segunda-feira, 31 de março de 2014

Canções contra a ditadura militar brasileira

Meio século após o golpe militar que derrubou um presidente eleito e instaurou 21 anos de massacre político/cultural/intelectual/físico, relembro aqui algumas faixas que confrontaram esse regime truculento.

Geraldo Vandré - Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Por mais datada e xarope que a música seja, ela é o grande hino de oposição a situação militar, não só por sua letra, mas também pelas experiências sofridas por Geraldo Vandré. É a típica canção popular de protesto. 
Obs: Vale lembrar que Benito Di Paula fez "Tributo A Um Rei Esquecido" em homenagem ao Geraldo Vandré.

Caetano Veloso - É Proibido Proibir
Aposta todo o choque estético que foi a Tropicália, eis uma obra explicita contra a censura arquitetada por um compositor que confrontou diretamente o sistema e pagou com seu exílio.

Chico Buarque - Apesar De Você
Não tenho nada a dizer que já não tenha sido dito, a não que gosto mais dela do que da também ótima "Cálice". Dos melhores sambas do Chico, endereçado ao ditador Médici.

Taiguara - Que As Crianças Cantem Livres
Um compositor espetacular muitas vezes esquecido. Boa parte deste esquecimento pode ser atribuído a censura terrível que ele enfrentou, impossibilitando seu trabalho, já que teve discos e shows censurados.

Jards Macalé - Gotham City
Nesta ótima parceria com o Capinam, Jards Macalé usa Gotham City de alegoria para retratar os tempos sombrios que o Brasil vivia.

João Bosco - O Bêbado e a Equilibrista
Aldir Blanc e João Bosco formam a minha dupla brasileira predileta de compositores. A metafórica "O Bêbado e o Equilibrista" justifica minha preferência. É o famoso Hino da Anistia.

Edu Lobo - Ponteio
Como se já não bastasse seu arranjo complexo, a letra dessa canção faz dela um dos melhores cantos de resistência.

Sérgio Sampaio - Eu Quero Botar Meu Bloco Na Rua
Uma resposta ao exército que dominava as ruas.

Belchior - Como Nossos Pais
As composições do Belchior são perfeitos retratos de um tempo. A desilusão juvenil é explicita em "Como Nossos Pais", faixa que navega contra qualquer otimismo hippie.

Secos & Molhados - Primavera Nos Dentes
Essa poética letra é tão bem elaborada que a censura sequer percebeu a crítica ao regime militar.

Raul Seixas - Sociedade Alternativa
Não só uma faixa contra a ditadura brasileira, mas também uma proposta utópica de liberdade berrada pela grande voz rockeira do seu tempo.

Maurício Tapajós - Pesadelo
Uma das melhores canções contra a ditadura. Resultado do talento do Paulo César Pinheiro. 

Luiz Ayrão - O Divórcio
Em 1977, após 13 anos de golpe, o cantor popular Luiz Ayrão compôs essa pérola explicitamente combativa a ditadura. Bastou trocar o nome da música para os censores ingenuamente deixarem passar.

Camisa de Vênus - Sinca Chambord
O que parece ser apenas uma ode à juventude em formato de rock n' roll, se revela no verso final uma amostra de como a ditadura militar acabou com as perspectivas de uma geração.

domingo, 30 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Moby - Play (1999)

Quando o Moby lançou em 1999 o álbum Play, a música eletrônica já havia sido completamente absorvida pela mídia/público/indústria através de nomes como Prodigy e Fatboy Slim. Ao menos era o que parecia. Foi então que 10 milhões de discos vendidos mostraram que o gênero tinha muito ainda para onde expandir. E expandiu, não só comercialmente, mas também musicalmente. 


Além das vendas impressionante tornarem a música techno e house as grandes projeções sonoras para o novo milênio, sua utilização em filmes e campanhas publicitárias criaram um novo nicho no mercado.

Quem aproveito isso foi o Moby, desde sempre um tecnocrata musical. Ele estudou violão erudito, circulou pela cena do rock alternativo e bebeu tanto da soul music quanto do hardcore, synthpop e da versatilidade do David Bowie para moldar sua sonoridade. O resultado alcançado neste disco são faixas que não se encaixam na típica música eletrônica de pista/rave, mas sim num território mais pop, melódico e no formato canção.

Se "Porcelain" tem toques de New Order, "South Side" de Primal Scream e "Rushing" de Portishead, "Find My Baby" abusa de samples de blues e "Bodyrock" adentra a malandragem do breakbeat. Tudo isso traz variedade de ritmos ao disco.

Essa versatilidade também se mostra em "Natural Blues", uma das grandes faixas de downtempo. O mesmo vale para "Machete", que traz o peso típico do bigbeat. 

Já a repetitiva "Honey" e a linda "Why Does My Heart Feel So Bad?" - com traços da música gospel - fizeram enorme sucesso e alavancaram as vendas do álbum.

Play fez do Moby um astro. Com isso vieram parcerias importantes na música e no cinema, além de declarações engajadas e produções sem o mesmo brilho. Todavia, quem viveu a época lembra deste período com os olhos despertos de quem viu o auge da música eletrônica.

sábado, 29 de março de 2014

Técnicas inusitadas na guitarra

Através das minhas garimpagens pelo YouTube, encontrei (por coincidência) alguns vídeos que merecem um post. São guitarristas executando técnicas peculiares em seus instrumentos. Assista os vídeos e entenderá. 

Numa performance bombástica do Rage Against The Machine, o talentoso Tom Morello aplica sua conhecida técnica em que simula os scratchs dos DJs. Não por acaso ele é conhecido como um dos guitarristas mais criativos da sua geração. (2:33)

Na maravilhosa "The Bend" do Radiohead, o que me chamou atenção foram os bends para fora do braço da guitarra que o espetacular Jonny Greenwood executou. A técnica ficou bastante conhecida através do Edu Ardanuy (Dr. Sin), que diz ter pegado do Steve Vai e do Sergio Buss. Será que ele já viu esse vídeo do Radiohead? (2:49)

Virtuose de mão cheia, Guthrie Govan não só executa slaps (popular técnica do contrabaixo) na guitarra, como também usa um instrumento fretless (também mais comum entre os baixistas). (2:00)

Assim como fazia o guitarrista Danny Gatton, John Mayer aplicou bends atrás do capotraste, criando melodias incríveis no começo do seu solo. (6:26)

Como se não bastasse a barulheira sensacional promovida através das distorções cortantes e afinações bizarras, o Sonic Youth ainda usa uma baqueta de bateria como slide. (3:11)

Foram muitos os guitarristas que usaram o arco de violino em seus instrumentos, sendo a execução do Jimmy Page na emblemática "Dazed And Confused" a mais famosa. O Jónsi (Sigur Rós) também muito usa do recurso. Mas o primeiro foi mesmo o Eddie Phillips do The Creation. (1:37)

Para alguns, essa performance pode parecer comum. Todavia, por trás desta linda melodia, existem bends grandiosos, alavancadas absurdas, domínio da dinâmica/volume inacreditável, dedilhado particular e harmônicos preciosos. Jeff Beck é gênio!

Alguém me explica esse apetrecho batizado de "Gizmo" que transforma a guitarra num sintetizador? Só poderia ser fruto das mentes criativas do 10cc. Allan Holdsworth aperfeiçoaria essa sonoridade na década de 1980 com as SynthAxe. (introdução).

Batizada de glissando, a técnica consiste em transformar o som da guitarra em algo continuo através do deslizar de um objeto perto do captador. É um ebow rústico. Veja o grande Daevid Allen (Gong) em ação que e entenda. 

Por fim, Eddie Van Halen usa uma furadeira para fazer sua guitarra berrar na introdução desta sensacional faixa. Se o Paul Gilbert usou a mesma ferramenta (literalmente) para extrair palhetadas nervosas em sua guitarra, o virtuoso guitarrista sueco Mattias IA Eklundh por sua vez conseguiu um efeito parecido com um vibrador. Não sei quem foi mais criativo. (introdução)

sexta-feira, 28 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: New Order - Technique (1989)

A evolução da música pop caminha lado a lado a trajetória do New Order. De dissidentes de um tecnicamente limitado Joy Division, eles alcançaram uma verdadeira revolução estética em álbuns como o seminal Technique (1989), quinto álbum da banda, o último lançado pela Factory.


A produção eletrônica com traços da miami bass - moderna pra época, hoje datada, embora ainda charmosa -, de canções como "Round & Round", serviam de trilha sonora para as noites britânicas, principalmente na efervescente Manchester da virada da década de 1980, ainda que a inspiração fosse uma praia ensolarada de Ibiza, onde o disco foi concebido, justamente na época em que as festas de música eletrônica explodiam na região. 

É inviável tentar se conter diante dos timbres de sintetizadores com excesso de brilho e dos ritmos pesados/dançantes extraídos da bateria eletrônica, principalmente em "Fine Time", faixa embrião da acid house, que despontava como o futuro da música, fosse dentro do rock (The Stone Roses) ou da música eletrônica (808 State). Há um clima absurdamente hedonista nesta canção.

Há quem enxergue nas baladas do grupo uma doçura pop além da conta - como na melódica "Love Less" -, mas não há como negar que o New Order sabia compor e transmitir momentos inspiradíssimos, vide "All The Way".

As linhas de baixo agudas e melódicas do Peter Hook, trazidas desde a época do Joy Division, ainda estão lá ("Guilty Partner"), mas é a mão do Bernard Sumner que pesa com mais força no decorrer do trabalho, tanto através de seu vocal suave quanto via sua minimalista guitarra ("Run").

Longe do pop descartável, ouvir New Order é vivenciar uma época criativa da música e ir de encontro a boas composições e produção extremamente influente e desbravadora. Eis o dance rock perfeito.

quinta-feira, 27 de março de 2014

TOP 5: Minhas influências na guitarra

A revista Guitar Player deste mês publicou uma matéria onde guitarristas brasileiros citam suas maiores influências. Logo me deu vontade de prestar uma homenagem aos caras que me moldaram como músico medíocre que sou. Claro que isso não faz a menor diferença para ninguém, mas vale ao menos pra reouvirmos alguns grandes sons.

Citarei em ordem cronológica.

01 - Ritchie Blackmore
Se o Slash e o Angus Young me fizeram querer ser guitarrista, foi Blackmore que formou a base do meu estilo (ou ao menos o que almejo). Adoro seus riffs e solos assobiáveis, timbres puros de stratocaster, fraseado perfeito e bends/vibratos expressivos. É tudo que eu gostaria de alcançar e provavelmente nunca conseguirei. Continuarei tentando.

02 - Robert Fripp
Talvez seja meu guitarrista predileto. Adoro desde seus timbres ao fato dele tocar sentado. Sua postura séria diante da música me emociona. Suas melodias angulares, a construção de vozes via a guitarra... é o guitarrista que mais influencia diretamente no meu tocar.

03 - Frank Zappa
Não só enquanto guitarrista, mas como artista em geral. Um grande criador que manifesta seu talento também na guitarra. Sua postura nada ortodoxa com relação a música e ao instrumento guia o meu pensamento. Influência é isso.

04 - David Gilmour
As vezes me vejo tocando frases delicadas, lentas, reverberosas... tentando construir paisagens sonoras profundas. No meu subconsciente, é apenas a música do David Gilmour ecoando com mediocridade em meu tocar.


05 - Lanny Gordin
Lanny Gordin me apresentou a música brasileira, a liberdade harmônica e melódica, a coragem de não ser comum, a simplicidade em prol da música... Lanny Gordin foi literalmente meu professor. Ainda hoje procuro desvendar sua musicalidade. Eternamente buscarei sua maturidade.

Chega a ser triste citar apenas cinco, sendo assim, não poderia abrir mão das menções honrosas: Slash, Angus Young, Keith Richards, Johnny Ramone, B.B. King, Neil Young, Eddie Van Halen, Dimebag Darrell, Jeff Beck, Steve Howe, John Mclaughlin, Allan Holdsworth, Steve Morse, Fredrik Thordendal, Edu Ardanuy, Zakk Wylde e Nels Cline.

quarta-feira, 26 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos (1994)

Recife (PE), 1994, a Nação Zumbi, banda liderada por Chico Science, lança Da Lama Ao Caos, obra fundamental para entender a música popular brasileira. 


Trazendo quase nas mesmas proporções rock, samba, funk, reggae, e-music, dub, rap, baião e maracatu, o disco inaugurou o Manguebeat, cuja a imagem simbólica está na antena parabólica fincada na lama, isso numa época pré revolução da comunicação digital. Muito mais que um disco, Da Lama Ao Caos é um conceito, um manifesto reverberado através de outros grupos/artistas como Mundo Livre S/A e Otto. Todavia, é mesmo a Nação Zumbi a grande liderança criativa do movimento.

Embora o disco não tenha vendido o quanto se é imaginado, o burburinho repercutido pela mídia especializada desencadeou numa série de elogios de nomes consagrados, show internacionais, abertura do mercado - antes restrito ao circuito Rio-São Paulo -, fortificação de uma identidade cultural brasileira e diversos artistas influenciados. Isso tudo é resultado do grande frescor presente no trabalho, fosse através do discurso ou da sonoridade.

Com Chico Science na linha de frente, a percussão matadora herdada do maracatu, as linhas de baixo com forte influencia dub, a guitarra quase heavy metal do Lúcio Maia e as letras que misturam literatura de cordel com surrealismo, a Nação Zumbi transpira novidade principalmente nas acachapantes "Banditismo Por Uma Questão de Classe", "Rios, Pontes e Overdrives", "A Cidade", "A Praieira" e "Samba Makosa".

Vale lembrar que o disco foi produzido por um já consagrado Liminha, que mesmo com toda experiência, teve enorme dificuldade para captar as alfaias como o grupo imaginava. 

Do Gilberto Gil ao Sepultura, não teve quem passou ileso por Da Lama Ao Caos. Infelizmente, a trágica morte do Chico Science após o lançamento do também clássico Afrociberdelia (1996) interrompeu bruscamente uma revolução cultural/comercial que dependia da continuidade. Restou a lenda o seu legado.

segunda-feira, 24 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Fairport Convention - Liege & Lief (1969)

Embora hoje seja comum ver guitarra elétrica na música folk, essa "modernização" no estilo nem sempre foi vista com bons olhos, vide a perseguição que Bob Dylan sofreu ao eletrificar sua música. Todavia, a ruptura provocada pelo Fairport Convention através do Liege & Lief (1969) dentro do gênero proporcionou uma sobrevida para a música folk.


Gravado numa casa de campo em Hampshire, o grupo flertou com o rock de forma mais nítida do que em seus discos anteriores. Diante de uma divergência estética entre Ashley Hutchings (baixo) e Sandy Denny (voz) - que definiria o rumo da banda entre executar músicas tradicionais ou compor material autoral -, o grupo acabou perdendo sua cantora logo após o lançamento do disco, que insatisfeita partiu para carreira solo.

Todavia, a linda voz de Sandy Denny ainda conforta os ouvintes nas maravilhosas "Farewell, Farewell" e "The Deserter". Já o instrumental compacto do grupo fala alto na espetacular "Come All Ye".

É fácil encontrar vestígios da música tradicional inglesa nas melodias delicadas de "Reynardine" e na festividade celta do "Medley: The Lark In The Morning". Entretanto, é a debandada para um som mais progressivo visto em "Matty Groves" e "Tam Lin" que chama atenção, principalmente devido ao excelente trabalho do conceituado guitarrista Richard Thompson.

O disco ainda guarda nas mangas a bela "Crazy Man Michael", fechando e inaugurando um ciclo musical não só da banda, mas de uma vertente musical como um todo. Chegara a hora do folk rock inglês tomar o seu posto.

domingo, 23 de março de 2014

ALGO ENTRE: Daniel Johnson e Gentle Giant

DANIEL JOHNSTON
Eu ainda me impressiono com a qualidade das composições do Daniel Johnston. Um personagem interessante não só por suas lendas - problemas mentais, influenciou meio mundo do rock alternativo -, mas principalmente por sua singela música.

GENTLE GIANT
A banda mais elegante do rock progressivo. Embora extremamente técnicos, eles não soam verborrágicos. Fora que a execução sempre traz um vigor que muitas vezes é ignorado no estilo. Assista essa espetacular apresentação ao vivo e comprove.

sábado, 22 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: The Specials - The Specials (1979)

O final da década de 1970 originou um surto revival no rock. Exemplos não faltam: o Sex Pistols tinha semelhanças com o New York Dolls, os Stray Cats com o Eddie Cochran, o Dire Straits com o J.J. Cale e o The Jam com o The Who. Já o The Specials não parecia com um grupo específico, mas remetia ao passado, fosse através da vestimenta típica dos rude boys (na Jamaica) e/ou mod (na Inglaterra), ou da fusão musical de estilos. Da capa vintage até a última nota, está tudo testemunhado no ótimo The Specials (1979).


Filhos legítimos da new wave inglesa, o grupo é o maior representante do two tone, "gênero" que se estabeleceu justamente por misturar punk rock com o ska, dub e reggae. A marca/rótulo 2 Tone ficou tão forte que virou até mesmo um selo fundado pelo tecladista Jerry Dammers, por onde saiu o The Specials, produzido por ninguém menos que Elvis Costello.

Sua sonoridade diferenciada é justificada através dos metais típicos do ska, vide a ensolarada "A Message To You Rudy" e a grooveada "Nite Klub". A letra anti segregação racial de "Doesn't Make It Alright" - lançada no auge da resistência inglesa contra os imigrantes - e a sarcasticamente politizada "Too Much Too Young" ajudam a contextualizar a banda em sua época, ainda que nada soe datado.

Músicas como "Concrete Jungle" e a clássica "Monkey Man" (Maytals) são perfeitas para festas. Suas linhas de baixos dançantes, trombones divertidos, letras firmes e ritmos jamaicanos são tudo que o The Clash queria ter feito (provocação barata, mas fundamentada).

Os trajes mod, o combo multirracial, a cultura skinhead e a fusão sonora atraiu atenção de muita gente e rendeu frutos musicais, vide os contemporâneos do Madness e Fishbone, o fraco Sublime e o ótimo Rancid, chegando até mesmo nos Paralamas do Sucesso. E assim o som dos bairros mais pobres da Inglaterra saiu do gueto.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Baixo Fretless

A edição deste mês da revista Bass Player traz uma matéria bem legal sobre baixo fretless. Através dela me deparei com músicas espetaculares (algumas já conhecidas, mas que não tinha dado o devido valor a linha de baixo). Portanto, compartilharei as faixas com vocês.

Para quem não sabe, a ausência de trastes no baixo não é um fator estético, mas sim sonoro. Ao não ter o braço do instrumento repartido em casas, é possível explorar microtons e um fraseado bastante particular. Embora seja difícil tocar afinadamente de imediato, seus recursos variados (slides, vibratos, harmônicos...) tem feito muitos baixista escolherem o instrumento como fonte de expressão artística.

Agora chega de papo e vamos para os sons!

José Roberto Bertrami - Bye Bye Brasil
Cláudio Bertrami - lendário baixista do grupo Medusa e que chegou a gravar com nomes como Gal Costa -, usou essa versão pro clássico do Chico Buarque feita por seu irmão, para criar uma das mais incríveis linhas de baixo que já escutei. Com direito a Hélio Delmiro na guitarra e Robertinho Silva na bateria.

Cream - White Room
Jack Bruce em ação no show de reunião de Cream. Diferente da década de 1960, mais recentemente ele passou a empunhar um baixo fretless.

Joni Mitchell - The Dry Cleaner From Des Moines
Jaco Pastorius foi o baixista que popularizou o baixo fretless. Seja em seus discos solo, com o Pat Metheny ou com Weather Report, sempre gostei do seu som. Mas através da matéria da revista é que me dei de cara com essa sensacional canção da Joni Mitchell. Que baixo monstruoso!

Primus - Jerry Was a Race Car Driver
Um clássico da década de 1990 que merece sempre ser reouvido. Les Claypool é um baixista assustador.

Michael Manring - Teen Town
Um dos baixistas mais originais da história tocando uma composição genial do Jaco Pastorius. Só poderia dar em coisa boa. Repare como ele usa técnica como meio para chegar num resultado sonoro altamente singular.

The Rolling Stones - Rip This Joint
Sempre subestimei o Bill Wyman. Achava ele um cara acomodado. Mal sabia eu que ele é precursor do baixo fretless. Perdão, Bill. Repare como nessa música ele consegue emular a sonoridade de baixo acústico tão presente no inicio do rock n' roll, vide as gravações do Bill Black com o Elvis Presley. Em "Little By Little" e, até mesmo em "Paint It, Black", também temos baixo fretless.

Paul Young - Everytime You Go Away
Pino Palladino é dono de centenas de linhas clássicas de baixo do pop oitentista. Aqui está uma delas.

Death - Lack Of Comprehension
Death metal tocado com baixo fretless é uma das coisas mais espetacularmente absurdas que já vi. Steve DiGiorgio estraçalha o instrumento.

Lou Reed - Walk On The Wild Side
Devo assumir, sempre achei que fosse um baixo acústico nesta faixa. Foi gravado pelo Herbie Flowers.

Djavan - Nem Um Dia
Arthur Maia esbanjando seu groove impecável neste clássico radiofônico do Djavan. Com direito a um harmônico celestial lá pelo meio da faixa.

The Firm - Someone To Love
Esse subestimado grupo da década de 1980 trazia em sua formação os lendários Jimmy Page e Paul Rodgers, o outrora conhecido pelo trabalho no AC/DC Chris Slade, além do menosprezado Tony Franklin, baixista de mão cheia que deu um toque bastante particular ao hard rock moderno do grupo. Vale lembrar que posteriormente ele fez parte do Blue Murder.

Paul Simon - The Boy In The Bubble
Falou em fretless, é sacrilégio esquecer do Bakithi Kumalo, brilhante músico sul-africano que tanto agregou ao trabalho de Paul Simon no clássico Graceland.

Japan - Quiet Life
Mike Karn foi dos mais criativos baixistas da virada das décadas de 70 pra 80. O álbum Quiet Life (1979) tem inúmeras linhas fantásticas.

quinta-feira, 20 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Blur - Parklife (1994)

Quando o assunto é rock, a Inglaterra sempre está nos holofotes. Entretanto, no início da década de 1990, o estilo no país foi varrido para debaixo do tapete pelo grunge e a cultura rave que explodiam entre a juventude britânica. Numa conjunção artística e midiática, Parklife (1994) foi a isca que faltava para fisgar o público para o novo britpop. E, convenhamos, neste território o Blur reinava.


Influenciado pelo Stone Roses, o Blur já havia lançado dois bons discos que passaram praticamente despercebidos. Sendo assim, eles aperfeiçoaram a própria sonoridade para algo mais acessível, descontraído e melódico. Essa combinação transparece na linha de baixo funky e no ritmo dançante do hit "Girls And Boys", faixa de sonoridade moderna que nem remotamente parece ter mais de duas décadas. É ainda hoje o perfeito indie jovial contemporâneo.

Damon Albarn é um cantor de voz frágil, mas criador inventivo. Seus refrães pegajosos modernizam o mod e trazem o Kinks como referência. É possível notar isso em "Tracy Jacks" (com direito a ótima linha de baixo), "This Is A Low" e, principalmente, em "Parklife", com direito a participação do ator de Quadrophenia, Phil Daniels. 

A banda demonstra saber fazer baladas rockeiras muito bem arranjada ("End Of A Century"), melodias pop de herança inglesa ("Badhead"), experimentalismo ("Far Out") e canções de art-punk ("Bank Holiday"). Isso sem mencionar as crônicas juvenis tipicamente britânicas ("London Loves").

A empolgação da mídia gerou uma bajulação excessiva (vide a NME). Sábios são aqueles que conseguem reconhecer sem afetação a importância e as qualidades de Parklife.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Bandas/Artistas da Irlanda

Neste último fim de semana tivemos o Dia de São Patricio (ou Saint Patrick's Day), festa onde as pessoas bebem cerveja verde. Ao menos foi isso que chegou no Brasil. Na Irlanda, seu país de origem, as pessoas saem em procissão, todas vestidas de verde, em homenagem ao seu mais importante padroeiro.

Pensando nisso tudo, juntei um punhado de canções perfeitas para beber cerveja irlandesa.

Obs: Durante a Copa, farei mais post como esse, trazendo a música local de todos os países adversários do Brasil. Assim será minha torcida contra a seleção da CBF.

Van Morrison
Esse genial compositor/cantor começou no ótimo grupo Them, mas foi em sua carreira solo que ganhou grande projeção. Entre seus discos emblemáticos estão Astral Weeks e Moondance, ambos fundindo a música folk celta com jazz, rock e tempero r&b.

Rory Gallagher
Esse subestimado guitarrista é um dos maiores nomes do instrumento na década de 1970. Idolatrado em seu país local, ele não conseguiu gravar sequer um único disco ruim.

Thin Lizzy
Clássica banda liderada pelo baixista/vocalista/compositor Phil Lynott. Um dos maiores nomes do hard rock e um dos grupos mais influentes para o heavy metal, que diga o Steve Harris. O som abaixo é carne de vaca, mas diz muito sobre a Irlanda, além de ser perfeito para ouvir tomando uma Guinness.

Gary Moore
Embora muitas vezes esquecidos, Gary Moore era brilhante, fosse tocando fusion, hard rock, blues ou pop. Além disso, foi dono de um dos timbres, bends e vibratos mais selvagens da guitarra. Ainda que tenha feito parte do Thin Lizzy, sua carreira solo é tão boa que não poderia ficar de fora da lista.

U2
Você não quer beber cerveja, mas sim respeitar a visão cristã do tradicional evento? Então fiquem com o U2 e seu cristianismo nada franciscano. Por mais de toda a pose grandiloquente, a verdade é que eles são uma grande banda.

The Pogues
Dropkick Murphys não é irlandês, mas o The Porgues é. É também uma das poucas a fundir punk rock com a música celta sem soar caricata. Fora que o Shane MacGowan é um figuraça.

My Bloody Valentine
Embora tenha pouco (ou nada) de música irlandesa no som, não poderia deixar de citar os ícones do shoegaze. Eu adoro!

Stiff Little Fingers
Uma sujeira para fechar o post com chave de ouro. O debut deles é um clássico do punk rock.

terça-feira, 18 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Cocteau Twins - Treasure (1984)

É comum descrevermos músicas usando características pessoais e nada técnicos. Perceber texturas, temperaturas, cores e climas é o que faz desta arte tão abrangente e encantadora. Com isso em mente, fica mais fácil apreciar o álbum Treasure (1984) do Cocteau Twins, um clássico da música etérea.


Dando um passo a frente ao rock gótico, pós-punk e a música ambient, o Cocteau Twins criou um disco de sonoridade ímpar. Esse flerte cósmico pode ser chamado de dream pop, ethereal wave ou darkwave, mas o importante mesmo é saber captar a força das composições independente do rótulo.

Lançado pela 4AD, o disco tem atributos típicos do selo. Isso se revela desde a belíssima arte gráfica, passando pela produção ousada e as canções cheias de personalidade, que embora soassem distante da música pop, são donas de um encanto acessível.

Em meio aos timbres ecoantes típicos da década de 1980 (vide "Pandora"), a banda chegar a ficar entre o rock industrial e a criação do funk metal na sombria - e em 6/8 - "Persephone". 

Os arranjos elaborados pelo baixista Simon Raymonde dão destaque as guitarras solares do Robin Guthrie e a voz ampla de Elizabeth "Liz" Fraser, que através de seu rico portamento vocal, distribui sussurros orgásticos e modulações delirantes, como revela a clássica "Lorelei". Mais que letras, Liz apresenta fonemas delirantes, que diluídos no instrumental, parecem se desmanchar numa peça sonora única.

Entre outras faixas que merecem atenção estão as ótimas "Ivo" e "Domino". Ou melhor, dê a devida atenção ao disco inteiro, afinal, não é todo dia que podemos fazer uma viagem etérea através da música.

segunda-feira, 17 de março de 2014

ALGO ENTRE: The The e Praxis

THE THE
O nome da banda é terrível, mas por trás de uma bela cortina pop, se esconde bons arranjos e letras inteligentes.

PRAXIS
Um grupo que tem na sua formação Buckethead e Bootsy Collins definitivamente merece atenção.

domingo, 16 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Mastodon - Crack The Skye (2009)

Tem alguns álbuns que já nasceram clássicos. Sendo assim, não esperarei o tempo correr para afirmar que o Crack The Skye (2009) do Mastodon é uma obra-prima.


O disco conquistou números impressionante para um trabalho que flerta sludge com rock progressivo. Eles foram elogiados pela imprensa - de mídias especializadas em heavy metal (Kerrang), passando por revistas técnicas (Guitar Player) e de cultura pop (Rolling Stone e Pitchfork) -, foram parar em conceituados programas de televisão - vide Jools Holland e David Letterman - e ficaram entre os 10 mais vendidos da Billboard.

Abrindo mão da sonoridade mais suja e radical dos discos anteriores e focando numa abordagem melódica e progressiva, com o peso e atmosfera do sludge metal/doom metal/stoner rock, Crack The Skye é uma visão moderna do encontro do Black Sabbath com o Pink Floyd. Tamanho êxito foi alcançado em parceria do requisitado produtor Brendan O'Brien, que prima por uma sujeita orgânica em detrimento da cristalinidade digital do metal contemporâneo. 

Embora de forma não linear, o álbum trata de temas complexos, como a viagem astral de um paraplégico, teorias sobre buraco de minhoca, experiências extracorporal e a Rússia dos czares. Tudo embalado numa linda arte gráfica. É o rock conceitual do século XXI.

Através da abordagem vocal variadamente feroz - três dos quatro integrantes cantam -, de riffs fantasmagóricos, harmonias grandiosas e ritmos frenéticos, tudo soa denso e hipnotizante. Da melódica/acessível "Oblivion", passando pela apoteótica "Divinations", a climática "Quintessence", a zappaniana "The Last Baron" e a progressiva "The Czard"o discos é uma aula de como ser técnico e ambicioso sem soar massivo. Vale destacar que o Scott Kelly (Neurosis) participa da faixa "Crack The Skye".

Em meio ao rock datado e o metal caricato, surge a esperança no novo. Não por acaso o Mastodon é tido por muitos (inclusive esse que vos escreve) como uma das grandes bandas do novo milênio, tendo aflorado para muitos uma nova cena do metal alternativo. É o rock sujo sem ser porco e inteligente sem ser presunçoso.

sábado, 15 de março de 2014

Não gostava, mas agora gosto

"Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", já dizia vocês sabem quem. Sendo assim, é normal inicialmente não gostar de algum artista e posteriormente vir a gostar. 

No meu caso, aqui estão alguns exemplos. Se preparem porque beira o absurdo.

Uma lição/constatação: todo o meu desgosto foi alimentado na base da ignorância juvenil. Não sejam assim.

The Beatles
Meu pai nunca gostou de Beatles. Já eu, um pirralho moldado por ele, tomei para mim a mesma opinião. Isso até o momento em que decidi ouvir a discografia do grupo. Confesso que logo de cara achei superestimada (fui daqueles manés que só gosta do Revolver pra frente). Lá fui eu então, anos depois, ouvir novamente. Resultado: hoje gosto de tudo. E deixo uma dica para quem ainda tem birra com a banda: ouça a discografia em ordem cronológica contrária.

Eric Clapton
Eu, pretenso guitarrista, achava o Eric Clapton superestimado. É verdade que sua carreira solo tem mais erros do que acertos, mas o que eles fez no Yardbirds, Cream, Blind Faith e Derek And The Dominos, justificaria eu tomar um tapa na cara para deixar de ser besta.

Tears For Fears
Aqui na verdade vale a menção para vários grupos do pop rock oitentista. Duran Duran, A-Ha, Pet Shop Boys, Depeche Mode... todos que eu via com desdém, pensando ser açucarados demais. Hoje estão entre meus prediletos, com destaque para o Tears For Fears, que adoro os três primeiros álbuns. É melódico, ultra bem produzido e escrito. É biscoito fino da composição. Mesmo a sonoridade datada dos discos hoje encaro como sendo um charme.

Nirvana
Achava tosco, sem perceber que isso era justamente uma das qualidades. Isso, claro, acompanhado de composições memoráveis e execução impiedosa. Fora que, quando passei a entender em que contexto a banda surgiu, tudo fez ainda mais sentido.

Caetano Veloso
Convenhamos, eu cresci ouvindo em novelas o Caetano cantar "você é linda, mais que demais", "as vezes no silêncio da noite" e "gosto muito de te ver, leãozinho". Para um pirralho de 10 anos que curtia Raimundos, achar o Caetano uma "bicha chata" (no português mais infantil, sincero e, naquela altura, perdoável) era o mínimo. Mas com o tempo a gente amadurece (nem todos) e passa a entender diferentes manifestações culturais e aprende a dar valor a outros estilos de composição. Tudo no seu tempo.

Marilyn Manson
O menos absurdo da lista. Até hoje entendo quem não gosta, mas no meu caso, quando superei os seus fãs toscos e entendi que o lance de ser o "Anti-Cristo" era apenas marketing e estética, percebi que os três primeiros discos eram bem legais, que ao vivo suas músicas ganham ainda mais força e que acompanhado do John 5 tudo fica divertido.

sexta-feira, 14 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Jerry Lee Lewis - Live At The Star Club, Hamburg (1964)

Jerry Lee Lewis nunca foi flor que se cheire. Quando gravou seu espetacular disco ao vivo Live At The Star Club, Hamburg (1964), ele estava descontando no piano todo seu descontentamento, já que seu trabalho vinha enfrentado enorme boicote devido o polêmico casamento com uma prima de 13 anos. O resultado disso é a síntese musical da atitude rockeira.


Quando o disco foi lançado, o rock vivia uma fase de transição. Se a beatlemania e toda invasão britânica ainda dava os primeiros sinais da catarse que viria a ser, as estrelas iniciais do estilo passavam por um momento critico: Chuck Berry enfrentava problemas com a justiça, Elvis Presley caminhara do exército rumo ao cinema e Little Richard virara servo de Deus. Foi embalado por esse clima que The Killer sentou ao piano diante do público alemão e atacou o instrumento de forma que, ao final da apresentação, não sobrou tecla sob tecla. Até mesmo sua excelente banda de apoio teve que suar para acompanha-lo. Isso é perceptível em "Good Golly, Miss Molly".

No setlist temos composições clássicas de Carl Perkins ("Matchbox"), Ray Charles ("What'd I Say"), Hank Williams ("You Cheatin' Heart") e Little Richard ("Long Tall Sally"). Todas turbinadas, tocadas num formato de boogie-woogie atômico, sem respeitar tempo, arranjo ou até mesmo qualquer moral cristã outrora visível em suas letras (vide a própria "What'd I Say"). 

Poucos momentos são tão explosivos na história da música quanto as interpretações viscerais de "Money" e "Great Balls On Fire". O público alemão responde a tudo isso com uma energia entusiasmante felizmente captada na gravação.

No final do disco fica uma impressão: sabe tudo aquilo que é atribuído ao Lemmy em termos de atitude? Pois então, seja justo e de os créditos ao Jerry Lee Lewis, que já fazia canções ensurdecedoras antes mesmo do líder do Motörhead pensar em empunhar seu baixo gorduroso. Não por acaso The Killer influenciou meio mundo, incluindo os Rolling Stones e o próprio Lemmy. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Explorando o universo dos virtuoses do baixo (além do rock)

Sou guitarrista. Um guitarrista medíocre, mas sou. Porém, já faz bastante tempo que tenho exercitado o oficio de baixista - ainda medíocre, mas tenho me esforçado para melhorar -, de forma que cresceu meu interesse por tais instrumentistas.

Por crescer ouvindo rock, desde sempre conheço os virtuoses rockeiros do baixo (vide Billy Sheehan, Stuart Hamm e John Myung), mas ultimamente, tenho procurado artistas solos do instrumento. Eles podem até não serem muito conhecidos do grande público, mas seus serviços prestados ao instrumento são de grande valor.

Deixarei aqui alguns nomes e vídeos incríveis. Fica a dica caso alguém queira adentrar esse território.

Michael Manring
Michael Manring é um baixista de vanguarda. Inquieto, explora seu instrumento constantemente, seja timbristicamente ou tecnicamente. Trabalhou com diversos artistas, do headbanger Alex Skolnick (Testament) ao violonista de new age Michael Hedges.

Steve Bailey
Digitações estranhas de mão esquerda (que envolvem até mesmo o polegar), harmônicos insanos, harmonias complexas, técnica de três dedos (mão direita), fraseado fluente no baixo fretless e timbres singulares, essas são algumas características desse excelente baixista.

Victor Wooten
Lenda do instrumento, Victor Wooten foi um dos caras que melhor desenvolveu a linguagem de baixo solo. Além disso, faz um verdadeiro estardalhaço quando acompanha o Béla Fleck. Seus slaps frenéticos e timbres gigantes extraídos dos Foderas estão entre os melhores momentos do instrumento. Adoro aquele trabalho dele com o Steve Smith e o Scott Henderson.

Marcus Miller
Unanimidade entre os baixista, esse brilhante músico acompanhou nomes como Miles Davis (simples assim!). Todavia, sua carreira solo ganhou grande projeção, sendo seus slaps e improvisos constantemente revisitados por estudantes do instrumento.

Jeff Berlin
Honestamente, estou conhecendo o trabalho deste músico somente agora, de forma que deixo apenas o vídeo como demonstração do seu talento. 
Obs: uma informação interessante que encontrei é que seu disco Pump It! (1986) tem guitarras gravadas por Frank Gambale e um ainda jovem Paul Gilbert.

John Patitucci
Seja ao lado do lendário Chick Corea, em gigs com diversos instrumentistas talentosos ou mesmo em carreira solo, ouvir o inquieto John Patitucci é sempre certeza de ótimos sons.

Jaco Pastorius
Pra fechar com óbvia chave de ouro, uma lenda da música que dispensa apresentações e deve ser sempre reouvido, seja o ouvinte baixista ou não.

quarta-feira, 12 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Pentangle - Basket Of Light (1969)

Na década de 1960, foram muitos os artistas que buscaram a modernização da música folk na fusão com o rock, vide a eletrificação do Bob Dylan. Embora não dispensasse essa tendência, o Pentangle buscou no Jazz e nos elementos tradicionais da música medieval o seu diferencial. Basket Of Light (1969), disco lançado pela Transatlantic, é um exemplo bem sucedido dentro dessa proposta.


Tendo na formação Danny Thompson (baixo acústico), John Renbourn (voz e violão) e Bert Jansch (violão/banjo), o grupo é um dos grandes nomes do folk inglês. Eles souberam justamente captar no passado europeu a sonoridade que tanto fazia falta no folk americano. Daí vieram as influências medievais e barrocas, seja nos arranjos ou nas linhas melódicas. Tudo isso pode ser representado na dramática versão para "Lyke-Wake Dirge", uma clássica composição tradicional inglesa.

A instrumentação em alguns momentos também escapa do convencional, vide o carrilhão em "Hunting Song" e a cítara em "Once I Had A Sweetheart". Esses timbres somados a delicadeza das composições embalaram muitas viagens psicodélicas daquele período.

A canção que mais rendeu sucesso ao grupo foi "Light Flight", isso graças a BBC britânica (que incluiu a faixa no seriado Take Three Girls), já que seu arranjo pouco convencional, que propunha mudanças tonal e na fórmula de compasso, não era dos mais fáceis de assimilar.

É possível encontrar os violões com afinações alternativas - técnica difundida por Bert Jansch e que tanto influencio o Jimmy Page -, nas ótimas "Springtime Promises" e "Sally Go Round The Roses".

Trazendo na capa uma emblemática foto tirada no Royal Albert Hall, Basket Of Light é um belo registro de um período mágico da música. 

terça-feira, 11 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Minutemen - Double Nickels On The Dime (1984)

Existe uma premissa de que bandas punks não possuem grande desenvoltura técnica. Não é isso que revela Double Nickels On The Dime (1984), clássico do Minutemen lançado pela SST.


Antes mesmo da cena hardcore dar sinais de saturação, o grupo, que já fazia burburinho acompanhando bandas como Bad Brains, investiu num disco longo e conceitual, tentando provar - numa espécie de disputa amigável com Hüsker Dü, que acabará de gravar o clássico Zen Arcade - que conseguiam ser ainda mais criativos e musicalmente prolíficos. 

Formado pelo guitarrista/vocalista D. Boon, o ícone do baixo Mike Watt e o baterista George Hurley, as composições transitam pelo funk ("Viet Nam"), folk ("Cohesion"), jazz ("It's Expected I'm Gone" e "The Politics Of Time") e por doideras inclassificáveis ("You Need The Glory"), sempre mantendo a atitude punk ("Shit From An Notebook"), esbanjando arranjos divertidos e letras de cunho socialista ("This Ain't No Picnic"). É possível até mesmo prever a criação do funk metal em "The Roar Of The Masses Could Be Farts".

Sobrou até mesmo para as canções do Van Halen ("Can't Talkin About Love"), Creedence Clearwater Revival ("Don't Look Now") e Steely Dan ("Dr. Wu") ganharem versões esquisitíssimas.

Em meio a toda essa loucura, nasceu um clássico. "Corona" foi posteriormente usada na abertura do programa Jackass e fez bastante sucesso, sendo possivelmente o auge da popularidade grupo, ainda que com 20 anos de atraso. Infelizmente, D. Boon não viu nada disso, já que morreu pouco tempo depois do lançamento do disco, num acidente de carro, durante uma tour com o R.E.M..

Vale destacar ainda a abertura do disco com a espetacular "D.'s Car Jam / Anxious Mo-Fo", a quebradeira de "Theatre Is The Life Of You", frenética "Nature Without Man", a grooveada "West Germany". Todas com performance brilhante e sonoridade incisiva e orgânica.

Com 45 músicas distribuídas em mais de 80 minutos num LP duplo - que ao invés de lado A e B, era demarcado pelo nome dos músicos -, o Minutemen criou uma nova forma de "faça você mesmo". Ser estranho, técnico e experimental passou a fazer parte do jogo punk.

As mulheres mais lindas da música

É possível que com este post eu seja taxado de machista. Não vou lutar contra. Todavia, o real intuito é apenas exaltar a beleza das artistas. Afinal, o encantamento musical não se restringe ao som. Se alguém pedir, posso também fazer uma lista com homens lindos.

A beleza aqui vai além dos estereotipados atributos físicos. Postarei somente mulheres em que suas músicas estão em primeiro plano (sem qualquer tipo de moralismo, foi apenas um critério). Tudo isso, lógico, na minha humilde opinião/percepção. 

Se acharem que eu não fui muito inclusivo na seleção, não tem problema, listas pessoais são assim mesmo. Fiquem livres para colocarem as de vocês nos comentários.

E lembre-se, a beleza é subjetiva, mas sua importância não. Sem mais delongas, vamos a elas:

Michelle Phillips (The Mamas & The Papas)
É verdade que a Cass Elliot era ultra carismática e tinha um vozeirão, mas era a Michelle que monopolizava os olhares.

Jane Birkin
O que posso dizer que ainda não foi dito? Ela com o Serge Gainsbourg formam o casal mais atraente da história (ele passa longe de ser lindo, mas tem seu encanto).

Nico
O mais legal é que, ao andar com gente como Lou Reed e Andy Warhol, ela transmitia uma vibe cool especial. Já sua música introspectiva é afrodisíaca.

Marianne Faithfull
Uma típica beleza inglesa contida, embora sua história de relacionamentos mostre o contrário. Grande letrista.

Rita Lee (Os Mutantes)
Apesar de sua prolífera carreira solo, destaquei Os Mutantes porque é fase em que ela estava mais irradiante.

Suzi Quatro
A atitude que ela transmitia berrando, vestida de couro e empunhando o baixo era amedrontadora e encantadora ao mesmo tempo. Ícone de uma geração.

Debbie Harry (Blondie)
É tão bonita que nem dá para imaginar no meio dos punks de NY. Mas ela estava lá!

Kim Gordon (Sonic Youth)
Aqui é o caso de uma beleza "peculiar". Ela é magrela, dona de uma simpatia amarga e tem cara de poucos amigos. Ela é sensacional.

PJ Harvey
Já foi o topo da minha lista de paixões impossíveis.

Shirley Manson (Garbage)
A típica rockeira que se faz de suja e mal humorada, mas deve ser completamente doce e adorável.

Allison Robertson (The Donnas)
Mulheres guitarristas já são bonitas por si só, mas se tocarem tão bem quanto a Allison Robertson tornam-se mais ainda.

Joss Stone
Adoro sua aura "hippie" (hippie com grana, mas "hippie"). Fora que ela parece ser uma simpatia.

Scarlett Johansson
Vale, né? Seu lado musical é ora estranhão, ora questionável, mas acho interessante. Fora que como atriz ela convence.

Céu
O puro balanço hipnotizante e brasileiro.

Taylor Swift
Poderia ser modelo, simples assim. Um estereótipo de beleza que eu não deixarei de admirar.

HAIM
Longe de serem enquadradas no tipico padrão de beleza, as três garotas do Haim exalam carisma e encanto.

Rachel Goswell
O shoegaze já é apaixonante por si só, aí para completar me surge uma gracinha dessas (hoje uma senhora).

segunda-feira, 10 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Frank Zappa - Hot Rats (1969)

Não há como negar que o Mothers Of Invention - grupo encabeçado pelo Frank Zappa -, tenha sido um dos projetos musicais mais audaciosos da década de 1960. Todavia, os discos da banda não vendiam bem e o líder acumulava dividas que tornaram o projeto inviável. Sem escolha, Zappa partiu para sua prolifera carreira solo, sendo Hot Rats (1969) um dos mais emblemáticos registros do multi-artista.


Com um time de músicos compacto, mas não menos espetacular, formado por nomes como Ian Underwood, Jean-Luc Ponty e o doidão Captain Beefheart, Zappa lançou aquele que é para muitos o primeiro registro de jazz-rock.

"Willie The Pimp" é a única faixa vocal do álbum, sendo cantada (ou seria resmungada?) por Beefheart. Seu instrumental encorpado é calcado no rhythm & blues, todavia, seu solo de guitarra subverte a ordem natural das coisas, estando muito mais próximo de um longo improviso jazzistico do que de uma abordagem bluesy.

Promovendo jams, expondo seu conhecimento erudito e atitude rock n' roll, obras instigadoras surgem na sequência, com destaque para as longas "Son Of Mr. Green Genes" e "The Gumbo Variations", ambas de improvisos radiantes. O ritmo sincopado e as melodias angulares de "It Must Be A Camel" também merecem atenção.

Embora a qualidade de todas as composições seja transparente, foi justamente a mais curta delas, "Peaches En Regalia", que tornou-se um hino. Com pouco mais de três minutos, a faixa traz ritmos e melodias (ora jazzy, ora "oriental") estranhíssimos de flauta, sax, clarinete, guitarra, baixo, bateria e piano, que em conjunto formam um rico emaranhado de timbres. Uma meticulosa composição e arranjo interpretado com fluidez. Não por acaso a música era uma das poucas que não ficavam de fora dos show do Zappa.

Reunindo seis composições de autoria do genial bigodudo, o disco serve de ponta pé inicial para conhecer a carreira de um dos mais brilhantes, prolíferos e inventivos compositores de todos os tempos.