azul, minimalista, moderna, semiótica, remetendo indiretamente ao símbolo da Atari -, Autobahn traz em sua formação Ralf Hütter, Florian Schneider, Wolfgang Flür e Klaus Röder, todos ainda humanizados, diferente do conceito robótico posterior. Embora muitas vezes ignorado - inclusive pela própria banda - é importante ressaltar a produção fundamental do icônico Conny Plank.

Os sintetizadores e outros aparatos eletrônicos (Minimoog, ARP Odyssey e EMS Synthi AKS, além de vocoders) já estavam presentes. Entretanto, guitarras, flautas e violinos aliviam a sonoridade sintética do álbum.

Logo de cara, "Autobahn" apresenta em seus mais de 22 minutos melodias futuristas, efeitos viajantes, arranjo peculiar, batidas eletrônicas, ruídos automotivos e refrão minimalista. Para surpresa de todos, nascia um hit. A faixa foi inspirada nas modernas autopistas alemãs, que ao lado de seus carros velozes, tornou-se símbolo da reestruturação do país pós-guerra. Pisar fundo no acelerador era um dos poucos entretenimentos. Sendo assim, a música foi para os jovens alemães da época o mesmo que "Barbara Ann" (Beach Boys) - reparou na similaridade da melodia vocal? - foi para os californianos anos antes. Cada um na sua "praia".

Embora menos conhecidas, ambas "'Kometenmelodie" (ou "Comet Melody 1 e 2") são igualmente inventivas. Suas estruturas incomuns e produção sofisticadas ainda hoje soam especiais. Por sua vez, a sombria "Mitternacht" lembra muito o que Brian Eno faria anos depois com David Bowie. Já a linda "Morgenspaziergang" encerra o trabalho com uma doce melodia.

O disco influenciou meio mundo, ao ponto do Kraftwerk ser comumente lembrado como os Beatles da música eletrônica. Nunca a vanguarda e o POP caminharam tão juntos. Emblemático!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

ALGO ENTRE: Dorival Caymmi e Gueto

DORIVAL CAYMMI
No centenário deste lendário compositor baiano, nada mais justo que relembrar sua obra. Confesso que não é dos artistas que melhor conheço, mas influenciou tantos nomes que admiro (Caetano Veloso e João Bosco, só pra citar dois) que acho justa essa pequena homenagem. Além disso, Canções Praieiras é um disco lindo.

GUETO
Desenterrei esse grupo. O disco ao todo nem curto tanto, mas essa música é demais.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Eminem - The Slim Shady LP (1999)

Antes da virada do século, foram tantos os excelentes discos de hip hop lançados que não era mais possível ignorar o gênero. Embora com resistência de diversos lados, o estilo não pertencia mais aos negros. Sequer habitava somente o gueto. Foi nessa onda que surgiu um branquelo de olhos claros fazendo rap com apelo popular. The Slim Shady LP revelou o Eminem ao grande público e catapultou de vez o hip hop para o mainstream mundial.


É claro que os Beastie Boys já faziam barulho desde a década de 1980 e até mesmo o Elvis Presley já havia provocado a discussão "o que é música de branco e o que é música de negro?", mas nem por isso o Eminem causou menos burburinho. O lance não era somente sua cor, mas sua postura. Ele era capaz de ser violento e hilariante numa mesma canção. Isso graças aos anos ralando em batalhas de hip hop, onde seus versos improvisados e flow matador foi apurado.

Marshall Mathers encarna um sujeito provocativo, furioso, homofóbico, machista, psicótico e ameaçador. Nenhuma mãe gostaria de ver seu filho ouvindo tantos absurdos, entretanto, foi justamente isso que atraiu os jovens. Os skits cômicos também contribuíam para cativar novos ouvintes, fato que incomodou os fãs mais tradicionais de rap.

É interessante ver um jovem artista lutando para conseguir respeito num circuito fechado como o do hip hop e estourando com a cômica "My Name Is". Ao menos a produção estranha/inteligente do Dr. Dre deu prestígio a faixa. Vale lembrar que o disco foi o primeiro sucesso do nova gravadora do Dre, a Aftermath.

O que também ajuda a explicar o grande alcance do Eminem é a aproximação do new metal com o rap. Era muito fácil encontrar um público descompromissado querendo se divertir tanto ao som de Limp Bizkit quanto do Eminem.

Entre as canções que merecem destaque está a batalha com Dr. Dre em "Guilty Conscience", a explicitamente perturbadora "97' Bonnie & Clyde" - ótimo flow! - e a storytelling divertida de "My Fault". Todas de enredo tão perversos quanto cativantes.

As vozes caricatas (no bom sentido) e a narrativa sagaz de The Slim Shady LP é de grande valor estético. É compreensível não gostar do Eminem, mas lá no intimo é difícil ignorar a construção veloz deste disco.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Bandas/Artistas do México

Dando sequência na torcida contra a CBF, chegou a hora falar sobre grandes nomes da música mexicana.

Vale lembrar que tanto Ritchie Valens quanto Los Lobos são americanos. Por tanto, "La Bamba" não se enquadra neste post.

Música Ranchera, Mariachi, "La Cucaracha"
Não quero trazer nestes posts as músicas tradicionais de cada país, até porque não conheço suas origens e minha abordagem seria superficial. Todavia, quero lembrar que o México é dono de estilos extremamente interessantes, como ranchera, que inclusive influenciou muito da música regional brasileira. É também difícil falar de música mexicana e não lembrar dos mariachis e seus violões gigantes. E não citar a divertida "La Cucaracha" seria um erro. Clássico, principalmente na versão pós Revolução Mexicana, onde "cucaracha" vira gíria pra "marijuana".

Carlos Santana
Carlos Santana é sem dúvida um dos grandes guitarrista de todos os tempos. Tá certo que sua carreira tomou rumos nem tão interessantes nas últimas décadas, mas seus solos viajantes, timbres enormes e fusão de psicodelia, blues, pop, jazz e música latina que ele fez nos primeiros 15 anos de carreira, permanecerão para sempre na história da música.

Los Locos Del Ritmo
Talvez devido a proximidade com os EUA, vale lembrar que o México foi o primeiro país da América Latina que teve uma cena de rock n' roll. Entre os grupos precursores, destaco o Los Locos Del Ritmo, atuantes desde 1957. É bacana.

El Ritual
Essa banda cult é conhecida pelo seu tenebroso conteúdo. Letras macabras, riffs pesado, além de capas abordando satanismo e magia negra são algumas das características do grupo. Isso tudo no final da década de 1960. Pilar do heavy metal e do rock progressivo na América do Sul.

Enigma
Uma entre tantas bandas obscuras que tornaram-se cultuadas entre garimpeiros e colecionadores de vinil. É hard rock/blues rock da melhor qualidade.

La Revolucion de Emiliano Zapata
Como se não bastasse o ótimo nome do grupo, La Revolucion de Emiliano Zapata é uma bela banda de rock n' roll com passagens nada moderadas de psicodelia.

Dug Dug's
Grupo presente no Festival de Avándaro, o Woodstock mexicano, que levou mais de 200 mil jovens a um evento que posteriormente foi deturpado, culminando numa resistência/boicote politico ao rock no país.

Three Souls In My Mind
Outra banda da geração Avándaro. Suas músicas evidenciam os desafios que o rock passou num país dirigido por ditaduras conservadoras e censura.

Café Tacvba
Grupo bastante conhecido em toda a América Latina (com exceção do Brasil). Numa breve pesquisa que fiz, vi várias vezes o disco Re (1994) citado como um dos grandes álbuns do rock latino. O vocalista é um figuraça, com trejeitos de Mike Patton em seu estilo. No som do grupo tem muito da tradição mexicana fundida ao rock.

Maldita Vecindad y los Hijos des Quinto Patio
Falando na fusão dos sons do México com o rock, não dá para esquecer do Maldita Vecindad, que fez muito sucesso (comercial e estético) com o álbum El Circo (1991). Há muito de ska no som da banda. Divertidíssimo.

Molotov
O RATM mexicano - nem tanto musicalmente, muito na postura -, embora bem mais humorados. Expondo os males políticos do país, o grupo tornou-se muito popular. Sua história é retratada no filme Gimme The Power.

Brujeria
Banda de death e grindcore bastante conhecida no meio underground. Sua mistura doentia e bem humorada de conteúdo anticristão, sexual e abordagem caricata da máfia narcótica latino americana - com direito aos integrantes usando mascaras típicas do narcotráfico -, fizeram deles uma banda única e respeitada. Anos depois os integrantes formaram o Asesino, grupo com as mesmas características, mas não tão inspirado.

Elfonía
Banda bem interessante que mistura rock alternativo com metal progressivo. Horas apela para melodias chatas, mas em outros momentos é uma quebradeira sensacional. 

Nortec Collective
Projeto eletrônico envolvendo vários artistas mexicanos. É moderno, pop e tradicional ao mesmo tempo. É legal. 

Rebel'd Punk
Continuo na busca por um país que não tenha punk rock.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Gang Of Four - Entertainment! (1979)

É incrível a mutação que o punk rock sofreu em tão pouco tempo. De um estilo primário e básico encontrado na Nova York de 1976, para um rebuscado teor musical e ideológico apresentado em 1979 através de Entertainment! do Gang Of Four, um dos pilares do pós-punk.


Muito mais que mero entretenimento, esse álbum é uma verdadeira revolução sonora. Com ritmos que se aproximam do funk e dub (vide "Guns Before Butter" e "Contract") - proporcionados pela espetacular cozinha formada pelo baixista Dave Allen e o batera Hugo Burnham -, este grupo oriundo de Leeds (Inglaterra), sofisticou o punk sem perder a atitude embrionária do estilo.

A guitarra rítmica estridente e áspera do ótimo Andy Gill se assemelha a uma tijolada a cada vez que ele ataca o instrumento. Isso pode ser sentido em "Not Great Men", "I Found That Essence Rare" e "At Home He's A Tourist".

Em meio as brechas instrumentais proporcionadas pelo groove desconcertante da banda, as letras apresentam ofensas eloquentes contra a monarquia, discorrem movimentos populares, conceitos marxistas e abordam de maneira franca o amor e o sexo. Em "Ether" e "Natural's Not In It" isso é explicito. Diante de todas essas pérolas, a estupenda "Damaged Goods" virou o grande clássico da banda.

Presente no subconsciente do Red Hot Chili Peppers, Fugazi, The Rapture, Franz Ferdinand, Titãs e Ira!, o Gang Of Four tornou-se um dos mais influentes grupos do punk rock.

sábado, 14 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Grateful Dead - Live/Dead (1969)

Em 1968 a cultura hippie estava em alta. O clima era de alegria - mesmo em meio a Guerra do Vietnã -, coberto por cores, sexo livre e LSD. Era o auge do flower power e da contracultura. Uma multidão de jovens cruzavam os Estados Unidos em busca de Paz & Amor. Essa peregrinação acompanhava a tour do cultuado Grateful Dead, que compilou seus shows no emblemático Live/Dead (1969). 


Por mais que o Grateful Dead tenha discos clássico de estúdio - vide American Beauty (1970) e Blues For Allah (1975) -, eles eram genuinamente uma banda dos palcos. Mas não de qualquer palco. Fillmore West era a casa principal do grupo, o que fez de São Francisco um celeiro de grupos psicodélicos. 

O que mais chama atenção na banda é suas longas passagens instrumentais, todas elaboradas de forma espontânea e entorpecida. É possível adentrar nesse nirvana sonoro através das viajantes "Dark Star" - que preenche um lado inteiro do vinil - e "Turn On Your Light". 

Essas improvisações se contrapunham ao formato da canção pop, originando uma nova concepção de como se fazer rock, posteriormente chamada de jam band e imitada por grupos como o Phish.

Em "Dark Star" e "The Eleven", Jerry Garcia (guitarra) e Phil Lesh (baixo) demonstram os instrumentistas talentosos que são. Seus solos carregam passagens delirantes, influência de música oriental, abordagem jazzistica, timbres particulares, alternância de dinâmica e uma certa doçura. Tudo isso sem abandonar as raízes da música caipira norte-americana. Tem quem considere os improvisos do Jerry Garcia pouco atrativo. Já eu adoro sua busca pela melodia perfeita.

Idolatrado até hoje, o Grateful Dead é um patrimônio cultural para milhões de malucos (os deadheads) que veneram a banda como se fosse uma religião. Assim sendo, Live/Dead pode ser visto como um culto aos bons sons.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Stone Roses - The Stone Roses (1989)

Manchester é sempre citada como um dos principais berços do rock inglês. Embora o Joy Division, New Order e The Smiths tenham parcela de culpa, foram grupos como The Stone Roses e Happy Mondays que firmaram a região como um polo artístico. A essa cena se deu nome de Madchester, sendo o debut do Stone Roses o grande clássico deste período.
 
 

Fruto do rock alternativo, influenciados pela psicodelia inglesa e embalados pela acid house, a banda juntou todas as referências para construir um rock melódico, viajante e dançante. 

Lançado pela Silvertone, produzido por John Leckie e com emblemática capa elaborada pelo guitarrista John Squire - inspirada no trabalho do Jackson Pollock -, The Stone Roses revela toda a sensibilidade do vocalista Ian Brown e do guitarrista no quesito composição. O excelente Mani (baixo) e o consistente Reni (bateria) completam a formação.

"I Wanna Be Adored" abre o disco cercada por dramaticidade juvenil, memorável refrão e linhas de baixo e guitarra envolventes. Não por acaso ela tornou-se o grande sucesso da banda. Clássico de uma geração.

É difícil ignorar a beleza melódica e o clamor pop de faixas como "She Bangs The Drums" e "Made Of Stone", ambas discretamente sofisticadas através de seus arranjos equilibrados. 

Se você não se sentir amparado pela doce melodia de "Waterfall" você está morto por dentro. Ótimo arranjo de vozes, tremenda linha de baixo e um final arrebatador. 

Fosse o ouvinte um jovem frequentador de rave ou antigo hippie lisérgico, faixas como a experimental "Don't Stop" agradavam em cheio. O clima psicodélico sessentista ainda dá as caras na bela "Bye Bye Bad Man". Tem muito de Byrds e Smiths na canção.

Intercalando climas de suspense e refrão pop, "Made Of Stone" é mais um destaque. Sua construção revela que a banda tinha uma capacidade técnica muito acima da média.

A longa e grooveada "I Am The Resurrection" é uma das melhores canções desta geração, tendo toques nada moderados de Kinks, ótimas percussões, deliciosa linha de baixo, arrojadas guitarras e camadas de psicodelia.

Em meio a toda essa beleza esquizofrênica, a linda "Elizabeth My Dear" se impõe contra a monarquia inglesa

Primal Scream, Oasis, Blur, Suede, Elastica, Pulp, The Verve, Supergrass e outras centenas de bandas ouviram esse disco sem parar, desencadeando na cena britpop 90's. Do cabelo aos timbres de guitarra, tudo foi extraído daqui. Seu alcance talvez seja de difícil compreensão para nós, mas a qualidade das composições é de fácil assimilação. Se por uma lado o grupo não atendeu as expectativas futuras, por outro esse disco tornou-se um marco indiscutível do final da década de 1980.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Bandas/Artistas da Croácia

Começo aqui no blog uma sessão trazendo bandas de todos os países adversários do Brasil na Copa do Mundo. Torcida contra? Talvez. Afinal, não sou nem um pouco simpatizante da CBF. Mas como fiz um post também com Música Brasileira Pra Gringo Ver, ao menos como curiosidade musical achei justa essa ideia.

Começando então com a Croácia.

Obs: na verdade não lembrava de nenhum artista croata. Pesquisei essas bandas há uma semana atrás. Quem souber de algum grupo/artista legal coloque nos comentários.

Vatra
Sem grandes informações, mas gostei bastante do grupo, principalmente dessa música.

75 Cents
Um veterano figuraça. Mais legal que o 50 Cent ele é (encarar com humor).

Hlandno Pivo
Ainda estou a procura de um país que não tenha punk rock.

Patareni
Punk rock, grindcore, hardcore... porquice linda! Só o João Gordo deve conhecer esse treco aqui no Brasil.

Srebrna Krila
Uma das bandas mais famosas do país. Deve ser uma espécie de RPM deles. Mas, por incrível que pareça, achei legal.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Green Day - American Idiot (2004)

Muito do que eu escrevo aqui no blog eu não vivi, apenas li. Contextualizar musicalmente/historicamente um álbum torna-se então uma tarefa por vezes difícil. Mas com o Green Day é fácil. Embora American Idiot (2004) não esteja nem perto dos meus discos prediletos, reconheço que é preciso somente boa vontade para perceber seu valor dentro daquele cenário exposto. 


Produzido e lançado em meio a cruel, multimilionária e humanamente injustificável Guerra no Iraque, o Green Day aproveitou o sumiço das fitas daquele que viria a ser seu novo trabalho - o ainda inédito Cigarettes And Valentines -, para desenvolver um disco maduro, que justificaria a existência do grupo, tendo em vista que muitos diziam que a banda sobrevivia graças a herança assegurada pelo infame Dookie (1994).

O rock mainstream vivia até então sua fase mais critica. O "emocore/pop-punk 00's" havia se estabelecido enquanto gênero e comportamento. Abusando dos trejeitos, maquiagens e roupas do estilo, o Green Day conquistou um público mais novo e ganhou repúdio de alguns fãs antigos, que não perceberam que, por trás daquela postura, haviam boas composições.

Emotivo, assim como melódico, explosivo, sofisticado e socialmente engajado, o Green Day renovou o rock de arena. As músicas de American Idiot tinham nas mesmas proporções referências de punk rock, pop, hard rock, rock alternativo e ópera rock. Há até mesmo quem considere um trabalho conceitual, sendo comparado improporcionalmente com The Wall (Pink Floyd) e Tommy (The Who).

Foram vários os hits, vide a tipicamente pop punk "American Idiot", a épica "Jesus Of Suburbia", a boa balada "Wake Me Up When September Ends" e a divertida "Holiday", todas evidenciando a qualidade subestimada dos integrantes enquanto compositores e instrumentistas. Vale também destacar a mixagem robusta do lendário Chris Lord-Alge.

Passado mais de 10 anos, o emocore foi enterrado, assim como milhares de civis iraquianos e jovens americanos conduzidos a guerra. Já o American Idiot continua vivo, atual e rendendo frutos ao trio.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Música brasileira pra gringo

Vai começar a Copa do Mundo e, ao que se espera, alguns turistas chegarão ao Brasil para conhecer nossa tão famosa ineficiência de serviços (públicos e privados) e carisma transbordante. Após uma quantia exorbitante gastos no eventos e a descaracterização cultural do país (trocamos nossos históricos estádios por arenas padronizadas), agora não é hora de ser do contra, é hora de trabalharmos em favor de nós mesmo.

Entre futebol em decadência, gastronomia espetacular e beleza natural, a cultura nacional não deve ser ignorada. Ainda que insistam em empurrar Cláudia Leitte goela abaixo, acho legal concentrar as forças para evidenciar o que realmente importa. E com todo respeito ao verdadeiro pop brasileiro (sertanejo universitário, funk carioca, dentre outros), penso eu que o país tem muito mais para oferecer. E não é o Sérgio Mendes.

Recomendarei nomes óbvios, mas que narram muito bem a nossa tão fabulosa música.

Se até o Frank Sinatra pirou...

Villa-Lobos
O maior compositor erudito brasileiro, conhecido no mundo inteiro pelo seu flerte com a música regional. Claro, não é todo turista que vêm buscar esse tipo de cultura, mas é bom ter na ponta da língua para recomendar.

Noel Rosa
O maior compositor popular brasileiro? Deixo a pergunta no ar. Boêmio, cronista entre o morro e o asfalto. Entretanto, evidencie somente suas gravações originais ou as da Aracy de Almeida. Outras regravações flertam com o cafona.

Pixinguinha
Esse ícone do choro é admirado por músicos de jazz e executado por instrumentistas eruditos. Há quem diga que foi o mais brilhante músico brasileiro. Eu não duvido.

Luiz Gonzaga
Típica sonoridade do Nordeste. Poucos compositores me emocionam mais que Luiz Gonzaga. Seu lirismo, canto, sua sanfona, as melodias e o ritmo... tudo é muito característico. Bora descer caldinho de mocotó e forró nos gringos, afinal, é "For All".

Tião Carreiro e Pardinho
O som do interior brasileiro. Acho genial. Fora que acompanha muito bem cachaça e pernil pururucado.

Tom Jobim
Dispensa apresentações. Suas composições reúnem o que há de mais soberbo em termos de harmonia e ritmos sincopados. Rio de Janeiro e bossa nova ainda se merecem, para o bem e para o mal.

Roberto Carlos
O maior artista pop deste país. É um babaca? Sim. Faz mais de 35 anos que não lança algo bom? Sim. Mas continua sendo o maior artista pop deste país. E nem acho que é a Jovem Guarda que mereça tanta atenção, mais sim suas radiofônicas e maravilhosas canções do começo da década de 1970. Compre um disco desta fase baratíssimo num sebo e presenteie um turista.

Jorge Ben
Rock, samba, soul, psicodelia, afrobeat... Jorge Ben é único. Ele tem a típica malandragem e ginga brasileira, sendo que sua música reflete isso. Num churrascão é o que vira.

Tim Maia
Se algum gringo perguntar de funk, mostre a ele esse som. Não se trata de boicotar o funk carioca, mas de valorizar a black music brasileira.

Caetano Veloso
Revolucionário! Fez de tudo, berrou contra todos e é ainda hoje relevante, principalmente com uma molecada gringa que entrou no hype da psicodelia brasileira. Não adianta chiar, a Tropicália foi o maior movimento musical brasileiro, sendo Caetano o seu grande líder (Gil ta na sequência). A história do país no século XX passa por aqui.

Os Mutantes
Os gringos piram (Kurt Cobain confirma). E como não pirar? É ousado, psicodélico, inventivo, divertido, brilhantemente tocado/gravado/escrito/arranjado. Se os ingleses tem os Beatles, nós temos Os Mutantes.

Milton Nascimento
O grande nome da escola mineira. Cantor fabuloso, compositor de mão cheia e dono de melodias únicas. Nenhum país tem alguém que possa se comparar ao Milton Nascimento. Clube da Esquina (1972) é o "clássico óbvio".

Chico Buarque
O maior (ou mais representativo) artista brasileiro vivo? Talvez. Fato é que analisar suas letras é olhar para história do país. E os arranjos são bons demais. O Bob Dylan brasileiro (prevejo ofensas).

Raul Seixas
O rock nacional tem um nome: Raul. Atitude e sagacidade acima de tudo. Curiosamente, pouco conhecido fora do país. É um artista interessante para se apresentar para turistas.

Novos Baianos
Rock com música brasileira (samba, choro, bossa nova...) num único caldeirão. É festivo e genial. Não tem erro.

Cartola
O que há de melhor no samba no que se refere a ritmo, composição, lirismo, interpretação e contexto histórico. Uma maravilha atemporal.

Paulinho da Viola
Mais um gênio do samba, porque só um não basta.

Hermeto Pascoal
A música instrumental brasileira é respeitadíssima no mundo todo, sendo o multi-homem Hermeto Pascoal um exemplo de competência e inventividade. Não é todo mundo que vai entrar na loucura do mago albino, mas vale conhecer.

Baden Powell
Ahhh... o violão brasileiro. Verdadeira escola musical mundial.

Elis Regina
Força feminina. A maior voz do Brasil.

Arrigo Barnabé
Loucuras, arranjos sofisticados, particularidades, humor... Arrigo é gênio e o mundo precisa saber disso. Ícone alternativo.

Ratos de Porão
"Se o punk é o lixo, a miséria e a violência, então não precisamos importa-lo da Europa, pois já somos a vanguarda no mundo". Chico Buarque.

Sepultura
Sim, nós também temos metal. E é o que de melhor foi feito na década de 1990. Alcance mundial e influência imensurável.

Raimundos
Gíria, putaria, maconha, forró e hardcore. Tudo no bom sentido, claro.

Chico Science & Nação Zumbi
Isso é o que eu chamo de produto de exportação. Se eu fosse gringo entraria em choque, assim como entrei quando ouvi pela primeira vez. Os indies ingleses tendem a adorar.

Racionais MC's
Rap americano é o escambal - adoro, claro, mas para efeito de mensagem isso não importa -, Racionais bate de frente com qualquer um. É o som das periferias brasileiras.

DJ Marky
Funk carioca é a típica música eletrônica brasileira? Pode até ser, mas eu e boa parte do mundo prefere o Marky.

Anitta
Depois desse combo de genialidade artística, eu que não vou omitir a mais popular artista pop da atualidade.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Frank Zappa - Sheik Yerbouti (1979)

Quando se fala em Frank Zappa, a maioria pensa naquele compositor inventivo e desbocado do final da década de 1960. Os mais desavisados devem até imaginar que ele não desenvolveu mais nada de interessante no decorrer da carreira. Mas é justamente em obras como Sheik Yerbouti (1979) que está suas principais aventuras sonoras, culturais e estruturais.


Criador extremamente produtivo, Frank Zappa lançou em 1979 quatro discos, sendo Sheik Yerbouti o primeiro pelo seu próprio selo, a Zappa Records. Essa guinada para o trabalho independente - numa época em que ninguém pensava isso - se deu por diversas divergências com as gravadoras. Uma atitude ousada pra um cara que estava não só na vanguarda da música, mas também da indústria do entretenimento. 

Além do próprio Zappa - que compõe, canta, produz e esmerilha a guitarra - o disco ainda conta com outros músicos de peso, vide Adrian Belew (guitarrista que trabalhou com David Bowie, Talking Heads, King Crimson) e o virtuoso Terry Bozzio (bateria). Ambos arrebentam na espetacular "City Of Tiny Lites"

O álbum reúne material registrado nos dois anos anteriores, mas não soa como um disco de compilação ou sobras. Muito pelo contrário, mais parece uma coletânea involuntária. A sonoridade não é calcada em estilo algum. Talvez num flerte entre o pop americano - interpretado de forma sarcástica -, jazz, blues, hard rock, new wave e punk rock, explorados de forma rebuscada, para não dizer erudita. A isso se dá o nome de Zappa.

Entre passagens instrumentais intrincadas e letras recheadas de humor e sagacidade, o disco oferece verdadeiras pérolas rebeldes como "Flakes" - com direito a tiração de sarro com o Bob Dylan -, a nada delicada "Broken Hearts Are For Assholes" e a punk "I'm So Cute". 

Vale ainda destacar a clássica/divertida "Baby Snakes" - de produção futurística - e a estupenda "Bobby Brown", satirizando as ambições do cidadão americano comum.

Artista inigualável, ouvir Frank Zappa é entrar em contato com uma das mentes mais criativas do século XX. Um santo remédio para o intelecto.

domingo, 8 de junho de 2014

ALGO ENTRE: Supla e Bumblefoot & Mattias IA Eklundh

SUPLA
Fase do Supla em que ele contava com o Dr. Sin (antes mesmo do grupo lançar o primeiro disco) como banda de apoio. É tão tosco quanto divertido.

BUMBLEFOOT & MATTIAS IA EKLUNDH
Vídeo amador, sem compromisso, mas que quando vi (lá por 2008, com meus 17 anos) fiquei chocado. Dois dos guitarrista mais criativos desta geração. 

sábado, 7 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Bee Gees - Odessa (1969)

O mundo da música é repleto de caricaturas, sendo que algumas partem do próprio público. O Bee Gees é dos melhores exemplos, visto que grande parte do público guarda no imaginário algo em relação ao trio que é muito distante do que ouvimos em Odessa (1969), clássico da música pop, hoje pouco lembrado.


Em seu sétimo lançamento de estúdio em quatro anos - sendo esse um álbum duplo -, o grupo se mantinha distante daquela disco music diluída (embora divertida) que o trio viria apresentar na trilha sonora de Os Embalos de Sábado A Noite (1977). 

Odessa (1969) é ultra sofisticado, chegando a se enquadrar no pop barroco, apresentando arranjos soberbos, vide as épicas orquestrações de "Odessa (City On The Black Sea)", "Seven Seas Symphony" e "With All Nations (International Anthem)" e "The British Opera". O fato de ser um trabalho conceitual, baseado no naufrágio do HMS Veronica, também o aproxima do rock progressivo.

Além das peças sinfônicas, temos canções de belas melodias herdadas do folk britânico, vide "You'll Never See My Face Again". Por sua vez, é o rock americano que dá as caras em "Marley Put Drive".

Já "Black Diamond" (de interpretação dolorosa), "Edison" (tão philspectoriana quanto brianwilsonana), "Melody Fair" (com trejeitos beatlemanicos) e a super balada "First Of May" são perfeitas composições pop que evidenciam a qualidade vocal e composicional do trio.

A perfeição entre as vozes expressivas (e variadas), as melodias elegantes, os arranjos pomposos, as camadas acústicas e ares psicodélicos da época formam outras tremendas canções, com destaque para "Suddenly", "Whisper Whisper", "Sound Of Love", "I Laugh In Your Face"

Talvez por ter sido lançado numa época em que a genialidade reinava na música, causando uma competição acirrada, o álbum não fez tanto sucesso, desencadeando numa crise interna e na saída do Robin Gibb. Todavia, sua audição hoje ajuda a desmoronar uma imagem equivocada que muitos tem do grupo.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: The Cure - Disintegration (1989)

Uma pesquisa recente estimou que uma a cada cinco pessoas já apresentou sintomas de depressão. Pensando nisso, fica fácil entender o porquê do Disintegration (1989) do The Cure ter feito tanto sucesso. 


O álbum foi lançado numa época em que a banda estava "desintegrada", com Robert Smith sofrendo a chegada aos 30 anos e Lol Tolhurst se afundando no alcoolismo. Essa vibe ajudou a construir esse que era pra ser o último trabalho da banda. Todavia, os prêmios, a critica positiva, as vendas exorbitantes e os bons shows não permitiram o fim do grupo.

Todas as marcas registradas do Cure estão aqui presentes: letras melancólicas, melodias docemente agradáveis, arranjos grandiosos, timbres de bateria eletrônica, sintetizadores etéreos e o baixo criativo do Simon Gallup. Fora a arte gráfica impecável, transparecendo a imagem gótica da banda, com direito a batom e palidez fúnebre do líder Robert Smith.

A abertura climática do disco com cinematográfica "Plainsong" é de beleza sombria. "Pictures Of You" vem na sequência demonstrando a eficiência pop da banda. "Closedown" é ritmicamente pesada e, por incrível que pareça, influenciou diversas bandas do black metal escandinavo. 

Por sua vez, linda "Lovesong" (ótimas guitarras, teclados e linha de baixo) e a ingenuamente aterrorizante/dark "Lullaby" (tremenda linha melódica de guitarra, memorável timbre de teclado e balanço funky) sustentam o prestigio do álbum. E isso é somente o lado A.

É fora do comum o equilíbrio que o grupo alcança entre peso e sensibilidade em "Fascination Street" (mais uma vez com ótima linha de baixo). Já "Disintegration" tem diversas camadas a ser explorada via seu instrumental denso e gélido.

Sincero, soturno, belo e cheio de personalidade, Disintegration é único. É um álbum capaz de recuperar alguém deprimido e afundar quem for pego desprevenido. O rock gótico finalmente encontrara sua perfeição. Só mais tarde é que fomos entender que, ao lado do Pornography (1982) e do Bloodflowers (2000), o disco forma a trilogia perfeita da obscuridade.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Uma reflexão sobre os Titãs e o rock brasileiro

Após o post sobre o show do Jesus And Mary Chain, recebi o insigth para mais uma reflexão. O que falarei aqui não é novidade pra muita gente, mas pode ser pra você, paciente leitor deste humilde blog.

Antes de tudo, assista o clipe de "Fardado", novo single dos Titãs. Se possível, mas nem tão recomendado, escute Nheengatú, o novo álbum da banda.


Os Titãs são uma faca de dois gumes. São tão talentosos quanto charlatões. Explico o porque.

Resumidamente, a banda começou como uma new wave boba e engraçadinha, com danças e figurino. Escutaram punk rock, amadureceram, foram presos, ficaram revoltados e quiseram ser levados a sério: lançaram o clássico Cabeça Dinossauro (1986), trabalho ainda hoje impactante.

Todavia, não tinham antecedentes para o punk. Foram se descobrir em outros territórios. Ousaram ao flertar com a música eletrônica e beberem na fonte da música brasileira em meio a abertura política. Deu certo, mas chegaram atrasado, já que o grunge mostrava as garras.

Encorparam o som, gritaram palavrões e trouxeram até um produtor de Seattle (Jack Endino). O público gostou, a imprensa não.

Kurt Cobain enterrou o que havia criado, inclusive os Titãs, que viraram baladeiros e embaixadores do formato acústico. Regravaram Roberto Carlos e Mamonas Assassinas, fizeram trilha sonora para novela da Rede Globo e, finalmente, para mal e somente o mal, se encontram/estacionaram num pop medonho por mais de 15 anos, mais da metade da carreira, mais errando que acertando. Basicamente, isso é o Titãs!

Eu, que cresci ouvindo o grupo, comprei todos os discos até o A Melhor Banda... de 2011 (sim, eu desisti tarde), fui em shows (alias, o primeiro da minha vida, com apenas 6 anos, lá na longínqua tour do Domingo, em 1996) e respeito todos os integrantes, ainda hoje não entendi qual é a real dos Titãs. Alguém nessa história se faz de idiota. Público e banda talvez.

Eis que é lançado o tal Nheengatú. Com apenas 4/8 da formação clássica e letras que aproveitam o fervor das passeatas de julho de 2013, o álbum é melhor do grupo desde o longínquo Titanomaquia, de 1993. E não se trata apenas de peso, mas de atitude e vergonha na cara. Só que agora não adianta mais. Minha impressão é que isso eles já perderam faz tempo, mais precisamente no pavoroso Volume Dois, de 1998.

Nheengatú me ganha não pela obra, mas pela memória afetiva. É a caricatura da sua melhor fase. Mas caricaturas são somente caricaturas. É como o Dinho Ouro Preto cantando sem camisa achando que ainda é jovem. Nheengatú provavelmente não vai sobreviver ao tempo, mas medicará um doente em coma. É ai que entra a outra etapa da minha reflexão.

Qual foi o último disco de rock brasileiro mainstream que você ouviu (e gostou)? Nada de rockinho inofensivo, controlado por produtores que querem grana fácil. Falo de timbres indomáveis, letras desbocadas, execução raivosa e atitude nas composições.

Raimundos e Charlie Brown Jr.? Mas eles tem prazo de idade, além de que o Só No Forévis tem mais de 15 anos. Por isso Nheengatú dos Titãs é importante. Não é a cura, e nem deve ser tratado como tal, mas é o remédio/esperança para o retorno do rock nacional ao mainstream. Se eles tem força para isso eu não sei, mas se eles não tiverem, quem tem?

Entretanto, uma última questão: o rock é realmente necessário nos dias de hoje? Além do gosto pessoal e da memória afetiva, por que desejamos tanto a volta do rock nacional nas grandes mídias? Quem curte que vá procurar as novas bandas. E tem várias ótimas no Brasil: Krisiun, Carro Bomba, Anjo Gabriel, Far From Alaska, Lupe de Lupe, Herold, Pedra, Test, Merda... todas ralando, nenhuma se resumindo a shows no SESC ou incentivo público. Mas rockeiro tem mania de grandeza e superioridade.

Se o rock é bom, que seja pelo que é. O rock no Brasil não é e nunca foi popular. Raul Seixas é exceção. Precisou até mesmo um gringo (o já citado Kurt Cobain) vir para o Brasil valorizar Os Mutantes para só então lembrarmos do grupo.

Dito tudo isso, não deixo nenhum argumento final, apenas peço que, assim como eu, a reflexão seja feita. O rock, como produto de massa, morreu. E isso é ótimo. No Brasil, ele sequer existiu. Isso é uma pena, mas não é agora que deve/vai mudar.

Dane-se o rock e mais ainda os Titãs.

TEM QUE OUVIR: Marisa Monte - Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (1994)

Em 1994, enquanto Sepultura, Raimundos, Planet Hemp e Nação Zumbi animavam uma juventude rebelde, a Marisa Monte lançava o refinado Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, apresentando produção e composições elaboradas, além de postura por horas sonsa que fez a cabeça da MPB dali em diante. 


O trabalho é impecável dentro da proposta. Ele une alcance comercial e sofisticação lirica de forma inacreditável. É espantoso, por exemplo, a MTV Brasil, que anos mais tarde tornaria-se simbolo de música ignóbil, sustentando canções como "Segue o Seco", faixa de poética rica, arranjo elaborado e melodia certeira herdada dos mouros.

O apoio que a Marisa Monte teve dos medalhões da música brasileira também a ajudou (isso desde os tempos de Nelson Motta), vide a participação de Gilberto Gil na swingada "Balança Pema" (Jorge Ben), o aval de Paulinho da Viola na regravação da maravilhosa "Dança da Solidão" e até mesmo a participação da Velha Guarda da Portela em "Esta Melodia" (Jamelão). Neste oceano de segurança, sobrou até mesmo para o Velvet Underground, que foi otimamente revisitado em "Pale Blue Eyes".

Ao lado de nomes como Carlinhos Brown, Nando Reis e Arnaldo Antunes, Marisa Monte alcança o supra-sumo do pop brasileiro em canções como "Ao Meu Redor" e "Na Estrada", que assim como o bolero "De Mais Ninguém", tocou bastante nas rádios. 

Mas todo esse flerte do samba com tempero nordestino, embalado por uma apresentação acessível, não existiria sem a produção inteligente do Arto Lindsay. Com ele, o disco vira produto de exportação.

Para o bem e para o mal, Marisa Monte não merece ser condenada pelos erros de suas admiradoras/plagiadoras. Pena que sequer ela conseguiu manter a relevância, caindo tempo depois na própria armadilha que é sua persona.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Faixas curiosas do inicio do rock brasileiro

O início da produção de rock no Brasil se deu de maneira bastante curiosa. Quatro das primeiras canções rockeiras gravadas aqui são pérolas obscuras de artistas não associados ao estilo. Há até mesmo certa dose de caricatura nas canções. Não dava para exigir mais que isso naqueles tempos. Sem mais delongas, escutem as faixas e se surpreendam.

Não esqueci do prometido post sobre rock nacional da década de 1950 e 1960. Farei em breve. Neste aqui trago só as curiosidades mesmo.

Nora Ney - Rock Around The Clock
Gravado em 1955, esse é o primeiro rock registrado no Brasil. Tá certo que não é uma composição própria, mas sim uma versão pra clássica "Rock Around The Clock" do Bill Haley & His Coments, de apenas uma ano antes. Ainda assim, é importante notar o quanto as mulheres foram fundamentais para o inicio do rock brasileiro, vide pouco tempo depois a força da Celly Campelo. É interessante lembrar que a Nora Ney era uma cantora de samba-canção e diva da Era do Rádio. Sua interpretação aqui nada se assemelha ao seu trabalho mais conhecido. Muito pelo contrário! Reouvindo agora, seu canto me lembrou mais a Elis Regina do que ela mesmo.

Cauby Peixoto - Rock N' Roll em Copacabana
Sim, o figuraça Cauby Peixoto - dono de vestimenta e voz peculiar - foi um dos primeiros artistas a produzir um rock tipicamente brasileiro. Impossível ser mais explícito: "Rock N' Roll em Copacabana". Vale conhecer. 

Jô Soares - Vampiro
A grande curiosidade deste post é essa faixa gravada pelo Jô Soares em 1963. O humor do Jô já se mostrava presente desde então. A faixa é ótima. Se achar o compacto perdido num sebo não deixe de comprar: vale uma nota! 

Moacir Franco - Rock do Mendigo 
Para finalizar temos o Moacir Franco. Sim, o Moacir Franco também gravou um rock. Bem bobinho, por sinal, mas não dá para desprezar. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Buzzcocks - Another Music In A Different Kitchen (1978)

O punk rock tem a fama de ser um estilo incorruptível. Que o diga João Gordo, estupidamente chamado há mais de 30 anos de "traidor do movimento". Mas o que os "conservadores de moicano" se esquecem é que em 1978, o Buzzcocks - banda inglesa de importância/qualidade irrevogável - já havia quebrado as barreiras poéticas e sonoras do estilo com seu ótimo Another Music In A Different Kitchen.


Influenciados pelo Sex Pistols, o grupo foi formado para tentar provocar em Manchester o que a banda de Sid Vicious alcançara em Londres. E conseguiu, vide que eles foram influência para diversos artistas locais, fermentado uma cena que viria a explodir posteriormente.

Fosse em cima do palco ou na capa do disco, seus integrantes não amedrontavam. As letras leves, bem humoradas, as vezes românticas e repleta de angústias adolescentes, nada se assemelhavam com o conteúdo anárquico, niilista ou político/social dos grupos contemporâneos do movimento. 

Outro diferencial da banda era a habilidade de seus integrantes enquanto instrumentistas, vide a cozinha consistente e os riffs explosivos de guitarra. É punk rock em atitude e espírito, mas rock n' roll em sonoridade.

Dentre as músicas que mais chamam a atenção estão as igualmente potentes e melodiosas "Fast Cars", "No Reply", "Get On Our Own" e "I Don't Mind", sendo essa última a mais conhecida da banda. Adoro também a energia da "You Tear Me Up" (seria o primórdio do d-beat?), a levada criativa de "Sixteen" (meio o que viria a ser feito na NWOBHM), o clima frenético de "I Need", além de "Moving Away From The Pulsebeat", o primeiro épico do punk rock.

A influência do Buzzcocks é visível em bandas como The Smiths, Blur, Green Day e The Strokes. Sua excelência e reputação se manteve intacta mesmo em território perigoso. Afinal, seguir seu próprio caminho com excelência não é rendição.