quarta-feira, 29 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Meat Puppets - Meat Puppets II (1984)

Costumo brincar dizendo que algumas bandas são "tudo que o Nirvana queria ser". Entre Pixies, Sonic Youth, Teenage Fanclub e Dinosaur Jr., está principalmente o Meat Puppets.


Filhos do classic rock, mas oriundos da cena hardcore, o grupo chamou atenção do Greg Ginn (Black Flag) que os levou para a sua gravadora, a SST Records. Depois de um primeiro disco barulhento, a banda desenvolveu um estilo próprio no segundo trabalho, Meat Puppets II (1984). 

Os irmãos Curt e Cris Kirkwood não negam a típica caipirice americana em suas composições. Ora ou outra a banda pende para o rockabilly turbinado ("Split Myself in Two"), country music ("Magic Toy Missing", "Lost" e "Climbing") e o southern rock ("We're Here" e "The Whistling Song"), isso sem abandonar o espírito e a atitude visceral do hardcore, como fica explicito principalmente em "New Gods". Já as instrumentais "Aurora Borealis" e "I'm a Mindless Idiot" são inrotuláveis e desconcertantemente fantásticas.

Kurt Cobain, que ajudou a trazer o grupo para os holofotes através de menções em entrevistas e do convite para o MTV Unplugged do Nirvana, sempre aparentou querer fazer parte de uma banda com as proporções sonoras e comercias de Meat Puppets. As três canções do grupo interpretadas no show acústico da banda grunge estão presentes neste disco. São elas as surreais "Plateau", "Oh, Me" e "Lake Of Fire".

Meat Puppets II é o perfeito cruzamento de Neil Young e Grateful Dead com Dead Kennedys e Ramones. Tem como isso dar errado? Um clássico cult do hardcore/rock alternativo que precisa ser mais conhecido.

TEM QUE OUVIR: Isaac Hayes - Hot Buttered Soul (1969)

Tem quem não saiba, mas antes do Isaac Hayes lançar a fantástica trilha sonora para o filme Shaft (1971), de proporcionar a linda orquestração de "Ike's Rap II" - sampleada tanto pelo Portishead ("Glory Box") quanto pelos Racionais MC's ("Jorge da Capadócia") - e de emprestar sua voz para o personagem Chef (South Park), ele já desbravava a soul music através do emblemático Hot Buttered Soul (1969).


Lançado num momento em que grupos como o Grateful Dead trabalhavam em intermináveis jams, Isaac Hayes explorou a soul music sem se limitar a estruturas pré estabelecidas do mercado. A Stax corajosamente não rejeitou a ideia e bancou o projeto. Como resultado tivemos quatro longas e maravilhosas canções.

A magia do disco já começa pela simples e icônica capa, estampando a cabeça iluminada de Isaac Hayves. Servindo as composições, o grupo The Bar-Kays distribui balanço e sofisticação na execução.

Burt Bacharach e Hal David (sempre eles!) aparecem enquanto compositores da apaixonante/sexual/tarantinesca "Walk On By", canção de groove contido e preciso, contendo belos timbres de guitarra e teclados, linha de baixo envenenada e arranjo cinematográfico. É uma abertura épica perfeita para o que estaria por vir.

Se o blues funkeado recheado de wah wah de "Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic" é reconhecido através dos samples de Public Enemy e Notorious B.I.G., "By The Time" por sua vez é um rap legitimo. Seu longo discurso inicial falado é um dos alicerces sonoros do hip hop. É preciso também destacar a doçura arrojada da ótima balada pop "One Woman".

Muito melhor que justificar a excelência do disco, é ir direito a fonte e ouvi-lo. Um épico da black music.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Oasis - Definitely Maybe (1994)

Embora grupos como o Suede viessem há anos levantando a bandeira do novo britpop, foi só com a morte do Kurt Cobain - que levara consigo o grunge -, que foi possível reconhecer essa nova cena inglesa como uma alternativa para o rock mainstream. Influenciado por Beatles - e sem a menor vergonha na cara de copiá-los (ou ao menos tentar) -, e nenhum compromisso com o bom mocismo, público e mídia logo acolheram o Oasis, que despontava com um envolvente disco de estreia, Definitely Maybe (1994).


Oriundos de Manchester, o quinteto liderado pelos irmãos Noel e Liam Gallagher logo de cara satiriza o próprio futuro em "Rock N' Roll Star". Simples e contagiantes, "Shakermaker" e "Cigarettes And Alcohol" - qualquer semelhança com o riff de "Get It On" do T. Rex não é mera coincidência - são de eficiência gritante.

O grupo acerta na leveza das baladas, sempre preenchidas por ótimas melodias, principalmente nos refrões, feitos para serem cantados a plenos pulmões, vide a maravilhosa "Live Forever" e a sacolejante "Digsy's Dinner". Vale também citar a doçura acústica de "Sad Song".

Entre baladas e rock n' roll certeiros, temos a fantástica "Supersonic", dona de uma atitude digna de nocaute. O mesmo vale pra "Up In The Sky" e "Bring It On Down". Já "Slide Away" é o pop rock noventista perfeito.

Seja devido uma demanda desesperada ou por qualidades reais, fato é que o Oasis estava no lugar e na hora certa, sendo que seu debut deu nova esperança para o rock britânico. E o melhor é que esse foi apenas o primeiro capitulo de uma história que deu saltos ainda maiores.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Chico Buarque - Construção (1971)

Lançado em 1971, Construção foi o primeiro grande disco do Chico Buarque, artista que há anos vinha demarcando seu espaço como grande compositor de música popular brasileira. O trabalho serviu não só como meio de protesto político, mas também como firmamento de uma identidade de canção popular nacional.


Não mais se resumindo a já datada bossa nova, aqui o carioca branquelo de olhos claros invoca ousadia tanto nas composições quanto nos arranjos, sendo vários deles de autoria do Magrão (MPB-4) e outros do Rogério Duprat, lendário maestro das orquestrações tropicalistas. A produção ficou a cargo do Roberto Menescal. A eficiência deste timaço pode ser sentida na tensa "Deus Lhe Pague".

Mas não paramos por aí nas parcerias. Toquinho e Vinícius de Moraes colaboram em composições como "Samba de Orly", canção em homenagem aos artistas exilados pelo regime militar - dentre eles Caetano Veloso e Gilberto Gil - e que traz no instrumental a presença do Trio Mocotó. Poeticamente, "Cordão" também aborda sua resistência a truculência política.

A proximidade com o dia a dia do ouvinte passa pela encantadora "Cotidiano". Já o lado lúdico e apaixonado é priorizado na bela "Valsinha". "Minha História" mais parece tentar recuperar o estilo pop feito pelo Wilson Simonal, enquanto "Acalanto" é uma refinada poesia musicada.

Todavia, o grande hino do disco é a faixa homônima "Construção". Além de conter um instrumental épico, graças ao maravilhoso arranjo que serve de cenário para a narrativa, sua letra é não menos que emblemática. É uma critica ferrenha a alienação do sistema capitalista e da ditadura militar. A estrutura é formada por 3 blocos de 17 versos que mantém uma alternância da proparoxítona final. Definitivamente uma construção poética brilhante.

Há poucos anos, Chico Buarque foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil o maior artista brasileiro vivo. Já Construção levou medalha de bronze no pódio dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, sendo a faixa-título escolhida como a maior composição da música brasileira. Superestimado ou não, a excelência, assim como a lenda, resiste. Estimulado pelas dificuldades politicas do período, Chico gravou um clássico definitivo.

domingo, 26 de outubro de 2014

ALGO ENTRE: Kamau e Maldita

KAMAU
A letra não acho grande coisa, mas a produção é bem boa. 

MALDITA
Lembrei dessa música. Essa banda era até que interessante. Que fim deu?

TEM QUE OUVIR: Travis - The Man Who (1999)

Houve um tempo que era necessário ser subversivo e visceral para lançar um grande trabalho de rock. Com o amadurecimento do estilo e cooptação feita pela música pop, a qualidade melódica tornou-se a grande força para o longo alcance de uma obra. Neste quesito, o Travis se saiu maravilhosamente bem no belo The Man Who (1999).


Produzido por Nigel Godrich (Paul McCartney, Radiohead, U2, R.E.M., Beck, Pavement, Ride) e bebendo da fonte rock inglês - a banda é escocesa -, dos Beatles até o Oasis, o Travis passou a dominar como poucos grupos o quesito composição. Abordando temas sentimentais através de doces melodias e arranjos soberbos/introspectivos, é impossível não se deixar levar pela beleza de "The Fear". 

Há quem acha as composições excessivamente românticas para uma banda de rock. Além disso, a suavidade proporcionada pelos violões em detrimento das guitarras não foi vista com bons olhos por alguns. Tudo besteira. A profundidade sonora das lindas "Are You Are", "The Last Of The Laugher" e "Luv" compensa qualquer peso caricato.

"Writing To Reach You" foi acusada de plagiar a introdução de "Wonderwall" do Oasis. O público pareceu não se importar e fez do disco o mais vendido de uma banda britânica na Inglaterra, chegando ao absurdo de ter uma cópia a cada oito lares do país. A melodia venceu. O rock comportado tinha alcançado seu espaço com dignidade. Pena que os herdeiros dessa postura não corresponderam. Não é mesmo, Coldplay?

sábado, 25 de outubro de 2014

TOP 5: Jack Bruce (1943 - 2014)

Jack Bruce morreu! Um dos melhores instrumentistas e compositores da sua geração partiu desta para melhor após cumprir sua cota de genialidade aqui na Terra.

Neste post evitarei discurso e priorizarei sua música. Selecionei cinco faixas que mostram toda a grandeza do Jack Bruce, seja como compositor, baixista (um dos meus prediletos, diga-se de passagem), cantor e/ou arranjador.

R.I.P. Jack Bruce.

01: Cream - Tales Of Brave Ulysses (live)
O Cream não poderia ficar de fora da lista, mas qual música (ou quais) escolher? Optei por somente uma, até mesmo para evidenciar trabalhos do Jack Bruce que são menos reverenciados. Aqui, numa apresentação ao vivo, o entrosamento do grupo é perfeito. A sonoridade passa naturalmente pelo blues, rock psicodélico e jazz. A maior banda ao vivo do seu tempo. Power trio clássico.

02: Jack Bruce - Never Tell Your Mother She's Out Of Tune
Carreira solo brilhante, que percorre pelo jazz rock, pop, blues rock e soul. É aqui que ele demonstrou com mais liberdade seu enorme talento como compositor e arranjador, obviamente sem deixar de lado seu precioso baixo. Não deixem de escutar os discos Songs For A Taylor e Harmony Row.

03: Frank Zappa - Apostrophe'
Timbre de baixo fantasmagórico, absurdamente pesado (ainda mais pra época) e insano. Simplesmente fantástico.

04: Lou Reed - Men Of Good Fortune
Linha de baixo maravilhosa. A melodia é precisa, encaixando perfeitamente nessa que é uma das melhores canções do Lou Reed.

05: Jack Bruce - Rusty Lady
Entre volta do Cream e projetos com Vernon Reid e Gary Moore, Jack Bruce não abandonou sua carreira solo, tendo lançado até mesmo nesse ano um ótimo disco. A prova de que sua morte é triste não só pelo seu passado genial, mas também pela sua relevância atual.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Elvis Presley - From Elvis In Memphis (1969)

Quando após voltar do exército, Elvis Presley optou por enveredar sua carreira ao cinema de quinta categoria, mal sabia ele que sua credibilidade artística seria colocada em risco. Lançado quase uma década depois, com a promessa de ser uma volta as origens, From Elvis In Memphis (1969) atendeu as expectativas e logo foi reconhecido como um dos grandes momentos do Rei do Rock.


Desde que havia dado uma pausa em sua carreira musical, o rock já havia passado pelas mais diversas experimentações, promovidas pelos novos ícones do estilo (Bob Dylan, The Beatles, The Who, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Velvet Underground, Pink Floyd, dentre outros). Restava ao Elvis não brigar com o novo, mas sim voltar para Memphis, sua terra natal, e tomar de assalto as características musicais do sul dos EUA.

Dirigido pelo produtor Chips Moman e acompanhado de músicos extremamente competentes (com destaque para o baixista Tommy Cogbill), Elvis Presley solta sua voz singular nas envolventes "Wearin' That Loved On Look" e "Long Black Limousine", sendo essa última dona de arranjo impecável.

Ele passeia pelo funk ("I'm Moving On"), soul music ("Only The Strong Survive"), country ("It Keeps Right On A-Hurtin'") e blues ("Power Of My Love"). Já no que se refere as composições, é possível reconhecer o nome de Burt Bacharach na bela balada pop "Any Day Now". Outra ótima balada é "I'll Hold You In My Heart', com o típico vocal grave canastrão de Elvis.

Entre discos mais emblemáticos do que exatamente bons e faixas clássicas lançadas em singles, é possível reconhecer From Elvis In Memphis como uma das principais obras do Elvis. Discão.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: 10cc - Sheet Music (1974)

Durante certo momento na história da indústria musical, foi possível lançar singles de sucessos com riqueza sonora irrefutável. Se hoje o pop rock causa vergonha, é preciso olhar para trás e perceber que nem sempre foi assim. 10cc é a prova disso.


A banda formada por quatro compositores/multi-instrumentistas talentosos - Lol Creme, Kevin Godley, Graham Gouldman e Eric Stewart - atira de forma sarcástica em direção a todos os estilos, criando um frankenstein musical cheio de personalidade e ousadia. Não por acaso o grupo se enquadra no rótulo de art rock.

Talvez inspirados pelo Paul McCartney - que produzia no mesmo estúdio o álbum McGear (Mike McGear) -, Sheet Music (1974) apresenta um salto na eficiência melódica do grupo.

"The Wall Street Shuffle", um hit da sua época, abre o disco evidenciando de imediato a qualidade da produção e dos arranjos.

Além de instrumentalmente brilhante, "The Worst Band Of The World" é liricamente perspicaz e divertida. Por sua vez, "Silly Love" é um rock n' roll dos mais classudos e encorpados. Já "Old Wild Men" (que inaugura o estranho apetrecho gizmo, que dá a guitarra sonoridade de sintetizador) e "Clockwoek Creep" são de ousadia latejante e hipnotismo sonoro explicito.

O desempenho comercial (principalmente na Inglaterra) e o êxito artístico deste disco parece utópico atualmente, mas em algum momento na história a música pop venceu.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

ALGO ENTRE: Beastie Boys e My Bloody Valentine

BEASTIE BOYS
Fui no show do Public Enemy essa semana e rolou essa música no PA antes da apresentação. Ao mesmo tempo, Nelson Triunfo muito atencioso tirava fotos com a platéia. Grande momento!

MY BLOODY VALENTINE
Como essa música é boa! Impossível não pensar em Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Queen - Sheer Heart Attack (1974)

O Queen estava na crista da onda em 1974. Já tinham acertado em cheio com seu segundo álbum - Queen II, já presente no "Tem Que Ouvir" deste humilde blog -, mas foram ainda mais longe com Sheer Heart Attack. O sucesso comercial batia pela primeira vez as portas do grupo.


Se sua capa glam rock contendo quatro homens suados é um tanto quanto cafona, o repertório por sua vez é de excelência invejável.

A voz aguda do Freedie Mercury em "Brighton Rock" é embalada por trejeitos operísticos e deságua num intenso solo de guitarra preenchido por delay. Tipicamente Brian May.

A grande quantidade de overdubs vocais em faixas como "Flick Of The Wrist", "Bring Back That Leroy Brown" - meio zappiana/opereta/cabaret/vaudeville - e "Misfire" - uma entre tantas pérolas do subestimado John Deacon - servem de forma esplêndida aos arranjos das canções.

Como ignorar o vocal convicto do baterista Roger Taylor em "Tenement Funster"? Mas com o Freedie Mercury na banda fica difícil sobressair, ainda mais numa fase de maravilhosas interpretações, vide as curtinhas/lindas "Lily Of The Valley" e "Dear Friends".

O peso do grupo é sentido na explosão hard rock de "Now I'm Here" e na quase thrash metal "Stone Cold Crazy" (riffão!). Impossível também não destacar a épica - e dona de produção impressionante - "In The Lap Of The Gods" e a grandiosa "In The Lap Of The Gods... Revisited".

Mas nada é tão alucinante quanto "Killer Queen". São poucos os singles que superam a qualidade da canção em todos os quesitos possíveis: composição, interpretação - que voz, que piano, que solo de guitarra! -, arranjo e produção. Um dos pontos altos do rock e da música pop de todos os tempos.

Descrever cada faixa é chover no molhado. Fato é que neste disco a banda como um todo não erra. Simples assim, fantástico assim.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: Suede - Dog Man Star (1994)

O Suede já nasceu com prestigio. Mesmo no começo da década de 1990, diante de um cenário desfavorável, onde os holofotes estavam apontados para cena grunge de Seattle, a revista britânica NME já atentava para o disco de estreia da banda antes mesmo de seu lançamento. Já em 1994, com o rock inglês novamente no foco e com as qualidades do grupo apuradas, Dog Man Star saltou aos ouvidos como o grande registro do Suede.


Doses nada moderadas de psicodelia abrem o disco através do mantra "Introducing The Band". A dramaticidade influenciada por David Bowie é visível em "We Are The Pigs". A guitarra típica do britpop 90's da as caras na maravilhosa "Heroine" e na barulhenta " New Generation". Já o vocal ultra melódico e emotivo do Brett Anderson se sobressai nas lindas "The Wild Ones" e "The 2 Of Us". Por sua vez, as linhas de baixo precisas do subestimado Mat Osman ganham força principalmente na bela balada "The Power", com direito a um pontual arranjo de cordas.

O clima sombrio criado em canções como "Daddy's Speeding" é apaixonante. O mesmo pode se dizer da operística "Black Or Blue" e das épicas "The Asphalt World" e "Still Life", ambas pérolas sofisticadas feitas em meio ao mar de simplicidade do rock da época.

Com o sucesso escancarando as portas, as tretas não demoraram pra aparecer e o guitarrista Bernard Butler deu linha, deixando a vaga livre para um jovem e talentoso Richard Oakes. Mas bandas como Blur e Oasis começavam a chamar mais atenção do que o próprio Suede, que se tornaria "precursor esquecido do britpop 90's". Ao menos os discos fazem justiça e não nos deixam esquecer esse maravilhoso grupo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

TEM QUE OUVIR: The Mothers Of Invention - We're Only In It For The Money (1969)

O ano era 1969 e o Mothers Of Invention já tinha deixado explicito suas intenções vanguardistas com seu emblemático disco de estreia. Já era hora então de pensar em agradar o público e tornar a banda financeiramente viável. Contrariando as expectativas, Frank Zappa, inquieto líder do grupo, preferiu satirizar a cultura do momento. Assim nasceu We're Only In It For The Money, o álbum que fez o movimento hippie parecer idiota.


A provocação começava pela capa. Ou seria pelo nome do álbum? Fato é que parodiar a emblemática arte de Sgt. Pepper's dos Beatles e batiza-lo de Só Estamos Nessa Pela Grana não agradou muita gente, incluindo Paul McCartney. Zappa não deu a minima pra isso.

O pré requisito musical do álbum foi soar sarcasticamente acessível através de colagens/retalhos fonográficos da música pop - principalmente doo-wop e surf music -, apresentando melodias assobiáveis, vinhetas esdrúxulas, barulhos cacofônicos e dramaticidade cômica. Ora ou outra, o conhecimento erudito do Zappa, extremamente influenciado pelo compositor Edgard Varèse, se faz valer nos arranjos e na produção vanguardista.

Em "Flower Punk" - com direito a primeira menção a palavra "punk" no rock -, é possível reconhecer trejeitos referentes a "Hey Joe" e "Wild Thing", evidenciando as intenções parodiais do disco.

Palavrões ("Concentration Moon"), referência a sexo oral ("Harry, You're A Beast") e critica polícia ("Who Needs The Peace Corps?") foram censuradas, interferindo nas posições sobre os EUA que o Zappa abordaria no decorrer da sua carreira. Muito dessa fúria politizada pode ser percebida na incisiva "Are You Hang Up?". 

Musicalmente, a faixa que mais chama a atenção é a surrealista "Mother People", de arranjo extremamente complexo.

Eric Clapton, idolatrado pela sua geração, participa do álbum não como guitarrista, mas sim através de pequenas balbucias inaudíveis. Isso era parte do menosprezo bem humorado do Frank Zappa pela cultura hippie. Mas nada disso impediu o disco de agradar os ofendidos e ser aclamado como um dos grandes lançamentos psicodélicos daquele período.

Um adendo interessante é a frase presente no encarte: "Não escute o disco sem antes ter lido A Colônia Penal de Franz Kafka". Honestamente desobedeci.