sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Nine Inch Nails - The Downward Spiral (1994)

Nine Inch Nails é uma banda sui generis. Soa extremamente pesada, mas não é genuinamente "metal". Trabalha com timbres eletrônicos, mas não é propriamente "música eletrônica". Sequer uma "banda" eles são, sendo na verdade o alter ego do compositor/músico/produtor Trent Reznor. Em contrapartida, mesmo não sendo nada disso, o grupo não deixa de ser tudo isso. Tá difícil de entender? Espere até ouvir o clássico The Downward Spiral (1994) e aí sim sua mente vai entrar em pane total, com direito a colapso nervoso.


Fundamental para o rock industrial, The Downward Spiral foi concebido na casa em que a atriz Sharon Tate foi assassinada pelos membros da seita do Charles Manson, o que dá ao trabalho um caráter ainda mais doentio. 

Uma das grandes qualidades do álbum é como toda a beleza melódica, agressividade cacofônica, produção rebuscada (assinada também pelo Flood), interpretação sentimentais/vorazes e climas soturnos, fluem de forma coesa.

O peso instrumental é tão avassalador que acaba sendo mais impactante que as letras sombrias do Trent Reznor. Esse esporro sônico pode ser representado através das urgentes "Mr. Self Destruct" (onde a batida mais parece o som de um fábrica) e "Heresy" (incrivelmente sexy, algo como um Prince do inferno), que se equilibram através da quase trip hop "Piggy".

Nem mesmo os hits "March Of The Pigs" (tremendo beat, muita saturação) e a "dançante" "Closer" (com direito a um singelo "quero trepar com você como um animal") dão trégua. Nessa última, vale se atentar aos elementos de estrutura pop presentes no arranjo (abertura de vozes, groove, interpretação libidinosa). Tudo isso em meio ao caos. Só isso pra explicar o sucesso comercial da canção.

Os arranjos épicos de "Ruiner", "The Becoming" e "Reptile" difundem a proposta perturbadora, conceitual e com pontuais referências da música pop oitentista no álbum. Entretanto, não se engane, aqui tudo ganha caráter distópico e peso descomunal.

Faixas como "Big Man With A Gun" e "Eraser" revelam um individuo entrando em parafuso. Há uma grande violência psicológica nas canções.

Se por um lado a sequência de faixas fantasmagóricas deixam o ouvinte atordoado, no final Trent Reznor alivia com a belíssima "Hurt" - aquela mesmo regravada maravilhosamente pelo Johnny Cash -, que por mais fúnebre, autodestrutiva e impiedosa que seja, ganhou um significado ainda mais profundo através da sua linda interpretação.

Em meio a queda do grunge e a explosão do big beat, o Nine Inch Nails foi o que deu novos ares ao rock, transitando na beira do precipício, mas fazendo o risco valer a pena. Por mais maluco que fosse, Trent Reznor estava no controle.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

60 anos da Fender Stratocaster

A Fender Stratocaster comemora 60 anos. O modelo de guitarra criado por Leo Fender é um emblema da cultura pop, sendo extremamente importante para o desenvolvimento não só do instrumento, mas da música como um todo. Trago então neste post 15 grandes mestres da strato.


Buddy Holly
Desde o começo, lá no berço do rock, a stratocaster já estava presente, empunhada pelo influente Buddy Holly, um dos músicos que mais contribuiu para o sucesso do modelo, possivelmente mais pela estética que pelo timbre em si.

Hank Marvin
Se hoje a sonoridade maravilhosa do Hank Marvin pode soar datada para alguns, para a geração de Blackmore/Knopfler/Brian May, o líder do Shadows é um dos caras mais influentes.

Buddy Guy
Daquela geração veterana do blues americano, Buddy Guy era o mais rockeiro. Não por acaso ele influenciou nomes como Hendrix, Clapton e Keith Richards. Seu timbre é cortante.

Dick Dale
Não há guitarrista de surf rock que consiga bater de frente com Dick Dale. Seu paredão sonoro é fruto das stratocasters turbinadas com cordas de espessura pesadíssima.

Jimi Hendrix
Teria o maior guitarrista da história construído uma linguagem tão transformado se não usasse strato? Acredito que não. É o modelo de guitarra que melhor combina com fuzz. 

Eric Clapton
Confesso que meus timbres prediletos do Clapton foram extraídos de Les Paul e SG. Todavia, seus últimos 40 anos portando uma strato faz com que seu nome seja indispensável nessa lista.

Jeff Beck
Outro que inicialmente usava outros modelos - Telecaster e Les Paul -, mas que ao pegar a strato, mudou sua forma de tocar, criando uma linguagem peculiar e maravilhosa. A alavanva, a posição do botão de volume, os timbres... a strato é elevada via as mãos do Jeff Beck. Coisa de gênio.

Ritchie Blackmore
O lendário guitarrista do Deep Purple se consagrou voando pela escala escalopada de uma fender stratocaster. O heavy metal agradece, não é mesmo, Malmsteen e Dave Murray?

David Gilmour
Os solos épicos, ultra melódicos, recheados de bends expressivos e timbres rebuscados, não seriam os mesmo se a "arma" escolhida fosse outra. Quer tocar Pink Floyd? Então já sabe que ferramenta usar.

Mark Knopfler
Muitos não percebem, mas ao beber em timbres tradicionais e vintages, Mark Knopfler escreveu o manual dos timbres limpos usados nas décadas seguintes.

Nile Rodgers
Funk, pop, disco music... quando o assunto é guitarra rítmica e música para as massas, Nile Rodgers é o cara. O som estalado da strato é fundamental para sua música. 

Yngwie Malmsteen
Para o bem e para o mal, foi ele que elevou a virtuosidade as últimas consequências, goste você ou não. O timbre de strato, com menos ganho se comparado a outras guitarras, trouxe ao seu timbre uma claridade ultra dificil de alcançar. Mais uma prova do grande guitarrista que é. 

Steve Ray Vaughan
Foi com ele que o blues tornou-se popular (foi B.B. King que disse). Sua pegada avassaladora em composições maravilhosas serão eternamente referência para qualquer guitarrista. Isso naquele timbre enorme, claro.

Eric Johnson
Quando o mago dos timbres escolhe a fender stratocaster como sua principal ferramenta, pode ter certeza que alguma coisa a guitarra tem.

John Mayer
Seja fazendo blues (que atrai atenção até mesmo do Eric Clapton) ou tocando baladas açucaradas (para alegria do público teen), uma coisa é indiscutível: John Mayer sempre manda bem na guitarra.

Menções honrosas: Richard Thompson, Robbie Robertson, Ron Wood, Rory Gallagher, Tommy Bolin, Robin Trower, Dave Murray, Adrian Smith, Andy Summers, The Edge, Adrian Belew, Jimmy Vaughan, Robert Cray, Bonnie Raitt, Scott Henderson, Sonny Landreth, John Frusciante, Billy Corgan, Billie Joe Armstrong, Eric Gales, Kenny Wayne Shepherd, Jonny Lang, Lulu Santos, Celso Blues Boys, André Christovam, Edgard Scandurra, Andreas Kisser, Faiska e Nuno Mindelis.

Só lembrando que a guitarra do Eddie Van Halen não é uma legitima Fender Stratocaster, apesar de se assemelhar. É uma guitarra customizada por ele mesmo. Gênio.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Neil Young (with Crazy Horse) - Everybody Knows This Is Nowhere (1969)

Se hoje ao observamos Neil Young damos de cara com um compositor acima de qualquer suspeita, é preciso entender que em 1969 as coisas não eram bem assim. Seu grupo anterior, o Buffalo Springfield, havia dissolvido sem ao menos seus talentosos integrantes conseguirem exibir todo o potencial do conjunto, embora tenham influenciado centenas de artistas com seu country eletrificado e psicodélico. Sem tempo para lamentações, Neil Young reuniu um punhado de composições espetaculares no seminal Everbody Knows This Is Nowhere (1969).


Pela primeira vez acompanhado do indecifrável grupo Crazy Horse - com direito ao lendário Danny Whitten -, Neil Young apresentou o que de melhor o rock americano tem para oferecer, ainda que ele seja canadense. 

O disco soa como se a The Band fosse formada por lenhadores rancorosos e caminhoneiros embriagados. A caipira "The Losing End (When You're On)" e a ótima faixa título "Everybody Knows This Is Nowhere" são ótimos exemplos disso.

Por trás de uma figura frágil, Neil Young surge feito um trovador afiado, empunhando sua guitarra como uma arma, revezando entre doçura e a amargues de sua voz ríspida, que serve de instrumento para letras inspiradissimas.

No ápice da sujeira guitarristica entrelaçada em melodias apaixonantes, estão as épicas "Down By The River" - teria o Pink Floyd plagiado em "Breathe"? -, "Cowgirl In The Sand" e a delirante "Running Dry (Requiem For The Rockets)".

Em meio a essa imundice encantadora, o disco reserva ainda um hit, a nocauteante "Cinnamon Girl", com direito a riff certeiro e solo de uma nota só. Há também a delicadeza acústica herdada da música folk representada na sentimental "Round And Round (It Won't Be Long)".

Do Nirvana - reparem até mesmo na camisa de flanela na capa do disco - ao Wilco, a musicalidade sólida deste emblemático trabalho transparece influência décadas a fora. É talvez o primeiro grande momento de um dos artistas mais relevantes do rock.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ALGO ENTRE: Keith Richards e Jimmy Cliff

KEITH RICHARDS
Quando os Stones deram aquela parada na segunda metade da década de 1980, o velho Keith Richards apareceu com esse som ultra funkeado/moderno/inventivo, mas com sua tradicional assinatura na guitarra. Na bateria Steve Jordan, no baixo (em disco) Bootsy Collins. Não tem erro!

JIMMY CLIFF
Olimpiadas de inverno me lembram Bobsleigh, que me lembra Jamaica Abaixo de Zero, que me lembra Jimmy Cliff, que me lembra "They Harder They Come".

domingo, 23 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Quicksilver Messenger Service - Happy Trails (1969)

Na segunda metade da década de 1960, em meio ao movimento hippie, guerra do Vietnã e ascensão das drogas lisérgicas, a cidade de São Francisco despontava como o berço do rock psicodélico. Numa cena que reinavam os grupos Grateful Dead e Jefferson Airplane, de forma mais discreta, mas não menos interessante, o Quicksilver Messenger Service mostrou todo seu poder de fogo com o espetacular Happy Trails (1969).


Reunindo uma coleção de performances impecavelmente captadas de apresentações ao vivo no Fillmore East e Fillmore West (ambas casas de espetáculos do lendário Bill Graham), o Quicksilver Messenger Service - abastecido de LSD -, propunha ao público - também abastecido de LSD - conscientes viagens sonoras através de suas jams psicodélicas.

"Who Do You Love Part 1" (Bo Diddley) e suas transeuntes músicas em forma de pronomes relativos - "When...", "Where...", "How...", "Which Do..." e "Who..." -, constroem um emaranhado conceitual de improvisos. O clima livre é garantia de inspiradas interpretações, com destaque para os envolventes solos do subestimado guitarrista John Cipollina.

Enquanto as ótimas "Mona" e "Maiden Of The Cancer Moon" mantém o clima de jam de forma mais contida - embora não menos ousadas -, a impecável "Calvary" se revela um bombardeio sonoro com traços orientais e tribais.

Se a correria do dia-a-dia não nos permite compreender as longas viagens sonoras aqui propostas, só nos resta invejar um tempo em que a música era feita e apreciada sem amarras.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Bandas de longevidade impressionante

Ontem vi um show do Deep Purple que passou no canal BIS. Sem pensar muito me veio a ideia de fazer um post com bandas de longevidade absurda. Não me atentei a datas (e to com preguiça de pesquisar), apenas colocarei as bandas que vierem na cabeça. 

Lembrando que me refiro a bandas, não artistas solos. Ou seja, nada de B.B. King ou Chuck Berry por hoje. Também não falarei sobre grupos que pararam por muito tempo. Alguns anos até vale, mas tem que ter uma certa continuidade para entrar neste post. Ou seja, nada The Who ou Black Sabbath.

The Rolling Stones
Das bandas inglesas, os Rolling Stones foi a que melhor se adaptou ao tempo (apesar das derrapadas na década de 1980). Lançaram dezenas de discos relevantes, tiveram apenas uma pequena pausa oficial e, ainda hoje, quando se reúnem, seja em show ou em disco, ambos cada vez menos frequentes, atraem todos os holofotes.

The Beach Boys
Mesmo com toda a picaretagem típica do Mike Love, não incluir os Beach Boys seria uma falha. A banda esporadicamente lança discos, faz tour e continua (com bem menos força, é claro) chamando atenção. Um clássico que sobrevive ao tempo.

Golden Earring
Essa lenda do rock holandês continua mandando ver há mais de 50 anos. Honestamente, não acompanho seus trabalhos recentes, mas há quem diga que eles continuam impecáveis. Dada a competência dos instrumentistas/compositores, eu acredito.

The Moody Blues
Patrimônio do rock inglês com mais de 50 anos de serviços prestados. Ainda hoje seus shows causam comoção. Eu adoraria assistir ao vivo.

Status Quo
Assisti também pela TV um show recente da banda e posso dizer: eles continuam quebrando tudo. É uma autentica banda de rock n' roll oferecendo o que há de melhor no estilo.

Deep Purple
Minha banda predileta. Envelheceu mal? Talvez. Tem a mesma relevância de anos atrás? Nem de perto. A formação ta capenga? Sim. A voz do Gillan já era? Infelizmente. Mas ainda assim a banda consegue soar bem e me emocionar. Verdadeiros operários do rock.

Yes
Mesmo com a ida e vinda de integrantes, o Yes permanece na ativa há décadas. Alguns até consideram a formação atual picaretagem, mas ainda assim os shows do grupo são bons (ao menos para mim, que não tive oportunidade de ver no passado) e o último disco de estúdio do grupo (Fly From Here de 2011) é digno da história da banda.

ZZ Top
As bandas de southern rock tendem a sobreviver bem ao tempo, vide a longevidade do Allman Brothers (que tudo leva a crer que encerrará as atividades esse ano) e o Lynyrd Skynyrd (que hoje mais parece uma banda cover). Mas o fato do ZZ Top nunca ter mudado de formação em seus 45 anos torna a marca impressionante.

Omega
Bela banda da Hungria que desde 1962 percorre entre o rock psicodélico, progressivo e hard rock. Nem a Cortina de Ferro foi capaz de parar eles. Impressionante!
 
Made In Brazil
Verdadeiros heróis do rock nacional. Ainda que eu não goste muito do som da banda, é impossível não ter respeito e admiração pelos irmãos Vecchione.


The Jordans
Para finalizar, a banda mais veterana do Brasil e, se bobear, do mundo. Chega ser emocionante ver esses senhores tocando. Coisa fina.


The Ventures
Graças ao comentário do Marcio Fidelis, acabei de descobrir que o The Ventures ainda existe. Que sensacional! 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: The Replacements - Let It Be (1984)

Após a explosão punk, choveram moleques montando bandas e arriscando na organização de seus próprios eventos. Afinal, essa foi a grande herança do movimento. Na base da insistência, o Replacements conseguiu ir longe com um disco considerado hoje um clássico do rock alternativo. Falo do influente Let It Be (1984).


Vindo do circuito dos shows universitários, o Replacements é uma espécie de R.E.M. menor e bem menos regular. Isso fez com que eles não pudessem contar com o aparato da grande mídia (leia MTV), tornando-os um símbolo do underground. A banda conseguia reunir em seus shows uma molecada sedenta por rock e cerveja barata, efervescendo musicalmente a região de Mineapolis e alimentando o pequeno selo Twin/Tone. Tem coisa mais indie que isso?

Filhos do punk rock na linha do The Damned, embora com influências mais melódicas - vide The Jam -, a banda liderada por Paul Westerberg suavizou o discurso e o peso sem abrir mão da energia vital do estilo. Prova disso são as canções "Favorite Thing" (com vestígios do que viria a ser o post-hardcore de grupos como At The Drive-In) e a garageira "Gary's Got A Boner" (com o baixo na cara do Tommy Stinson).

Sempre motivados pelo espírito Do It Yourself, o grupo arrisca em composições punks ("We're Comin' Out"), na fusão de rockabilly com a música country ("I Will Dare"), em baladas pianísticas ("Androgynous"), canções acústicas de power pop ("Unsatisfied"), rock instrumental nada ortodoxo ("Sean Your Video"), melodias pops ("Sisteen Blue"), guitarras esquizofrênicas ("Answering Machine") e até num cover esquisito/desnecessário de KISS ("Black Diamond").

Uma das principais características de uma boa banda de rock é saber administrar suas limitações. Foi exatamente isso que o Replacements fez, driblando problemas técnicos (e de alcoolismo) e construindo um repertório consistente. Let It Be deu ao grupo status cult. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ALGO ENTRE: The Cramps e Fausto Fawcett

THE CRAMPS
The Cramps nosso de cada dia.

FAUSTO FAWCETT
Conheci a pouco tempo através o disco de estreia do artista, ainda sobre os cuidados dos Robôs Efêmeros. Vale dar uma ouvida. É o legitimo rock nacional carioca da década de 1980.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Sly And The Family Stone - Stand! (1969)

Por mais livre de preconceitos raciais, sexuais e sociais que pareça ter sido a década de 1960 no auge do movimento hippie, engana-se quem cai no slogan de "paz & amor". Não por acaso Martin Luther King foi assassinado. Por esse motivo, foi um espanto quando um grupo formado por sete integrantes de diferentes raças e sexo se reuniram para compor a gangue sonora liderada pelo multi-instrumentista/compositor/arranjador/produtor Sly Stone. Ao combo multirracial deu-se o nome de Sly And The Family Stone. Stand!, lançado em 1969, transborda toda a efervescência cultural da época. 


Se em sua estrutura física a banda já impressiona, quando a agulha encosta no vinil o som parece saltar dos falantes. A fusão de rock psicodélico com funk chama atenção devido o peso da produção, arranjos majestosos de vozes e metais, além do groove sacolejante das canções - a cozinha formada por Larry Graham (baixo) e Greg Errico (bateria) é fundamental para isso -, a começar pela beleza pop melódica da faixa que nomeia a obra, "Stand!".

A guitarra temperada com wah-wah dita o clima tenso da letra racial de "Don't Call Me Nigger, Whitey". Já as swingadas "Sing A Simple Sons" e "You Can Make It If You Try" são guiadas pelo baixo sacolejante do lendário Larry Graham, o pai do slap.

A rockeira "I Want To Take You Higher" fez doidões pularem de alegria no festival de Woodstock (atenção para a versatilidade vocal do grupo), enquanto a divertidamente politiza "Everyday People" fez a população geral dançar, visto que foi um hit digno do primeiro lugar no final da década de 1960. Seu arranjo é pop, doce e alegre.

Fechando o disco temos a lisérgica "Sex Machine", com mais de 13 minutos de gaita bluseira, guitarras borbulhantes e linha de baixo delirante. Tudo devidamente regido por Sly Stone.

É impossível pensar no que fez posteriormente artistas como Miles Davis, Herbie Hancock, Prince, Jackson 5, Red Hot Chili Peppers, Outkast, Banda Black Rio, dentre outros, caso esse disco não tivesse sido lançado. Emblemático.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Professores de guitarra, por favor, conheçam seus instrumentos!

Acompanhe minha linha de raciocínio e entenderá o titulo do post.

Sábado fui num bar. Em meio a conversa fiada e jarros de cerveja, conheci um "professor de guitarra". Não, nunca vi o sujeito tocando. Não, não conheço seu método de ensino. E não, não teria aulas como ele. Explico o porquê.

O dito cujo começou o papo menosprezando o punk rock. Logo depois se intitulou um "punheteiro da guitarra" (sim, ele usou tais palavras!). Disse idolatrar Synyster Gates e assumiu não conhecer o Allan Holdsworth. No fim, disse que era "especialista" (sim, ele usou essa palavra!) em sweep picking, mas quando citei Frank Gambale, ele disse desconhecer o músico. Encerrei o assunto.

Não acho que um professor de guitarra tem que se fechar no mundo fusion/jazz cabeçudo, mas um professor de guitarra tem ao menos que conhecer os trejeitos/fraseado/técnicas/história do instrumento. Tem que saber (não precisa dominar, mas saber) a linguagem da música brasileira, country, blues, jazz, fusion, funk, folk, música erudita e, claro, do rock (do punk rock básico ao metal progressivo mais técnico). Conhecer, respirar, incorporar... nunca para esbanjar, mas sempre para evoluir, criar novas linguagens e transmitir conhecimento para seus alunos.

Com isso claro, postarei aqui alguns nomes pra galera fugir dos virtuoses de sempre (Vai, Satriani, Malmsteen, Petrucci...). Nada contra esses caras, mas a não ser que você tenha 12 anos e esteja começando no instrumento, é hora de você buscar novos sons. Aqui vão alguns nomes básicos. Apenas três, pra não entortar a cabeça. Se você é professor de guitarra, tem que conhecer esses caras.

Absorva sem pressa. Preste atenção no fraseado, na fluidez, nas composições, nos timbres, na técnica, nas harmonias, nas melodias, na respiração, na dinâmica... na interpretação como um todo.

Mike Stern
A fluidez com que ele passeia pela escala cromática é de outro mundo.
Disco: Upside Downside (1986)

Robben Ford
Muito jazz pra ser blues, muito blues pra ser jazz.
Disco: Talk To You Daughter (1988)

John Scofield
Gênio do fraseado "pra trás". Você nunca sabe quando e que nota virá.
Disco: Flat Out (1989)


Obs: Post feito no passado que pode ser de grande utilidade para os manés que se dizem professores de guitarra (tô rancoroso): TOP 5 Guitarra Fusion (clique aqui).

Obs 2: Até dei um toques para o cara lá na hora, mas ele não estava interessado em nada disso.

Obs 3: Guitarristas, escutem outros instrumentistas. A música não se resume ao próprio instrumento.

Obs 4: Não existe essa de estudar cinema e não saber quem foi Akira Kurosawa ou Sergio Leone, ainda que você só queira saber do Tarantino e Lars Von Trier. Tem que ter o mínimo de noção das coisas, nem que seja para contrapor.

Obs 5: Acabei meu desabafo. Desculpem o assunto desinteressante. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Prince (And The Revolution) - Purple Rain (1984)

1980 foi a década da música POP (com letras garrafais). Não por acaso tem quem chame de "a década perdida". Bobagem! Em meio a muitas porcarias, tiveram também trabalhos sensacionais lançados por Michael Jackson, Madonna, Wham!, Duran Duran, Human League, Pet Shop Boys, dentre outros. Todavia, quem reinou com méritos artísticos e comercias - para desespero dos "monarcas do POP" - foi o Prince, que lançou o clássico Purple Rain (1984).


Servindo de trilha sonora para o filme homônimo, Purple Rain consegue ser inventivo e acessível. Ele é o sexto trabalho do enigmático artista, sendo o primeiro com uma banda de apoio, nomeada The Revolution, que continha a guitarrista Wendy Melvoin e a pianista Lisa Coleman. Anteriormente, exceto rara exceções, Prince gravara todos os instrumentos de seus discos. Tal parceria com outros músicos resultou em momentos instrumentais incríveis, vide a quase progressiva "Take Me With U".

O álbum é o retrato sonoro de Minneapolis, ou seja, uma ampla fusão que percorre pelo R&B, funk, rock, synthpop e new wave. Elementos eletrônicos extraídos de sintetizadores e bateria programada se misturam com timbres orgânicos, dando uma sensação psicodelicamente retrofuturista. "Computer Blue" - com direito a virtuoso solo de guitarra - talvez seja o maior exemplo disso.

O apelo melódico de "The Beautiful Ones" e o arranjo ousado de "When Doves Cry" - que propõem um groove interessante mesmo abrindo mão de uma linha de baixo, além de conter ótimas passagens de guitarra -, fazem das faixas obrigatórias numa trilha sonora da década de 1980.

Em meio a aura épica do disco, a contagiante "Let's Go Crazy" e a super balada "Purple Rain" - com mais um belo solo de guitarra - atingiram todas as faixas sociais e etárias. São exemplos de música POP elevada a última consequência. Nem mesmo a obscena "Darling Nikki" impediu as crianças de serem contaminadas pela obra, embora a censura tenha trabalhado para isso. 

Vendas altíssimas e aclamação da crítica cercam Purple Rain décadas após seu lançamento. Se POP bom é aquele que sobrevive ao tempo, então o disco passou no teste com folga.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

ALGO ENTRE: Paulinho da Viola e Villa-Lobos

PAULINHO DA VIOLA
O lendário sambista foi no programa Cartão Verde dessa semana. Isso foi mais que o suficiente para me motivar a reouvir algumas pérolas do seu repertório. No áudio abaixo, Paulinho da Viola deixa a música do Cartola ainda mais bonita.

VILLA-LOBOS
Todo mês de fevereiro se comemora a Semana de Arte Moderna de 1922. Então nada mais justo que relembrar Villa-Lobos, sendo aqui numa interpretação sensacional do violinista Oscar Borgerth.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Jorge Ben - A Tábua De Esmeralda (1974)

Em 1974, Jorge Ben já era um artista veterano. Havia na década passada contribuído de forma direta, embora pouco lembrada, tanto para a ascensão da bossa nova, quanto do tropicalismo. Logo depois inventou o tal samba-rock, rótulo que não faz jus a sua grandiosidade musical. Embora tenha produzido grandes discos até então, foi com A Tábua De Esmeralda que ele cravou sua marca definitiva na música popular brasileira, lançando algo incomparável com qualquer outra manifestação artística. 


Samba, soul, pop, funk, reggae, rock psicodélico e ritmos africanos se fundem com originalidade em canções alucinantes. Através de letras interpretadas com uma malemolência/métrica sobrenatural, misturando misticismo cósmico hermético e a cultura afro-brasileira, Jorge Ben construiu um repertório envolvente. Expondo todas essas características temos a clássica "Os Alquimistas Estão Chegando".

O clima alucinante das maravilhosas "O Homem da Gravata Florida" e "Minha Teimosia, Uma Arma Pra Te Conquistar" servem de trilha sonora para uma festa tipicamente brasileira. Os arranjos ousados, costurado por interpretações descontraídas nas delirantes "Magnólia" e "Eu Vou Torcer" - uma faixa hippie tropical - não ficam para trás. 

A viagem proposta tanto na letra quanto na produção e arranjo de "Errare Humanum Est" é típica do rock psicodélico, mas a levada sincopada e sua cadência herdada do samba propõem a fusão de estilos. O groove embasbacante do violão de Jorge Ben em "Menina Mulher da Pele Preta" e "Hermes Trismegisto" também merecem atenção, assim como a celestial "Cinco Minutos".

Recentemente, André Midani (ex-chefão da Philips) explicou o porque de uma gravadora multinacional tão poderosa ter bancado discos tão experimentais, dentre eles A Tábua de Esmeralda. A explicação foi simples: "Porque eu achei, com toda honestidade, que eram discos maravilhosos e fariam sucesso". A inegável maravilha sonora deu ao álbum status de cult, sendo frequentemente citado como o grande trabalho dentro da obra do Jorge Ben, ainda que o sucesso comercial tenha ficado no imaginário do Midani.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A sensibilidade herdada da música folk

Não sei o que acontece, vai ver é simplesmente o poder da música, mas a emoção que algumas pessoas sentem ao ouvir blues e outras via a música gospel, eu sinto através da música folk. Talvez eu tenha sido um homem do campo nos EUA na minha vida passada. Fato é que reconheço no folk uma sensibilidade poética e musical que não encontro em nenhum outro estilo.

Com o intuito de evidenciar e difundir essas características tão apaixonantes, trago canções não da música folk tradicional, mas sim do folk rock, que herdaram e popularizaram essa sensibilidade. Escute e se apaixone por essa música.

01 - Pink Floyd
O primeiro disco pode ser o mais inventivo, o Meddle o mais inspirado, o Dark Side o mais genial, o Wish You Were Here o auge do grupo, o The Wall grandioso... mas quando o assunto é Pink Floyd, quase sempre é o lado B do Atom Heart Mother que pego para escutar.

02 - Neil Young
Gênio que é, quando bebe na fonte da música folk ele não decepciona. Muito pelo contrário, foi Neil que me fez perceber a beleza do violão e o cuidado com as letras, características primordiais do estilo.

03 - Jethro Tull
É tão curtinha, delicada e simples, mas é perfeita. Da para ouvir dezenas de vezes seguidas.

04 - Pescado Rabioso
Quem disse que nós, latinos americanos, não podemos nos apropriar da música folk. Está aí a prova!

05 - Wilco
O rock alternativo do século XXI também se apropria da música folk. Está aí a prova!

Post rápido e simples (como o próprio estilo sugere), mas que pode ser muito bem aproveitado. Gostou? Escute mais Bob Dylan, Van Morrison, Simon & Garfunkel, Crosby Stills & Nash, Buffalo Springfield, The Byrds, The Band, The Incredible String Band, Fairport Convention, Pentangle, King Crimson (no primeiro disco), Led Zeppelin (as faixas acústicas), Lô Borges, O Terço...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Manic Street Preachers - The Holy Bible (1994)

Na primeira metade da década de 1990, o mundo da música já havia testemunhado golpes poéticos autodestrutivos em obras como Dirt (1992) do Alice In Chains e In Utero (1993) do Nirvana. Sendo assim, após o lançamento do sombrio The Holy Bible (1994), foi fácil perceber que havia algo de errado com o Manic Street Preachers.


Oriundos do País de Gales, a banda já havia esboçado bons momentos em discos anteriores, mas The Holy Bible trazia uma carga emocional irradiante, além de uma intensidade instrumental herdada do punk rock.

A voz melódica e ambígua do James Dean Bradfield alterna entre o esporro e a suavidade, como pode ser observado nas maravilhosas "Yes" - em um esperto 7/4 e com impactante letra sobre prostituição - e "Ifwhiteamericatoldthetruthforonedayit'sworldwouldfallapart", canções que qualquer banda do rock alternativo atual daria a vida para conseguir compor/executar.

Da cozinha inspirada por Gang Of Four ("Of Walking Abortion"), passando por guitarras vorazes ("Faster") e a densidade claustrofóbica ("Archives Of Pain"), o disco é recheado de momentos instrumentalmente destacáveis. 

Todavia, são as letras amargas do Richey James que mais chamam atenção. Entre a depressão e o alcoolismo, vestígios de anorexia ("4st 7lb") e automutilação ("Die In The Summertime") são expostos de forma chocante. Isso sem falar na capa, contendo um obeso não por mero acaso. Seis meses após o lançamento do disco, quando seu carro foi encontrado na Ponte de Severn - local muito utilizado por suicidas -, o enredo como um todo ficou ainda mais sombrio. Seu corpo até hoje não foi localizado.

A ressaca pós grunge não ajudou nas vendas do disco, que foi encoberto pelo outro lado do Reino Unido, com o britpop do Oasis e Blur. Todavia, The Holy Bible continua sendo um dos registros mais fortes, impactantes e inspirados do rock.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ALGO ENTRE: Throwndown e Neural Code

THROWNDOWN
Copiaram o Pantera na cara dura. Sendo assim, o resultado é ótimo.

NEURAL CODE
Melhor projeto do Kiko Loureiro (guitarrista do Angra), feito na companhia dos grandes Thiago Espirito Santo (baixo) e Cuca Teixeira (bateria). Influência de fusion, rock instrumental e música brasileira.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Bad Company - Bad Company (1974)

Alguns grupos nasceram para dar certo. No caso do Bad Company, não houve surpresas quando seu ótimo álbum de estreia tornou-se disco de platina. Não sabe o porquê? Os fatos explicam.


Imagine uma banda patrocinada pelo Led Zeppelin, lançando seu primeiro disco pela gravadora do grupo, a Swan Song Records. Agora coloque nesta banda o super vocalista Paul Rodgers, o baterista Simon Kirke (ambos ex-Free), o guitarrista Mick Ralphs (ex-Mott The Hoople) e o baixista Boz Burrell (ex-King Crimson), todos com liberdade artística e dinheiro para produzirem o que quiserem. A liberdade (e o dinheiro) era tanta que nem as despesas com cocaína e álcool foram um problema.

Empresariados pelo Peter Grant, o Bad Company virou a típica banda de rock de arena, perfeita para tocar em grandes estádios, nas rádios e "amadurecer" o público rockeiro, isso porque sonoramente o grupo apresentava consistência, elegância e lapidação ao misturar em suas composições hard rock, blues, pop, country e soul. Esses atributos fazem com que muitos considerem o Bad Company a primeira banda de AOR (mas naquele onda de melodic hard rock).

O apelo comercial de faixas como "Can't Get Enough" é devidamente contrabalançado pela execução vigorosa e a qualidade das melodias. Já o clima soul "Don't Let Me Down" evidencia o timbre precioso de Paul Rodgers. O groove em ebulição da "Rock Steady" também não deixa barato, assim como apelo radiofônico da ótima balada "Ready For Love". "Bad Company", o principal hit do disco, fecha os destaques embalado por um piano radiofônico e refrão poderoso.

Resumindo, Bad Company é um disco bem tocado e produzido, feito por uma banda otimamente apadrinhada e empresariada, que foi espetacularmente bem recebida, tanto pela critica quanto pelo público. Se peca em algo, é pela falta de erros. 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

50 anos da apresentação dos Beatles no Ed Sullivan Show

Há exatos 50 anos atrás, a TV americana foi bombardeada por um evento que mudou o rumo da música popular dali em diante. Falo da lendária apresentação dos Beatles no Ed Sullivan Show.


O programa já tinha sido importante em 1956, quando Elvis Presley provocou alvoroço com sua presença "sacolejante". Mas agora era diferente. Os Bealtes haviam esperado sua chegada ao topo das paradas americanas para só então concretizar sua ida ao país. Resultado: 73 milhões de lares - um recorde absoluto - ligaram seus aparelhos de televisão para assistir o programa.

Entre as pessoas que assistiram e foram influenciados pela apresentação estão John Fogerty, Gene Simmons, Joe Perry e tantos outros que a partir dali decidiram aprender a tocar um instrumento.

A apresentação também resultou na ascensão dos Rolling Stones, The Who, The Animals, The Yardbirds, dentre outros grupos no mercado americano (o mais rentável e observado). Era apenas o início da Invasão Britânica e da própria beatlemania.

É interessante lembrar que os Kinks, que não tocaram no Ed Sullivan, não fizeram sucesso nos EUA na década de 1960.

Com um repertório formado pela espetacular "All My Loving", a balada quase jazzística "Till There Was You", a clássica "She Loves You" (pra delírio das garotas da plateia) e as igualmente boas/importantes "I Saw Her Standing There" e "I Want To Hold Your Hand", os Beatles preencheram a carência rockeira provocada pela morte do Buddy Holly, a conversão religiosa de Little Richard, as polêmicas sexuais envolvendo Chuck Berry e Jerry Lee Lewis e até mesmo a ida do Elvis Presley para a indústria cinematográfica.

É interessante ver também o conceito de bandleader sendo derrubado e substituído pelo trabalho em grupo. É possível entender essa apresentação como importante para o formato de banda que vemos hoje no rock.

Meio século de história resumido em poucos minutos.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Beastie Boys - Paul's Boutique (1989)

Em 1986, o mundo da música sofreu um abalo sísmico quando três branquelos judeus chegaram ao topo das paradas americanas com o disco Licensed To Ill, o primeiro de hip hop a alcançar tal posto. Seriam os integrantes do Beastie Boys talentosos o suficiente para superarem a maldição do segundo disco? A história por trás do espetacular Paul's Boutique (1989) mostra que sim.


Saindo do pequeno selo Def Jam (do Rick Rubin) e indo para a grande Capitol, o segundo disco do grupo passa com folga pelo fatídico teste. O amadurecimento musical do trio é enorme, muito graças a produção em conjunto com o Dust Brothers.

A sofisticação sonora se justifica na escolha dos samples não autorizados (que vão de Curtis Mayfield à Led Zeppelin), nos grooves elaborados, na qualidade dos arranjos e até mesmo no amadurecimento gradual das letras, ainda que eles mantenham a atitude descompromissada quase punk do primeiro disco.

Entre as melhores faixas estão a sacolejante "Shake Your Rump" (que grave! que beat! que synth!), a funkeada "Egg Man", a malandra "High Plains Drigter", a elaborada "The Sounds Of Science", a festiva "Hey Ladies", a pesada "Locking Down The Barrel Of A Gun", a tradicional "Car Thief" e a genial "What Comes Around".

Com o passar dos anos o grupo foi ficando ainda mais sofisticado, inteligente e mantendo-se acessível. Não por acaso o Beastie Boys é adorado até por quem não gosta de hip hop. Eles representam o que há de mais divertido e criativo dentro do cenário musical dos últimos 30 anos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

TOP 5: Shows que eu não deveria ter perdido

Está chovendo shows no Brasil. Guns N' Roses, Metallica, Avenged Sevenfold e mais uma cacetada de bandas no Lollapalooza, mas nenhum me anima a sair de casa. 

Até assistiria alguns deles, mas só de pensar em encarar público xarope, transporte ruim e ingresso caro, já desisto e agradeço por ficar em casa. Se algum canal de televisão transmitir algum dos shows, ai então que não vou mesmo (Nine Inch Nails, te vejo pela TV!). 

Resumindo: foi meu tempo de ir a tudo quanto é show que rolava. Parece papo de velho, mas é só a verdade. E devo dizer que tive sorte de ver alguns bons shows. Todavia, tem alguns que eu não deveria ter perdido.

Obs: não citarei shows que não rolaram no Brasil (reunião do Pink Floyd e Led Zeppelin eliminados), nem shows que eu era muito pivete quando aconteceram (Neil Young e Rainbow fora), nem shows que eu ao menos tentei comprar ingresso, mas não consegui (foram apenas dois: Lou Reed e Bob Dylan) e obviamente nem shows impossíveis (Deep Purple em 1972 e Cream na década de 60? Só em sonho). Vou trabalhar no limite tempo/espaço. Vou trabalhar dentro da minha burrice.

01: Paul McCartney
Quando o eterno beatle tocou em São Paulo, eu era um pobre estudante que tinha acabado de gastar minha pouca grana no ingresso do show do Jeff Beck (e não trocaria isso por nada, sério!). Além disso, eu tinha total "resistência" ao trabalho do Macca (pura ignorância). O tempo passou e eu me dei conta que ele é o maior compositor pop vivo. Simples assim! Ousado, melódico, abrangente, criativo, incansável, relevante, carismático e excelente instrumentista. Motivos não faltam para admirá-lo. Mas agora talvez seja tarde. Embora tenha voltado com certa frequência ao Brasil, os ingressos sempre esgotam em poucos minutos e é sempre fora de São Paulo. Quem sabe dou sorte em breve. Quem sabe um dia fora do Brasil. Quem sabe numa próxima vida. Quem sabe?
*E não é que assisti o show do Macca em 2014! E foi maravilhoso. 

02: Rage Against The Machine
Não lembro exatamente porque perdi este show (acho que prestei vestibular no dia), mas tenho certeza que foi um erro. Além disso, o show foi lá em Itu (ou outra cidade qualquer do interior). Mesmo que tenha tido problemas de som, que houve confusão perto da área VIP, que o show tenha sido curto, que o lugar fosse extremamente inacessível... quando vejo vídeos desse dia eu só consigo pensar em "eu deveria ter ido, eu deveria...".

03: Radiohead e Kraftwerk
Radiohead e Kraftwerk juntos em São Paulo no mesmo dia e local. E pensar que minha irmã foi lá para ver Los Hermanos. O que me conforta um pouco é que foi no jockey, o pior lugar para shows do mundo (com direito a cheiro de merda de cavalo). Ainda assim, nunca que isso vai acontecer novamente.

04: Billy Cobham
Esse é o mais injustificável de todos. Lugar barato e fácil de chegar (foi num SESC), com ingresso disponível até poucas semanas antes, num dia que eu não tinha nada para fazer. Mesmo assim perdi o show do meu baterista predileto. Não tem justificativa.

05: Steven Wilson
Era caro e numa segunda, ainda assim deve ter sido coisa linda. E pensar que nessa tour ele veio com o Guthrie Govan na guitarra. Ao menos ainda acho que da tempo de assisti-lo numa nova turnê. Ao menos assim espero.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: King Crimson - In The Court Of The Crimson King (1969)

O ano era 1969 e o rock parecia já ter oferecido ao mundo tudo que podia. A subversão do Chuck Berry, o rebolado do Elvis, a beatlemania, a eletrificação do Bob Dylan, a sofisticação do Frank Zappa, as viagens do Pink Floyd, a psicodelia do Hendrix, a porralouquice marginal do Velvet Underground... O que mais restava acontecer? 

O ano era 1969 e eis que é lançado In the Court of the Crimson King, disco de estreia do King Crimson, que além de apresentar uma das capas mais extraordinárias de todos os tempos, deixou claro uma coisa: o rock tinha muito para onde evoluir.


Liderado pelo gênio da guitarra Robert Fripp - que anos depois emprestaria seu dotes para David Bowie, Peter Gabriel, dentre outros -, o King Crimson passou por diversas formações. Neste disco, a banda conta com o tecladista Ian McDonald (futuro líder do Foreigner), o baixista/vocalista Greg Lake (aquele mesmo que posteriormente formou o Emerson, Lake & Palmer), o baterista Michael Giles e o letrista Peter Sinfield. O fato deles terem alguém exclusivamente para elaborar as letras explica a beleza das composições aqui encontradas, vide as ultra melódicas/bucólicas/pastorais "I Talk To The Wind" e "Epitaph", faixas espetaculares que transitam entre o rock progressivo e o folk inglês.

O alto grau de experimentação presente na longa "Moonchild" aborda desde melodias sofisticadas até cacofonias incompreensíveis. Todavia, tudo torna-se aconchegante no despertar de "In The Court Of The Crimson King", canção embelezada pelo arranjo sinfônico de mellotron.

Mas é mesmo a fantasmagórica "21st Century Schizoid Man" a grande faixa do disco. Seu riff sombrio, somado a um sax nervoso, letra apocalíptica com traços de ficção cientifica (em timbre saturado) e solo de guitarra herdado do free jazz, fez da canção um hino marginal do rock. 

Ou seja, em um único álbum a banda reuniu rock progressivo, folk, música erudita, jazz, heavy metal, avant-garde, poesia, ficção cientifica e arte plástica surrealista.

Influenciando do David Bowie ao Mastodon, passando por Rush, Voivod, Porcupine Tree, Opeth e The Mars Volta, o King Crimson cresceu e tornou-se uma lenda não só do rock progressivo, mas da música como um todo, sendo cultuada por diversos artistas e fãs ao redor do globo terrestre.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ALGO ENTRE: Pat Martino e Stone Temple Pilots

PAT MARTINO
Toca guitarra, mas não conhece Pat Martino? Aposto que algum problema no quesito improvisação esta emperrando seu desenvolvimento.

STONE TEMPLE PILOTS
Que timbre de guitarra! Que linha de baixo! Que banda subestimada!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

TEM QUE OUVIR: Portishead - Dummy (1994)

No começo da década de 1990, em meio a efervescente cena da música eletrônica e a degringolada economia inglesa, a vocalista Beth Gibbons e o produtor/instrumentista/DJ Geoff Barrow popularizaram uma nova vertente musical que começava a chamar atenção através do Massive Attack. Me refiro ao trip hop, estilo natural de Bristol. Dummy (1994), o álbum de estreia do Portishead, praticamente definiu a sonoridade do gênero.


Com climas atmosféricos, timbres vintages, produção moderna e composições que transitam entre o jazz, ambient, hip hop, rock progressivo e trilha sonora de filme noir, o grupo criou uma envolvente, introspectiva e sexual ambientação para dias cinzentos.

"Mysterons" abre o disco com um beat inteligente (espetacular timbre de caixa), scratches e melodia sorrateira de theremin. Tudo isso coberto pela voz aparentemente frágil da Beth Gibbons.

Não tem como passar indiferente pelo rico arranjo de "Sour Times", dona de uma atmosfera tanto de filme western quanto detetivesco.

A melodia de "Strangers" é ressaltada via seu beat martelante (quase boom bap) e interseções instrumentais que mais parecem colagens. A interpretação da Beth Gibbons é maravilhosa.

Vale ainda destacar a ternura aconchegante de "It Could Be Sweet"; o cruzamento com o jazz e o rap em "Wandering Star"; o hammond da quase sinfônica "It's A Fire; a densidade intensa, cinza e urbana de "Numb"; a melancolia de "Roads"; e a produção esquizofrênica/criativa de "Biscuit".

Embora com tantas grandes canções, foi mesmo a clássica "Glory Box" que ficou mais conhecida. Suas guitarras angustiantes, sample de Isaac Hayes, groove sensual e letra amargurada fez do trip hop um estilo popular.

O disco agradou público e crítica, resultando em vendas altíssimas e diversos prêmios. A banda, embora com lançamentos esporádicos, manteve o nível elevado nos trabalhos posteriores. Todavia, foi o Dummy que certamente colocou o grupo entre os grandes nomes da década de 1990.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Relembrando shows do Super Bowl

Essa noite tem a final do Super Bowl. Não que eu me interesse por futebol americano, mas tudo que envolve apresentações musicais eu dou ao menos uma checada no dia seguinte. 

Em meio a grandes produções que fazem jus a maior audiência da televisão americana, alguns shows do intervalo merecem ser lembrados. E é isso que faremos agora.

Lembrando que quem toca esse ano é o Bruno Mars e o RHCP.

01 - Bruce Springsteen
Quando o assunto é entreter as massas, poucos artistas se dão tão bem diante do público quanto o Bruce Springsteen. Assim sendo, sua apresentação no evento é no mínimo histórica. Nada mais americano.

02 - U2
Grandiloquência, está ai algo que U2 sabre proporcionar, o que se tratando de Super Bowl é imprescindível. Para "ajudar" no discurso, calhou da apresentação deles serem a primeira após os atentados de 11 de setembro. 

03 - The Who
Paul McCartney e Rolling Stones já haviam se apresentado no evento, mas eles são gigantes que nunca erram. Sendo assim, a grande apresentação inglesa dentro do Super Bowl é a do The Who. É um clássico atrás do outro.

04 - Prince
Esse é gênio! Uma pena que seus vídeos sejam tão boicotados (por ele mesmo) no YouTube. Se acharem, assistam (no dia seguinte já pode sair do ar). Rola até versão para uma música do Foo Fighters (vou deixar na curiosidade).