quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

ACHADOS DA SEMANA: Madlib, Return to Forever, Emicida e Little Quail And The Mad Birds

Uma mudança no blog: O "ALGO ENTRE" acaba de virar "ACHADOS DA SEMANA". O conceito é o mesmo: Músicas que entrem si não dizem nada, mas que brotaram na minha frente e quero compartilhar.

MADLIB
Uma aula de groove, de produção, de hip hop... de música.

RETURN TO FOREVER
A formação da banda é tão impressionante que dispensa comentários. Apenas dê o play ai.

EMICIDA
Com direito a participação do grande Wilson das Neves.

LITTLE QUAIL AND THE MAN BIRDS
Me deu saudade da MTV Brasil dos anos 90.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Santana - Abraxas (1970)

O cruzamento da música latina com o rock já havia chamando atenção desde a clássica interpretação de Ritchie Valens para "La Bamba". Entretanto, é justo afirmar que a grande miscigenação sonora ocorreu via Santana, e me refiro não somente ao lendário guitarrista Carlos Santana, mas a toda sua banda que levara seu sobrenome.


Se a apresentação histórica no festival de Woodstock - diga-se de passagem, regada a ácido - colocou-os sob os holofotes tanto da mídia quanto do público, o disco Abraxas (1970) consolidou a sonoridade do grupo.

Além da capa linda e altamente psicodélica, musicalmente o álbum também embarca no clima lisérgico de São Francisco. O começo com a transcendental "Singing Winds, Crying Beasts" é repleto de teclados jazzisticos, além guitarras e congas hipnóticas. A viagem se prolonga através da incrível "Incident At Neshabur", uma aula de improvisação e groove.

"Black Magic Woman / Gypsy Queen" (Peter Green) é de naturalmente melódica, ganhando ainda mais força através do timbre volumoso e gordo. Com seu fraseado típico, o Santana está a todo momento tentando (e conseguindo) domar a guitarra. Em "Samba Pa Ti" essa abordagem alcança níveis estratosféricos. Espetacular!

Puxando o caldo para os ritmos latinos - além obviamente da língua -, temos o mambo "Oye Como Va" e a ótima "Se A Cabo", onde Gregg Rolie (teclados), Michael Shrieve (bateria) e José Areas (timbales) deixam explicito a qualidade técnica do grupo. Isso, claro, sem nunca perder o astral dançante. 

É justo dizer que esse álbum ajudou a colocar não somente o Santana no mapa rock, mas todo um continente.

RETROSPECTIVA 2014: Bandas que acabaram / Bandas que voltaram

Bandas Que Acabaram
Golpe de Estado
Após a conversão do Catalau, a saída do Paulo Zinner e, agora, a morte do Hélcio Aguirra, duvido que o Nelson Brito consiga sustentar a banda com dignidade. Uma pena. Vai fazer falta.

Allman Brothers Band
Gregg Allman tá velhinho, então decidiu pendurar as chuteiras. Fez bem. Todas as atenções dos fãs se voltam agora para o Gov't Mule e para a Tedeschi Trucks Band.

Mötley Crüe
Dizem que estão em tour de despedida. Vai até quando essa picaretagem?

Madame Saatan
Era uma banda bacana. Apenas isso.

Crystal Castles
Mesmo sendo apenas um duo, as divergências internas não sustentaram a banda. Se preparem para duas boas carreiras solo.

Beady Eye
Boa banda, mas nada que uma provável carreira solo do Liam não dê conta.

Macaco Bong
Após várias tretas e muita polêmica jogada no ventilador, Bruno Kayapy decidiu encerrar a banda. Uma carreira solo dele atende bem essa lacuna.

O Chiclete com Banana também acabou, mas acho que nem para o carnaval da Bahia eles farão falta.


Bandas Que Voltaram
King Crimson
Uma volta do nada! Três bateras no palco, agenda lotada, disco ao vivo... é a grande volta do ano!

Electric Light Orchestra
Engoliram o Reino Unido. Por lá todos estão respirar ELO. Parece um sonho. É a volta do pop perfeito.

Ira!
Scandurra e Nasi voltaram a ser amigos ou vale tudo pela grana? Não sei, mas fato é que a banda é ótima e a volta por si só já é motivo para comemorar. Mas que o Gaspar e Jung fazem falta, fazem.

Módulo 1000
Esse revival do rock nacional 70's está ao menos rendendo shows para esses grupos obscuros. Eu gosto disso. [1]

Ave Sangria
Esse revival do rock nacional 70's está ao menos rendendo shows para esses grupos obscuros. Eu gosto disso. [2]

RZO
Se o rap nacional está em alta, nada mais justo que o RZO pegar a onda.

Curved Air
Voltam toda hora, mas como ninguém da a mínima (ainda que a banda tenha bons momentos), eles anunciam novamente.

Savatage
A lendária banda de heavy metal está com shows agendados pra 2015. Vamos aguardar.

Henry Cow
Quem diria, uma reunião da maior banda do rock in opposition. Curioso.

Colosseum
Não só voltaram, como voltaram com a formação "clássica". Pena que a chance de passar pelo Brasil é de -17%.

Robertinho de Recife
E com esse post já fechado, não é que vejo um teaser de uma volta do Robertinho de Recife com disco novo e shows para o ano que vem. Que maluquice ótima.

Voltas que não tenho nada a dizer: The Unicorns, The Blood Brothers e Gram.

ALGO ENTRE: Júpiter Maçã e Billy Idol

JÚPITER MAÇÃ
Hisscivilization (2003), talvez melhor disco do Júpiter Maçã (ou Jupiter Apple). Psicodelia divertida, estranha e criativa. Ele não é só maluco, mas também muito talentoso.

BILLY IDOL
Um momento progressivo do Billy Idol, artistas fanfarrão, mas que tem bons momentos. Fora que eu gosto muito do guitarrista Steve Stevens. Vale checar esse disco novo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014: Mortes

Começarei a retrospectiva de 2014 lembrando os nomes da música que nos deixaram. Vamos a eles:

Phil Everly - (19/02/1939 - 03/01/2014).
Membro da dupla Everly Brothers. Ícone do rock n' roll e da música country. Um dos artistas mais influentes do seu tempo. 

Hélcio Aguirra - (03/04/1959 - 21/01/2014).
Guitarrista do Golpe de Estado. Especialista em amplificadores. Fez parte do Harppia. Um dos grandes nomes da guitarra hard rock brazuca. 

Roy Cicala - (1941 - 22/01/2014).
Produtor/engenheiro de som em clássicos do Elvis, Lennon, Sinatra, Hendrix, Bowie, Miles, Queen, Aerosmith, Kiss, Lou Reed, Prince, Madonna, dentre outros. Morou no fim de sua vida no Brasil.

Pete Seeger - (03/05/1919 - 27/01/2014).
Lenda da música folk. Influenciou nomes como Bob Dylan.

Bob Casale - (14/07/1952 - 17/02/2014).
Guitarrista fundador do Devo.

Paco de Lucia - (21/12/1947 - 26/02/2014).
Excepcional violonista que universalizou o flamenco.

Scott Asheton - (15/08/1949 - 15/03/2014).
Baterista do The Stooges.

Frankie Knuckles - (18/01/1955 - 31/03/2014).
DJ/produtor pioneiro da house music. Lenda da música eletrônica. 

Jair Rodrigues - (06/02/1939 - 08/05/2014).
Talentoso, versátil e bem humorado cantor/crooner brasileiro. 

Bobby Womack - (04/03/1944 - 27/06/14).
Lendário compositor/cantor de soul music e r&b. Relevante até o fim de sua vida. 

Charlie Haden - (06/08/1937 - 11/07/2014)
Baixista ícone do jazz. Tocou com Ornette Coleman.

Tommy Ramone - (29/01/1952 - 11/07/2014)
Primeiro baterista e produtor dos Ramones. Era o último da formação original ainda vivo.

Johnny Winter - (23/02/1944 - 16/07/2014)
Lendário guitarrista/cantor/compositor de blues rock. 

Ariano Suassuna - (16/06/1927 - 23/07/2014)
Romancista e poeta brasileiro, idealizador do Movimento Armorial, que lançou ao mundo muito da expressão cultural do Nordeste, representado musicalmente principalmente através do Quinteto Armorial. 

Dick Wagner - (14/12/1942 - 30/07/2014). 
Guitarrista que trabalhou com Alice Cooper, Lou Reed e Kiss, além de ter liderado o The Frost.

Gustavo Cerati - (11/08/1959 - 04/09/2014) 
Vocalista, guitarrista e líder do cultuado grupo argentino Soda Stereo.

Jack Bruce - (16/05/1943 - 25/10/13)
Espetacular baixista que fez parte do Cream. Gravou com nomes como Frank Zappa e Lou Reed, além de ter uma sensacional carreira solo.

Ian McLagan - (12/05/1945 - 03/12/14)
Tecladista britânico que fez parte do Small Faces e do Faces.

Joe Cocker - (20/05/1944 - 22/12/2014)
Lendário cantor britânico. Dono de voz inconfundível e apresentação memorável em Woodstock.

Quem mais morreu? Segue essa interminável lista:
- Nelson Ned (Cantor/compositor de música tipicamente popular conhecido por suas canções românticas/bregas, voz potente, vida conturbada e baixa estatura).
- Ronny Jordan (Guitarrista de acid jazz e smooth jazz). 
- Dennis Frederiksen (Cantor que passou pelo Toto).
- Ernesto Paulelli (Violonista da rádio Bandeirantes na década de 30 e personagem da clássica "Samba do Ernesto" do Adoniran Barbosa).
- Márcio Augusto Antonucci (Cantor da dupla Os Vips. Fez grande sucesso na Jovem Guarda).
- Riz Ortolani (Compositor italiano de trilha sonoras).
- Nonato Buzar (Compositor maranhense. Trabalhou em diversas trilhas/temas da Rede Globo).
- Peter Hurley (Baixista da banda Extreme Noise Terror).
- Rosina Pagã (Cantora brasileira que fez muito sucesso na década de 1930, no auge da era do rádio).
- Nelson Nicolaiewsky (Músico, compositor e humorista brasileiro).
- Francesco di Giacomo (Vocalista da banda de rock progressivo italiana Banco Del Mutuo Soccorso).
- DJ Rashad (DJ pioneiro da subvertente Footwork).
- Franny Breecher (Influente guitarrista da banda Bill Haley & His Comets).
- Selim Lemouchi (Guitarrista e fundador do The Devil's Blood).
- Michael Jagosz (Vocalista original do L.A. Guns).
- Oderus Urungus (Vocalista figuraça do Gwar).
- Paulo Schroeber (Talentoso guitarrista que fez parte do Almah).
- Dave Lamb (Integrante da dupla de folk Brown Bird).
- João Paulo Fofão (Respeitado baixista do meio gospel).
- Jason McCash (Ex-baixista do The Gates Of Slumbers).
- Shane Gibson (Guitarrista que substitui por anos o Brian "Head" no Korn).
- DJ E-Z Rock (Coautor da música "It Takes Two", sucesso de 1988 que misturava rap com house).
- H. R. Giger (Criador de capas de discos de artistas como Danzig, Carcass e Celtic Frost).
- Martin Lister (Tecladista do Alphaville).
- Júnior (Guitarrista da banda espanhol Los Brincos).
- Don Davis (Compositor, maestro e orquestrador de trilhas sonoras. Trabalhos em Matrix e Jurassic Park 3).
- Hélcio Milito (Baterista e percussionista do Tamba Trio. Tocou com os principais nomes da bossa nova).
- Rafael Fruhbeck de Burgos (Regente da orquestra sinfônica de Montreal). 
- Marlene (Cantora brasileira que fez muito sucesso na era de ouro do rádio).
- Jimmy Scott (Cantor americano de jazz, conhecido por alcançar notas incrivelmente altas). 
- Horace Silver (Pianista e compositor americano de hard bop e soul jazz).
- Gerry Goffin (Marido e compositor de inúmeros hits da Carole King).
- Jorge Amiden (Fundador do O Terço e integrante do cultuado Grupo Karma. Ficou famoso ao usar uma guitarra de três braços).
- John Spinks (Guitarrista da banda The Outfield, banda famosa pelo seu hit "Your Love").
- Vange Leonel (Cantora, compositora e ativista GLS. Fez parte do ótimo grupo Nau).
- Randy Coven (Baixista que trabalhou com Malmsteen, Leslie West, Ark, Steve Vai, dentre outros). 
- Idris Muhammad (Baterista americano que tocou com nomes como Grant Green e Ahmad Jamal).
- Fausto Fanti (Humorista/criador que fez parte do grupo Hermes e Renato. Na banda Massacration interpretava o guitarrista Blondie Hammet).
- Zé Menezes (Músico, compositor e produtor. Tocou com Roberto Carlos e foi autor do tema dos Trapalhões, além de arranjador da Rede Globo. Grande violonista). 
- Rod De'ath (Baterista que acompanhou o guitarrista Rory Gallagher).
- Kenny Drew (Pianista americano de Jazz).
- Jake Hooker (Guitarrista da banda Arrows).
- Maria "Tristessa" Kolokouri (Integrante do Astarte).
- Nessa Chascarrillo (Baterista da banda TPM (Trabalhar Para Morrer)).
- Brian Farmer (Técnico de guitarra que trabalhou com bandas como Grateful Dead, Allman Brothers Band e Gov't Mule).
- Jason Curley (Integrante da banda australiana Tumbleweed).
- Tim "Rawbiz" Willians (Baixista que tocou nos últimos quatro anos com o Suicidal Tendencies).
- Glenn Cornick (Fundador e primeiro baixista do Jethro Tull).
- Jimi Jamison (Vocalista do Survivor).
- Miltinho (Veterano sambista brasileiro). 
- Marcos Z (Dj do Madame Satã, dono de casa noturna, loja de discos, produtor de shows e discos).
- Robert Young (Formador e guitarrista do Primal Scream).
- Kurt Linhof (Importante luthier de guitarras).
- John Gustafson (Baixista que tocou em grupos como Roxy Music, Ian Gillan Band, Quatermass, dentre outros).
- Joe Sample (Tecladista ícone do jazz fusion e que participou de gravações clássica do Marvin Gaye).
- Paul Revere (Organista percursor do rock inglês).
- Mark Bell (Integrante do LFO. Produziu a Björk).
- Isaiah "Ikey" Owens (Tecladista do Mars Volta e da banda do Jack White).
- Clive Jones (Integrante dos ousados grupos Black Widow e Agony Bag).
- Alvin Stardust (Cantor e guitarrista inglês que fez sucesso no final da década de 1970).
- James Levesque (Baixista fundador do Agent Orange).
- Wayne Static (Frontman do Static-X).
- MC Lello (Um dos representantes do funk ostentação de São Paulo).
- Rick Rosas (Baixista que acompanhou o Neil Young).
- Big Bank Hank (Uma das vozes do Sugarhill Gang). 
- Jimmy Ruffin (Cantor de soul da gravadora Motown).
- Luciano Leindecker (Baixista da banda Cidadão Quem).
- Lynsey de Paul (Cantora pop inglesa que chegou a lançar singles de sucesso no começo de 70). 
- Clive Palmer (Importante músico do Folk Britânico).
- Clemilda (Cantora representante da música popular nordestina).
- Roberto Bolaños (Criador e interprete dos personagens Chaves e Chapolin, além de autor daquelas composições horrivelmente maravilhosas do programa).
- Bobby Keys (Lendário saxofonista que tocou, entre inúmeros artistas, com os Rolling Stones).
- John Fry (Produtor do Big Star).
- Larry Smith (Produtor do Run DMC).
- Chris Sheehan (Guitarrista do Sisters Of Mercy durante boa parte da década de 1990).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Ramones - Ramones (1976)

Antes dos Ramones surgirem, era extremamente intimidador para adolescentes montarem uma banda de rock. The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Yes... nem todos eram capazes de alcançar aquele nível técnico e conceitual. Com os Ramones o sonho tornou-se possível e o rock voltou a encontrar no estilo básico - mas não medíocre - o seu encanto.


Lançado em 1976, o clássico disco homônimo de estreia dos Ramones não causou tanto impacto comercial quanto muitos imaginam. Todavia, hoje só de olharmos para a capa contendo aqueles quatro jovens de jeans rasgados, jaquetas de couro e all star sujos em frente a um muro pixado, já sabemos de imediato o que esperar.

Diferente de agora, onde bandas parecem brotar de pranchetas de estudantes de marketing direto para palcos do Lollapalooza, os Ramones ralaram durante anos nos lugares mais imundos de Nova York, dentre eles o mitológico CBGB. Devendo em habilidade técnica, mas distribuindo atitude, eles encaram plateias que iam de junkies anônimos a junkies famosos (vide Lou Reed e Iggy Pop).

Lançado pela Sire Records, Ramones custou 6.400 dólares - uma merreca impressionante para o mercado glamourizado da época - e poucas horas de estúdio. Disso vieram as clássicas "Blitzkrieg Bop" (dispensa apresentações), "Beat On The Brat" (com palhetadas certeiras de Johnny Ramone nos poucos power chords de sempre), "53rd & 3rd" (contendo uma letra espetacular de Dee Dee sobre a época que se prostituía para bancar o vício em heroína) e a encantadora "Judy Is A Punk" (onde a influência das girl groups se faz valer).

Em meio a coisas que eles "não queriam fazer" - vide as acachapantes"I Don't Wanna Go Down To The Basement" e "I Don't Wanna Walk Around With You" -, surge o momento romântico/melódico da boa balada "I Wanna Be Your Boyfriend" (com a interpretação singela e precisa de Joey) e o desejo de cheirar cola na impactante "Now I Wanna Sniff Some Glue". Todas extremamente curtas e trazendo tanta visceralidade quanto excelência pop.

Ainda que o proto-punk de bandas como Stooges, MC5 e New York Dolls já existisse e tenha influenciado diretamente o som dos Ramones, não é absurdo colocar o grupo nova-iorquino como o verdadeiro pilar do punk rock, tendo com os menos de 30 minutos deste disco influenciado gerações de bandas que vão do Bad Brains aos Green Day, passando pelo R.E.M., Metallica, Sonic Youth, Red Hot Chili Peppers, Melvins, Rancid e Pearl Jam.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014

Mês de dezembro, mais um ano chegando ao fim. O quarto deste humilde blog. Da mesma forma que fiz nos anos anteriores, postarei uma retrospectiva contendo os grandes lançamentos (e relançamentos) do ano, as decepções, as músicas que não podem passar despercebidas, os melhores shows vistos por mim, os clipes mais legais, as bandas que voltaram, as que acabaram, além de uma pequena homenagem aos ídolos da música que morreram. Aguardem!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Robert Wyatt - Rock Bottom (1974)

Robert Wyatt já era um músico experiente em 1974. Havia virado as estruturas do rock de ponta cabeça a frente do Soft Machine, lendária banda de rock progressivo/jazz rock da vanguardista cena de Canterbury. Todavia, sua efervescência criativa aliada ao talento o levou para uma prestigiada carreira solo, justificada no belo Rock Bottom.


Wyatt, antes baterista, se viu diante de limitações oriundas de uma tragédia. Enquanto viajava com sua esposa, a atriz Alfreda Benge, sofreu um acidente que o tornou paraplégico. Foi na cadeira de rodas e após longo período de recuperação que ele compôs e gravou a obra.

Do clima frio, passando por texturas sensíveis e instrumentação refinada (com direito a clarinete, viola, sax e trompetes), o álbum é carregado por uma energia conturbada, mas que devido a qualidade de todos envolvidos, é exuberante em seu equilíbrio. Muito disso veio graças a produção do subestimado Nick Mason, baterista do Pink Floyd e amigo pessoal de Wyatt. A faixa "A Last Straw" chega até mesmo a remeter melodicamente a banda do produtor.

A percussão minimalista, que recorre ao uso de loops/programação (até então recurso incomum), é sonoramente precisa, além de ter sido uma solução inteligente para que Robert Wyatt, em meio as suas limitações, continuasse a implantar seu rico vocabulário rítmico em suas composições. Sua voz frágil e teclados jazzísticos também agregam valor a obra.

Se com o passar dos anos o engajamento político comunista do artista causou opiniões contrárias, aqui a abordagem poética e sentimental das letras sensibiliza a todos que dão a devida atenção. Da linda "Sea Song", passando pela quase world music "Little Red Riding Hood Hit The Road", o clima sombrio/estranho da dobradinha "Alifib" e "Alife", além das guitarras frippianas do Mike Oldfield em "Little Red Robin Rood Hood Hit The Road, o disco atinge a perfeição melódica, conquistada por um artista audacioso.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

TEM QUE OUVIR: Marianne Faithfull - Broken English (1979)

Existem duas Marianne Faithfull. A primeira é uma jovem lolita, linda e interprete de canções de sucesso da década de 1960, vide "This Little Bird". A segunda, uma cantora inspirada por seus romances fracassados e ingestão descontrolada de drogas. É justamente durante essa fase conturbada de sua vida que veio seu grande clássico, o denso Broken English (1979).


Se na juventude Marianne era uma namoradeira de astros como Mick Jagger (que com Keith Richards cedeu diversas canções para a moça, vide "As Tears Go By"), ao chegar na fase balzaquiana, ela colhia infidelidade de seus parceiros, que misturada ao seu voraz apetite por drogas, e a até mesmo a influência do punk rock das noites britânicas, desencadeou em poesias impactantes, que remetem diretamente a obra da Patti Smith (quem inspirou quem?).

Dentre as letras que mais chamam atenção está a amarga "Why D'Ya Do It", um épico dos conflitos, retratando o ciúme feminino de maneira exuberante. Um dos maiores textos da história da música. Algo que Lou Reed invejaria.

Instrumentalmente o disco não parece se apoiar em nenhum estilo, tendo vestígios de blues, reggae e folk somados a passagens eletrônicas frias, sendo um dos embriões da new wave, como pode ser conferido em "Broken English". Rouquidão, dramaticidade e bom gosto melódico fazem parte do leque vocal da artista, que emociona o ouvinte através de canções como "The Ballad Of Lucy Jordan" e, principalmente, "Working Class Hero".

Esse disco não serve de pano de fundo para ouvirmos enquanto fazemos outra atividade. Broken English merece atenção e cuidado no que diz respeito as composições. Só assim é possível desfrutar do que há de mais intenso e, até mesmo, punk - se não em sonoridade, com certeza em atitude -, na música daquele período.

TEM QUE OUVIR: Arcade Fire - Funeral (2004)

Se hoje o Arcade Fire está na crista da onda do rock alternativo, sendo headliner em festivais pelo mundo todo, isso não se deu de uma hora pra outra, mas sim através de uma discografia de alta regularidade que chama atenção desde seu primeiro álbum, o já clássico Funeral (2004).


Arquitetado diante da perda de familiares dos integrantes, o álbum é um tributo a morte. As canções rodeiam memórias e sentimentos profundos, mas que devido o instrumental grandioso, acaba soando mais esperançoso do que soturno. A sequência de "Neighbourhood" é o maior exemplo disso.

Assim como acontece com o Flaming Lips, a junção entre o pop rock - horas melodioso, horas barulhento -, a música folk tradicional e a sofisticação de arranjos orquestrados, é preciosa. E é exatamente essa riqueza proporcionada por violinos e pianos uma das grandes qualidades do grupo. Neste quesito, nada soa mais espetacular que a linda/épica "In The Backseat".

Como destaque é possível citar também a modernização do art rock em "Une Anée Sans Lumière", a vigorosa "Wake Up" e a bela balada "Crown of Love".

O álbum despertou interesse na época de seu lançamento via internet, chegando pouco tempo depois a nomes como David Bowie e U2, que não se acanharam ao elogiar a banda. Eis o começo de uma história exuberante que ainda está sendo escrita.

Uma curiosidade: na edição japonesa, o disco vem com uma versão bônus de "Aquarela do Brasil", clássico da música brasileira de autoria do Ary Barroso.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

ALGO ENTRE: Fito Paez e White Noise

FITO PAEZ
Um daquelas boas melodias do pop rock argentino. Ele é um grande compositor.


WHITE NOISE
Quando a música eletrônica, a psicodelia e a vanguarda se encontram numa coisa só. O debut deles - An Electric Storm (1969) -, é um clássico cult.