sábado, 31 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Pavement - Crooked Rain, Crooked Rain (1994)

Enquanto novos grupos indies surgem tão rápidos e promissores quanto desaparecem sem sequer notarmos, reouvir Crooked Rain, Crooked Rain (1994) do Pavement continua sendo uma experiência entusiasmante. É o hype que merece duradouros anos. 


Embora não tenham alcançado vendas exorbitantes, a banda sempre foi aclamada pela crítica e dona de público fiel. Não demorou para o Stephen Malkmus ser reconhecido com um dos grandes nomes da sua geração. O disco foi lançado pela Matador Records, conhecida por trabalhar com nomes como Belle & Sebastian, Cat Power, Mogwai, Queens Of The Stone Age, Jon Spencer e Yo La Tengo.

Embora fincados no rock alternativo, o grupo traz elementos de folk rock, grunge e shoegaze, reunindo doces melodias vocais (perfeitas para cantar junto), dinâmica variada e guitarras entrelaçadas de forma tão coesa quanto barulhenta, mesmo nas canções mais delicadas, vide as ótimas "Silence Kid" (tremendo riff) e "Elevate Me Later", que juntas formam uma das melhores aberturas de disco do período.

A gravação, assim como os arranjos, se mostram bastante espontâneos e crus, deixando que todo o encanto seja atribuído as composições. Nesse sentido, vale se atentar para "Gold Soundz" e "Rage Life", canções não menos que memoráveis.

Em alguns momentos a ousadia prevalece, vide a anestesiante "Stop Breathin" e, principalmente, "5 - 4 = Unity" (com traços de jazz e trilha sonora de desenho animado). Já em outros, é o caos controlado que chama atenção, como na entusiasmante "Unfair".

Quando lançado, teve quem considerasse o disco "pop" demais, impressão motivada pelo espetacular hit "Cut Your Hair", dona de melodia "bobinha" altamente fixante. Um sinal claro da impaciência provocada pela ressaca noventista. O trabalho como um todo é perfeito na fórmula boas melodias + intensidade. É indie rock de tiozinho. É o indie rock que sobreviveu ao teste do tempo.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: N.W.A. - Straight Outta Compton (1988)

Olhe para capa de Straight Outta Compton do N.W.A. (sigla pra Niggaz With Attitude) e sinta-se ameaçado. Seis negros com cara de poucos amigos, sendo que um deles aponta uma arma para lente da câmera - ou se preferir, sua cabeça - e o selo de Parental Advisory - aquele mesmo promovido pela conservadora Tipper Gore, colocado em trabalhos com uso "abusivo" de violência e sexualidade - estampado com orgulho. Pode assumir, não é preconceito, você sabe que está diante de um disco de rap. E foi justamente esse disco que estabeleceu esse estética controversa dentro da indústria. Eis a criação do gangsta rap. 


Produzido por DJ Yella e o grande Dr. Dre, o disco foi lançado antes mesmo do gangsta rap tornar-se a rivalidade sangrenta entre gangues de anos mais tarde. Ainda assim, musicalmente, o álbum já serviu para firmar a costa oeste como novo centro do hip hop. A faixa que define e batiza o gangsta rap é justamente "Gangsta Gangsta".

Além dos já citados produtores, que colaboraram com suas bases ultra pesadas (vide "8 Ball"), o legitimo marginal Eazy-E e os sagazes MC Ren e Ice Cube foram os responsáveis por cuspir as letras explicitamente violentas do disco, sendo "Fuck The Police" a mais emblemática, principalmente por incomodar formalmente o FBI. Não por acaso ela é considerada um hino do hip hop.

E as polêmicas não pararam por ai. O clipe de "Straight Outta Compton" (espetacular beat!) foi proibido de rodar na programação da MTV. A censura estava instalada - censura essa prevista na letra de "Express Yourself" -, assim como o sucesso, já que tudo isso fomentou as vendas do disco.

Com tantas barreira comerciais e egos inflados, o grupo não durou muito, mas o suficiente para influenciar gerações de rappers. Violento e pesado, Straight Outta Compton é uma catarse do ódio.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O subestimado rock nacional da década de 1970

Com o ingrato objetivo de tentar mudar a percepção quase geral de que o rock brasileiro começou a partir da explosão da Blitz no começo da década de 1980 - se consolidando através dos Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana e festivais como o Rock In Rio -, trago um post com bandas do rock nacional da década de 1970.

Eu sei que o rock nacional começou bem antes das tais bandas que irei postar, vide o trabalho de Tony e Celly Campelo, Ronnie Cord, Os Incríveis e tantos outros, inclusive o pessoal da Jovem Guarda. Todavia, confesso que, apesar de respeitar todos eles, nem curto tanto assim essa sonoridade sessentista, ao contrário das tais bandas setentistas, que adoro em grande maioria. Ainda assim, prometo futuramente um post sobre pérolas do período da Jovem Guarda.

Não falarei - mesmo falando agora - sobre os tropicalistas (Caetano, Gil, Gal...), os "malditos" (Sérgio Sampaio, Jards Macalé, Walter Franco...), nem sobre os compositor nordestinos (Alceu Valença, Belchior, Zé Ramalho, Fagner, Lula Côrtes...) ou os mineiros (Lô Borges, Beto Guedes, Milton Nascimento...) que flertaram diretamente com o rock. Todavia, quero deixar claro que eu os considero personagens importantes na história do rock nacional.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Made in Brazil

Raul Seixas
Impossível começar esse post e não lembrar do grande Raulzito. Compositor de mão cheia, ele gravou ao menos três discos clássicos: Krig-ha Bandolo!, Gita e Novo Aeon. Audição obrigatória.

Secos & Molhados
Um dos maiores fenômenos da indústria musical brasileira, chegando a vender milhões de discos num curto período de tempo. E a música? Uma mistureba de sofisticação, atitude e inspiração embasbacante. O mais próximo que chegamos do glam rock.

Os Mutantes
Falar dos Mutantes é chover no molhado. Um dos grupos mais inventivos de todos os tempos, figuras indispensáveis na evolução do rock brasileiro, difusores da guitarra em solo tupiniquim, instrumentistas e compositores acima de qualquer suspeita, donos de uma obra brilhante... É genial. Vale inclusive dar uma conferida atenta nos discos sem Rita Lee e até mesmo os sem o Arnaldo Baptista.

Novos Baianos
Como bem disse certa vez o Bento Araújo da Poeira Zine: "se o Creedence bebeu da música tradicional americana e os Beatles da melodia inglesa, os Novos Baianos por sua vez se apoderaram dos ritmos e harmonias brasileiras". O mais autentico rock nacional.

Rita Lee & Tutti-Frutti
Rock n' roll da melhor qualidade feito no Brasil. E vendeu feito água. Luis Carlini (guitarra), Franklin (bateria), Lee Marcucci (baixo) e, obviamente, Rita Lee comandando tudo. Que bandaça!

Patrulha do Espaço
Após o Arnaldo Baptista (ex-Mutantes) lançar o espetacular Loki, ele reapareceu com essa banda precisa e sonoramente desbravadora. Foi durante muito tempo a banda brasileira mais pesada. Contém o lendário Rollando Castelo Júnior na bateria. Abriram o show do Van Halen no Brasil. E embora não seja a música mais representativa do grupo, "Sunshine" sempre me emociona. Confesso não curtir tanto a longa carreira pós-Arnaldo, muito por conta das vocalizações cheias de trejeitos pastiches e das fracas letras. Ainda assim admiro muito a banda.

O Terço
Rock progressivo com cara brasileira. Flerta com a psicodelia e o rock rural (o nosso folk rock). Um dos mais regulares grupos nacionais. Músicos ultra talentosos e composições primorosas.

Som Nosso de Cada Dia
Um dos meus grupos de rock progressivo prediletos do mundo. Se colocarem ao lado do Emerson, Lake & Palmer, eu escolho o Som Nosso. Snegs é um clássico obscuro nacional. Quando flertaram com o funk também acertaram em cheio.

Casa das Máquinas
Muito bons fossem fazendo hard rock ou rock progressivo. Pode correr atrás dos três discos de estúdio sem susto. Contém na formação os incríveis (com perdão do trocadilho, se ligou?): Pisca (guitarra), Netinho (bateria), Marinho Thomas (bateria) e Simbas (vocal).

Som Imaginário
Pérola da música brasileira. Sofisticação absoluta numa mistura impecável de jazz, música brasileira e rock progressivo. Na formação, ícones do Clube da Esquina (que alias, também considero rock) como Wagner Tiso, Tavito, Robertinho Silva e Fredera.

A Bolha
Assim como o Casa das Maquinas, fizeram do hard rock ao progressivo, sempre mantendo a qualidade. Difícil escolher o disco clássico do grupo. Escute os dois primeiros e escolha o seu predileto. E atente-se ao baixo espetacular do Arnaldo Brandão.
Curiosidade: o Serginho do Roupa Nova chegou a tocar na banda.

O Peso
Um único disco lançado e já é o suficiente para cita-los. Não é das minhas prediletas, mas o público mais saudosista adora. Tem seu charme.

A Chave
Boa banda de rock n' roll curitibana. Não conheço muito, mas as poucas músicas que conheço eu gosto.

Módulo 1000
É mais maldito e curioso - principalmente devido a raridade, a formação e o peso da gravação - do que exatamente bom. Mas vale a audição.

Terreno Baldio
Conhecidos como o "Gentle Giant brasileiro", devido a influência explicita do grupo inglês. Tem na guitarra o grande Mozart Mello. Ótima banda ultra indicada para os fãs de progressivo.

A Cor do Som
Se isso não é rock tipicamente brasileiro da melhor qualidade, eu já não sei mais o que é. Instrumentista virtuoses em prol da música, só poderia dar em coisa boa. Bate de frente com qualquer nome do fusion mundial contemporâneo.

A Barca do Sol
Segue a lista de quem já contribuiu com a Barca: Jaques Morelenbaum, Ritchie e Marcelo Costa. Progressivo com forte influencia regional. Muito bom. Vale lembrar que o ótimo disco Corra o Risco da Olivia Byington tem A Barca como banda de apoio.

Bixo da Seda
Lenda do rock gaúcho, dissidente de outro grupo amado da década de 1960, o Liverpool. Não é das minhas prediletas, mas é legal. Fughetti Luz e Mimi Lessa são personagens mitológicos do rock brasileiro.

Ave Sangria
Psicodelia nordestina na essência. Mais cultuado do que exatamente bom, embora tenha seu charme.

Made in Brazil
Honestamente não sou entusiasta da banda. Entretanto, mais de 40 anos de história de rock n' roll no Brasil e um disco clássico - o primeiro, "da banana", lançado em 1974 - me impede de despreza-los. É uma banda de atitude.

Joelho de Porco
Bom humor, atitude quase punk, letras incríveis - fato raro no rock nacional desta época - e performance excelente. Precisa de mais?

Vimana
Nem é tão legal, mas vale conhecer. Afinal, uma banda de rock progressivo que teve Lulu Santos, Lobão, Ritchie e Patrick Moraz é no mínimo curiosa.

Recordando o Vale das Maçãs
Pensando em 1977, auge da explosão punk em todo o mundo, soa datado o som progressivo do Recordando o Vale das Maçãs. Mas no Brasil, onde tudo chegava atrasado, contrabalancear é justificável. Toques primorosos do rock rural.

Moto Perpétuo
Pegue a sensibilidade pop do Guilherme Arantes como compositor e dê arranjos progressivos a obra. Isso não é pouca coisa! Vale lembrar que a carreira solo do Guilherme também foi fundamental para pavimentar o sucesso comercial do rock oitentista. 

Sá, Rodrix e Guarabyra
Ícones do chamado rock rural, estilo que funde folk rock com música regional brasileira. Os dois primeiros discos do trio são ótimos. Fora que o Zé Rodrix é verdadeiramente um gênio.

Citem suas prediletas e as que ficaram de fora nos comentários. Abraços!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Brian Eno - Here Come The Warm Jets (1974)

Ninguém nega o prestigio que o Brian Eno conquistou no meio musical. Se por uma lado seu nome não causa lembranças imediatas no grande público, por outro ele pode ser citado com um dos maiores desbravadores sonoros. Deturpado como "mero" produtor de clássicos do David Bowie, U2 e Talking Heads, criador da influente música ambiente e ofuscado no Roxy Music pelo Bryan Ferry, Here Come The Warm Jets (1974), seu primeiro lançamento solo, precisa ser revisitado para entendermos de fato o talento deste grande criador. 


O álbum é uma ponte entre gerações. Ainda que calcado no glam rock e na art rock melodiosa do Roxy Music, ele aponta para new wave e serve inspiração para o que faria anos depois o David Bowie. Todavia, a figura andrógena da capa é claramente fruto de uma simbiose estética. Já musicalmente, "The Paw Paw Negro Blowtorch", com direito a um estranhíssimo solo de sintetizador influenciado pelo krautrock, é a faixa que mais se assemelha a fase berlinense do camaleão. 

As composições são tão complexas e irrotuláveis que é possível dizer que "Needles In The Camel's Eye" se assemelha tanto ao Velvet Underground (no ritmo hipnótico) quanto ao Cheap Trick (na energia power pop) e o At The Drive-In (na melodia vocal). Os arranjos sofisticados e impactantes de "Driving Me Backwards" e "Blank Frank" evidenciam essa pluralidade do Brian Eno.

A grandiosidade da obra continua com a balada pós-punk (embora pré-punk) "Dead Finks Don't Talk", o pop barroco melodioso de "Some Of The Are Old" e a experimental "Here Come The Warm Jets".

No quesito guitarras, é impossível não destacar o solo peculiar/inventivo de Robert Fripp em "Baby's On Fire". Mas não é só o líder do King Crimson que dá as caras, Phil Manzanera também contribui com seu talento, principalmente na ótima balada "Cindy Tells Me".

O material do Brian Eno não é dos mais fáceis de assimilar, mas vale a experiência. Afinal, estamos diante de um criador talentoso e nada acomodado.

terça-feira, 27 de maio de 2014

ALGO ENTRE: Mike Stern e David Crosby

MIKE STERN
Um dos grandes nomes da guitarra debulhando ainda novinho ao lado do Miles Davis. Procure também ele tocando na banda de Billy Cobham. Um músico de bom gosto e maturidade chocante.  

DAVID CROSBY
Sempre com a mesma cara de velho simpático, apresentando como (quase) sempre boas músicas. Esse é o Crosby.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: The Stooges - The Stooges (1969)

Em 1968 o Stooges já provoca burburinho. Em seus shows, o vocalista/ícone Iggy Pop se cortava, se contorcia e se jogava no público. Impactado, Danny Fields os contratou pela gravadora Elektra, onde o grupo lançou seu seminal álbum de estreia, The Stooges (1969). O caos estava instalado.


Com produção de John Cale (Velvet Underground), o disco tem a típica sonoridade de Detroit. Caótico, barulhento e cheio de imperfeições, o álbum é considerado por muitos como a primeira obra do punk rock (os mais pé no chão chamam de proto-punk). Fato é que a atitude destrutiva - antes vista em caras Lou Reed e Jim Morrison - estava agora associada a uma sonoridade violenta. 

Além de Iggy, os irmãos Ron e Dave Asheton (respectivamente guitarra e bateria) e Dave Alexander (baixo), eram o reflexo do público: junkies, pobres e descrentes no futuro. Eles não eram mais talentosos que ninguém, apenas eram alguém e não queriam desperdiçar suas existências.

Timbres viscerais, performances garageiras e letras que cospem para longe o tédio juvenil aparecem nas faixas "1969" e, mais explicitamente, em "No Fun", canção essa interpretada com propriedade anos mais tarde pelo Sex Pistols, comprovando a influência dos Stooges para o punk rock.

Na clássica "I Wanna Be Your Dog", o riff pesadíssimo, a insistente/doentia nota de piano e a letra/interpretação feroz de Iggy Pop representam o que há de mais emblemático no grupo. Na sequência temos a obscura "We Will Fall", estruturada dentro de seus 10 minutos atemorizantes, trazendo um lirismo dramático e com uma viola minimalista/climática tocada por John Cale.

A imprensa não gostou, o grande público não deu a mínima e a gravadora não lucrou. Mas nos porões mais escuros, no subúrbio mais afastado, garotos se sentiram representados e motivados a montarem suas próprias bandas. O estrago estava feito. Poucas vezes o rock foi tão energizante.

domingo, 25 de maio de 2014

Uma reflexão sobre Jesus (And Mary Chain)

Acabo de ficar cara a cara com Jesus. Não o messias milenar, mas sim The Jesus And Mary Chain, a banda escocesa balzaquiana, que como bem cantei bola aqui no blog, fez um show gratuito em São Paulo no Festival Cultura Inglesa. Sobre a apresentação, algumas observações são necessárias.

Tópico 1 - A Cultura Inglesa venceu!
Grandes festivais atuais não faturam com ingresso, mas com publicidade. Pode colocar Rock In Rio e o Lollapalooza neste jogo. O Festival Cultura Inglesa, que chegou a sua 18ª edição, vende a marca da escola com brilhantismo, sem poluição publicitaria demasiada, mas explicita e direta. Lá dentro não rola bebida alcoólica (nem marca de cerveja nomeando palco, viu, Lolla), o ingresso é gratuito, mas não existe superlotação e/ou confusão (viu, Virada Cultural) e a qualidade sonora é impecável (viu, bote o nome do festival que quiser aqui). Se no Rock In Rio temos como headliners "os Metallicas e Iron Maidens de sempre", o Cultura Inglesa arrisca com Jesus And Mary Chain e Gang Of Four (2011). O evento sempre acaba cedo (20h30) e acorre em lugares de fácil acesso (esse ano foi no, diga-se de passagem, ótimo lugar para shows, Memorial da América Latina). Resumindo: o festival é um exemplo de como usar o corporativismo de forma eficiente e de como fazer um evento musical no Brasil sobreviver aos meandros do mercado e das políticas culturais. Para não ficar só nos elogios, registro que a comida no festival é muito cara (hot-dog mais básico possível custava R$13).

Tópico 2 - Que mal há em ser normal?
Uma cantora brasileira, se fazendo de gringa, na qual sequer me lembro o nome, fez um show que tinha tudo pra dar certo, mas foi uma tremenda merda. Ela canta bem, o repertório era bom (em homenagem a Amy Winehouse), a formação baixo acústico + piano é maravilhosa e quando ela pegou a guitarra não fez feio, extraindo um timbre vintage/lo-fi muito bom. Mas tudo isso foi por água abaixo a partir do momento em que ela entrou no palco com uma garrafa de sei lá o que na mão, se fazendo de bêbada, com trejeitos forçados e simpatia zero. Resultado: vaias e um show vergonhoso. Que mal há em ser normal, dar um sorriso, cantar e sair fora? Teria sido tão mais legal.

Tópico 3 - O indie rock/pop "fofinho" não é mal feito, só é bobinho!
O que faltou em carisma pra tal cantora que citei acima, veio em sobra com os Los Campesinos!, banda que honestamente não conhecia, mas vou até procurar o disco, tamanha a entrega e simpatia do grupo no palco. Musicalmente não é minha praia - uma mistura de indie pop com emo -, mas é tudo bem tocado. Quem curte Imagine Dragons deve adorar. É bobo e fofinho demais? Sim, mas animou o público mais novo presente no evento. Foi o suficiente.

Tópico 4 - "Rockeiros" são chatos. Galera do indie rock é legal.
Fim de semana passado fui na Virada Cultural. Em meio a passagens de som para os shows do Mark Farner e Uriah Heep, o que mais ouvi entre o público era papo merda sobre disco novo do Scorpions, shows do UFO, formações do Whitesnake... mas que bando de gente chata e conservadora que é rockeiro, não? Até entendo que eu devo me comportar da mesma forma aqui no blog, mas será que pessoalmente não dá pra ser menos bitolado. Vai falar sobre comida, futebol, oriente médio, sexo anal, mico-leão-dourado, terrorismo... sei lá. Já o público indie é exatamente o oposto dessa xiitagem rockeira. Eles conversam (as vezes de forma superficial, mas conversam) sobre moda/religião/tecnobrega/geopolítica/..., beijam gente do mesmo sexo, bebem e dançam o show inteiro, tão cagando se o guitarrista errou um acorde ou se o disco foi mal mixado. Eles são os rockeiros de verdade.

Tópico 5 - Se "rockeiros" são chato, logo, o rock também é.
Em meio a toda essa situação envolvendo o Tópico 4, como vocês acham que eu reagi aos (bons) shows do Uriah Heep e Mark Farner executando canções de 40 anos atrás? O rock as vezes me bodeia, entende?

Tópico 6 - The Jesus And Mary Chain.
Mas afinal, que raio o Jesus And Mary Chain tem haver com isso? Tudo! Com um show empolgante, mas sem presepada no palco, a banda mostrou o que há de mais legal e detestável no rock. Os irmãos Reid são tão antipáticos que, nos raros momentos em que sorriem, o público percebe que é de verdade. Jim Reid não viu o menor problema em parar três músicas no meio e dar um esporro na banda. Na plateia, algumas pessoas não entendiam nada. As canções tão melódicas quanto qualquer coisa dos Beach Boys e tão barulhentas quanto o Burzum, provocam estranhamento no público comum. Chega a ser chocante o quanto uma banda com mais de 30 anos se mantém relevante. Sombrio, caótico, visceral, inspirador e revigorante, isso é um show do Jesus And Mary Chain.

Tópico 7 - I Hate Rock N' Roll

sábado, 24 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: The Jesus And Mary Chain - Psychocandy (1985)

Encabeçado pelos irmãos Jim e William Reid, o Jesus And Mary Chain saiu da Escócia para o mundo com seus feedbacks intermináveis, cabelos de maníacos e shows pitorescos que não passavam de 30 minutos, com a banda de costa para o público e declarações ofensivas a imprensa. O que parecia ser um auto boicote, virou faísca para uma explosão na cena alternativa, principalmente após o registro do clássico Psychocandy (1985).


Fortemente influenciado pelo Velvet Underground, o grupo apresenta belas melodias, mas que em grande maioria são cobertas por um esporro inacreditável de guitarras, se sobressaindo na mixagem a todos os outros instrumentos, até mesmo a voz.

Fosse por uma estética premeditada, orçamento curto ou limitação técnica, fato é que os timbres estridentes, distorcidos e amontoados, influenciaram uma geração de bandas, criando inconscientemente o gênero shoegaze, posteriormente adotado por grupos como My Bloody Valentine. Esse esporro pode ser sentido em faixas encantadoramente incomodas como "The Livind End", "In A Hole", "Never Understand" e "You Trip Me Up". É chiadeira que não acaba!

No meio de todo esse caos, "Just Like Honey" - com sua bateria tribal copiada de "Be My Baby" das Ronettes - fez bastante sucesso, sendo usada maravilhosamente anos depois no filme Encontros e Desencontros (Sofia Coppola). Já "The Hardest Walk" e "Cut Dead" deixam o ruído um pouco de lado com a finalidade de evidenciar a qualidade melódica do grupo.

Barulhento, caótico, melódico e violento, Psychocandy é um glossário do rock alternativo. Tão noise quanto pop - fórmula copiada anos depois pelo Pixies - o disco é um chacoalhão na ordem sonora.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Grand Funk Railroad - Grand Funk (1969)

O rock é um estilo que se desenvolveu rapidamente rumo a sofisticação lírica e musical. Mas se tem uma sonoridade que é a essência do estilo é aquele hardão típico da década de 1970. Com execução poderosa, os americanos do Grand Funk Railroad representam muito bem essa estética. 

O power trio trazia na sua formação o Mark Farner (vocalista/guitarrista/compositor), Don Brewer (bateria) e Mel Schacher (baixo). Grand Funk (1969), segundo trabalho do grupo, também conhecido como Red Album, é uma pérola do rock n' roll.


Com uma mistura bombástica de música americana, onde blues, soul, funk e hard rock se encontram num mesmo caldeirão, o Grand Funk é acima de tudo energia. Os instrumentos eram tocados com garra, as composições não eram das mais elaboradas (ainda mais para uma época em que Cream e Led Zeppelin reinavam) e a gravação era visceral. Taís características não foram bem aceitas pela imprensa. O público, por sua vez, fez do grupo um dos grandes nomes do hard rock, sempre lotando suas apresentações. Era uma banda com a cara da América jovem e proletária.

É possível notar o elevado nível de testosterona logo na faixa que abre o disco, a espetacular "Got Got This Thing On The Move", com direito a um baixo que se assemelha a uma motosserra devido seu timbre saturado. As válvulas dos amplificadores estão fritando. Uma das gravações de rock mais genuinamente pesadas que existe.

Com um groove gorduroso e boas melodias, "Please Don't Worry" revela a capacidade do grupo em compor canções memoráveis, qualidade essa que iria aflorar no decorrer da carreira.

O balanço herdado da música negra é explicito em "Mr. Limousine Drive". Esse swing funky gera o perfeito equilíbrio diante da "simplicidade" das performances. 

As longas "In Need" e "Inside Looking Out" reúnem riffs e solos para fã nenhum de rock n' roll botar defeito. Adoro o clima de jam. A interação entre os três integrantes é típica de um grupo que ralou muito.

No passado esse disco foi considerado desprezível. Hoje torcemos para que apareça uma nova banda fazendo canções com tamanha visceralidade genuína. Pouco provável. Só nos resta abrir uma cerveja e ouvir esse discão em formato de vinil. Saudosismo? Que seja.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Tubeway Army - Replicas (1979)

Se uma pessoa quiser com um único disco exemplificar toda a sonoridade da década de 1980, Replicas do Tubeway Army é uma ótima pedida. Lançado ainda em 1979, a obra da luz a diversos parâmetros posteriores da música pop.


1979 foi o ano do Gary Numan. Num surto de criatividade ele não só lançou esse clássico do Tubeway Army, como também seu influente disco solo The Pleasure Principle (no qual falarei num futuro "Tem Que Ouvir").

Abordando androginia - até mesmo na capa -, ficção científica e uma inter-relação física do homem com a máquina - neste caso, o Kraftwerk claramente inspirando muito além do som -, Replicas é quase que uma continuação conceitual do Ziggy Stardust, só que mais dark e distópico. 

Embora a atitude do Gary Numan fosse punk, ao desbravar timbres eletrônicos, ele acabou se tornando não só um dos pilares do pós-punk, mas também um importante personagem da música eletrônica, já que a espetacular "Are "Friends" Electric?" foi o primeiro single de sucesso com esse tipo de abordagem, chegando a ficar em primeiro lugar no Reino Unido. Importante dizer que a faixa transparece solidão e desilusão na letra. É um completo anti-hit. 

"Me! I Disconnect From You" também traz essa linguagem eletrônica, principalmente no futurístico sintetizador da introdução. Mesmo as rockeiras "The Machman" e "You Are In My Vision" causavam estranheza nos ouvintes, soando hoje como um claro aperfeiçoamento da new wave.

Timbres modernos, letras cinematográficas e interpretação robótica preenchem as ótimas "Praying To The Aliens", "Replicas" e a soturna "Down In The Park", tornando a audição de Replicas não só uma experiência intrigante, mas também agradável.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A música eletrônica e seus clipes doentios

Mais uma vez o nome do post é auto-explicativo. Estou optando por cada vez escrever menos. Assista os vídeos abaixo e surte com os clipes mais desparafusados/malucos/frenéticos que já vi na vida. Todos ligados a e-music.

01: Aphex Twin - Come To Daddy

02: The Prodigy - Voodoo People

03: Skrillex - First Of The Year

04: Die Antwoord - Pitbull Terrier

terça-feira, 20 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Ella Fitzgerald - Ella Fitzgerald Sings The George And Ira Gershwin Songbook (1959)

Ella Fitzgerald pode ser facilmente apontada como a maior cantora de todos os tempos. Quem diz isso não sou eu, mas décadas de aprovação da mídia, público e de outras divas da música, sejam do jazz ou não. Para você também participar deste consenso - mas não apenas da boca pra fora -, recomendo a audição de Ella Fitzgerald Sings The George And Ira Gershwin Songbook (1959).


Ella não era uma compositora, mas sim uma interprete de mão cheia. Desta forma, sua série Songbooks, contendo versões para diversos geniais compositores da música americana, caiu como uma luva. 

Esse é provavelmente o mais aclamado dentre esses lançamentos. Ela chegou a ganhar o Grammy de Melhor Performance Vocal Feminina. Os compositores aqui registrados são os inquestionavelmente excelentes irmãos George e Ira Gershwin, que embora hoje sejam pouco lembrados, são fundamentais o repertório do cancioneiro norte-americano.

O disco foi lançado pela Verve, gravadora que continha os mais talentosos arranjadores, instrumentistas e produtores daquele tempo. Neste caso, o álbum marca a estreia da cantora com a lendária orquestra de Nelson Riddle, famosa por trabalhar com nomes como Frank Sinatra, Nat King Cole, Johnny Mathis, Peggy Lee, dentre outros. 

A abordagem vocal de Ella Fitzgerald é impressionante: do timbre a dicção, da emoção a técnica. Seu canto é floreado, mas sem exageros. Preciso, mas nada robótico. Dono do mais criativo e complexo scat singing da música (vide "I Got Rhythm"). É o bebop via uma voz celestial. 

Embalado pelo típico jazz swing americano, arranjos cinematográficos e orquestrações que remetem a Broadway - mas sem a cafonice -, faixas como "Oh, Lady Be Good", "Embrace You", "Clap Yo' Hands", "Bidin' My Time" e "S Wonderful" são eternos destaques de toda a história da música.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Artistas assassinos

Nome do post auto-explicativo. E não estou falando no sentido figurado. Mas porque sobre artistas assassinos? Sei lá, só meio veio o tema na cabeça. 

Reuni os primeiros que lembrei. Coloquem nos comentários os que deixei de fora e, desta forma, reuniremos numa mesma lista artistas musicalmente desconexos.

Obs: Obviamente, nada de propaganda ou exaltação ao crime. Esse é só um post de curiosidades, tentando fazer um parêntese entre o criminoso e suas obras musicais.

Phil Spector
Phil foi um dos grandes nomes da produção musical. Ficou conhecido tanto pelas suas técnicas inovadoras de estúdio (vide Wall Of Sound) e arranjos ousados/grandiosos, quanto pelo seu comportamento maluco, chegando a apontar uma arma de fogo para os integrantes dos Ramones enquanto eles gravavam o mediano/polêmico End Of The Century. Loucura + arma de fogo só poderia dar em merda, sendo a atriz Lana Clarkson alvo de sua maluquice.

Jim Gordon
Grande baterista de estúdio, o músico chegou a tocar no Derek And The Dominos, onde ajudou a compor um dos maiores clássicos rock, a emblemática "Layla". Ninguém poderia imaginar que o autor daquela passagem lindíssima de piano no final da canção seria capaz de assassinar a marretadas a própria mãe num surto esquizofrênico.

Varg Vikernes
Figura emblemática da amaldiçoada e polêmica cena Black Metal norueguesa, Varg Vikernes assassinou seu antigo companheiro de banda, Euronymous, guitarrista do Mayhem. Num caso raro, De Mysteriis Dom Sathanas talvez seja o único disco que tenha o assassino e sua vitima (ah, tem o Zapp! também). Posteriormente Varg montou o Burzum.

Tupac Shakur / Notorius BIG
Figuras centrais na explosão do gangsta rap na metade da década de 1990 em Nova York, Tupac e BIG são lados opostos de uma rivalidade que acabou culminado no assassinato de ambos. Seus confrontos são encontrados também em forma de música em seus discos.
Obs: Se os crimes não foram movidos diretamente, ao menos foram motivados por suas canções e executado por seus parceiros. Ou seria pelo FBI? A questão se mantém aberta.

Lindomar Castilho
Lindomar Castilho, conhecido cantor brasileiro de música romântica/brega/popular/bolero, assassinou a ex-mulher a tiros. Foi condenado pelo crime e chegou a gravar um disco na prisão chamado Muralhas da Solidão. É interessante lembrar que Lindomar Castilho é citado na música "Nome Aos Bois" dos Titãs ao lado de várias personalidades autoras de atitudes questionáveis.


Larry Troutman
Parceiros de bandas (Zapp) e irmãos de sangue. Nada disso evitou que Larry Troutman assassinasse Roger Troutman e depois tirasse a própria vida. Resultado, o fim da banda e uma das maiores tragédias da black music (e olha que Marvin Gaye foi morto pelo próprio pai!).

domingo, 18 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Sigur Rós - Ágætis Byrjun (1999)

Em 1999 - virada do milênio, onde havia um clima de "busca pelo som do futuro" - o Sigur Rós, banda islandesa de post-rock, despontava com sua sonoridade etérea e singular, com traços minimalistas e forte enfoque nas melodias. O disco responsável por levar a banda aos holofotes foi o Agaetis Byrjun.


Sendo o primeiro lançamento do grupo a contar com o multi-instrumentista Kjartan Sveinsson, a banda transborda em suas composições singelos detalhes. Com arranjos de perfil clássico e produção discretamente moderna, o grupo criou um dream pop/post-rock sofisticado e acessível.

Sua capa, assim como todo o conteúdo sonoro, é altamente introspectiva. Por conta da carga emocional presente nas faixas, muitas delas foram constantemente usadas em trilhas sonoras. É o caso da maravilhosa "Svefn-g-englar", dona de notas gotejantes e arranjo contemplativo. Seu final é de beleza ímpar.

São as vozes em falsetes impressionantes num dialeto próprio (vonlenska), a densidade das composições, a dinâmica dos arranjos, os timbres de teclados herdados da música ambient e até mesmo a maneira singular que Jónsi toca sua guitarra - com arco de violoncelo, extraindo texturas mais próximas do The Edge do que do Jimmy Page - que fazem com que "Flugufrelsarinn" e "Vidrar Vel Til Loftárása" soem tão belamente particulares.

Vale também destacar a elegância sinfônica de "Starálfur" e o lirismo apaixonante de "Agaetis Byrjun". 

Ousado, peculiar e delirante, o álbum olha para o futuro sem esquecer a beleza melódica (e melancólica) do passado. O Sigur Rós encabeçou um estilo sonoro, representando mundo a fora seus contemporâneos/conterrâneos do Amiina e Múr. Perfeito para noites frias, Agaetis Byrjun é pura catarse musical.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Virada Cultural 2014

Pelo quarto ano consecutivo posto neste humilde blog o meu roteiro na já tradicional Virada Cultural, que ocorre todo ano na cidade de São Paulo. Faço isso porque muita gente não quer perder o evento (já que é gigante e gratuito), mas não sabe o que ver. Fica aqui minhas sugestões.

Observações importantes: no evento rola muito bêbado chato, furtos e a cidade fica caótica, mas não deixe de participar por conta disso. A cidade precisa ser ocupada e a arte consumida.

Minha rota (se assim possível):

PALCO JÚLIO PRESTES:
18:00 - Ira!

PALCO REPÚBLICA
20:00 - Stanley Jordan

PALCO SÃO JOÃO
21:00 - Homenagem ao Hélcio Aguira
23:00 - Uriah Heep
01:00 - Mark Farner
03:00 - Secret Chiefs 3

TEATRO MUNICIPAL
06:00 - André Christovam



Observações pós Virada:
Foi emocionante ver o Ira! voltando aos palcos num evento gratuito e ao ar livre no centro da cidade de São Paulo. A homenagem ao Hélcio Aguirra foi conturbada, emocionante e bem tocada, no maior estilo Golpe de Estado. Uriah Heep fez um showzão, com direito a melhor qualidade sonora que já vi na Virada. Show do Mark Farner foi bacana também, mas já estava exausto e mais desejei ir embora do que vibrar com suas ótimas músicas. E mais um adendo: o público "rockeiro" é em grande parte chato, conservador e mal educado. 

TEM QUE OUVIR: Fugazi - Repeater (1989)

Encabeçado por Ian McKaye - figura atuante na cena hardcore no início da década de 1980, antigo vocalista do cultuado Minor Threat, ótimo letrista e fundador do selo Dischord - o Fugazi nasceu para panfletar de forma madura as ideologias de seu líder. Repeater (1989) foi o primeiro fruto desta colheita. 


Completava a escalação do grupo o guitarrista Guy Picciotto (ex-membro do influente Rites Of Spring, banda precursora do que ficou conhecido como como emocore) e a consistente cozinha formada por Brendan Canty (bateria) e Joe Lally (baixo), que abordavam reggae/dub em suas levadas, enriquecendo musicalmente o caldeirão da aparentemente estagnada cena hardcore do final da década de 1980.

Abrindo mão do corporativismo, a banda tocava em circuitos alternativos (principalmente em Washington D.C.), levantando a bandeira do Do It Yourself . Com isso cresceu o número de shows e o público aumentou gradativamente. O disco - que continha no verso o preço máximo de US$ 8,00 -, começou a circular de mão em mão. Não demorou para se estabelecer um culto ao grupo.

Trazendo temas fortes e introspectivos como violência, sexualidade, consumismo, mobilização social e abuso de drogas, o disco foi recebido como um soco ideológico.

"Turnover" abre o disco num arranjo crescente espetacular, que desagua num memorável refrão. Na sequência temos barulhenta/estranha "Repeater", dona de timbres ruídosos perfeitamente posicionados.

A instrumental "Brendan #1" revela muitas qualidades do disco: a perfeita interação dos integrantes, o groove desconcertante, a captação organicamente calorosa e as faiscantes saturações.

Acho impossível não se entusiasmar com a dinâmica explosiva de "Merchandise". Reparem na discreta influência de Beastie Boys nas linhas vocais dos versos.

Em "Blueprint" fica nítida a evolução composicional que o grupo trouxe para o hardcore. Faixa tão intensa quanto melódica.

A paulada "Sieve-Fisted Find" e a swingada "Two Beats Off" tem o que eu chamaria de um groove tipicamente "dub-hardcore", embora cada uma com diferente approach. Tal sonoridade só é conseguida devido a inegável excelência da cozinha. Todavia, em faixas como "Styrofoam" também fica nítida a subestimada eficiência guitarristica da banda.

Ainda é possível destacar "Greed" (de arranjo esquizofrênico) e a clássica/espetacular "Shut The Door" (de dinâmica/clima imprevisível). Ambas ajudam a construir o disco, sendo o flerte perfeito do Dead Kennedys com o Gang Of Four, embora de visceralidade interpretativa bastante particular.

Se hoje ao ouvir o álbum é possível lembrar de dezenas de bandas de indie rock e post-hardcore (At The Drive-In, Refused e Sunny Day Real State, só para citar três), na época a riqueza/novidade sonora afastou os mais conservadores. Todavia, as gerações que estavam por vir entenderam o recado e o Fugazi tornou-se referência no hardcore/underground mundial.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Cheap Trick - Live At Budokan (1979)

Conversando com amigos, questionamos qual é a mais jovem banda capaz de lotar estádios ao redor do mundo. Sem pensar muito chegamos no Foo Fighters, grupo formado por um líder cativante (Dave Grohl), que pegou todos os trejeitos do rock e colocou numa banda só. Mas por que estou falando do Foo Fighters neste post? Pra exemplificar/atualizar algo semelhante que o Cheap Trick fez 30 anos antes. Embora nunca tenha estourado no Brasil, o grupo vendeu milhões de discos, principalmente no Japão, onde gravaram o emblemático Live At Budokan (1979), um clássico do rock de arena.

Na capa, assim como nos discos anteriores, estão apenas os "galãs" Robin Zander (voz) e Tom Petersson (baixista que popularizou o instrumento de 8 e 12 cordas), enquanto os estranhos Rick Nielsen (guitarra) e Bun E. Carlos (bateria) se contentavam com o mérito artístico.


Com influência das melodias inglesas, energia hard rock, atitude punk, visual quase glam e alcance pop, o Cheap Trick moldou a sonoridade que viria a influenciar dezenas de bandas, entre elas o já citado Foo Fighters.

Gravado no lendário Nippon Budokan, o grupo montou um repertório com o que de melhor havia feito até então em seus três excelentes álbuns de estúdio, impulsionando as vendas do também ótimo Dream Police (1979). Todavia, é mesmo o disco ao vivo que catapultou o grupo ao estrelato, chegando a ser comparado com a beatlemania no Japão.

Abrindo o show com a vigorosa "Hello There", é visível - ainda que diante apenas do fonograma - o poder de fogo da banda em cima do palco. A versão para "Ain't That A Shame" do Fats Domino não me deixa mentir. 

Riffs empolgantes - méritos do Rick Nielsen - e refrões energéticos surgem nas ótimas "Big Eyes" e "Clock Strikes Ten". Já o power pop perfeito que caracterizou o grupo é representado pelas ótimas "Come On, Come On" e "Surrender". Para finalizar um hit, a dançante "I Want You To Want Me".

Bem tocado e divertido, Live At Budokan continua sendo, mesmo décadas após seu lançamento, um registro formidável de uma excelente banda de rock numa época em que o estilo conseguia se comunicar com o grande público.

ALGO ENTRE: The Rolling Stones e Jeff Beck

THE ROLLING STONES
Comprei esse DVD (Live At The Max) essa semana. Tenho em VHS e assistia direto quando pivete. Assistindo agora o impacto foi o mesmo. Que banda maravilhosa. Repertório chocante. 

JEFF BECK
Teve show do Jeff Beck no Brasil no último fim de semana. Eu não fui, mas nada me impediu de caçar vídeos sensacionais do maior guitarrista que esse sistema solar já viu.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Beck - Mellow Gold (1994)

Impossível classificar o Beck num estilo que não seja o dele próprio. Goste ou não, ele é um artista criativo que aproveitou o boom do rock alternativo pra furar as estruturas convencionais do rock. Essa característica de artista multifacetado está presente desde o começo de sua carreira, quando se destacou através do Mellow Gold (1994).



"Loser", um "rap" com base de southern rock, foi o grande sucesso do álbum, tornando-se hino da slacker generation, ainda que Beck insista em se desvincular deste tipo de imagem, sendo o oposto da acomodação dos que consumiram seu single. 

Enquanto cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor inquieto, Beck ataca com competência para todos os lados: "Pay No Mind" tem traços de música folk; "Nitemare Hippy Girl" parece uma canção acústica grunge digna do Kurt Cobain; "Whiskeyclone, Hotel City 1997" é uma balada bluseira com produção lo-fi; "Soul Suckin Jerk" é um rap à la Beastie Boys; "Steal My Body Home" parece um trip hop sem se levar a sério; "Mutherfucker" é condizente com uma produção típica do rock industrial; "Blackhole" se assemelha a um mantra psicodélico; e por fim, "Beercan" e "Sweet Sunshine" não se parecem com nada, a não ser com o próprio Beck. 

Eis uma dentre tantas chegadas do rock alternativo ao mainstream. Aqui o indie começou a dar sinais do formato como o conhecemos atualmente. A coisa desandaria (no bom sentido) ainda mais nos discos seguintes do Beck, mas ai é assunto para um próximo post.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Discos barulhentos

A revista britânica Q elaborou em 2007 uma lista com os 20 discos mais barulhentos (veja a lista aqui). Só agora tive acesso a lista e reparei uma coisa: barulho é característica de música legal.

Escute as faixas que eu destaquei de cada álbum e tenha (ou não) a mesma impressão. Não falarei de todos os discos citados.

O que eu achei que faltou na lista? Talvez algo do Captain Beefheart, Can, Faust, Throbbing Gristle, Bad Brains, Einstürzende Neubauten, Swans, Merzbow, Sonic Youth, Ministry, Melvins, Carcass, Cannibal Corpse, Mayhem, Meshuggah, Krisiun... no entanto, achei a lista bastante divertida, consistente e variada.

Deixo também aqui uma menção para bandas que ficaram conhecidas pelo volume elevado de seus shows: The Who, Blue Cheer, Deep Purple, MC5, Motörhead, Van Halen, Ted Nugent, Manowar, 
Ministry, Pantera, Prodigy e Leftfield.


The Stooges - Funhouse
Antes de abrir a lista já lembrei desse álbum. Influenciou meio mundo de bandas que surgiram depois.

Velvet Underground - White Light/White Heat
Punk rock, pós-punk, drone, shoegaze, industrial, noise, avant-garde... tudo teve origem aqui! A grande introdução do ruído (com direitos a microfonias/feedabacks intermináveis) no rock.

Led Zeppelin - Led Zeppelin
Em 1969, os Beatles ainda existiam. Agora imagine ligar o rádio e ouvir "Communication Breakdown". É pesado, é barulhento.

Neil Young - Weld
O Neil Young é um cara dos extremos. Sabe compor belas canções folks usando apenas o violão, mas também sabe fazer um barulho ensurdecedor e influente - que diga o grunge - ao lado do Crazy Horse. Esse disco é monolitico.

Slayer - Reign Blood
Tá certo que a produção do Rick Rubin é impecável e desembolou a sonoridade da banda. Ainda assim, esse disco continua sendo um esporro infernal.

Napalm Death - Scum
Uma das pérolas no metal extremo. É o encontro perfeito do thrash metal com o hardcore. A porquice sonora que deu origem ao grindcore.

Public Enemy - It Takes A Nation Of Millions To Hold Us Back
Na hora não entendi a inclusão deste disco na lista, entretanto, o peso da produção e o barulho social que o álbum promoveu é gigantesco.

The Jesus & Mary Chain - Psychocandy
Era pra esse trabalho ser de uma beleza incrível. Talvez o dream pop perfeito. Mas os caras, seja por falta de orçamento na produção ou conhecimento técnico, captaram a guitarra de forma ultra ruidosa e criaram o típico barulho shoegaze.

My Bloody Valentine - Isn't Anything
Shoegaze no sentido mais literal possível. É desajeitadamente barulhento e bonito.

Atari Teenage Riot - The Future Of War
O esporro que esse grupo de eletrohardcore alemão extrai de suas composições beira o absurdo.

Aphex Twin - I Care Because You Do
Na música eletrônica, poucos produtores são mais "do mal" que o Aphex Twin. Timbres intensos ditam o clima sombrio de sua música.

Sunn O))) - White
Banda de sonoridade difícil, mas que vale a insistência auditiva. Do nome, passando pelas composições e a presença de palco, tudo é muito maluco. Para quem curte drone e ambient é prato cheio. Eles exploram harmônicos, texturas e frequências demolidoras. Não estranhe se as paredes da sua casa começar a tremer. 

E pra quem quer mais barulho, se liguem neste post que fiz tempos atrás: Quando o Ruído Vira Música.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Captain Beefheart (And His Magic Band) - Trout Mask Replica (1969)

A música erudita do século XX é conhecida por suas rupturas, seja ao abolir a hierarquia tonal ou reavaliar o ruído. Soando desafiador, engraçado e, em alguns momentos, perturbador, o "maestro" Captain Beefheart fez o mesmo no rock com seu clássico cult Trout Mask Replica (1969).


Produzido e financiado por seu colega Frank Zappa, esse disco duplo de 28 faixas é um símbolo da vanguarda. Trazendo elementos da música erudita, rhythm and blues, free jazz e música concreta, o resultado acaba agradando mais pelo seu conceito do que pela sonoridade em si.

Surreal e abstrato, da capa até a ultima nota, as canções apresentam explorações rítmicas insanas e melodias atravessadas e dissonantes. A sensação é que estamos diante de um jam livre e espontânea feita por instrumentistas iniciantes. Engano! A Magic Band tinha músicos competentes - vide o ótimo baterista John "Drumbo" French -, e passou cerca de um ano ensaiando para as gravações deste álbum.

As faixas mais interessantes são justamente as mais estranhas. A toda errada "Frownland" é um bom exemplo, assim como "Dachau Blues" (com destaque para a voz ríspida do Beefheart), a corrosiva "My Human Gets Me Blues", a quase free jazz "Hair Pie: Bake 1" e a quebradeira (um quase proto-math rock) "Steal Softly Thru Snow". Já "Neon Meate Dream Of A Octafish" reúne toda essa loucura numa única canção. Vale se atentar também para a poética absurda, vide "Sweet Sweet Bulbs".

Sendo influência direta para artistas como Tom Waits, John Lydon, David Thomas, Mike Patton, John Zorn e PJ Harvey, o esquisito Trout Mask Replica atrai justamente devido sua peculiaridade. Enquanto os hippies se jogavam na psicodelia, Captain Beefheart já desenvolvia a esquizofrenia musical. Uma experiencia auditiva no minimo excêntrica. 

sábado, 10 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Mayhem - De Mysteriis Dom Sathanas (1994)

Ao fazer uma análise completa e séria da história do rock, é preciso levar em conta a cena black metal norueguesa. Esse fenômeno cultural e social, por mais detestável que seja em muitos pontos, foi influente e musicalmente desbravador. Dentre tantos grupos deste período, o Mayhem talvez seja o mais emblemático, sendo seu disco de estreia, De Mysteriis Dom Sathanas (1994), uma obra que merece estudo antropológico. 


Inspirados em bandas como Venom, Celtic Frost e até mesmo nos mineiros do Sarcófago, nasceu nos países escandinavos a segunda onda do black metal, estilo conhecido por priorizar sonoridades extremas, visual mórbido, produção precária e temáticas envolvendo paganismo e misantropia.

Levando tais características as últimas consequências, nasceu uma organização intitulada Inner Circle, que pregava valores anticristãos e, consequentemente, cometia atos criminosos como queima de igrejas históricas, inclusive a da capa do disco aqui citado. Liderando esses movimentos estavam Dead, Varg Vikernes e Euronymous.

Dead, compositor e vocalista do Mayhem, se suicidou pouco antes da gravação de De Mysteriis Dom Sathanas, deixando algumas letras que entraram posteriormente neste disco. Numa atitude de gosto peculiar, Euronymous (guitarra) ao encontrar o corpo de seu amigo, tirou fotos dos restos mortais antes mesmo de chamar a policia. Tais fotos foram usadas na capa do Dawn Of The Black Hearts (1998). Ao ser confrontado por essa atitude pelo baixista Necrobutcher, Euronymous não pensou duas vezes ao demitir o músico e contratar para seu lugar Varg Vikernes. O habilidoso baterista Hellhammer (dono de blast beats poderosíssimos) e o vocalista Attila Csihar (que mais tarde veio a integrar o Sunn O))))) completam a formação do grupo.

Gravado e lançado pela Deathlike Silence, selo do próprio Euronymous, De Mysteriis Dom Sathanas chama atenção devida sua densidade claustrofóbica, timbres imundos, palhetadas frenéticas, blast beats e clima infernal, sendo que ao conhecermos a história da banda, a audição do disco torna-se ainda mais angustiante. Para quem não está familiarizado com gênero, não é uma audição fácil, embora seja exatamente essa aura nebulosa impregnada no som que faça do estilo algo especial.

Nenhuma música chama atenção em si, entretanto, o trabalho como um todo é o registro definitivo do que há de mais brutal na história da música. E que frutos a banda colheu com o tempo? O de ser uma das maiores referências do metal extremo, seja devido sua música atormentadora fúnebre ou atitude/filosofia satânica.

E tem mais um detalhe, sabe o baixista Varg Vikernes contrato pelo Euronymous? Pois então, anos depois ele assassinou seu líder, ficando por anos presos e, paralelamente, liderando a cultuada (e problemática) banda Burzum. Que história, não?

sexta-feira, 9 de maio de 2014

ALGO ENTRE: Nelson Gonçalves e Shining

NELSON GONÇALVES
Essa versão do grande Nelson Gonçalves para o sucesso do Cazuza (!?) é tão ruim/bizarra que beira o genial.

SHINING
Juro para vocês, essa se tornou uma das minhas músicas prediletas a partir do momento que eu escutei pela primeira vez. É uma barulheira de intensidade espetacular. Escutem, sério! 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Supertramp - Breakfast In America (1979)

A história contada por jornalistas musicais diz que em 1979, tanto a disco music quanto o punk rock haviam varrido para o subsolo do inferno o rock progressivo. O que fazia então Breakfast In America do Supertramp na primeira colocação da Billboard nos EUA, Canadá e na terceira posição no Reino Unido, chegando a vender 18 milhões de cópias? 


Sendo muito mais melódica, acessível e polida que as bandas contemporâneas do rock progressivo, o Supertramp modernizou seu som sem torna-lo pobre. O grupo já vinha conseguindo ótimas vendagens e êxito artístico, mas foi Breakfast In America que definiu a sonoridade do grupo como a maioria de nós conhecemos.

Como uma espécie de "Elton John encontra Roger Waters", Roger Hodgson e Rick Davies, em meio a conflitos internos, elaboraram um material sofisticado e acessível. 

Faixas como "The Logical Song" (que de certa forma prevê o synthpop), "Goodbye Stranger" (de melodia imediatamente fixante, muito graças a interpretação singular), "Breakfast In America" (de arranjo nada ortodoxo) e "Take The Long Way Home" fizeram enorme sucesso. 

A produção com ênfase em timbres modernos de teclados combinava perfeitamente com o pop e o AOR radiofônico. É possível reconhecer isso na longa "Child Of Vision".

É indiscutível o quão anacrônico e pasteurizado eram os lançamentos do Yes, Genesis e Gentle Giant naquele período. Todavia, o Supertramp soube se reinventar e, soando datado ou não, Breakfast In America é um dos poucos discos de rock progressivo do final da década de 1970 que não apresenta decadência. Muito pelo contrário, faixas como "Gone Hollywood" são verdadeiramente instigantes, parecendo um cruzamento de Electric Light Orchestra com Bee Gees.

Não te convenci com meu texto? Ainda acha o Supertramp um rock de arena presunçoso, pomposo e chato? Ok, mas lembre-se que até isso foi necessário para que na contramão surgisse o punk rock direto dos Ramones. A história, ao menos na música, agrega e legitima qualquer ato.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Passando a Limpo o Shazam - Parte III

Chegou novamente a hora de limpar o Shazam e analisar o que "coletei" até o momento. Lembrando que esse é o terceiro post com esse tipo de conteúdo.

Mais uma vez não postarei o link de cada música pra não sobrecarregar o post. Também não faço a mínima ideia de onde cada música foi "retirada". Mas isso também não importa agora.

01: Voivod - War And Pain
Conheço a banda mais pelo nome do que pelo som. Se eu for levar em contar o que encontrei nessa música concluo que tô perdendo muito. Heavy metal sinistrão.

02: Savatage - City Beneath The Surface
Não é das minhas bandas prediletas, mas essa música tem uma pitada de "se o Rainbow fizesse doom metal" na introdução que eu curti.

03: Asaf Avidan & The Mojos - One Day / Reckoning Song
Aparentemente um hit da e-music de Israel. É legal.

04: Carl Douglas - Kung Fu Fighting
Acordar e por essa música e direcionar as vibrações para um bom dia. Uma maravilha!

05: Gnarls Barkley - Who's Gonaa Save My Soul
A voz entregava de quem era a música, só faltava saber o nome da canção. Ta ai. É musicão.

06: The Platters - Enchanted
Tem um arranjo que lembra muito as canções bregas/populares brasileiras da década de 1960 que escuto quando sintonizo as rádios no interior. É demais e é cafona.

07: Chocolate Genius - Life
Bela canção e voz. Com direito a violinos e vibe de cabaret.

08: Whitey - Stay On The Outside
Sonzera de baixo. Sem mais.

09: Paulo Bragança - The Spirit Of The Flesh
Não encontrei pra escutar e lembrar do que se trata. Se tiverem link compartilhem nos comentários.

10: School Of Seven Bells - Babelonia
Dream pop espetacular. Isso basta. Escutem!

11: Mark Lenegan - Museum
Achei que era o Kurt Cobain cantando. Não errei por muito.

12: Dave Dee & Dozy & Beaky & Mick & Tich - Hold Tight!
Garageira, sujeira e psicodelia! Demais!

13: Maria Muldaur - Midnight At The Oasis
Esse solo de guitarra é intrigante. E a música tem um arranjo que me lembrou... Steely Dan. Não é pouca coisa. É o pop perfeito.

14: Roupa Nova - Lumiar
Tão oitentista, tão bem gravado, tão bem executado e tão brega. Só podia ser o Roupa Nova. Eu gosto. Típico momento que explica o apelido de "Toto brasileiro".

15: Krisiun - The Extremist
Caramba! Acho que essa é a melhor música de todo o repertório do Krisiun.

16: Katy Perry Feat. Juicy J - Dark Horse
Ouvi no rádio e gostei. Pô, não me julguem tanto.

17: Le Butcherettes - Henry Don't Got Love
Tirando a introdução, não gostei do que reouvi. É um pop-hard rock com traços de Hole.

18: Grinderman - Palaces Of Montezuma
Nick Cave, cara. Ai não tem erro.

19: Nothing - Bent Nail
Punk fock com produção shoegaze. É sujeira!

20: Edwyn Collins - A Girl Like You
Sempre ouvia essa música no rádio, mas não sabia de quer era. Acho legal o fuzz dessa guitarra.

21: The Renegades - Thirteen Women
Não da nem pra acreditar que essa música é de 1966. Acachapante!

22: Buffalo Tom - Guy Who Is Me
Sujeira maravilhosa tipica do começo da década de 1990. Eu gosto muito.

23: Guided By Voices - Little Lines
Quando o indie rock é feito por gente comum (e não por publicitários) ele soa assim.

24: The Vibrators - Automatic Lover
Puro punk rock!

25: Dwarves - I Will Deny
Mais uma desgraceira punk, na linha do shock rock. É bobo, mas as vezes vai bem.

26: Five Finger Death Punch - White Knuckles
Isso é o que eu chamo de metal moderno! Pegada thrash, atitude hardcore, melodias e produção pesada.

27: The Mission - Wishing Well
Aquela vibe gótica com um peso extra, mas longe de ser metal e babaca.

28: Front Line Assembly - Prototype
Cara, onde eu ouvi isso? Esse som é porrada. EBM nervoso.

29: The Kills - Cheap And Cheerful
Algo entre o lixo e a genialidade absurda.

30: MDC - My Family Is A Little Weird
Mais um punk rock vitaminado.

31: Bleanavon - Into The Night
Melódico, tristonho e bonito. O refrão é modernoso demais, mas tá valendo.

32: Fun People - Masticar
É um At The Drive-In argentino e bem humorado ou tô viajando?

33: Jamie Cullum - Gran Torino
Sim, é a música que toca no filme. É bonita.

34: Catavento - Seesaw
Não saquei qual é a deste som. Psicodelia funkeada bem esquisita. Escutem!

terça-feira, 6 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Adoniran Barbosa - Adoniran Barbosa (1974)

Tem quem diga que São Paulo é o túmulo do samba. Tais pessoas são "ruins da cabeça e doentes do pé" ou não conhecem Adoniran Barbosa. 


Representado pelo seu primeiro e homônimo álbum lançado em 1974 - antes ele havia gravado somente compactos -, Adoniran Barbosa é o típico paulistano filho de imigrantes italianos com sotaque e visual característico da Mooca. 

Artista símbolo da geração que teve que desenvolver trabalhos paralelos a sua arte (foi pintor, garçom, encanador, metalúrgico), já que a remuneração por seus serviços radiofônicos (seja como ator ou interprete) eram risíveis, Adoniran só foi alcançar prestigio no final de sua vida. Toda essa história é bem representada na bonita "Abrigo de Vagabundos".

Seu prestigio veio justamente com "Trem das Onze", emblemática faixa presente no disco de 1974, conhecida do público desde 1964, embora tenha feito ainda mais sucesso posteriormente com o grupo Demônios da Garoa. Outras composições do álbum bastante conhecidas são "Saudosa Maloca" (com traços de choro) e "Iracema". 

Melancólico, inocente e afetuoso são qualidades da persona Adoniran refletidas em suas letras, como pode ser observado na linda "Bom Dia Tristeza", composta em parceria com Vinícius de Moraes e que ganhou um arranjo instrumental estupendo. 

O típico Samba de mesa animado é cantado com sua rouquidão característica da birita/fumo nas ótima "As Mariposas" e "Acende o Candieiro". Já "Prova de Carinho" se destaca pelo ótimo violão de 7 cordas e ritmo envolvente sustentado pelo pandeiro e o cavaquinho. A corda Mi usada para fazer a aliança parece não ter feito falta.

Adoniran Barbosa é não somente um grande álbum, mas um documento fundamental da música brasileira. Séculos de cultura proletária imigrante em um único disco.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Post da equidade

Significado de Equidade: Correção no modo de agir ou opinar. Lisura.

Sejamos francos, muitas vezes somos injustos ao avaliar um artista. É fácil omitir um gosto duvidoso para manter um personagem. Todavia, esse post não é para falar de grupos que gosto e evito assumir (já fiz isso no passado). O texto de hoje tem como intuito fazer justiça a artistas que adoro malhar conceitualmente, mas que musicalmente até tem seus bons momentos. Justificarei cada caso. Leia e entenda.

Metallica
O que falo: "Não dá para em pleno 2014 gostar de Metallica! É metal para publicitários e dentistas fingirem que são transgressores".
O que acho realmente: Até o Black Album (1991) tudo merece ser escutado, sendo os três primeiros discos clássicos indiscutíveis do thrash metal.

U2
O que falo: "A banda que matou o rock alternativo. Pode colocar o Coldplay na conta deles".
O que acho realmente: Embora o Bono seja realmente um saco, as composições e o instrumental é muito bom. Fora que a banda não tem um disco sequer que possa ser considerado ruim. São verdadeiramente gigantes.

Pearl Jam
O que falo: "Um saco! É o grunge que toma banho. Queria ser uma mistura de Clash com Bruce Springsteen, mas acertou o Creed. Por que o Eddie Vedder canta com um ovo na garganta?".
O que acho realmente: O Ten (1991) é um clássico daquele período. Vs. (1993) e Vitalogy (1994) também são bem bacanas. Ainda assim, é a banda da geração grunge que realmente menos gosto. Mas falo mal só para provocar minha irmã que adora a banda.

Los Hermanos
O que falo: "Musicalmente? Um olhar presunçoso para o passado. Suas crias? O que há de pior na música brasileira contemporânea. Seu público? Um bando de idiotas!".
O que acho realmente: Devo gostar de umas três músicas de cada disco. Passa longe de ser a tragédia que propago. Tem seu valor.